quinta-feira, julho 31, 2003

Filosofia de táxi

Trabalhar em uma empresa com vários prédios e ter que se reunir com pessoas em alguns deles, obriga o peão a ter que passar boas horas do dia dentro de transportes privados e pagos de acordo com o trajeto feito e o tempo gasto: os populares táxis.

Alguns motoristas de praça são mal educados, ligam o taxímetro antes de você abrir a porta e não se preocupam em descobrir o caminho que você quer fazer. Outros são extremamente profissionais e só abrem a boca para perguntar o destino e informar o preço da corrida.
De vez em quando, porém, aparece um tiozinho que gosta de falar mais do que aquela senhora na sala de espera do consultório do dentista. Ao invés de contar toda a estória da dentadura que ela perdeu em 1948, o motorista falador gosta de filosofar e de dar conselhos sobre os mais variados assuntos, do aumento de peso do Presidente à vergonha de ter um argentino namorando a prefeita. Boa parte dos assuntos acaba mostrando uma visão meio obtusa e simplória do fato, mas nem por isso a estória deixa de ser divertida.

Uma das últimas que ouvi falava de mulheres não muito castas, rejeição e o preço pago por quem não entra na dança.
Foi hilário ouvir o motorista falar sobre um certo passageiro cinquentão que se viu encurralado pela colega de classe da filha. Até aí tudo estaria mais ou menos bem se a menina não tivesse acabado de debutar. O tal coroa foi “atacado” enquanto a esposa e a filha estavam fora e foi ameaçado se não aceitasse a sedução: ou ele transava com ela ou ela daria um jeito de acusá-lo de estupro e acabaria com a sua paz.
Ele acabou levando-a para cama e continua transando com ela até hoje, feliz e incógnito. Parece que ela não pretende contar o lance para ninguém e perder o prazer que conseguiu.
A conclusão dele é que não vale a pena desprezar uma mulher que escancara a vontade de transar com um homem.

Fiquei pensando sobre a validade dessa conclusão e acho que existe algo verdadeiro nela.
Gostaria de saber o que as minhas leitoras acham disso, mas meu ibope não é dos melhores e acho que não vão rolar muitos comentários sobre o assunto. Sendo assim, tenho que me contentar com minhas próprias opiniões.

Acredito que as mulheres tenham um senso de auto-estima um pouco diferente dos homens. Se um cara é rejeitado por uma mulher, o máximo que acontece é ele tomar um porre e pronto. Depois de curar a ressaca ele está novo em folha e (mais ou menos) pronto para outra.
Com uma mulher, a coisa é um pouco diferente. Acho que ela fica ofendida ao não ter aceito o seu convite para o sexo. Deve ter algo a ver com o machismo que obriga o homem a tomar a iniciativa do relacionamento. Se for a mulher a tomar as rédeas da aproximação, ou a coisa funciona ou a casa cai. Não há meio termo, não há resultado diferente da vitória.

Fico pensando no que acontece se a atacante for mulher de um amigo.
O que acontece se você não aceita a cantada e a mulher inverte o jogo e conta para seu amigo que foi você que a cantou?
O que acontece com a sua consciência se você cede, transa com ela e conquista uma paz aparente?
De que forma você continua encarando seu amigo, mesmo que nada tenha se concretizado?

Espero que eu não descubra as respostas da pior maneira. Acho que seria mais confortável estar do lado dos que têm que abaixar para passar embaixo de uma porta. Ao menos a decisão seria mais fácil de tomar: bala nos dois!!

Sem comentários: