terça-feira, julho 15, 2003

Impressões - Parte 2

Logo depois de chegar em Londres, a gente já partiu para outras bandas da Europa. As aulas começariam somente dali a um mês e os destinos no continente já haviam sido escolhidos. Ao menos era isso o que a gente imaginava.

Tomamos um ônibus rumo a Dover e dali atravessaríamos o Canal da Mancha até Calais, onde um Renault 19 diesel zerinho nos aguardava. O pobrezinho ainda não tinha idéia das aventuras que o aguardavam. A viagem foi longa e tranquila mas a compra da passagem no dia anterior foi um verdadeiro Carnaval. Ainda não estávamos habituados com o sotaque cockney (aquele onde as pessoas falam como se tivessem uma enorme batata na boca) e demoramos uns 10 minutos para entender que a pergunta do atendente dizia respeito a nosso interesse em comprar bilhetes de ida e volta ou não. Foi mais um tapa da língua de Shakespeare em nossas caras semi-espinhentas.
Nem vou mencionar a nossa cara de espanto a cada parada de ônibus, onde o motorista se voltava para os passageiros e gritava o nome da cidadezinha onde estávamos. Só sei que era o nome de uma cidade por que as placas indicavam algo remotamente parecido com aquele som.

Mas nem só de trapalhadas foi povoada a nossa European Tour '94.
A viagem de ferri (uma baita barco com caça-níqueis, música ao vivo e um decl enorme para ver a viagem) foi muito legal e a chegada a Calais foi melhor ainda: a atendente do posto da Renault se chamava Caroline e era loira como só os suecos sabem ser. A dona daqueles olhos azuis teria nos vendido a própria França se quisesse, tal era a nossa hipnose. Graças a Deus ela foi muito correta e apenas nos entregou o carro e deu as instruções básicas de navegação. Entenda-se isso como os caminhos para sair de Calais e tomar a estrada para Paris.

Como a Cidade Luz merece um post exclusivo, vou terminar contando o potencial desastre que a nossa sorte bissexta evitou quando fomos abastecer o carro pela primeira vez.
Nós sabíamos um pouco de inglês, o bastante para não morrer de fome e localizar os pontos turísticos, mas o nosso francês se resumia a palavras que só o Tarzan pronunciaria: croassã, penhoar, abajour, sutiã, Alain Prost e Michel Platini.
Foi esse conhecimento paupérrimo do idioma de Balzac que quase nos fez deixar de lado a bomba de Gazole e encher o tanque com algum outro líquido combustível. Não me lembro o que era esse outro líquido mas nem nos meus sonhos mais delirantes eu imaginaria que Gazole e Óleo Diesel eram a mesma coisa.
Passado o susto, enchemos o tanque, localizamos a rodovia certa e colocamos a nossa entourage na estrada. Paris nos esperava.

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