quarta-feira, janeiro 25, 2006

Chocolate ao leite

Eles não eram muito parecidos.
Se pudéssemos misturar as peles de ambos, teríamos nas mãos algo cor-de-terra, daquelas não muito escuras, próprias para o crescimento de coisas não plantadas, mas sim acidentalmente caídas no solo.
Cada um deles contribuía com um certo matiz, ora mais claro (ou amarelado), ora mais escuro (ou cor de chocolate ao leite).
Na prática, eram pontos diferentes do espectro de luz. Mas eles não estavam preocupados com nenhum tipo de Física. Naquela relação, a matéria mais importante era a Química.

Os cabelos de ambos eram escuros, quase negros, com diferentes texturas e comprimentos, é verdade. Mesmo que não fosse nada escandaloso, cada um deles afrontava os padrões estéticos à sua maneira.
Ela com um volume fora de época, algo meio Gal na época de ouro. Ele com um jeito Andy Garcia de ser, guardadas as devidas proporções, obviamente: cabelo puxado para trás e preso por toneladas de gel.

Eles eram uma dupla, não um casal.
Sendo assim, seus encontros eram semi-clandestinos e discretos. Mais para não despertar a curiosidade dos colegas de trabalho do que para enganar eventuais parceiros. Eles não tinham parceiros, a não ser um ao outro.
E era uma boa parceria: muito cinema, pouca comida, nada de bebida, muita conversa e uma cama para unir as pontas.

A parceria durou mesmo depois dele sair da empresa.
Algo melhor o aguardava em outro lugar, mas ele não quis abrir mão daquele cheiro diferente que a pele dela tinha.
A já mencionada pele de chocolate ao leite tinha um perfume diferente, algo de especiaria. Não dava para dizer se era canela, apesar de lembrar bastante o sabor quando ele estava de olhos fechados. Era diferente das coisas feitas pelo homem e isso o instigava.
A coisa que ele mais gostava de fazer quando a tinha nua, de bruços na cama, era cheirar seu corpo todo. E ela também gostava de exibir seu odor, principalmente depois do banho. Era um exercício de erotismo bem diferente da cópula e do paladar.

Mesmo com o prazer do perfume, da pele e da companhia dela, os encontros foram rareando e pararam. Ele havia conhecido outros tons e outros odores e ela desistiu de trazê-lo de volta.
Ela sentia que ele nunca havia sido seu de verdade e ele se foi. Foi para nunca mais voltar, mesmo que a vontade apertasse e o número dela ainda estivesse à disposição.
Ele sabia que não havia volta e que moça de pele de chocolate ao leite encontraria seu caminho em breve.

E assim foi.
Afinal de contas, eles nunca foram um casal.
Entre eles, era só cheiro.

domingo, janeiro 22, 2006

Formas e tamanhos
"Que atire a primeira pedra aquele que nunca transou ou ao menos beijou uma moça, digamos, gordinha, fofinha ou apenas um pouco mais carnuda do que o padrão anoréxico atual!"
Essa era a pergunta esdrúxula que pintou na mesa do Original em uma das tradicionais quintas-feiras só para meninos.
Obviamente, eu e o Paraguaio lideramos de longe a contagem de experiências menos formosas esteticamente. Somos bagaceiros assumidos e orgulhosos. No bom sentido, claro, já que temos espelho em casa e sabemos que a beleza é algo extremamente variável de mente a mente.

Já o Presidente seguiu mais uma linha Rodrigo Santoro de ser: dificilmente ele fica com mulheres feias. Ao menos não que ele se lembre, o que não significa muita coisa se levarmos em consideração a quantidade de álcool que esse rapaz já colocou para dentro do organismo.
Mesmo ele tem algo que contar.

Infelizmente o mesmo não pode ser dito do X. Ele não aparenta ter muita coisa o que dizer nesse tipo de assunto. Ou não tem ou não quer divulgar.
Em uma roda de amigos onde o assunto é mulher, isso dá mais ou menos na mesma.
Na verdade, me parece que o X não tem muito o que dizer nem se pensarmos só em mulheres bonitas. Algo trava o HD e ele não participa com a gente.
Ele apenas ri e diz que nosso setpoint é muito baixo.
Isso é algo que não daria para negar nem see quiséssemos, mas será que não é melhor bagacear de vez em quando do que transar consigo mesmo em quase todas as ocasiões?

Felizmente eu não sou ninguém para condená-lo. Apenas me preocupo com ele e tento colocá-lo em situações de risco de vez em quando.
Normalmente não acontece nada, mas a esperança é última que morre, principalmente neste mundo onde as mulheres cada vez mais gostam de tomar a iniciativa.
Sei que essa postura vem-ni-mim não costuma dar muito certo, mas talvez valha a pena arriscar.
Como eu não gosto muito de esperar as coisas cairem do céu, prefiro experimentar antes de dizer que não gosto. Foi assim que tropecei na minha mineira lá nas distâncias do Triângulo e foi assim que banquei o lance e virei um homem casado.
Mas cada um tem que escrever a sua história e cada um é responsável pelos capítulos que ela tiver.
No meu caso, o livro é basicamente uma comédia de erros, mas posso garantir que valeu a pena viver cada mico registrado nele.
Do contrário, que tipo de estórias eu vou conseguir contar para os meus netos?

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Aos herdeiros

Parece que eles combinaram.
Tenho a nítida impressão que muitos dos meus amigos se reuniram em algum tipo de sociedade secreta e decidiram que o mundo estava meio sem graça e que era necessário repovoá-lo e colori-lo.
Só isso explica a chegada da Julia "Punk Rock" e as encomendas feitas pelo meu Galahad, pelo Mestre das Mulheres, pelo grande amigo do Sul que tem nome de ator e pela mais velha das minhas cunhadas mineiras.
2006 terá uma avalanche de "sobrinhos" e eu aqui acabando de entrar na vida de gente grande.
Confesso que dá para ter medo, dá para ter muito medo do que vem por aí.

Obviamente isso fez com que o assunto fizesse parte de um monte de conversas com a minha mineira. Mesmo durante o sexo ela acaba dizendo algo relativo a parar de fazer só por prazer.
Acho que sou voto vencido na lendária tentativa de trocar um casal de filhos por um Labrador e um Golden Retriever. Não vai colar.
A minha mineira já declarou em alto e bom som que quer ficar gorda e barriguda e que ser mãe é mais um dos seus sonhos desde sempre.
Como entrei nessa para fazê-la feliz (e não exatamente para cuidar da minha própria felicidade), acho que não vai ter negociação nem compensação. Terei mesmo que perder noites de sono, dias de descanso e tranquilidade econômica.
O mais curioso disso tudo é que quem já passou pelo martírio diz que vale cada segundo mal dormido.
Será?

segunda-feira, janeiro 09, 2006

2006

Julia

Este ano começou tão bem para mim que resolvi criar um símbolo para os 12 meses que estão por vir.
Achei que seria legal escolher uma imagem da pequena Julia "Punk Rock" Nasi para embalar as noitadas, jantares, risadas, amores e momentos felizes que certamente estão no nosso caminho e no caminho dos nossos.
Sem apelar para as facilidades da fé, este ano vai der "duca"!
E vai ser por que eu quero que seja e por que vou fazer acontecer. Nada vai me parar. Nada vai me atrapalhar.
Neste ano, tudo vai dar ainda mais certo
É so esperar e ver.

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Esquisito

Eu nunca tinha visto coisa igual.
Uma a uma ou em casais, as pessoas iam se levantando e saindo da sala de cinema com um ar de revolta que eu só acharia pertinente em uma exibição de “O império dos sentidos” em pleno Vaticano. E o filme não havia começado a mais do que cinco minutos!
Infelizmente eu não conseguia ouvir as conversas, mas posso apostar um braço que mais de um casal dormiu brigado pela escolha daquele filme.

O bom disso tudo é que eu fiquei até o final e acabei até gostando de “A noiva cadáver”.
Obviamente que não foi o melhor filme da minha vida, mas acho que entendi bem o que o Tim Burton quis passar e curti boa parte daquela coisa medonha e engraçadamente aterrorizante.
Ou alguém conhece outro termo mais adequado para uma noiva que tem um senhor quadril e uma perna com ossos à mostra?

Algumas lições que ganhei com a minha persistência:
- o Johnny Depp é o cara mais amado pelos diretores esquisitões, principalmente o Tim Burton;
- animações em stop motion não são para crianças ou pessoas que escolhem seus filmes na hora de comprar os ingressos;
- até mesmo adolescentes indóceis podem se comportar em sociedade enquanto fingem que entendem um filme esquisitão;
- pipocas com manteiga mancham bermudas de sarja.
Esse último aprendizado está meio deslocado dos demais, mas como surgiu na mesma ocasião, achei que não havia mal em relacioná-lo.

Acho que próximo filme esquisito a enfrentar será o “Crônicas de Nárnia”.
Isso se a minha irmã cineasta não me convencer a ir com ela a alguma mostra de cinema cingalês ou coisa que o valha.
De qualquer maneira, não sair da sala nos cinco primeiros minutos continuará sendo uma questão de honra.