quinta-feira, julho 24, 2003

Profissionais

Um dos grandes baratos de fazer natação na academia (antes do meu dedo entrar em colapso) era rir com as conversas absurdas que rolavam no vestiário enquanto todo mundo cuidava de eliminar ao máximo o cheiro empesteante do cloro da piscina. Era um tal de neguinho ficando 30 minutos na sauna, de outro esfregando a pele com lixa e ainda de outro, mais velhinho, simplesmente se secando direitinho e usando a filosofia da vaca para tratar o problema do cheiro que fica na pele depois de 45 minutos de braçadas. Acredito que o comportamento dos nadadores estava diretamente ligado ao tipo de pessoa que o estava esperando em casa.

Pois bem, entre temas como a superioridade da parrilla uruguia sobre a argentina, sobre o crescimento do market share dos vinhos chilenos nos States e na Europa e sobre as coxas da nova aluna da raia 4, um dos caras soltou a máxima de que transar com prostitutas não deve ser considerado como traição já que supre uma necessidade intrínseca do casamento sem, no entanto, colocar o relacionamento em risco.
No início eu achei aquele papo meio esquisito. Sempre achei que a infidelidade fosse muito fácil de definir e que se aplicava a qualquer relacionamento extra-conjugal, de um selinho à manutenção de uma família paralela.
Nunca tive uma posição radical sobre esse tema. Nunca achei que adúlteros (que palavra horrorosa!!!!) merecessem a fogueira e nem que o casamento feliz estivesse imune a tentações, mas a colocação daquele cara me deixou com a pulga atrás da orelha.

Conversando mais com ele, descobri mais detalhes sobre a "teoria".
Segundo ele, ao transar com uma prostituta, o cara casado compra a tranquilidade de não ter ninguém ligando para a sua casa às dez da noite e desligando na cara da sua esposa. Além disso, ele minimiza o risco de se apaixonar pela moçoila.
Essa última colocação me parece mais interessante e vai de encontro ao que outro colega de braçadas dizia sobre casamento e fidelidade. Durante as conversas regadas a Gatorade e barras de cereais, aquele cara dizia que uma das principais razões que o levavam a evitar infidelidades era o temor de se apaixonar pela outra mulher e bagunçar a vida confortável e estável que ele tinha no casamento. Ele tinha muitas razões para se preocupar pois estava no segundo casamento, era feliz, amava a esposa e tinha duas filhas pequenas para criar. A colocação dele tinha mais a ver com o futuro do que com o presente. Ele não estava a ponto de ser infiel mas tinha medo do que poderia acontecer se fosse.

Gosto de pensar que, quando chegar a minha hora, eu vou optar pela segunda linha, por reconhecer a falibilidade do caráter e por desejar manter a felicidade que o casamento me trouxer. Acho muito melhor deixar de fazer as coisas por medo do que posso perder (ou amor a isso) do que me conformar com serviços encomendados e prestados com o único intuito de desopilar certas partes do corpo.
Afinal de contas, casamento é coisa séria.

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