quarta-feira, março 29, 2006

A minha é melhor do que a sua

O relacionamento com a minha mineira já me permitiu um contato maior com estruturas familiares muito mais próximas do que a minha e com todas as idiossincrasias e contradições relacionadas a isso.
Um dos exemplos mais recentes e mais complicados de engolir ocorreu no Natal passado e graças a Deus me envolveu somente como ouvinte.

Era uma conversa sobre onde passar o Natal e a tia da minha mineira fazia questão de que os filhos de uma amiga não saíssem de casa na noite da véspera. Essa posição se baseava na crença de que Natal se passa com a família
Até aí tudo bem, se não fosse o fato do filho mais velho ter uma namorada que provavelmente também tinha família. Segundo o raciocínio da tia, a família que importava era só a da amiga e a menina tinha a obrigação de deixar a dela de lado e passar o Natal junto do namorado.
Achei o fim do mundo aquela visão míope, mas não pude considerá-la incoerente vindo dela. Eu já tinha testemunhado outros exemplos onde o dela sempre era melhor que o do resto do mundo.

Parece meio infantil, mas acho que é tudo muito racional e consolidado.
Ao menos do ponto de vista dela, as diferenças existem e o dela é sempre melhor.
Isso vale para o carro, para o apartamento, para os amigos, para a educação e principalmente para os hábitos. O dela é sempre é "de nível" e a família dela é sempre melhor.

Até para se livrar de roupas velhas o complexo não é deixado de lado. Ao invés de dizer que vai doar roupas ou vai passá-las para a frente, ela adora dizer que vai dá-la aos "outros". Eu sempre me pergunto se esses outros são tão inferiores que não merecem ser nomeados ou se eles não passam de fantasmas que ela e a família têm a bondade de aturar para passar por generosos e preocupados.
Deve ter algo a ver com o conceito cristão de generosidade e purgação dos pecados, eu imagino.

Felizmente, não preciso nem olhar para outras famílias para ver exemplos desse comportamento meio metido a besta e com complexo de superioridade.
Meu próprio sangue está buscando sei lá que motivos para afastar o parceiro da vida do novo sobrinho que está por vir. Ela tem uma infinidade de motivos para isso, mas acho que nada justifica impedir um pai de assumir e ter contato com o filho.
Pode ser um julgamento prematuro, mas prefiro repudiar a idéia desde já e fazer o possível para que isso não se concretize.
Pior do que um ex-parceiro que não se quer mais é um filho sem pais para receber amor.

Um último exemplo desse jeito besta de viver envolveu o Presidente e a atual Primeira Dama. Por conta de um problema de saúde potencialmente sério, meu grande amigo recebeu a pena da tal tia que o chamou de azarado por ter escolhido, dentre tantas moças disponíveis, justamente uma doente.
Quem ela pensa que é? Doente é ela! E doente da cabeça! Muito doente, aliás!
Que a minha mineira me dê licença, mas se ter família próxima significa aturar isso, prefiro o meu estilo de respeitosa distância e abraços frios.
E que ela não venha me encher o saco!

segunda-feira, março 20, 2006

Por que cazzo...

Tem horas em que fica complicado segurar todas as pontas soltas da vida.
Dá vontade de dar um bicudo em tudo e sair correndo pelado por aí, como diria o Presidente nos bons tempos de Diretoria.
Infelizmente os tempos pós-adolescentes onde esse escape era permitido passaram há tempos.
Hoje, a minha vida não é única que depende das minhas decisões e/ou do controle da minha raiva. Pelo menos em parte, a minha mineira também paga pelos meus tormentos e pela ausência de foco que se instala de vez em quando.

Essa perda momentânea de foco me acompanha há milênios.
Desde os tempos da Galactica e do Starbuck, para ser mais preciso. Bastava os Cilônios matarem alguém conhecido que eu já ficava deprimido.
Felizmente esse tempo infantil já passou e eu não sou mais tão vulnerável.
Para me deixar para baixo é preciso muito mais. Um bolso vazio ou a falta de perspectivas no trabalho, por exemplo.
Mas isso logo passa. Basta eu não olhar para os meus colegas de trabalho e para a minha conta bancária e pronto, lá estou eu animadinho de novo. Fácil assim.

Sei que é tudo uma questão de ponto de vista ou de momento de vida, mas de vez em quando enche o saco ver que tudo é tão sem graça.
Não que não seja, mas não preciso sentir vontade de largar tudo, certo?
É óbvio que esse bode está ligado à uma certa urgência que sempre tive. Uma urgência de viver e de experimentar. Costumo ter muitos problemas para driblar a minha vontade de fazer tudo ao mesmo tempo. De vez em quando penso que meus movimentos não me levam a lugar nenhum e acabo nem percebendo onde fui parar.
Novamente é óbvio que eu me movi e às vezes eu demoro muito para reagir e me adaptar.
Ao invés de sair "pedalando", fico questionando por que as coisas aconteceram daquele jeito e perco ainda mais tempo.
Coisa de doido mesmo.

Mas isso passa. Nem que eu tenha que fazer análise, isso passa.
Ou passa ou eu largo tudo de vez. Mas aí a minha mineira terá direito a veto.
Só espero que a paciência dela também não tire férias quando eu mais precisar.

terça-feira, março 07, 2006

É hexa!

Hoje é dia 9 de Julho de 2006 e o Brasil é hexacampeão mundial!
Jamais, desde que passei a entender o objetivo de se matar para fazer aquela bolinha chegar até aquela redinha, eu poderia ter imaginado algo tão grandioso, feliz e gostoso como o que aconteceu hoje!
Ganhamos da Argentina! Isso mesmo! Derrotamos sem a menor dúvida àquele que é o nosso 'nemesis', ao grande adversário, ao 'outro lado'!
Ganhamos na bola e na torcida. O mar de 'amarelinhas' cantou feliz durante os dois tempos e nem o golaço do 'Quasímodo' fez diminuir a confiança do povo que vai festar até a semana que vem.
Ganhamos da Argentina e ponto final! O resto a gente decide na segunda, depois de curar a ressaca!

Mas nem tudo foi tão feliz assim.
Começamos meio 'bambos' contra a Croácia. Um a um, fora o show. Deles!
Mas não foi de todo ruim, já que os croatas se encheram de auto-confiança e acabaram empatando com os japoneses. O Brasil, com um golzinho solitário, despachou os "Socceroos" e ficou mais tranquilo.
Restou o Zico e os japas. Quase uma filial do Brasil. Mas não houve dó. 2 a 0 e a segunda fase garantida.
Os croatas ganharam a sua última partida da primeira fase e também passaram.

Segunda fase, mesma sede (Dortmund), mesma torcida e, claro, mesmo sofrimento.
A tradição do time que cresce dentro da competição não abandonou a Seleção e lá fomos nós, pobres amantes do esporte bretão, eliminar o que restava de nossas unhas e descontar todas as frustrações nos hectolitros de cerveja gelada preparados dias antes pelo anfitrião da vez.
Com o coração na mão começamos a enfrentar a República Checa e com ele na boca vimos o Nedved levar meio time e encher o gol do Marcão.
Era a primeira vez na Copa que saíamos perdendo, mas o Parreira não mexeu um músculo. Ao invés disso ele olhou para o Ronaldo e "disse": sua vez, meu querido!
Parecia um replay do jogo contra a Inglaterra na Copa passada: show dos Ronaldos e petardo do Imperador Adriano: Brasil 3 a 1 e Frankfurt como nova sede.

A mudança fez bem à Seleção. A torcida teve mais opções de lazer, a comida era melhor, a imprensa ficou mais amigável e o Kaká acordou. Na verdade, só precisávamos desta última mudança para despachar a "Fúria", mas o resto deixou a coisa ainda mais legal.
Os espanhóis até que tentaram escapar da sua sina de perdedores, mas o Príncipe não deixou. Dois gols, vários dribles, algumas corridas matadoras e o povo do Raúl teve que abaixar a cabeça e esperar pelo próximo Mundial. No final, dois a zero e o provável fim de uma geração de grandes jogadores espanhóis.
Ruim para o futebol mundial, nem tanto para o futebol brasileiro.
E a vida segue com a semi-final na Bavária.

Munique estava como sempre: cheia de música, cerveja, alemãs gordas e brazucas chapados. Essa última não é exatamente uma característica típica da cidade, mas a torcida se sentiu tão em casa, que ninguém estranhou quando eles começaram a abrir as "quentinhas" nas praças da cidade.
Pela segunda vez seguida, a bola da vez era a Inglaterra, mas desta vez não tínhamos o Lúcio para reforçar o time adversário.
Pensando melhor, talvez fosse mais fácil se ele estivesse. O primeiro tempo acabou sem gols e a torcida ficou apreensiva com algumas bolas que o Beckham acertou: duas traves, uma de cada lado e nenhuma chance para o Marcão. Se fosse no gol, um abraço.
Mas Deus é mesmo brasileiro e estava torcendo como nunca naquele dia.
O "quadrado mágico" voltou a funcionar e o Imperador quase furou a rede com uma patada de esquerda. A torcida conseguiu respirar aliviada e o Beckham novamente caiu no chão chorando. É provável que ele estivesse fazendo promessas para nunca mais ter o Brasil pela frente, mas nenhum jornalista quis colocar o seu na reta e publicar essa notícia.

No fim do dia 5 de Julho só faltava um jogo para o Hexa, apenas 90 minutos para liberar o grito do povão. Não haveria Lula, mensalão, PT ou Garotinho que tirassem o humor dos 170 milhões de técnicos de futebol que (de vez em quando) têm orgulho de serem brasileiros. Nada mais entorpecedor do que uma vitória no futebol. É a demonstração clássica do "ópio do povo", mas acho que todo mundo precisa de uma fuga de vez em quando. No dia seguinte os problemas ainda estarão lá e a necessidade de vencê-los também, por isso deve valer a pena esquecer da vida um pouquinho, vestir a surrada camisa amarela comprada no camelô e mostrar as restaurações e os espaços vagos na boca ao gritar cada gol da Seleção.

E foi exatamente o que aconteceu!
Nem todo mundo conseguiu comemorar o final do jogo. Alguns cardíacos ficaram pelo caminho, mas quem sobreviveu, celebrou. Nem Tevez, nem Messi, nem Crespo. Eles bem que tentaram, cada um com um gol, mas Deus estava do nosso lado e aquele chute do Roberto Carlos fez uma curva mais acentuada do que de costume e entrou lá onde nem a coruja chega. O "Pato" Abbondanzieri até que tentou, mas nem se ele tivesse mais dois ajudantes ali aquela bola deixaria de entrar.
Teve gente que jurou de pés juntos que uma mão meio éterea apareceu do nada e desviou a bola. Acho que isso fica na fé de cada um. Prefiro ficar com a minha e me ater ao fato de que ela entrou. Ela entrou e matou o time deles. Foi pior do que na Copa América, por que não havia pênaltis depois do gol. Era o fim do sonho do Tri e o início da festa do Hexa.
Depois dessa, tenho cada vez mais certeza de que Ele sabe o que faz e que a Comissão Técnica do Céu estava de plantão. Quem sabe até eles pagaram ingresso!
Para não seguir com as blasfêmias, resta dizer que o mundo ficou melhor depois de ganhar da Argentina. Tenho que rever meus objetivos de vida e é possível que tudo fique um pouco mais sem graça depois que eu me cansar de comemorar e de tirar um sarro deles.
Poucas coisas podem ser melhores do que isso.
Quem sabe só se ganhássemos deles de novo na próxima Copa!!
Será?

Sonhar não custa nada, torcida brasileira!

quarta-feira, março 01, 2006

Beautiful day

Meus joelhos chegaram destruídos, meu humor estava um lixo e meu estômago estava nas costas. Ainda assim valeu a pena. Ainda assim foi bom reencontrar o U2.
Novamente foi em solo 'sagrado',mas desta vez eu abusei do contato. Praticamente me deitei no gramado e sonhei com outros shows, estes muito mais esportivos e tricolores.

A coisa toda funcionou tão bem que nem parecia que o 'lazarento' do Accioly ainda estava envolvido na organização.
Do esquema de compra de ingressos para o segundo dia, até a estrutura montada para deixar o povo se preocupando apenas com o show, tudo foi de primeira, impecável mesmo.
De ruim, só o ânimo do público com o bom show do Franz Ferdinand.
Os escoceses se esforçaram muito e eu até pulei em várias músicas, mas o que mais se ouvia ao final de cada música eram convites para que eles terminassem logo e saissem.
A noite era da Irlanda, não da Escócia.

E apesar do carisma milimetricamente coreografado do Sr. Hewson, o U2 voltou ao Brasil e novamente arrebentou.
Todo mundo cantou quase tudo. Até as mais novas deixaram o povo animado.

Eu estava praticamente no Paraíso: minha mineira estava lá, meus amigos-irmãos estavam lá e até a querida Mi de Blumenau estava lá. Só faltava a minha irmã-cineasta. Mas esperar que ela saisse da Hot Area e da frente do palco para se juntar a mim no meio do campo era amor demais. Ninguém seria louco a esse ponto e ela sempre se mostrou bem sã.
Mesmo assim, tudo foi perfeito e eu cantei como nunca.

De vez em quando tinha que suspender a minha mineira por sobre o mar de cabeças para que ela colocasse os olhos na banda, mas nem isso me desanimou.
Só parei de pular quando meus meniscos começaram a fazer mais barulho do que a guitarra do Edge. Aí sim era hora de parar e ir embora.
Mas quando eu estava fazendo isso, veio o segundo bis e com ele "All I want is you".
Desejei que o Presidente estivesse ali com a gente para relembrar uma certa noite em Campos onde a gente achava que nunca havia sido tão felizes, mas ele já estava longe, assustado com o crowd e havia perdido o momento.

Talvez ele tenha sido mais sábio, já que quase morremos amassados na saída, mas nem isso fez o evento não valer a pena.
Saí feliz como em poucas ocasiões na minha vida. O casório é hors-concours, claro. Melhor que isso, só se a banda fosse inglesa, viesse de uma certa cidade chamada Manchester e o vocalista atendesse não por um apelido, mas pelo seu sobrenome.
Aí sim seria perfeito, mas como muita gente costuma dizer, a perfeição não existe e o tempo não volta jamais.

Sendo assim, me contento com a felicidade do segundo encontro com o U2 e com mais um momento dividido com a minha mineira.
Foi só mais um da longa série que ainda vamos ter pela frente.
É só esperar.