terça-feira, março 23, 2004

O que quero ser quando crescer

Alguns dias atrás eu vivi uma sessão de psicanálise travestida de análise de desempenho.
Essa é uma daquelas normas empresariais que visam melhorar o clima e incentivar as pessoas, mas que vira e mexe acabam sendo razões para perda de motivação e ameaças de morte para os chefes/avaliadores.
Dentre o monte de abobrinhas, coisas insípidas e bons conselhos que meu chefe me deu, uma coisa me chamou a atenção e faz pensar até hoje: o exemplo a ser seguido.

Esse papo surgiu depois que eu reclamei de algumas diferenças que me pareciam injustas.
Como um mestre russo de xadrez, meu chefe me deu uma resposta impossível de ser rebatida ou contestada e tive que colocar meu rabinho entre as pernas. Ainda bem que juntamente com a “chamada” ele me incentivou a buscar um objetivo diferente daquele que eu ensaiava seguir. Segundo ele, a diferença atual “estava” mais do que “era” e que valia mais a pena pensar em me inspirar em quem ainda poderia ser.

Acabei transportando isso para a vida pessoal e vi que realmente vale mais a pena me comparar com quem ainda tem cabeçadas a dar. Apesar da diferença financeira cutucar meu bolso como bicho geográfico, talvez seja melhor pensar em quem eu posso admirar sem inveja e culpa.
Isso me levou naturalmente a pensar no Professor. Parece incrível, mas novamente vou ter que falar bem desse careca miserável.
Mesmo que ele me encha o saco a cada vez que o meu Tricolor perde ou os times dele (Corinthians e São Caetano) ganham, cada vez acho mais positivo tratá-lo como um irmão e não como um colega de trabalho.
Quem me conhece bem, sabe que para mim existe uma distância enorme entre amizade e coleguismo, principalmente no trabalho.

Apesar de participar das palhaçadas e de fazer questão de relaxar o ambiente de trabalho através das mais infantis brincadeiras que o mundo corporativo jamais viu, acho que deve ser divertido para o pessoal em volta assistir a criação de uma piada a cada bronca de chefe ou exigência esdrúxula de usuário. É só o danado desligar o telefone que a dupla de crianças invente uma piada ou cante o trecho de uma canção.
A gente realmente age mais como irmãos (ou amigos de infância) do que como colegas de trabalho. E olha que a gente quase nunca se encontra fora do trabalho!!!
Deve ser por dó das nossas respectivas companheiras. Nem elas merecem tanta asneira.

Não posso chamar de projeto de vida, mas tem algumas coisas que ele faz ou fez que me despertam a vontade de experimentar e ver no que dá. O casório é a primeira delas. Não sei se Ele vai permitir que meus planos se concretizem, mas espero poder atingir a mesma paz e felicidade que ele demonstra ao falar da “artista” com quem se casou.
Até mesmo as discussões que eles têm são motivo de admiração já que invariavelmente acabam sendo motivos para visitar um restaurante legal ou uma loja bacana.

Um passarinho verde me contou que a nossa “irmandade” não vai durar muito tempo, mas vou fazer o que puder para continuar servindo de referência para os restaurantes escolhidos para as comemorações e para receber em troca os conselhos de quem já aprendeu a entender e conviver melhor com os caprichos da alma feminina.

Espero que a recíproca seja verdadeira, Professor!

sexta-feira, março 19, 2004

Intensidade

Aquela pinta no lado esquerdo da boca dá a ela um jeito meio Cindy Crawford de ser.
O jeito como ela arruma o cabelo longo e castanho é impossível de não ser notado.
A risada está a meio caminho entre o tímido e o escrachado, sempre com pouca preocupação com o que os outros podem pensar.
Até a mania de puxar a mini blusa, que teima em subir e mostrar a sua pele branca, a faz ficar mais charmosa.

Apesar de ter falado dela com fingida propriedade, mal conheço a moça da pinta na boca.
Na verdade, eu conheço mais a sua obra do que a autora. Não que ela seja menos interessante do que a obra, isso está anos-luz longe da verdade, mas é que ainda não tive oportunidade de saber muito mais do que todo leitor sabe.

Ela escreve e bem em um lugar muito popular. Escreve sobre relacionamentos, sentimentos e as conseqüências de ambos. Acredito que, assim como eu, ela escreva sobre o que vive ou use alguns elementos da sua vida para criar estórias sobre coisas que interessem às pessoas.
Já li coisas sobre casamento, sexo, alegrias extremas e nomes esquisitos. Houve também palavras sobre a traição e sobre o desamor.
Tudo no mesmo estilo emocional, tudo da mesma forma passional, tudo com o mesmo jeitinho fingidamente seguro.

Das poucas coisas que sei, a maioria não me foi dita pessoalmente.
Talvez não maioria do que realmente importe, mas certamente a maioria do que vou mencionar aqui.
Sei que ela foi casada com um cara com quem sonhou durante anos.
Sei que ela foi muito feliz, construiu sonhos, visitou lugares, dirigiu por países de língua estranha e aprendeu a cozinhar divinamente.
Sei que deixou de amar uma pessoa e passou a amar outra, sem muito tempo para colocar as coisas no lugar entre um relacionamento e outro.
Sei que ela não faz nada que não seja intenso, forte, quase extremo.
Sei que ela não tem vocação para ser a outra, mesmo que isso signifique abrir mão do grande amor da sua vida.
Sei que ela é de Touro, mas prefiro não descobrir muito mais coisas neste setor.
Sei que seu nome mudou de acordo com as migrações dos seus ancestrais e que hoje a confundem com uma colônia devido a um certo detalhe anatômico.
Sei que ela tem três tatuagens, três gatos e vários livros empacados na vigésima página.

Com tudo isso que sei, ainda não dá para dizer que sei algo que realmente importe.
Ainda não posso dizer que a conheço ou que sou seu amigo.
Espero ter a oportunidade de seguir aprendendo as coisas que estão por trás daquele jeito Cindy Crawford de ser.

quinta-feira, março 11, 2004

Bonzinho

Aviso: o entendimento deste texto obriga um mínimo de conhecimento sobre a série Dawson´s Creek!!

Durante todas as cinco temporadas, ele foi o cara mais correto, leal e honesto de toda a Costa Leste americana. Tudo nesse era certo, do cabelo bem cortado até o sorriso controlado. Nada ficava fora do lugar e ninguém conseguia encontrar motivos para duvidar de algo que ele tivesse feito.
Ele era o protótipo da perfeição. O cara bonzinho em pessoa. Acho que foi por isso que a Joey escolheu o Pacey: caras certinhos são muito chatos!!

O tal do Dawson era tão quadrado que até minha irmã cineasta, que gravava os episódios e assistia até decorar as falas, ficava bufando impaciente enquanto ele aparecia na tela.
Acho que contei uns 15 chifres, 25 foras e 45 cenas em que ele aparecia sozinho, olhando para o vazio em algum pier ou lagoa.

Isso me leva crer que o mundo não foi feito para os bonzinhos. Acho que já escrevi sobre isso, mas como o blog é meu, cá estou eu remoendo o mesmo tema de novo.
Parece que não adianta ser o mais legal, o mais companheiro, o mais amável e o mais confiável.
Cada vez mais eu me dou conta que as mulheres não querem esse tipo de cara.

Um grande amigo meu acredita que qualquer tipo de relacionamento necessita de algum tipo de insegurança para existir. É preciso que as pessoas não estejam 100% seguras de que o parceiro vai estar ali sempre que eles quiserem e/ou precisarem.
A idéia de poder perder torna ainda mais valioso o ter e faz com que se cuide mais do que se tem.
Apesar de parecer doideira, isso tem todo o sentido do mundo.
Basta ver o que a Joey fez com o Dawson. Ela sabia que ele sempre estaria ali e por isso escolheu o Pacey.
O Dawson não representava um desafio e isso desvalorizava aquilo que a Joey acreditava ser.
Já o Pacey nunca ficou babando pela magrinha. Ele mostrava que a queria mas que não pagaria qualquer preço para tê-la. Ele colocou a responsabilidade nas mãos dela.
No final das contas ele se deu bem.
Acho que todo mundo que representa um certo desafio acaba se dando bem.

E os bonzinhos sobram para fazer filmes e escrever blogs.
Ainda bem que faz tempo que deixei de ser bonzinho.