quinta-feira, outubro 30, 2003

Os quase namoros

Durante boa parte da minha vida sexual e sentimentalmente ativa, achei que só pudessem existir duas formas de se relacionar de forma mais íntima com uma mulher: ou existia um relacionamento do tipo namoro (ou qualquer coisa mais séria e definitiva do que isso) ou era só uma troca de momentos agradáveis (com ou sem a adição de sexo).
Me parecia bastante lógico transitar entre esses dois pólos de uma forma bem binária: se eu não estivesse vivendo um, certamente estaria me fartando no outro.

Foi assim em muitos casos, mas foi preciso que aquela moça de pele escura cruzasse meu caminho para que as minhas certezas ficassem completamente balançadas.
Por mais que eu tentasse, não havia jeito de encaixar o que estava rolando em nenhum dos “quadros” que eu estava acostumado a pintar.
A gente não namorava já que nossas saídas eram, no máximo, semanais e quase sempre o programa incluía momentos de diversão no cinema e de paixão sob algum lençol branco e macio.

Acho que não havia muitas dúvidas de que a ausência de envolvimento sentimental descaracterizava totalmente o tal “namoro”.
A bagunça se instalava quando eu não conseguia também encaixá-la no perfil de parceira de cama, de alívio de tensões do dia a dia e de companhia para a realização de fantasias.
Ela era mais do que isso e eu sabia.

Apesar de não “namorá-la”, eu andava de mãos dadas com ela enquanto me dirigia para o carro depois do cinema, usava de muito carinho até quando estávamos apenas conversando e, mais importante de tudo, não saía com outras meninas nos intervalos dos nossos encontros.
Revendo tudo aquilo, só posso concluir que era tudo uma questão de admitir para mim mesmo o que estava acontecendo. Devia ser um caso típico de falta de coragem de dizer, em bom português, que aquela moça de sotaque levemente nortista era a minha namorada.

Esse tipo de “meio do caminho” entre as duas idéias que eu tinha passou a ser estranhamente na minha vida nos intervalos dos relacionamentos “de verdade”.
Tirando a questão da freqüência com que eu encontrava as meninas, acho que o grande diferencial era o fato de eu utilizar publicamente o termo “namoro”.
Na prática, isso era bem pouco significativo, mas na minha cabecinha confusa e cheia de normas, a verbalização significava muito.

Na verdade, isso ainda significa muito, quase tudo.
É por isso que ouvir um “eu te amo” saindo da minha boca deve ser motivo de orgulho e comemoração para a moça que estiver ao meu lado. Isso é algo bem raro de acontecer, raro mesmo.

Um vento vindo de Minas me contou que esse orgulho está sendo vivido há tempos e com muita intensidade.

quarta-feira, outubro 29, 2003

O mestre

A gente se conheceu na faculdade, em uma época onde eu ainda não sabia nada e ele havia optado por esquecer de tudo.
Ambos éramos pouco mais do que moleques, mas ele namorava sério com uma mulher que, dizia ele, tinha tudo para ser a mãe dos filhos que viriam para eternizar seu nome alemão.
Infelizmente alguém da comissão técnica do céu não concordava muito com isso e resolveu separar os destinos de ambos. Vivi boa parte da separação e sei como foi dolorido e traumático.
O cara que vivia sorrindo alternou diversos estados de espírito e nem todos eles fizeram muito bem para a cabeça e o espírito.

Começou com a tristeza e depressão. Os olhos pequenos e verdes ficavam meio mareados quando ele se lembrava das coisas boas que ele tinha vivido com aquela mulher e dos planos que haviam durado até o “tchau” final.
Depois veio a necessidade de compensação. Ele se transformou em um verdadeiro predador e suas mulheres significavam apenas troféus para anular o vazio que ele sentia. Poucas delas duraram mais do que uma noite e foi preciso muita persistência para que uma delas deixasse o rol das “temporárias”.
No final desse período veio o momento da escolha entre o amor e o desejo.
Ganhou o amor e com isso veio um casamento.

Infelizmente, novamente alguém tinha planos diferentes para ele e a sua escolha se mostrou infeliz ao extremo.
Não me arrisco a dizer as razões de mais uma infelicidade, mas sei que a questão envolveu doença, incompatibilidade de objetivos, morte e culpa.
Outro período de tristeza o acolheu e novamente eu os amigos-irmãos estávamos lá para oferecer o ombro e a companhia para a tentativa de matar na bebida a tristeza que imperava.

Acredito que foi nessa época que ele decidiu não mais sofrer e não mais se entregar.
Era mais uma questão de sobrevivência do que de escolha: ele não queria mais a tristeza do rompimento e do desaparecimento da esperança de que a felicidade durasse mais do que ele pudesse se lembrar.
Desta vez não foram necessárias muitas moças desavisadas para que ele se convencesse de que valia a pena tentar novamente. Sempre vale!!

Acho que dá para provar esse otimismo analisando a atual vida desse outrora mestre da paquera, hoje pacífico e amoroso trabalhador e marido.
A estonteante companheira sempre exibe um sorriso de felicidade quando nos encontramos e não há nem sombra da tristeza que adorava dominá-lo.
Por falar em companheira, ela veio mais ou menos do mesmo lugar que a minha mineira, mas não vou dizer muito mais além disso. É bom saber que eu e ele temos mais isso em comum.
Se ela for aquilo que posso ver dentro dos olhos, meu mestre será feliz por um longo e longo tempo.

Como não posso tomar as decisões de vida por ele, vou fazer o que me cabe: utilizar a minha suposta influência com a comissão técnica do céu e rezar para que a cota de tristezas tenha ficado no passado.
Ele já teve muito disso e merece viver uma vida tranqüila e cheia de felicidade.
Na verdade, ambos merecem e vou fazer a minha parte nisso.

Que não haja mais lugar para a tristeza!! Longa vida ao mestre!!

terça-feira, outubro 28, 2003

Intersecções

Tenho atualmente um grupo de amigos onde impera a lealdade e o companheirismo.
Me considero privilegiado por ter tais amigos-irmãos por perto e sempre me esforço para fazer jus a essa sorte e por demonstrar que eles podem contar comigo para o que der e vier.
É engraçado pensar que tal proximidade acabou gerando algumas coincidências no campo amoroso e sentimental.
Talvez seja melhor utilizar o termo intersecções já que nem tudo o que rolou foi “sem querer”.

O caso que mais me leva ao passado é o da psicóloga relutante de cabelos curtos e sexualidade explosiva.
Fui o primeiro a me aproximar dela e o segundo a beijá-la. Não tive muita chance de continuar na vanguarda já que foi ela que escolheu se entregar ao meu melhor amigo.
Não culpo nenhum dos dois, mas ele sabe o quanto desejei estar ali, bem no lugar que ele estava ocupando.
Aquela mulher sempre me enlouqueceu e agradeço a Deus por nada ter atrapalhado minha amizade com ele. Tive que engolir minha vontade de abraçá-la até que a vida voltou a nos aproximar. A vida e uma providencial viagem para a Alemanha: na ausência dele, acabei aproveitando o momento para me aproximar novamente dela e sentir o gosto do beijo que eu tanto quis.
Infelizmente nosso envolvimento durou muito pouco. Na verdade, foi até que ela se tocou de que não queria mesmo ficar comigo e de que os beijos e amassos que já haviam rolado eram toda a estória que teríamos.
Nunca ouvi isso dela, mas acho que não há muito distância entre isso e a verdade.

Outro caso envolvendo o Presidente foi o da moça magrinha do interior.
Na verdade, eu só me aproximei dela por que fui reconhecido como “o amigo de fulano”. Não me lembrava do rosto dela, mas tinha bem fresco na memória o dia em que havíamos nos conhecido e o envolvimento que havia acontecido.
Tivemos uma breve estória que foi abreviada pela diferença de expectativas e desejos.
Não tínhamos muito em comum e isso pesou muito para que deixássemos de nos ver.
Não sei se o passado com meu amigo teve alguma influência nisso, mas me sinto feliz de não ter prolongado algo que naquele momento não podia trazer bem estar e felicidade a nenhum dos dois.
Teria sido apenas sexo e não lamento muito o fato de nem isso ter rolado. Apenas foi.

Acredito que a maior paixão “dividida” com um amigo foi a que senti pela moça de Campinas e cabelos de anjinho.
Nem vale a pena dizer muito desse caso, apenas que sofri um monte ao descobrir por acaso que um dos meus supostos amigos havia dormido várias vezes com ela mesmo sabendo que eu sentia algo diferente e forte.
A amizade ficou abalada durante muito tempo, mas hoje já não me preocupo mais com a questão. Hoje vejo que meus amigos tinham razão: ela não valia a briga e estava na estória só para provar que era forte e que podia brincar com a gente.
Nunca lhe desejei mal, mas a vida acabou dando umas belas surras naquele rosto delicado. Espero que a volta para casa dos pais sirva para colocá-la nos eixos novamente.

Esse mesmo “amigo meio traíra” protagonizou um episódio muito engraçado.
Por estar envolvido em política, ele conheceu uma moça que adorava circular nos meios do poder e que tinha um desejo muito grande de se dar bem, mesmo que não fosse preciso muito esforço.
Pelo que sei, eles se beijaram algumas vezes e não passou disso.
Tempos depois essa mesma menina conheceu outro amigo e resolveu contrariar as regras da empresa onde trabalhavam ao começar um namoro meio escondido.
O lance não durou muito mais do que o suficiente para que nos divertíssemos muito com as confidências que cada um deles gostava de fazer com relação às manias dela. Não era nada ofensivo, mas certamente era divertido por mostrar um lado bem diferente daquele que ela gostava de exibir em público.

Por último, me lembro do caso mais recente que envolveu o Presidente e esse amigo que namorou a moça da mesma empresa.
Não há muito para dizer da moça que fez companhia constante para o primeiro e que se esqueceu do “amor” que sentia e curtiu um único momento de prazer com o segundo.
Ela tinha um corpo atraente, gostava de usar roupas provocantes, de freqüentar bares onde a “guerra” rola abertamente e ostentava uma longa cabeleira cor loiro-puta.
Essa causou frisson em toda a turma mas “só” esses dois comprovaram as suas habilidades.

Não sei o que poderei pensar no dia em que essas intersecções envolverem grandes amores e mulheres que realmente marcaram a vida de algum de nós.
Prefiro pensar que vai existir uma espécie de “código de honra” que vai afastar as tentações da carne e vão fortalecer o bom senso de todos.
Gosto de pensar que a minha história sentimental será só minha. E que fique por aí, por mais que eu goste desses meus amigos-irmãos!!

segunda-feira, outubro 27, 2003

Gostos e razões

Voltei de férias meio filosófico.
Talvez um pouco mais do que de costume. Certamente não voltei para casa apenas com quatro quilos a mais na região abdominal (ou pança de cerveja ou área para carinho).
Trouxe na bagagem também quinze dias de lua-de-mel.

Por mais que ainda não tenha cometido o ato de desvario (amor?? coragem?? entrega??) de percorrer o caminho para o altar de alguma igreja, as minhas férias serviram para ensaiar alguns comportamentos que só quem mora sob o mesmo teto pode ter acesso.
É óbvio que não estou falando da convivência de companheiros que racham o aluguel. Falo de casais, de metades de casais.
Sendo um pouco mais específico, falo de acordar junto.

Menciono o acordar e não o dormir por que essa é exatamente a parte que mais me agrada.
Curto muito dar um beijo de boa noite, formar a conchinha e adormecer sentindo o perfume dos cabelos dela, mas o acordar tem um significando um pouco mais especial.
Acho que desenvolvi esse apreço pelo abrir de olhos durante a minha fase promíscua: eu nunca ficava tempo bastante com a moça para vê-la acordar. Normalmente eu nem chegava a dormir. Mesmo sob protestos de algumas, o normal é que eu ficasse apenas o tempo suficiente para trocar um pouco de carinho, valorizar a generosidade da moça e agradecer silenciosamente aqueles momentos agradáveis.
Era meio complicado dizer que eu preferia dormir sozinho na minha cama, mas algumas vezes tive que apelar para esse grau de sinceridade.
É exatamente por isso que valorizo tanto a companhia das moças com quem acordo.

Esse valor é ainda maior quando a companhia significa para mim muito mais do que calor noturno e troca de carinho.
É muito melhor saber que o beijo de bom dia não é dado só com os lábios, mas que tem pele, cabeça e coração no mesmo pacote.
Faz muito bem não ligar (muito) para o hálito matutino e grudar as bocas quando o tesão é mais forte do que o sono e a vontade de escovar as "canjicas".
É tudo de bom não ligar se é dia ou noite e só querer levantar depois de vários abraços quentes e apertados.
É quase divino acordar com quem se ama.

Os centímetros a mais na cintura e as calças que devem se aposentar são um preço pequeno pela felicidade que rolou.
Acho que isso resume bem a parte mais importante das minhas férias.

sexta-feira, outubro 10, 2003

Intervalo

Finalmente estou saindo de férias e me afastando um pouco desta cidade que tanto me serve de inspiração para as estórias tortas que escrevo.
Por mais que goste de tudo o que tenho aqui, chega uma hora em que é preciso parar, pensar, relaxar e voltar a caminhar.
Agora é minha hora de parar.
Volto a escrever no dia 27/10.
Espero que quem aparecer por aqui (normalmente são só meus amigos) fique bem até lá.
Abraços e beijos.
Doutores

As personalidades de ambos podem fazer com que um desavisado acredite que eles vivem em eterno conflito. Um primeiro olhar sobre a forma como eles conversam pode levar a crer que o contato físico na intimidade chega a socos e pontapés.
Com relação a este casal, nada poderia estar mais longe da verdade.

Ambos são médicos, se conheceram na faculdade, estudaram juntos e se apaixonaram em meio a cadáveres, festas-monstro, garrafões de pinga esvaziados no gargalo e viagens paradisíacas.
Resolveram seguir especialidades distintas e hoje sofrem para se encontrar nos intervalos dos plantões e cirurgias.
Me parece que isso está bem adequado já que dificilmente alguém de fora do meio poderia levar na boa uma ligação de emergência às três da manhã ou um bip bem no meio do mais gostoso “rala e rola” do mês.

Vivi a parte final do namoro, pouco antes da brincadeira ficar mais séria e eles chegarem ao final do corredor da Igreja do Calvário.
A cerimônia foi muito legal e a festa melhor ainda. Me diverti muito com eles. Estava no meio dos amigos que são quase da família.

Minhas conversas com ambos sempre foram muito animadas e acho que eles também sentem que temos uma ligação quase sanguinea.
O fato dela ser irmão do meu “quase irmão” tem muito a ver com isso, mas no íntimo eu sinto que não é só isso. Sinto que temos um relacionamento especial e que todos nos importamos muito com o bem estar uns dos outros.

Tivemos muitos momentos tragi-cômicos e talvez o mais marcante deles tenha sido um certo Reveillon em Floripa: eram passados uns poucos minutos do novo ano e chuva caía torrencialmente sobre nossas cabeças alcoolizadas.
A decisão de ir embora da praia veio meio de repente e a separação do grupo acabou sendo “fatal”: ao correr para tentar alcançá-los, tropecei e caí de frente, colocando as mãos para amortecer a queda.
Até aí tudo bem, se não fosse o pequeno detalhe da garrafa de cerveja na minha mão direita: não tive reflexo de largá-la e quase consegui dar um gole antes de me quebrar todo.
Poucos minutos depois estávamos todos no pronto socorro para tentar um atendimento. O doutor estava voando por instrumentos e preferiu não entrar. Coube então à doutora a tarefa de tentar costurar a minha mão que exibia um vermelho-sangue bastante vivo (e dolorido).
Pensando no estado etílico dela, até que a cicatriz em zigue-zague que tenho hoje não ficou tão ruim.
Acho que teria sido muito pior se eles não estivessem lá comigo.

Com o doutor as coisas acontecem de uma forma um pouco diferente; Nosso negócio é secar garrafas de tequila e/ou de grappa miel sempre que vamos ao Tranvía ou a algum bar que não ofereça muita coisa além de boa bebida.
Ele sabe que sempre pode contar comigo quando precisa de um companheiro de bebida.
Infelizmente eu não agüento nem metade da capacidade do “tanque” dele, mas o que vale é o espírito de colaboração e alegria que pinta quando os destilados batem e sobem.

É por essas e outras que eles certamente estão nas primeiras posições entre os meus casais favoritos. Poucos convivem tanto comigo e poucos tem a opinião tão respeitada por mim.
Espero que a desejada (ao menos por nós, os amigos) vinda do(a) herdeiro(a) não mude a rotina do nosso relacionamento.
Torço para que ele continue sendo meu companheiro de destilados, meu cozinheiro favorito e meu amigo de fé.
Torço também para ela siga sendo minha parceira na academia, minha colaboradora nos eventos e minha incentivadora nos projetos.
Torço para que continuemos tão próximos quanto somos hoje.
Afinal de contas, é para isso que serve a família, né?

quinta-feira, outubro 09, 2003

Apenas uma vez

Não sei bem por que, mas nesta semana me lembrei de algumas mulheres com quem não tive muita coisa além da primeira transa.
Com algumas delas, o relacionamento foi só a transa, mas com outras eu tive a sorte de ter alguma estória para contar. Rolou até uma amizade antes do sexo. Infelizmente pouquíssimas sobreviveram a isso.

Tentei buscar razões para o antes, o durante e o depois, mas só consegui achar fatos isolados para cada uma delas. Acho até bom que não exista um padrão de comportamento, ou eu acabaria me sentindo como um caçador impiedoso.

Uma das primeiras lembranças que tenho neste tema é da moça que conheci naquela casa de música cubana.
Eu estava lá com um amigo hispânico e de repente topei com essa mulher, que se não era linda, pelo menos cometeu o descuido de se aproximar demais de mim.
Começamos a conversar, nos beijamos, trocamos telefones, saímos para jantar, nos beijamos de novo e tentamos nos entender em alguma coisa que não fosse física. Essa foi a parte mais difícil já que ela era cheia de manias e quase não havia disposição para adaptação, concessão ou absorção de outra opinião. Era difícil conversar com ela, mas ficou ainda pior quando transamos: as manias dela chegavam a ponto de não gostar da presença de nenhum tipo de fluido em contato com o corpo. Nem o suor era permitido.
Isso foi demais para a minha formação básica e apaguei o telefone dela logo depois de deixar aquele apartamento pequeno e muito bem decorado.
Nunca entrei naquele apê. Nunca mais a vi.

Com a aeromoça foi mais ou menos a mesma coisa.
A gente ficou se desencontrando durante muito tempo, mais de um ano até. De repente abri o jogo e disse que não entendia por que a gente ainda não havia ficado juntos. Não entendia por que naqueles meses todos, o máximo de intimidade que havíamos conseguido havia sido um beijo de despedida depois de um cinema.
Pra minha surpresa, ela disse mais ou menos a mesma coisa. Apesar de bem mais velha do que eu, ela também sentia vontade de ver como poderia ser e daí para a cama foi um pulo.
Não tenho nada de ruim para dizer sobre o sexo que rolou. A gente se deu bem. Não foi perfeito, mas foi bom.
O esquisito foi depois. Do nada veio um e-mail dizendo que ela havia cometido um erro, uma confusão ou sei lá e que não queria mais receber e-mails ou me ver.
Talvez tenha acontecido com ela o que aconteceu comigo com relação à moça do apê bonito.

O caso que mais me deixa triste é o da professora.
Ela tinha um brilho carente no olhar e apesar de já ter sido casada, de conhecer bastante os caminhos dos relacionamentos e de ter uma filha linda, parecia que ela ainda vivia as incertezas da adolescência e das descobertas de todos nós.
Houve um encanto inicial que não se manteve, ao menos para mim. Mesmo antes de acontecer qualquer coisa, eu já achava que não iria dar certo e que o melhor seria não ir além.
Infelizmente não assumi essa posição a tempo e a gente se envolveu.
Tudo foi muito legal, mas aquela necessidade de salvação dela me incomodava cada vez mais. Nunca quis ser responsável por alguém de forma a garantir a sua sobrevivência. Sempre achei que o envolvimento exigia uma troca e não uma transferência unidirecional de energias.
Não demorou muito para que eu dissesse isso a ela e causasse mais uma decepção naquela moça que sempre gostou de fingir que era forte e independente, mas que no fundo era mais frágil do que a filha de pouca idade.

Por diferentes razões, a estória com algumas mulheres não passou da primeira página.
Tenho certeza de que também fui apenas a primeira para algumas moças deste mundo. Talvez não tenha passado nem da capa.
Gosto de pensar que foram passos necessários para chegar onde estou hoje.
Se isso não significa o ideal, ao menos quer dizer que consegui a troca que sempre desejei e encontrei a chance de criar algo que valha a pena viver.
Ainda bem que a terra do queijo gerou a minha grande chance de felicidade. Assim fica muito mais fácil.

quarta-feira, outubro 08, 2003

De amigo

Neste último final de semana eu estava almoçando com alguns amigos quando surgiu o papo de ciúme e dos limites que ele deve ter.
Algumas opiniões convergiram e outras, naturalmente, bateram de frente.
Tudo isso tem a ver com a natureza de cada pessoa e com a visão de mundo que foi consolidada ao longo dos anos de estrada de cada um.
Ao chegar a minha vez, respondi que não sou dos mais ciumentos e que detesto “piti”.
Acho que todos concordaram que eu não sou mesmo do tipo que dá escândalo ou que impõe proibições de vestuário, amizades ou comportamento.
Sou bem tranqüilo nisso e deixo as pessoas fazerem suas escolhas e entenderem as conseqüências.
Só não suporto desrespeito, mas aí acho que nem é uma questão de ciúme, né?

Uma coisa interessante que não foi abordada e que é muito comum no nosso círculo de amizades é o que eu costumo chamar de ciúme de amigo.
Isso tem a ver com o desconforto causado por um dos membros do grupo quando pessoas “de fora” se infiltram e o levam para um caminho diferente daquele que se costumava trilhar.
Um exemplo clássico do que rola no meu ambiente é a pizza de domingo: é só um de nós ligar a avisar que não vai por que tem aniversário de fulano ou festinha de ciclano para que os comentários de noite se concentrem nas razões que geraram a “traição”.
E engraçado, pra não dizer ridículo, o controle que acabamos achando que temos sobre as vidas uns dos outros. Parece que nenhum de nós tem o direito de fazer escolhas discordantes com o grupo. É uma espécie de ditadura fraternal.

No meu caso particular, isso rola muito entre homens de um grupo e mulheres de outro.
Não sei bem por que, mas me sinto extremamente desconfortável de promover o encontro desse tipo por não curtir as conseqüências típicas que acabam rolando.
Acabo achando que minhas amigas não merecem o espírito “just for fun” de alguns amigos e que esses mesmos amigos não deveriam se envolver com moças tão pouco “católicas”.
No fundo acho que rola uma relação meio pai-e-filha de um lado e uma vontade de estar no lugar do cara na outra situação.
No final das contas, acabo percebendo que eu deveria me preocupar menos e deixar que os adultos, brancos e vacinados se entendam.

Está rolando uma nova situação agora que nos aproximamos do Reveillon.
Existe uma movimentação do grupo para um evento coletivo e a simples idéia de deserções nos causa um grande desconforto. É certo que esse desconforto se concentra apenas em alguns membros do grupo (eu e o Presidente), mas como somos nós os grandes agregadores, acho natural que nos preocupemos.

Andei pensando bem e acho que vou afrouxar um pouco as rédeas e deixar o barco correr.
Quem quiser festejar em grupo, que venha.
Quem não quiser, que seja igualmente feliz onde quer que se escolha.
Acho que isso me deixa mais tranqüilo e elimina minha vontade de controlar tudo.
Se não parar com isso acabo envelhecendo antes da hora e minha impecável cabeleira preta (ou o que resta dela) vai acabar salpicada de fios de cor grisalho-stress.

Sendo assim, deixa rolar!!!

terça-feira, outubro 07, 2003

Cor de canela

Mesmo que a gente só conviva durante o horário do expediente, a figura e a presença daquela mulher podem fazer com que qualquer um perca a concentração e demore dias para se reencontrar.
Felizmente, meu contatos com ela sempre se limitam a assuntos profissionais e a um ou outro gesto de simpatia para aliviar o stress.

Parece meio brega dizer isso, mas o rosto dela me lembra da Pocahontas. A pele naturalmente bronzeada, beirando quase o jambo, os cabelos longos e pretos, o perfil alongado e o sorriso sempre aberto a aproximam muito da imagem daquela índia de desenho animado.
Não sei que outra característica física poderia ser chamada de semelhança, mas me dou por satisfeito com aquelas que posso ver.

Se fossem outros tempos e outro ambiente, certamente ela faria parte do grupo das “certinhas”.
Acho que foi o Stanislaw Ponte Preta que celebrizou esse termo ao usa-lo para descrever mulheres de grande beleza física e que adoravam povoar os sonhos mais íntimos da galera dos carnavais.
Apesar de não passar nem perto da perfeição, o corpo dela é sabidamente atraente e de formas bastante generosas. Segunda ela, aquilo tudo é resultado de muito body pump e musculação.

Por mais “gostosa” que ela seja, o que chama atenção naquela mulher são duas coisas meio particulares, mas igualmente bonitas de se ver.
A primeira delas é o brilho nos olhos que ela sempre traz quando vem conversar com qualquer pessoa sobre qualquer assunto. Não importa se se trata da moça da limpeza ou do Diretor da área, ela sempre se mostra entusiasmada e com vontade de fazer com que tudo funcione direito.
É energizante estar a poucas mesas dela e assistir ao espetáculo de otimismo e bom humor.
No meu caso particular, é muito bom ter alguém para balancear a “nhaca” tradicional do meu humor ao lidar com assuntos do trabalho.

A segunda e potencialmente mais perturbadora coisa é a curva do lábio superior dela.
Não sei bem o que acontece, mas a boca dela faz desenhos meio diferentes do tradicional e um misto de curiosidade e encanto faz com que seja difícil deixar de reparar em qualquer palavra que ela diga.
Me sinto bastante desconfortável quando tenho que conversar com ela. Sempre vou até onde ela está pensando em alguma maneira de desviar a minha atenção e não encará-la enquanto conversamos. Sempre fico com medo que ela se sinta constrangida por conta da minha eventual cara de hipnotizado.
Ultimamente tenho sido muito bem sucedido nas minhas táticas de distração. Nem sei se ela percebe que eu nunca a encaro quando conversamos e espero que isso não cause nenhum tipo de má impressão.
Apenas tento não dar espaço para qualquer coisa que impeça que continuemos sendo bons colegas.
Digo colegas por que não costumo fazer muitos amigos no trabalho, ainda mais se tratando de mulheres, mas isso já foi assunto de outros dias nesta conversa.

Prefiro deixar minha homenagem a esta “Pocahontas” nacional que merece tudo o que há de bom nesta vida e que deve continuar a alegrar mais os dias de trabalho de uns poucos privilegiados.

segunda-feira, outubro 06, 2003

O jogo ideal

Não sou muito de curtir MPB, mas tem uma música do Djavan que sempre me chamou a atenção e pareceu interessante pela letra verdadeira.
Eu até sabia o nome da danada, mas tenho certeza que não vou lembrar dela agora nem que minha vida dependesse disso. Mesmo assim, acho fácil lembrar da música através dos versos “ela insiste em zero a zero, eu quero um a um”.
Essa metáfora futebolística me parece muito apropriada para o que eu entendo ser o tipo ideal de sexo: ninguém deixa de gozar e de curtir.
Nem eu nem o alagoano de tranças que é adorado pelas mulheres gostamos de deixar o “adversário” sair de campo frustrado e sem gols.

Tenho a sorte de ter amigos que pensam mais ou menos como eu.
Eles gostam de agir na cama como gostariam que suas parceiras agissem com eles. Isso acaba significando que eles se esforçam para que a moça sinta prazer e goze, mesmo que se trate de uma transa ocasional e/ou única.
Mesmo que eles nunca mais vejam o rosto daquela mulher na frente, sempre existe a preocupação de “fazer bonito” e de fazê-la gozar.

Pelo que existe no folclore, isso não é das coisas mais comuns.
Vivo dando risada com os relatos irônicos de mulheres modernas que não se conformam com rapidinhas e sonecas pós-gozo. Todas acham inaceitável que o gozo seja unilateral.
Uma coisa curiosa sobre essa posição: como esse tipo de mulher vê a situação em que só elas gozam?

Sei que é difícil que um cara transe e não goze, mas afirmo com conhecimento de causa que isso é perfeitamente possível. Não que não role tesão ou que o cara não sinta vontade, mas a coisa simplesmente não acontece.
Acho que isso aproxima ainda mais homens e mulheres: se ambos transam e podem não gozar, talvez exista esperança para aquelas que se julgam injustiçadas pela natureza.

Pessoalmente, acredito que o “placar” ideal para esse tipo de jogo seja 3 a 1. Para o adversário.
É claro que isso não acontece sempre e nem com qualquer adversário, mas ultimamente tenho me acostumado a ser derrotado por uma certa adversária lá do triângulo.
Obviamente acabam acontecendo outros placares. Acho que o melhor jogo da minha vida foi um glorioso 6 a 2 onde não sobrava energia nem para buscar um copo de água com gás para refrescar.

Também é óbvio que alguns adversários não sabem valorizar a dedicação que coloco no jogo e não se preocupam muito em descobrir o que acontece do meu lado. Acho que essas mulheres se acostumaram a não ter que se preocupar com o orgasmo do homem e não conseguem fazer muita coisa além de esperar e curtir. Talvez elas pensem que o homem sempre goza, não importa com quem.
Ainda bem que existem mulheres do outro extremo, que sabem alternar momentos de ataque e defesa e que só ficam satisfeitas quando caio de lado, meio morto, sonolento e com um enorme sorriso no rosto.

Tenho a impressão que esse tipo de jogo (6 a 2) só se consegue quando se juntam três coisas básicas: envolvimento, química e uma vontade de deixar o adversário estatelado.
Nenhum desses aspectos têm me faltado e por isso meu adversário regular não deve ter razão nenhuma para reclamar. Muito pelo contrário. É freqüente o pedido por um intervalo para recuperação de forças. Acho que se pudesse, eu ficaria no ataque por mais tempo do que ela pode suportar e teríamos que apelar para o resgate aéreo e os paramédicos.

Tomando a liberdade de mudar um pouco a letra do Djavan, minha versão da música ficaria assim: eu insisto em 6 a 2, ela quer 3 a 1.
No meu jogo, ninguém perde nem sai triste com o resultado.

sexta-feira, outubro 03, 2003

Impressões – Parte 6

As paisagens montanhosas da fronteira suíça serviram para nos irritar logo de cara; onde já se viu respeitar os limites de velocidade em um lugar sem guardas ou radares??
Aquilo parecia inconcebível para nossas mentes pós-adolescentes acostumadas a rachas, faróis furados de madrugada e som no talo.
Aquela civilização toda nos fez mal no início, mas logo nos acostumamos.

Nossa passagem relâmpago pela Itália foi brindada como deveria: uma bela macarronada à beira do lago Maggiore. Deu uma pontinha de inveja daquele povo com casas na beira da água e com barquinhos passeando para cá e para lá, mas isso logo passou. Afinal de contas, ainda tínhamos que chegar mais perto da neve e não podíamos ficar muito tempo nos sentindo mais próximos da Guarapiranga.

Voltando à terra dos chocolates e dos bancos milionários...
Ficamos meio enjoados de tantas curvas e de tantas montanhas, mas não pudemos deixar de admirar a beleza dos Alpes. Eu já conhecia algo parecido por conta das viagens para a terra natal andina, mas sempre é possível se surpreender e encontrar alguma coisa diferente e interessante. As montanhas de lá eram igualmente altas e geladas, mas não me lembro de ter visto tanta gente cruzando os Andes só para visitar os parentes do outro lado.

Depois de passar muito frio chegamos ao nosso destino na neve.
Zermatt havia sido recomendada pelo agente de viagens e naquela época isso dispensava qualquer tipo de preparativos ou pesquisa sobre o que encontraríamos.
Como já era noite quando chegamos lá, decidimos ficar no pé da montanha e não arriscar nossos pescoços na subida até a neve.
O hotel era caro (como tudo na Suíça) mas tinha um café da manhã muito legal. Não pude deixar de colocar meu lado glutão em ação e me fartar de tomar Ovomaltine. Afinal de contas, aquela era a terra do Ovomaltine!!

Tivemos alguns problemas para chegar até o lado alto da vila: a estrada era muito estreita e em boa parte dela só passava um carro por vez. Demoramos uns 30 minutos para fazer um trajeto de uns 3 quilômetros e quando chegamos lá quase tivemos a oportunidade de conhecer a hospitalidade das prisões suíças: o trânsito na vila alta era permitido somente aos locais e do jeito que eles são “coxinhas” o mínimo que aconteceria seria uma multa extorsiva.
Mais do que depressa demos meia volta e fugimos de lá. É impressionante pensar como a viagem de volta foi mais rápida do que a de ida.

Agora que estávamos a pé novamente, tivemos que recorrer à estação de trem para chegar novamente até a vila. Não demorou muito até que estivéssemos andando naquelas ruelas parecidas com brinquedos e com a presença constante do Matterhorn.
Para o que nunca estiveram naquelas bandas do Sul da Suíça, seria como circular a Avenida Paulista e nunca perder de vista a antena da Globo.
Até que tentamos nos arriscar nos esquis, mas o nosso orçamento não permitia tamanho desaforo.

No dia seguinte chegamos em Zurich e nos deparamos com outro trauma: a Banhofstrasse, tida como a rua mais cara da Europa naquela época.
Nem adianta tentar descrever a revolta com os preços praticados naquele lugar. Até pensamentos eram caros por lá.
No albergue de Zurich acabamos conhecendo alguns brasileiros e até uma americana que era namorada de um deles. Formamos uma turma bilíngüe e saímos para caminhar pelas ruas estreitas do outro lado do rio.
Encontramos outros brasileiros fazendo shows na rua e até um músico gay que nos identificou e convidou para um show que ele estava fazendo na cidade. Obviamente não nos arriscamos a comparecer. Vai que a gente gosta.
Depois de muitas cervejas, deixamos a parte alemã da terra dos bancos e fomos para a matriz das caras sisudas, do futebol-força e das regras inflexíveis.

No próximo capítulo: a experiência germânica.

quinta-feira, outubro 02, 2003

Rumos

Hoje estou meio down.
Não senti vontade de ir à academia, voltei pra casa e sentei ao lado da minha mãe para ver um capítulo novo (ao menos pra mim) do seriado que foi o um favorito durante anos: Beverly Hills 90210.
Um pouco antes de voltar a me maravilhar com a Jennie Garth (a Kelly), fiquei pensando nos caminhos que minha vida pode tomar nos próximos meses e no preço que cada escolha tomada pode cobrar da minha vida mansa.
Por um instante pensei que talvez fosse melhor não ter escolha alguma, mas isso logo sumiu da cachola. Tenho que dar graças pelos pontos de escape que tenho à minha disposição e que estão lá prontinhos para serem agarrados.

Minha certa insegurança presente tem uma certa ligação com o “crescimento” dos meus amigos mais próximos.
O melhor deles acabou de comprar um apartamento e deve se mudar para lá no começo do próximo ano. Se que vamos continuar irmãos, mas sei também que algumas coisinhas vão mudar. Não vai dar mais para quebrar móveis ou vomitar no tapete persa. À partir de agora tudo vai ficar mais caro e os porres homéricos vão demandar um cuidado todo especial para não acabar em móveis arremessados pela janela.

Outro dos meus grandes companheiros já mora sozinho e está pensando em pedir para a namorada se mudar para lá. Não seria a primeira vez, mas agora seria bem diferente. Agora seria mesmo um casamento e não uma pressão de um namoro muito longo.

Tenho uma série de decisões para tomar e um monte de caminhos para seguir.
Um fator especialmente complicador é que minhas decisões não podem ser tomadas de forma isolada. Tenho que levar muito em consideração a opinião e a decisão de outra pessoa de vital importância para a minha vida.
Minhas decisões se baseiam em algumas opções excludentes e deve ser isso que me incomoda. Não estou muito a fim de perder nada ao escolher, mas não vejo muitas chances de isso não acontecer. Terei que escolher um caminho e deixar os demais de lado.
Tenho que pensar para onde quero ir no trabalho e na vida pessoal.
Devo mudar um pouco a minha natureza e contar os cobres que virão com o caminho escolhido.
Não dá mais para ignorar o dinheiro, vil metal, horrendo mas necessário.
Não dá mais para continuar a viver como adolescente, irresponsável e inconseqüente.
Acho que a vida daqui pra frente vai ser um pouco mais definida e sem graça.
Ainda bem que eu tenho algumas estórias para contar.

Hoje o Brandon foi embora.
Por mais banal que isso possa parecer, acho que pode ser um sinal.
Se até o pessoal do Barrados no Baile cresce e segue seu rumo, acho que vou ter que pensar em fazê-lo também.
Vou ter que dar um jeito de organizar idéias e escolher o que for melhor.
Vou ter que controlar o instinto e fazer as coisas uma de cada vez. Nada de atropelos, nada de excesso de ansiedade, nada de atropelos. Tudo a seu tempo, tudo no seu lugar.

Que venha o Caos. Mas que venha organizado!

quarta-feira, outubro 01, 2003

O lembrador de nomes

Alguém aí sabe como se chama o cachorro que acompanhava o Jonny Quest nos desenhos?
E o nome do maior adversário do Sawamu dentro dos ringues do chutebox?
Ou ainda o nome dragão alado que soltava raios pelos olhos no desenho dos Herculóides?


Pois é. Muita gente nem deve fazer idéia do que estou falando. Muita gente deve achar que eu não saí da infância e que sou meio bitolado por trash culture. Muita gente deve ainda achar que não tenho coisa melhor a fazer a não ser ficar fissurado em frente à TV em busca do programa mais besta que eu puder encontrar.
Isso não está tão longe da verdade, mas não é bem o motivo de eu ter escrito este texto.
Queria falar um pouco sobre a minha paixão por nomes e sobre a impressão que isso causa em quem me conhece um pouco mais.

Tenho certeza que pouca gente se lembra do alter-ego do Ultraseven do seriado japonês!!
Duvido que exista alguém em sã consciência que saiba o nome do jogador de basquete que dividia com o Abdul Jabbar o modelo de óculos de proteção durante os jogos do time do Lakers durante o final dos anos 80!!
Será que alguém sabe o nome do treinador da Nadia Comaneci na época da primeira nota 10 ou do nome da ginasta russa, campeoníssima na olimpíada anterior, que foi destroçada pela romena franzina?


Algumas pessoas têm facilidade para números de telefone, outras para reconhecer rostos e outras ainda para letras de músicas. Eu nunca fui especialmente bom para nada disso. Meu negócio sempre foram os nomes.
Nomes de países, nomes de cantores, de bandas, de filmes, de atrizes pornô, enfim, todo e qualquer tipo de nome sempre foi comigo.
Isso era especialmente útil quando alguém da turma tinha que ligar para uma mulher que havia conhecido no dia anterior: era só me acionar e surpreender a moça ao se lembrar do nome dela mesmo só tendo tido poucos minutos de papo.
Quisera eu ter um back office tão bom assim!!

Mais algumas: o nome do filme onde o Richard Harris ficava pendurado em ganchos presos ao peito só para ser aprovado naquele ritual indígena?
O nome do vencedor da primeira maratona das Olimpíadas da era moderna?
E o nome verdadeiro do Lênin?
Nessa linha: em que país morreu Trostky e qual o nome do líder que foi assassinado e provocou o início da Primeira Guerra?


Gosto de saber os nomes das pessoas para mostrar que me importo com elas.
Isso vale para o porteiro do meu prédio (grande Josafá), para o garçom que sempre capricha nas porções de batata frita no almoço (Zivaldo com tudo) e para o catalão safado que me trouxe um monte de problemas na empresa (bendito Xavi).
Ao chamar as pessoas pelo nome me sinto mais próximo delas e isso vira e mexe me abre diversas portas.

As últimas: quem era o companheiro da Tartaruga Touché no desenho animado?
O nome do médico alemão que era insistentemente chamado naquele clássico desenho do Pica Pau?
A moça que contracena com o Prince no filme Purple Rain?


Sei que este texto não tem muito a ver com nada que tenho feito ultimamente, mas achei que seria legal poder desencanar um pouco de coisas sérias e escrever um pouco de besteiras de forma intencional.
As outras besteiras saem sem querer. Juro!!