quarta-feira, julho 02, 2003

Amor italiano

Era Agosto de 94.
Londres estava vivendo um começo de Outono relativamente quente e o marrom-amarelado das folhas ainda não havia dominado as ruas. O onipresente vento gelado do começo da noite já marcava presença tornando quase que obrigatório o uso de casacos compridos abaixo do joelho.
Eu estava na Europa para estudar. Não sabia que iria acabar abrindo a minha visão de mundo. Não tinha idéia de que iria me apaixonar.

Ela era italiana de Roma e tinha cabelos muito lisos e pretos. Não tinha uma beleza perfeita. Seu perfil era nitidamente romano, mas aqueles olhos pretos detonavam qualquer intenção de crítica ou vontade de consertar algo.
É certo que a leve maquiagem que ela sempre exibia ajudava muito a curtir a sua aparência, mas era mais do que óbvio que havia algo mais ali para que ela causasse aquele efeito na minha cabeça. Ela tinha aquele algo mais que a gente não consegue explicar. Ela era o tal algo mais.

A idéia de um romance com uma deusa européia me fazia vibrar e ao mesmo tempo me deixava muito inseguro.
Só depois de muito divagar e me deliciar com as possibilidades é que eu caí na real e me lembrei de um pequeno empecilho para a concretização desse conto de fadas. Na verdade o empecilho não era nada pequeno e estava bem longe das ilhas britânicas: a minha namorada de quase 3 anos estava me esperando no Brasil.

Fiquei meio baratinado com a situação. Eu não sabia se escolhia a infidelidade ou o sonho. Não me sentia culpado por ter me encantado pela italiana mas ainda assim não conseguia me decidir a cair de cabeça naquela relação que tinha tudo para tão fugaz quanto recompensadora.
Era muito curioso, para não dizer estranho, vê-la me procurando nas festas enquanto eu curtia com meus amigos. Parecia que eu estava fugindo dela. Mesmo quando dançávamos de forma bastante sensual e cúmplice, eu não a olhava nos olhos e fingia que não era comigo. Meus amigos iam à loucura mas eu não conseguia fazer nada diferente.
Passei várias noites remoendo isso na cabeça até que tomei uma decisão. Para ser bem sincero, a decisão foi tomada por mim: ela também tinha namorado na Itália e quando resolvi esquecer os pudores e tentar a sorte, meu tempo já havia passado.
Ela havia nos dado a chance de esquecer tudo e todos fora de Londres e eu havia ficado perdido nas minhas dúvidas e divagações. Demorei demais para retribuir os gestos de carinho e os olhares de convite. Quando me decidi, ela me mostrou que era tarde demais.

Nossa despedida foi esquisita: ela estava entrando em um ônibus para voltar para a casa onde morava com duas meninas brasileiras. O avião para a Itália saía no dia seguinte e não havia mais tempo para nada. Ainda assim consegui me despedir. Foi apenas por telefone, mas eu tinha que fazer isso.
Voltei para o Brasil cerca de um mês depois. Meu namoro terminou três meses depois. Não terminei por causa dela mas certamente ainda pensei muito naquela ragazza durante os meses que vieram. Até italiano eu fui estudar por causa dela.
Hoje eu me lembro com muito carinho de tudo o que rolou naquele mês: as danças, o flerte, os sorrisos, o carinho e a despedida.

Tem uma página da minha vida que está escrita em italiano.

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