terça-feira, abril 19, 2005

Providências

Devido aos últimos acontecimentos, já tenho condições de reconhecer um papel importado e de dizer a quantidade de cola quente que aquele tipo de lacre vai precisar para a fixação no envelope.
De tanto pesquisar e analisar convites, posso dizer sem medo que virei um convitólogo amador.
Foi mais por necessidade do que por gosto, mas foi.

Tem sido assim com uma série de assuntos, de decoração de salão a músicas de igreja, de lembrancinhas a cardápios, tudo aquilo que envolve o evento de um matrimônio passou a fazer parte da minha rotina de vida. Mesmo que à revelia.
Até de geladeiras Bosch eu entendo agora!
Tive que virar um profundo conhecedor de medidas e capacidades para poder descobrir se a bendita geladeira (que já ganhamos e que já está em Udi) cabe no espaço reservado no apartamento que queríamos comprar.
Após um final de semana de stress, descobrimos que ela cabe e eliminamos o problema.
Ainda restam outras dúvidas para fechar a compra, mas isso é assunto para outro post.

Nunca pensei que desse tanto trabalho dizer sim na frente de um monte de gente e ficar oficialmente autorizado a dormir e a viajar com a minha mineira sem ter que inventar estórias.
Podia ser mais fácil.
Pensando bem, partindo do princípio que estou lidando com uma família tradicional mineira, não tinha como ser fácil.
Tinha que ser assim mesmo: bem tradicional, cheio de opiniões e com uma série de dolorosas adaptações e concessões.
É mais um processo de mudança interior do que exterior. Tenho que aprender a viver com isso já que depois do casório eu vou passar a ter duas famílias e duas fontes de opiniões e palpites.
Vai ser duro mas eu vou matar esse leão.
Afinal de contas, o mais difícil que era casar já está quase pronto. O resto é detalhe.

Como hoje é terça, tenho que me preparar para as reuniões com a cerimonialista, com a instrumentista e com a decoradora.
Afinal de contas, marido também serve para isso.

segunda-feira, abril 11, 2005

Ozzy e Ronaldo

Parecia coisa encomendada.
Nem bem o avô da minha mineira descansou, lá tinha que vir o meu velho nos assustar com suas aventuras notúrnicas.
Na volta de uma viagem a Minas descobri que ele estava internado e com a cabeça rachada quase que ao meio.

Fiquei baratinado. Justo meu pai? O que deveria ser feito? Como lidar com ele?
Felizmente não precisei me estressar muito para responder nenhuma pergunta. Bastou deixar o processo fluir e aproveitar o perdão ligado ao meu recente batismo e pronto.

Ele voltou para casa poucos dias depois, mas a situação não ficou muito boa.
Sei lá por que, ele se mexia como no seriado The Osbournes: sonolento, claudicante e fraco. Era a fragilidade em pessoa, mas todos achavam que a coisa estava normal.
Até o dia em que ele não se levantava mais da cama. Aí minha mãe resolveu se mexer e levá-lo de volta ao hospital.
Eu estava meio longe e não pude ajudar, mas felizmente a coisa toda funcionou.
No hospital descobriram uma grande reversão no quadro e uma piora significativa nas funções motoras. Ele não precisou de drogas para ficar abobado, bastava viver com os efeitos do acidente.

Um furo na cabeça depois - alguns costumam chamar isso de cirurgia - e ele era outro homem. Com cara de Ronaldinho, com um parágrafo inteiro na cabeça mas lúcido e vivo.
Parece que ele não se lembra de nada que ocorreu do dia do acidente até a cirurgia.
Pessoalmente, acho que é melhor assim. Melhor que só a gente se lembre do perrengue e que isso valha como aviso.: para morrer basta cair de cabeça no chão.

E nada mais de Ozzy!

terça-feira, abril 05, 2005

Nem tudo é 100%

Acho que comecei a entender o que significa o matrimônio.
Me parece mais claro agora que nem tudo é paixão, rosas e carinho.
Está mais claro que também as tais "saúde e pobreza" tradicionalmente mencionadas pelo padre nos casamentos e que fazem a união realmente valer a pena.
Sim, por que viver na riqueza e no bem bom é fácil. Complicado é passar perrengue e segurar a barra de uma doença.

A recente cirurgia da minha mineira é uma prova cabal disso.
Nosso encontro quinzenal ficou resumido a reuniões com fornecedores do casório, conversas histéricas sobre a morte do avô e momentos de extrema preguiça no quarto e na sala de TV. Nada de sexo, de beijos ou de qualquer coisa tradicionalmente agradável.
Me senti casado e me lembrei do que o Zeca e o Professor disseram sobre obrigações inadiáveis como fazer café às cinco e meia da manhã e decidir sobre a educação dos filhos.
Mais interessante do que me sentir casado, foi não achar que a coisa estava ruim.
Pelo contrário. Me pareceu que tudo estava normal e que aquilo era algo a ser vivido.
Como se fosse uma ida ao cinema, sabe?
Era apenas mais uma parte do viver em companhia.

Acho que estou começando a me acostumar com a idéia de me casar e mudar de vida.