sexta-feira, julho 25, 2003

Jineteras

Uma vez li na Playboy uma entrevista do escritor cubano Pedro Juan Gutierrez. Ele é um típico cubano esclarecido: adora charutos, teve milhares de mulheres, não tem medo do Tio Sam e não morre de amores pelo Comandante Fidel, apesar de continuar vivendo no centro boemio de Havana, entre profissionais de diversas áreas do entretenimento. Nunca li um livro dele e pelo que entendi da entrevista, ele tinha ficado conhecido por ter "criado" um "estilo" chamado "realismo sujo". Isso me cheira a muita droga, putas saindo pelo ladrão, bandidos de cabelo engomado e sexo em variações virtualmente impraticáveis. Até aí, pouca ou nenhuma novidade.

O que me soou interessante na entrevista foi a menção a mulheres que não se assumem como prostitutas mas que circulam por Havana para tentar trocar, digamos, carinho, por dinheiro ou presentes, normalmente vindos de turistas estrangeiros. Não entendi bem a diferença com as quengas tradicionais mas não me preocupei muito com isso. Prefiro tentar comparar o comportamento dessas mulheres cubanas com o de uma certa amiga de quem sinto saudade.

Ela é uma moça que chama muito a atenção por onde quer que passe. Homens e mulheres sempre olham para descobrir por que ela ri tão alto, por que está sempre acompanhada de homens e por que ela parece tão sensual, mesmo vestindo macacão de borracheiro.
Nós sempre conversamos muito e acho que ganhei a sua confiança quando ela começou a me contar sobre os casos que havia tido dentro da empresa. Mesmo já tendo vivido o meu prórpio quinhão de estórias escabrosas, fiquei meio passado quando ela me contou que havia saído de forma quase simultânea com o Diretor e com o analista de uma determinada área. Um era chefe do outro e não quero nem pensar no que rolaria se ambos soubessem que tinham mais em comum do que as atividades do dia a dia.

Jamais pensei em sequer cogitar que essa menina pudesse estar interessada em "prestar serviços" em troca de dinheiro. Nem mesmo em troca de vantagens profissionais. O lance dela é outro. O barato dela é trocar provocações por emoção.
É mais ou menos como em um termo que a minha velha e sábia mãe usa: ela joga as calcinhas, atrai o "peão" e depois se desinteressa. Nem sempre esse desinteresse vem antes do sexo, mas ela dificilmente dá uma segunda chance ao pobre coitado.
Fui testemunha de algumas práticas de sedução "sem querer" (ao menos é o que ela dizia), principalmente com caras mais velhos. Não sei se o fato de eles terem dinheiro para bancar jantares em lugares caros era coincidência. Ela sempre me dizia que isso não a interessava e que ela não via nada de errado em sair com vários caras simplesmente para jantar.

Realmente, sair para jantar não é nenhum crime, mas a forma como ela era convidada para esses jantares é que era discutível. Eu cansei de vê-la conversar com alguns caras de um jeito "inocentemente sacana". Por várias vezes eu me coloquei no lugar dos caras. Eles deviam ficar alucinados com aquele mulherão de conversa mole que aceitava os convites para jantar. Tenho certeza de que o clima do convite era sexual. E tenho certeza de que 90% desses pobres voltavam para casa se xingando por terem sido tão bobinhos.

Depois dos jantares, ela se divertia me contando o que tinha rolado na noite anterior. Ela pouco se importava se a chamassem de galinha ou de vulgar. Ao seu modo, ela era mesmo "acessível demais". Mas parece que ela vivia bem assim. Que ela gostava dos convites e dos comentários maldosos. Que ela se sentia bem por ser desejada por homens e espezinhada por mulheres. Que ela gostava de estar no controle da situação.

Mas como esse mundo é redondo e não está amarrado a outras peças de móbile no teto do quarto de alguma entidade superior, ela acabou encontrando um cara que virou o jogo e que deixou de ser vítima. Um cara que foi vítima de suas brincadeiras de sedução e que acabou sendo causa de tristeza e felicidade para ela. Esse cara era um Diretor e essa estória fica para outra vez.

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