A Diretoria - Parte 3
Era inegável o sucesso que o sorriso dele fazia onde quer que ele fosse.
Era inquestionável também a vantagem que todo o resto do grupo levava por estar junto dele: invariavelmente era necessário um suporte para entreter (pequenos ou grandes) grupos.
Assim era conviver com aquele a quem coube a alcunha de "diretor de relações humanas".
A destruição de corações começou em 98. Que dizer, eu fiquei sabendo dela nesse ano, mas o Presidente já o conhecia de outros carnavais.
Ele havia terminado um noivado de forma bastante traumática. Foi preciso dar um destino ao apartamento e às coisas do casal que já haviam sido compradas e acomodadas. Exagerando um pouco, ele demorou alguns anos e um par de relacionamentos para se levantar novamente.
Aos poucos ele voltou a usar a sua arma mortal e a fazer estragos por onde passava. Me lembro que sempre achei que aquele sorriso tinha um quê de smirk. Pelo que entendo dessa palavra esdrúxula, ela tem a ver com sorrisos meio falsos, soltados intencionalmente para agradar alguém. É algo como o que o Dennis Quaid costuma fazer nos seus filmes. Sabe aquele sorrisão que consegue abrir qualquer porta?
Pois esse era o jeito de ser desse Diretor.
É curioso que com todo esse charme e presença ele tenha contado com a minha ajuda para abordar a menina que seria a sua companheira durante um bom par de meses. Esse será o tema de outra estória, mas fica o toque de que a perfeição não existe.
Mas algo aconteceu entre o momento em que o conheci e os últimos tempos. Algo fez com que a luz perdesse boa parte do seu brilho. Algo faltou na vida do cara que todos admirávamos por conseguir ser o centro das atenções em quase todos os ambientes que frequentava, da piscina às mesas do La Villette.
Tenho várias indicações e algumas suspeitas a respeito das razões, dos motivos, dos tombos. Pena que nenhum deles têm a ver com mulheres. Acho que nisso a gente teria como ajudá-lo.
Nos resta torcer pela retomada da alegria, pelo abandono do comodismo, pela volta do smirk.
Acho que a cidade inteira teria muito a nos agradecer.
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