segunda-feira, dezembro 04, 2006

10 coisas que não ajudam a manter a paz no casamento

1 - Reclame sempre da família dela, principalmente da tia chata que ela também não atura mais.
2 - Perca a paciência com facilidade e emburre logo depois, mesmo sem razão aparente ou razoável.
3 - Nunca a acompanhe ao supermercado.
4 - Reclame que ela está trabalhando muito, mesmo que você também esteja.
5 - Não seja muito sutil para questionar a inteligência dela. Melhor ainda se for em público.
6 - Chegue tarde (e bêbado) justo no dia em que ela preparou um jantar surpresa.
7 - Perca o interesse pela montagem da árvore de Natal que ela comprou depois de bater muita perna na 25 de Março.
8 - Repare nas gorduras dela e reclame da ausência de exercício, mesmo que saiba que ela se esforça e faz o que pode.
9 - Ligue o computador assim que chegar em casa e só saia da frente dele na hora de ir dormir.
10 - Faça cara de "vamos embora logo!" sempre que for visitar os pais dela que moram no interior.

Apesar do cunho humorístico desta lista, alguns itens acabam me dando um trabalho real e deixam o "radar" constantemente ligado nesta coisa trabalhosa chamada casamento.
Mas com sorte eu consigo evitar essas e outras armadilhas da vida a dois.

Por que como diz um sábio amigo meu, se fosse fácil não teria graça.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Sonho

Nosso sonho tem cerca de 100 metros quadrados.
E tem sacada para as plantas, quarto para o herdeiro, duas vagas na garagem e lugar para as minhas revistas.
Não posso me esquecer do maleiro para as bolsas, dos dois banheiros e da cozinha ampla, com janelas e separada da sala e da lavanderia.
Nosso sonho é assim, nem mais nem menos.

E além de sonho, ele é data, já que sabemos quando vai acontecer: setembro do ano que vem, salvo mudanças significativas na conjunção das galáxias.

Mas como é que um sonho pode ter tantas especificações?
Não costumamos descrever sonhos como cenas meio nubladas, mudas e, normalmente, pouco ou nada relacionadas à nossa realidade?
Pode ser, mas como o sonho nosso, temos total liberdade de levá-lo para onde nos der na telha.
Por isso, nosso sonho é nosso novo castelo, onde não teremos fosso, torres ou arqueiros nas muralhas, mas que ainda assim nos oferecerá segurança, calor e felicidade.



Não que o castelo atual não nos ofereça isso, mas é que precisamos de um pouco mais de espaço para quando o Labrador chegar.
E depois que ele chegar, nosso sonho mudará de tamanho, forma e lugar, talvez indo um pouco mais para o Sul e chegando mais perto mar, mas continuará sendo o nosso sonho, meu, da minha mineira, do Labrador e do Golden.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Inferno astral é o cazzo

Estou a duas semanas de completar 35 anos e admito que não estou muito feliz.
Não que eu esteja preocupado com o passar dos anos ou com o acúmulo de tecido adiposo em determinadas regiões do meu corpo, mas é que desde que voltamos da viagem de férias, as coisas têm andado meio fora do prumo.
Ok, admito que a gordura me incomoda e que fico envergonhado de andar por aí sem camisa, mas certamente esse é o menor dos meus atuais problemas.

Não bastasse o apoio que tenho que dar à minha mineira por conta da insegurança que pintou sobre as decisões que tomamos na sua vida profissional, ainda tenho que lidar com minha própria desmotivação no trabalho (mais detalhes lá na Firma), com o eterno desequilíbrio nas nossas finanças e com a constante mudança nos planos que fizemos logo depois que nos casamos.
Muito pouca coisa está no lugar e temos que dar um jeito nisso logo.

Se eu fosse um pouco mais supersticioso, diria que estou no meu inferno astral e que tudo vai começar a se arranjar logo depois que Novembro chegar.
Como nasci, cresci e engordei sendo impaciente, não vou ficar esperando esse raio de inferno astral passar e vou dar um jeito na vida.
Tenho que voltar a dar as ordens no "boteco" e não deixar o mar me levar para onde ele quiser.
Obviamente que isso não é nada fácil, mas se eu não tiver nem a idéia de começar, nada vai evoluir, certo?

Portanto, vou dar uma de Constantine, chamar o Lu para conversar e dar uma bela patada naquele traseiro vermelho e incandescente.
Que ele arrume outro lugar para enfiar esse tal de inferno astral.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Playbas

Na época da faculdade, a turma estava dividida entre três grupos mais ou menos coesos: os playboys, os de classe média e os judeus.
Pensando na minha origem proletária e nas opções disponíveis, não havia como não fazer parte do segundo grupo.
Considerando o isolamento natural do segundo grupo (ainda mais lembrando que a escola ficava praticamente no coração de Higienópolis) e as desventuras de classe média que vivo contando por aqui, achei que teria mais graça falar dos projetos de playboy que eu tinha como colegas e como eles evoluíram para os socialites, jogadores de pólo, pegadores de modelos e apresentadores de TV de hoje em dia.

Algo que era impensável para nós, moradores da Zona Norte, era quase que obrigatório para eles: o carro próprio.
Muitos ainda não tinham idade, mas já exibiam alguns Kadett GS, Gol GTI, Escort XR-3 e Saveiro equipadas. Ainda não existia a onda dos carros "tunados", mas eles caprichavam nos adesivos de surfe, nas rodas de liga leve e nos bancos Recaro.

Como eu não fazia parte da turma, foi curioso que um típico representante da classe dos playbas se tornasse meu melhor amigo.
Se dependesse de mim, acho que não teria rolado. Sou meio sectário com esse tipo de coisa e sou difícil de me misturar. Mas como nos encontramos por acasos profissionais, acabamos nos aceitando mutuamente e construindo uma relação de irmãos até hoje.
Foi essa relação que me apresentou ao mundo do Shopping Iguatemi, da Limelight, do antigo Cabral (aquele que ficava em uma travessa da Cidade Jardim) e das noitadas experimentando toda sorte de destilados disponíveis na casa.
Ah, foi com a companhia dos anteriormente odiados playboys que descobri o sexo pago, mas isso é uma estória completamente diferente.

O que ficou disso tudo é que a maioria desses bem nascidos acabam se comportando de forma bastante coesa e até previsível, mas alguns deles ainda assim acabam fazendo algo "que preste" e que faça a diferença.
Um exemplo e um contra-exemplo disso são dois nomes que sempre estão nas bocas dos "formadores de opinião" e nas páginas das mais variadas complicações.
Enquanto um apresenta um programa de televisão pouco criativo, mas bem divertido, é casado e aparenta ser um pai amoroso, outro se limita a dois esportes básicos típicos da classe: jogar pólo e pegar mulher.

Huck e Mansur são dois extremos da turma dos endinheirados e por isso não consigo admirá-los ao mesmo tempo e pelas mesmas razões.
Gosto sinceramente do primeiro e tenho inveja do segundo.
Nada mais que isso. Simples inveja pelas Bundchens, Piovanis e demais objetos do desejo que frequentemente passam pela cama dele.
Mas é só isso. Inveja pura.
Em se tratando de sentimentos, é melhor admirar o Huck, o Joaquim e a menina da pinta, uma típica família endinheirada, jovem e bonita.

Um dia a gente chega lá, não é mesmo, minha mineira?

sexta-feira, outubro 13, 2006

Distância

Era uma conversa natural para eles. Amigos costumam ter esse tipo de conversa, costumam ser um pouco mais do que colegas, mesmo que o fator integrador seja o ambiente de trabalho.
Não costumava entender esse tipo de relacionamento e antipaticamente, acabava me isolando e deixando todos eles lá dentro do escritório quando ia para casa.
Mas um dia resolvi mudar e não me arrependi.
Eles me receberam de braços abertos e falaram das suas intimidades.
É como eu já disse: era normal para eles.

O assunto do almoço eram os relacionamentos à distância. A organizadora da conversa era uma menina que mantinha um relacionamento bissexto com um rapaz que morava no paradisíaco sul da Bahia, na não menos paradisíaca Cumuruxatiba.
Tudo havia começado ali mesmo, na beira da praia como mais um dos milhares de amores de verão que acontecem todos os anos, mas algo aconteceu e o amor subiu a serra, entrou no avião e continuou mesmo na doideira de São Paulo.
E eles continuam se amando até hoje, mesmo com encontros a cada dois meses ou em feriados prolongados.
Fica até chique ela dizer que passou a Semana da Pátria no sul da Bahia enquanto os pobres mortais não vão além do Guarujá. É chique e romântico.
Assim como eu, ela apostou no relacionamento e deixou de lado a dificuldade e a distância.

Obviamente, esse tipo de amor carece de muita confiança e compromisso e foi aí que entrou o comentário de um outro colega, que não acredita em amores entre extremos de São Paulo, quanto mais em estados ou regiões diferentes.
Para ele, o amor necessita de contato para viver e se manter e sem esse contato, tudo acaba se limitando a um sonho que morre aos poucos.
Ele não é tão radical quanto alguns amigos do coração que buscavam namoradas dentro do mesmo bairro, mas acaba seguindo mais ou menos a linha deles.

Por mais estranho que pareça para um cara que foi buscar a esposa lá nos confins do Triângulo Mineiro, eu concordo em parte com essa afirmação. Acredito que o amor não se sustente sozinho e necessite da rotina, do sexo e até das brigas para se manter vivo e prosperar.
Mas a acredito também que é possível encarar um projeto de amor à distância, desde que se tenha a perspectiva adequada de intensidade, objetivos e futuro.
Ou seja, se o amante achar que vale a pena, a distância em si não é suficiente para impedir o amor de acontecer e virar felicidade.
Foi exatamente isso que fiz ao dedicar mais de três anos da minha vida a um relacionamento baseado em 600km de estrada, encontros quinzenais e felicidade crescente. Para mim, ou melhor, para nós valeu o sacrifício.

É por isso que, mesmo acreditando que não exista distância para o amor, estou certo de que nem todo amor valha a pena. Tudo depende do grau de disposição dos amantes.
Uso aqui o termo amantes no sentido de pessoas que amam e não para me referir a pessoas que fazem o papel de terceira parte com relação a um dos membros de um casal.
Amante é quem ama e para amar é preciso disposição, vontade e, óbvio, amor.
Podem existir outros componentes mas julgo que esses sejam os essenciais, sem os quais a estória não acontece.

Para os nao dispostos, melhor amar perto de casa, do trabalho, da padaria.
O que me lembra de uma frase dita por uma pessoa que amei e que hoje mora nas minhas lembranças: os opostos se distraem, os dispostos se atraem.

Amor não é nada sem disposição.
Essa mesma disposição encurta distâncias e diminui saudades.
O resto é como arroz e purê: apenas acompanha.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Contas e mais contas

Poucos assuntos são mais apropriados para um retorno de férias do que o desequilíbrio financeiro de um jovem casal.
Por mais que ambos tentem se policiar e agir de forma austera e econômica, a vontade de comprar aquela "coisinha" que vai ficar perfeita na prateleira da sala ou o DVD daquela banda do coração que você procurava há anos é maior do que qualquer coisa e as administradoras de cartão de crédito acabam agradecendo a preferência. Sim, por que se não fossem aqueles pedacinhos de plástico, minha carteira teria que andar com o dobro do peso para acomodar os talões de cheque ou as notas de cinquenta.

Não bastasse esta vontade de agradar o outro (e a si mesmo) nos 365 dias de lua de mel que costumam acontecer com qualquer casal, eu e minha mineira tivemos que lidar com uma gostosa, mas relativamente custosa viagem à minha terra natal, com direito a alguns mimos para os amigos e, claro, um monte de mimos para a gente.
Não deu para controlar. Foi mais forte do que a gente e nem o temor pelo excesso de bagagem nos impediu de trazer 16 garrafas de vinho e uma batelada de pacotes de geléia. Tudo em nome da exclusividade do produto.

Nem é preciso dizer que esta brincadeira bagunçou ainda mais a nossa já combalida micro-economia, cada dia mais e mais micro.

Tenho que admitir que nossa vida já foi mais afetada por este assunto.
Logo depois que nos casamos, minha mineira perdia noites de sono pensando em juros, empréstimos e prestações atrasadas. Demoramos cinco meses para parar de gastar nossas economias, bem a tempo de assitir ao final delas.
Foi por pouco, mas não precisamos recorrer a financiamento externo. Pelo menos por enquanto.

Infelizmente nosso equilíbrio é apenas relativo.
Não estamos fazendo dívidas que rendam juros imorais, mas também não economizamos um centavo. Tudo que ganhamos vai para pagar as contas da casa, do carro, dos cursos e da diversão que ainda nos permitimos ter. Somos teimosos nisso e achamos que não vale a pena desistir de curtir alguns poucos e bons momentos felizes em troca da manutenção de algumas dezenas de reais. Aí também não, né?

Ainda estamos em busca da fórmula ideal, aquela que não nos obrigue a vegetar e também não faça com que a gaveta de CDs (ou a de sapatos) não tenha mais espaço para as novas aquisições.
Segundo o Professor (que viveu algo parecido enquanto a esposa trilhava o caminho acadêmico), a coisa deve se acalmar lá pelo início do ano que vem.
Isso é um alívio, mas eu e minha mineira não nos conformamos muito com a situação e queremos ver o azul nas nossas contas ainda este ano.
É exatamente aí que está o desafio.
Por que se fosse fácil, qualquer um faria.

Que venham os números, as contas e as planilhas de controle.
O que vier, a gente traça.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Voltei das férias...

...mas post novo só na sexta.

Afinal de contas, preciso descansar depois de três semanas de comer-beber-viver.

sexta-feira, setembro 08, 2006

Volto já

Fui ali visitar os parentes e matar saudades da terra natal.

Vejo todo mundo em Outubro.

Tenham juízo, mas com moderação.

quarta-feira, setembro 06, 2006

Um ano depois

Eu e a minha mineira estamos completando um ano juntos.
Quer dizer, um ano legalmente juntos, por que este passeio a dois já dura quase cinco belos anos.
Como estamos meio apertados em termos orçamentários (falo sobre isso em outro post) resolvi aproveitar a sua ausência em um curso e preparar uma produção caseira, mas caprichada.
Ralei e corri muito, mas consegui o sorriso que buscava e isso não tem preço.
Além da produção, escrevi uma cartinha, um texto simples para dizer o que aquele dia significava para mim.
E o significado ficou mais ou menos assim:

Para a mulher da minha vida.

Hoje faz um ano que você mudou a minha vida de vez.
Há exatos 365 dias atrás, mais ou menos nesta mesma hora, eu estava curtindo um dos momentos mais felizes da minha vida e não tinha idéia de que a coisa poderia melhorar ainda mais.

Eu estava com meus amigos do peito, com meu velho pai e com dois tios do coração, falando e rindo, comendo e bebendo, feliz por estarem todos ali por mim. Minto, eles estavam por nós e o sorriso no rosto de cada um deles quando você caminhou na minha direção na igreja foi a melhor prova disso.

De lá para cá ambos aprendemos e ensinamos muito. E cuidamos um do outro como eles disseram lá no curso de noivos, lembra?

Espero que o que vivemos nesse primeiro ano se repita e multiplique nos outros anos que virão. E espero até que os problemas não sumam para que seja ainda mas gostoso vencê-los e te fazer feliz.

Paciência com esta criança que te ama é só o que te peço.

E que Ele cuide do resto.

Obrigado por tudo.

De quem te ama mais do que a vida,

E

segunda-feira, setembro 04, 2006

Beleza

Para um sujeito que sempre foi conhecido por seus gostos pouco convencionais, seja para mulheres, seja para música, até que a escolha da minha mineira foi bastante comportada e "dentro do padrão".
Loira, magra, jovem, bonita, simpática e de cabelos longos: tudo isso é a minha mineira, o que certamente a habilita a acompanhar qualquer ser humano do sexo masculino que tivesse um mínimo de juízo na cabeça.
Mas novamente reforço que minhas escolhas nunca foram muito ajuizadas e comportadas no que se refere à beleza feminina.

Sempre gostei de cabelos curtos, curtíssimos na verdade, bem ao estilo joãzinho que marca algumas personalidades fortes e independentes. Deve ter algo a ver com competição e autonomia. Não foi à toa que a minha mineira chegou perto da calvície só para me agradar.
Também gosto de pescoços longos, peles brancas, sobrenomes italianos, rostos sardentos e curvas e volumes nos lugares certos.
Ah, corpos mais magros do que manda o padrão brazuca também sempre fizeram a minha cabeça.


Teresa Salgueiro


Somando tudo e achando o MMC, acho que o que me agrada é a falta de padrão e nisso acho que a Teresa Salgueiro do Madredeus se encaixa bem.
Dentucinha, portuguesa, cabelo permanentemente preso em um coque, casada, supostamente fofinha, já que nunca a vi sem aqueles vestidos folgados e quentes.
Meu velho pai não gosta muito dela, mas eu a adoro.
Não a vejo (ou ouço) a séculos, mas continuo fâ incondicional da mulher e da banda.


Débora Falabella


Outra eterna "favorita" é a "Sinhá Moça" Débora Falabella.
Neste caso a coisa é um pouco mais hard já que a moça é pequenina e delicada, como convém aos meus objetos de desejo.
E além de linda, ela adora companheiros à altura. Que o digam os sortudos Daniel de Oliveira e Chucky, atual marido da mocinha.


Maria Flor


Mais recentemente descobri a Maria Flor e ganhei mais uma razão para acompanhar a novela das oito.
Mal sabia a minha mineira que as cenas que mais me interessavam eram as que traziam a pequenina e "sem gracinha" Taís.
Quer dizer, sem graça são os que não a acham maravilhosa e vitaminada.

E só para encerrar esta pequena homenagem às meninas que fazem esta vida valer a pena, não podia faltar aquela que divide meu Olimpo estético com a minha mineira, aquela que foi a primeira e que seguirá sendo a preferida dos meus gostos.
Salve Winona, sua cleptomania, seus namorados roqueiros e seus filmes fraquinhos.
Não ligue para eles. Certamente eles não sabem o que dizem.


Winona, the queen

sexta-feira, setembro 01, 2006

Espectador

Ela precisou de quase quarenta aniversários e inúmeras paixões para se acertar e convencer de que eu tinha razão.
A resistência foi forte, a tristeza teimou em morar com ela, mas eu venci, com persistência, teimosia e uma certa intolerância, eu venci e matei no ninho a decepção e a idéia de desesperança com relação ao amor.
Na verdade, sendo bem sincero, eu não tenho tanta participação assim. Fui mais um inspirador do que um fabricante de esperança, mas o agradecimento dela é sincero e minha felicidade também.
Ela desarmou o coração, viveu feliz e atraiu a felicidade de outra pessoa.
Agora o casamento está marcado, a mudança de vida está ensaiada e a saudade começa a ser acumulada. Cincinatti e Bombain não são bem ali na esquina.

Gostaria muito de compartilhar essa felicidade com ela, mas um casamento na Índia não combina muito com nossos planos de austeridade para suportar o aumento da família.
Passar duas semanas do outro lado do mundo seria uma ótima maneira de acompanhar o início de outro capítulo de uma estória que acompanhei desde o início, mas acho que ela entende as nossas limitações.
Nem mesmo o Professor, do alto da sua desorganizada independência e tranquila liberdade financeira, cogita uma esticada indiana. A brincadeira é pesada demais, apesar do significado sentimental.

Na verdade, eu estou assistindo a essa estória desde antes do seu início, desde que ela encontrou e se perdeu de outro amor e desde que largou tudo para viver o sonho da vida acadêmica.
Mesmo que não sejamos muito próximos no sentido físico, eu estava lá todo o tempo e seguirei fazendo o possível deste lado do vôo continental.

E pensar que tudo começou com um "desarma o coração e vai"!

quarta-feira, agosto 30, 2006

Redenção

Nem me lembro quanto tempo fiquei sem abraçar a minha irmã até que o meu casório viesse e proporcionasse a "redenção" para ambos.
A sua mudança para a terra natal não ajudou em nada a nossa aproximação e nem a minha viagem em 2004 adiantou: ela não estava em casa quando a visitei e não conseguimos nem conversar.

Muito tempo e muita mágoa depois, tive a felicidade de vê-la no casório e, obviamente, a minha querida Lelê era um dos principais motivos dessa felicidade.
Eu só não a abracei e beijei como devia por que havia outra pessoa merecendo a minha atenção e era complexo demais inverter as atenções.
Acho que ambas entenderam bem as minhas razões.

Com a nova viagem que estamos prestes a fazer vem uma nova chance de redenção, bem mais simples do que as anteriores, mas ainda assim uma situação delicada.
Agora existe mais um sobrinho para receber meu amor. O irmão da Lelê precisa ser apresentado ao tio "do Brasil" e precisa receber um abraço apertado e um pouquinho do dengo que sobrar da "primeira sobrinha".
Sim, por que de falta de dengo meus sobrinhos não vão sofrer.

Acho que ambos, eu e minha irmã, estamos mais maduros e dispostos a resolver as nossas diferenças.
Quer dizer, resolver aquelas que permitem a nossa convivência, por que dos nossos temperamentos ninguém pode cuidar.
Eu serei sempre o quadradinho e ela será a rebelde, com ou sem causa.
Nem me importo muito com isso, apenas aceito a realidade.
E espero que ela também aceite a idéia de que para ver a minha avó vale tudo, até visitar os tios, que de queridos substitutos dos pais, passaram a desafetos mútuos.
Um grande problema, mas com solução bem simples.
Basta seguir aceitando as diferenças e aproveitar a parte boa.
Do resto, a terra natal toma conta.

segunda-feira, agosto 28, 2006

Como criança

"O que eu mais gostei foi o número das trapezistas!"
"Eu adorei o da equilibrista chinesa!"
"Ah, não! O mais divertido foi o do pessoal das cordas elásticas!"


Conseguir um consenso sobre a melhor atração do Cirque du Soleil era tarefa grande demais para mim e por isso nem tentei.
Simplesmente aceitei todas as opiniões que recebi e formulei a minha própria.
Esse tipo de confusão é perfeitamente comum em quem acaba de sair da grande tenda depois de Saltimbanco. Não há outro nome para definir aquelas duas horas de pulos, saltos, equilíbrio e diversão: espetáculo!



E eu, como sempre adorei o circo, parecia uma criança na primeira vez que via os palhaços e os trapezistas!
De certa forma foi uma primeira vez já que eu nunca tinha visto nada sequer parecido com o da companhia canadense.
Se alguém tivesse me filmado durante o show veria uma sequência interminável de queixos caídos, palmas entusiasmadas e olhos arregalados a cada salto inacrditável ou acrobacia inesperada.
Me diverti como nunca!

Quer dizer, quase como nunca.
Segundo a minha mineira, que obviamente estava ao meu lado, somente em uma ocasião ela me viu tão eufórico quanto no Cirque: foi no show do U2, mas aí era uma coisa obviamente mais sentimental do que surpreendente.
Depois que ela me disse isso, acabei me lembrando de outra ocasião em que fiquei tão animado com uma demonstração de arte: a primeira vez que vi o Fantasma da Ópera em Londres. Fiquei dias lembrando dos candelabros que saiam do chão e do barco que "navegava" por cima do palco envolto em névoa. Absurda e inexoravelmentre espetacular.

Quando chegamos em casa, encontramos com o marido da minha cunhada, que nos perguntou a respeito do custo-benefício do espetáculo.
Como esse tipo de afirmação é natural nele e tudo tem que ser traduzido em grana e economia, resolvi relevar (mais uma vez) e simplesmente afirmar que valia cada centavo e que eu pagaria o mesmo quantas vezes fossem necessárias.
Era tudo verdade e minha noite terminou nas nuvens.
Ou melhor, no picadeiro, por que eu também sou de circo.
E que venha o show do ano que vem.
Eu e a minha mineira já estamos lá!

sexta-feira, agosto 25, 2006

"Acorde arrependido, mas não durma com vontade"

Li essa frase no fotolog de uma amiga muito querida e achei interessante comentá-la.

Acho que ela tem a ver com um certo desejo reprimido de rebeldia e liberdade que tenho aqui dentro.
Tem a ver com a vontade de fazer o que me dá vontade sem pensar nas consequências, críticas ou comentários.
Tem a ver com uma liberdade que a minha criação não permitiu e que minhas escolhas não deixaram prosperar.
E não estou reclamando da minha vida.
Apenas noto esse desejo e essa sensação de "travamento" no meu trajeto.

Sou sincero quando digo que não me arrependo do que fiz, mas também falo a verdade quando digo que teria sido mais fácil viver sem tantas amarras.
Talvez não tivesse sido tão bom, mas certamente seria mais fácil.

Mas o que fazer?
Que o próximo da fila venha e busque essa liberdade.
E que eu consiga ajudar o herdeiro a chegar onde ele (ou ela) quiser.
Independente do destino, independente do caminho.

Valeu pela inspiração, Senhorita Staut.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Crescei e fugi

Quando mais o tempo passa, mais me sinto à vontade com a idéia de ser pai e paradoxalmente, mais me apavoro com isso!
Fico efetivamente aterrorizado quando penso que não mais terei o conforto de cuidar somente da minha mineira (sempre) e de mim mesmo (de vez em quando).
E não adianta os amigos me dizerem que é bom, que vale a pena e que eu vou gostar.
O medo me abandona e não vai me abandonar tão cedo.
Nem imagino quando isso possa acontecer, mas desconfio que não vou descobrir isso tão cedo.
Como a chegada de um herdeiro é uma coisa inevitável no meu relacionamento (quem mandou casar com uma mulher que nasceu para ser mãe?), tenho que começar a tratar essa paúra e dar um jeito de controlá-la.

Tenho certeza que alguém se pergunta de onde virá esse medo e não tenho nenhum problema em dizer que meu medo tem dois nomes: mudança e incompetência.
O medo da mudança sempre acompanhou a minha vida desde que eu dava cabeçadas na minha mãe e na minha avó, mas o medo da incompetência é relativamente novo e tem a idade da idéia de ser pai.
Trocando em miúdos, tenho medo de ser incompetente para criar o herdeiro e impedir que ele se transforme e um vagabundo egocêntrico ou uma descerebrada fútil.
Tenho medo de não conseguir controlar a criança e de me tornar exatamente o tipo de pai permissivo e incapaz que eu tanto critico.
Tenho medo de ter alguém dependendo inteiramente de mim para tudo.
Tenho medo da paternidade em si.

Tenho tantos exemplos e contra-exemplos do que fazer e do que não fazer que não consigo formular uma boa idéia na minha cabeça.
Não consigo me organizar e separar as atitudes em boas e más para a criação da criança. Simplesmente não consigo.
E mesmo que conseguisse, fico com a impressão de que tudo o que eu planejar e preparar será imediatamente jogado no lixo no primeiro momento em que o herdeiro chorar de fome ou na primeira vez que dizer que me ama.
Para isso não existe treino.

Ai que meda!

segunda-feira, agosto 21, 2006

Pirlimpimpim

Ainda ontem eu jogava bola em um campo de terra batida ao lado da minha casa, assistia a meus amigos soltando pipas (por total falta de habilidade com linhas e papel de seda), rodava peão e ficava revoltado com o tratamento que a Maria Joaquina dava ao pobre Cirilo na novela Carrossel.

De repente, algum desavisado berrou "pirlimpimpim" e eu me vi aqui, 34 anos, casado, funcionário de uma multinacional, cheio de planos, ainda mais cheio de limitações, transformado em uma "manteiga derretida" (choro até com os depoimentos do final de "Páginas da vida") e completamente incrédulo com a transformação da tal Maria Joaquina.

A moça cresceu (muito) e seguiu aparecendo, mais ou menos como todos nós.
Complicado aceitar isso. Quer dizer, todo mundo cresce e isso não tem nada de esquisito, mas é complicado começar a pensar em tudo o que você fez e, invariavelmente, no que deixou de fazer.
Dá vontade de voltar e tentar de novo, decidir coisas diferentes e usar o conhecimento que temos hoje.
Não tem quem não afirme que teria muito mais sucesso no amor, no trabalho e mesmo na vida se pudesse viver aquilo novamente, mas com mais informação.

Feliz ou infelizmente isso não é possível e temos que lidar com nossas realidades, decisões e responsabilidades.
É assim que funciona e não há nada a fazer a não ser seguir em frente e sonhar.
Não que isso seja ruim já que sonhar (ainda) é de graça.

Foto: Terra

sexta-feira, agosto 18, 2006

Prateleiras de metal

Desde que me mudei, minha coleção de revistas em quadrinhos virou um caos.
Anos e anos de fanatismo "literário" estão reduzidos a caixas de papelão mal acondicionadas e ao desmoronamento das prateleiras de metal de um quartinho no apê da minha mãe.
Eu já havia parado de comprar as revistas muito antes de me casar, mas isso não diminuiu o aperto que senti quando tive que deixar aquilo tudo na casa antiga.
Consegui salvar os CDs, minha outra paixão, mas isso não fez a dor diminuir.
Doeu um monte e ainda dói. Sempre é complicado entrar naquele quartinho.

E não pensem que sou um obcecado. Longe disso. Sou muito consciente da pouca importância que aquilo tudo tem para a paz mundial e para a economia global.

A quem quero enganar?
Quem quer saber de paz e economia quando tem nas mãos o "Cavaleiro das Trevas" ou "Elektra Assassina"?
O fascínio das páginas coloridas supera qualquer coisa. Talvez não supere o sexo, mas chega bem perto.
Não me interessa o Líbano, Israel ou o PCC! Me passe a edição encadernada de "Crise nas infinitas terras" e me deixe sossegado. Ainda não decorei todas as falas e tenho que fazer isso antes que a saga complete 20 anos.

Ops! Parece que surtei e peço desculpas por isso.
É que fico emocionado quando me lembro da coleção e do seu entorno sentimental.
Só quem passou por isso sabe do que estou falando.

Minha mãe já começou a mudar as caixas de revistas para um lugar não identificado e não fui me despedir. Todo mundo sabe que seria demais me pedir isso.
É melhor que elas se vão e que eu não saiba onde encontrar minhas edições originais de "Watchmen", "Ronin", "Asilo Arkham" e "A piada mortal".
É melhor que eu siga minha vida e me conforme com as limitações espaciais dela.



Mas ai de quem destruir essas revistas antes de eu conseguir um espaço para elas na casa que ainda vou comprar.
Nem Galactus salvará essa pessoa da minha ira!

quarta-feira, agosto 16, 2006

Ditaduras

Fomos ver Zuzu Angel.
Minha mineira gostou do filme mais do que eu, é verdade, mas não saí do cinema contrariado ou decepcionado.
Ao invés disso saí pensativo, com uma coisa martelando na minha cabeça.
Sempre ouvi dizer que a ditadura aqui no Brasil foi muito mais branda do que a que aconteceu no Chile e na Argentina. Diziam que o que houve aqui foi brincadeira de criança perto das barbaridades do Estádio Nacional de Santiago e dos homens que derrubaram Allende.
Não me lembro se foi meu velho pai que me passou essa idéia, mas depois que saí do cinema fiquei me perguntando de que forma algo pode ser pior do que aquilo.


O companheiro Allende eternizado


Usando um pouco da minha tradicional racionalidade e considerando que parte daquilo é ficção, ainda assim é complicado visualizar como a ditadura chilena pode ter sido pior.
Se foi, não quero nem imaginar o que aconteceu com meus compatriotas.
Não quero ter pesadelos com a constatação de que meus companheiros de carbono podem ser ainda mais cruéis e sanguinários.

Isso me lembra da animosidade que tenho para com os militares.
Eu sempre os chamo de milicos e, mesmo caindo na pouco inteligente vala da generalização, não me relaciono com nenhum deles. Quer dizer, tento fazer isso, mas nem sempre é possível.

Pensando por outro lado, acho que seria infindável uma discussão sobre a culpa que os militares não-oficiais teriam nas ditaduras.
Até que ponto eles só fizeram aquelas barbaridades para cumprir ordens?
Não havia nenhum componente de vingança em nenhum deles?
Existiria medo de preservar a própria vida e a da família?
Seria o medo e não a obediência e a crueldade a grande força motriz de torturadores e assassinos?

Difícil acreditar nessa versão, mas não pretendo seguir nessa discussão.
Prefiro voltar à sensação incômoda de que podem existir coisas piores do que as vistas no filme.
E ainda mais incômodo é pensar que pouca gente neste país se lembra ou se interessa pelo que houve.
Como esperar consciência política em um país onde muitos estudantes protestam sem saber a razão e se juntam a manifestações apenas para ficar com outros estudantes?

Bom, melhor seguir fazendo a minha parte e não tentar salvar o mundo.
Me confesso incompetente para isso, mas não desisto. Um dia a coisa funciona.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Persistência

Em Janeiro de 2004 eu visitei a minha avó achando que seria a última vez.
Eu ainda estava solteiro e enchi a paciência dela para que desse um jeito de contornar os problemas respiratórios - ela tem calcificação nos pulmões, ou algo parecido - e pegasse um avião para assistir ao enforcamento, mas ela preferiu me abraçar em pensamento e rezar pela minha felicidade. Ela estava lá e meu Tata também. Todos eles estavam lá e viram a bagunça toda do dia mais feliz da minha vida.

Agora já é 2006 e minha velhinha, ou melhor, a velhinha da minha velhinha, continua por aqui controlando tudo e fazendo a alegria dos netos.
Vou visitá-la novamente e morro de saudades do seu colo.
Vou matar saudade do tempo em que morei com ela, aprendi a não comer gordura de bife, me viciei em pastel de choclo com açúcar e tomate e que acompanhei meu Tata no caminho para o descanso.

É bom saber que meus temores eram exagerados e que ela ainda tem muito amor para dar.
Só vou ter problemas com a concorrência dos primos menores que convivem muito mais com ela, mas acho que consigo dar um jeito de puxá-la para um canto e tê-la só para mim uma vez mais.
Ela é a única abue que me resta e tenho que caprichar no dengo.
Mas o capricho não é mais pelo temor e sim pelo amor.
Independente de tudo, ela estará lá onde sempre esteve e isso nunca vai mudar.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Preparo

A temporada que a minha cunhada e a prole passaram em casa me obrigou a pensar sobre a existência de alguns pré-requisitos para um casal se assumir oficialmente.
Assisti a tantas discussões infantis entre ela e o marido, que fiquei desejando que houvesse uma cartilha que obrigasse as pessoas a amadurecer antes de partir para uma vida a dois.
Segundo essa cartilha imaginária, a pessoa deveria obrigatoriamente passar por determinadas experiências e demonstrar a sua aptidão para seguir ao nível seguinte.
A impressão que ficou é que eles são um casal de crianças que mora junto, brinca de casinha, cria outras duas crianças e que certamente seria reprovado nos exames que eu imaginei.

Ou isso ou eu estou colocando fé demais na maturidade das pessoas em geral.
Digo isso por que os problemas que eu tenho em casa são muito diferentes.
Sei que sou birrento e intempestivo, mas nunca deixei de me render a bons argumentos e a decisões que fossem benéficas para ambos.
Talvez eu mesmo tivesse dificuldades em ser aprovado pela minha cartilha, mas certamente o resultado seria um monte de casais muito mais preparados e um bando de crianças (no aspecto cronológico, que fique claro) muito mais equilibradas.
Estou sonhando alto demais?

quarta-feira, agosto 09, 2006

GLS

É realmente curioso, mas já faz algum tempo que não me sinto ofendido ao ser chamado de viado, bicha ou qualquer outra palavra que denote um comportamento homo da minha parte.
Faz algum tempo que entendo isso mais como um fato do que como um insulto, ainda mais sendo sãopaulino e tendo que aturar as brincadeiras dos rivais.
E não precisei sair do armário para conseguir isso. Apenas deixei de me preocupar com esse tipo de coisa e de acreditar que gostar de pessoas do próprio sexo é errado ou anti-natural.
Para dizer a verdade, o que me parece anti-natural é a frieza para matar pessoas (vide os casos Richtofen e Liana & Felipe) ou a falta de vergonha na cara de quem não dá a mínima para quem precisa de médicos e ambulâncias.
Nessa linha, deveria ser muito mais ofensivo chamar alguém de deputado do que de sapatão ou boiola.



Sou feliz com meus hábitos sexuais e com meu interesse apenas por mulheres, mas na infância, ser associado a qualquer coisa "não macha" era a pior das ofensas.
Alguns meninos chegavam em casa chorando e despertavam a ira irracional dos pais contra o mundo inteiro se algum amigo os tivesse chamado da mariquinhas ou coisa que o valha.
Era o fim do mundo para esta nossa cultura machista/latina/ibérica.
O mesmo vale para aquelas que eram chamadas de sapatas, brutas ou machonas.
Nada bom para a cabecinha delas.

Chegava a ser deprimente a reação dos pais quando se fazia alguma brincadeira questionando a sexualidade do filho: a descoberta de uma linha homo ou bi geraria expulsões, perda de direito a heranças e/ou internações psiquiátricas.
Como se isso eliminasse os laços de sangue e o amor nutrido pelo filho até então.
Realmente deprimente.

Mas como nem tudo são flores, paralelamente a esse meu desprendimento, ganhei uma preocupação potencial: como explicar para o eventual herdeiro meus conceitos de respeito à diversidade se nos ambientes de sociedade (escola, parques, festas) o homossexual continuará sendo tratado como marginal?
Fico pensando se vale a pena gerar esse tipo de confusão em uma cabeça infantil.
Questiono se não é melhor esquecer meu idealismo e proteger a criança através da ignorância.
Devo mesmo fingir que odeio bichas e que ele (ou ela) vai para o pelourinho se chegar perto de alguém do mesmo sexo?
Complicado demais para descobrir sozinho. Ao menos neste momento.
Melhor continuar vendo a novela das oito e torcendo pelo beijo gay do Edson Celulari.
Quero ver a galera do preconceito se indignando em nome da Ana Paula Arosio.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Tesão cinéfilo

O grande problema foi ter começado com New Wave Hookers.
Se eu tivesse continuado com meu hábito de me esconder para ver as pornochanchadas da Sala Especial da Record, nada disso teria acontecido.


O responsável pelo vício


Mas aquela família japonesa era despreocupada demais para impedir que o filho caçula convidasse os amigos para ver alguns filmes alugados pelos mais velhos.
E como esse filme era justamente o primeiro capítulo da "saga" dos Irmãos Dark, acabei me apaixonando pela Traci Lords e, consequentemente, me viciando em pornôs.


Traci Lords


Mas como resistir àquela coisinha carnuda e agitada, fantasiada de diabinha e seduzindo um anjo?
Era esperar demais de um moleque que ainda não havia descoberto as mulheres.
Pelo menos não as de verdade.


Jenna Jameson


À partir daí, continuei visitando as locadoras com certa frequência e contando com a cumplicidade dos proprietários para saciar minhas curiosidades pós-infância.
Eu ainda era menor de idade e tanto as Playboys quanto os VHS "de putaria" deveriam ser proibidos. Mas isso não impedia a diversão e eu agradecia.


Jeanna Fine


Minhas preferidas eram, além da Traci, a Jeanna Fine, a Vanessa Chase, a Jenna Jameson, a já falecida Anna Malle e as "irmãs" Ginger e Amber Lynn (eu não curtia muito a Porsche) e a temporona Krysti Lynn. Esta última veio bem depois, mais ou menos na época em que descobri o Stagliano, que a tornou musa de seus filmes da série Buttman.
Aliás, foi o Stagliano o responsável por mais uma revolução no meu desespero masturbatório: os dois filmes da série Face Dance.
Não vou ofender o leitor descrevendo o que eu sentia vontade de fazer toda vez que via o Rocco se virar para atender a toda aquela clientela, mas acho que um fato interessante a registrar é a compra das duas fitas junto ao dono da locadora.
Ele sorriu de orelha a orelha quando fiz a proposta e eu fiz a mesma coisa quando cheguei em casa. Maravilha.


Ginger e Amber Lynn


E por falar em Rocco, não tenho temor algum em dizer que esse italiano me impressiona desde a primeira vez. E não estou falando da anatomia, que obviamente é uma das suas principais características.
O que me impressiona é a selvageria com que ele trata as parceiras.
Diferente do Max Hardcore que jamais conseguiu me convencer que sentia tesão com aquelas barbaridades que fazia, o Rocco sempre foi convincente quando entrava em ação: ele gostaria de judiar as mulheres, mas também mostrava que elas deveriam se divertir igualmente. Cabra bão!
O fato da minha mineira também gostar da coisa e admirar a performance do rapaz só aumenta a minha diversão.


Rocco Siffredi


Mais recentemente tive contato com outro filme da grife Buttman, os Fashionistas, mas mesmo com a presença intimidadora da Belladonna e seus dentes estilo Ronalducho, não chega a ameaçar a posição dos meus preferidos, notadamente, quase todos produzidos na década de 80.


Belladonna


Tudo isto fez surgir uma vontade de falar sobre os filmes que tenho em casa.
Quem sabe não está nascendo um novo blog?

sexta-feira, agosto 04, 2006

Filmes em quadrinhos

Para mudar total e definitivamente de clima e voltar a falar de paixões.


E o Homem de ferro vem aí!
Ao menos é o que disse o Terra recentemente.
E ele vem para brigar com Mandarim, com o Homem de Titânio e com o Homem-aranha, cujo terceiro filme deve estrear também em 2008, com direito a Venom e tudo mais.





Só estranhei o fato do Tom Cruise ter sido citado para o papel.
Vai saber!

E o Batman também deve aparecer em 2008.
Seria a sequência de Batman Begins, com o Christian Bale como o morcego e o Heath Ledger como o Coringa.
Gostei!

A notícia ruim é que a pouca receptividade (entenda-se lucro) do Superman Returns pode impedir a sequência planejada pelo Bryan Singer.
Pelo que entendi, o diretor queria fazer um filme com a participação da Liga da Justiça, o que me animou bastante.
Tomara que a maré vire.

Agora só falta alguém divulgar o lançamento do quarto filme dos mutantes.
Ou será que a fragilidade do terceiro filme conseguiu eliminar a curiosidade do público em assistir a uma aventual aparição dos sentinelas, ao Magneto recuperando os poderes, à "cura" perdendo o efeito, à introdução dos problemas raciais em Genosha e ao mutante misterioso revivendo?

Por falar nesse último mutante, acho que vou ter que abrir mão da minha postura idealista e recorrer ao camelô da esquina para rever o terceiro filme e tentar entender o que a Moira e o Professor falaram sobre esse mutante.
Não me lembro bem dele nas revistas e fiquei curioso.
Será que se trata do alterador de realidade Proteus?
Aguardem mais notícias.

quarta-feira, agosto 02, 2006

"Quanto mais você tenta me apagar, mais eu apareço"

Nunca fui muito com a cara desse Thom Yorke, mesmo que a crítica e os descolados de plantão adorassem o dono daquela cara meio torta e daquela sobrancelha paralisada.
Até tenho alguns CDs do Radiohead, mas nunca morri de paixões por eles.
Entretanto, gostei muito desse verso da música "The eraser" do primeiro álbum solo dele. Achei que ele captou bem esse sentimento esquisito que tenho em mim agora.
Tudo bem que o contexto dele devia ser de amor e relacionamento, mas acabei entendendo tudo como a dificuldade de limpar aquilo que não deveria estar lá, que não me ajuda em nada a seguir em frente como preciso.
Talvez seja melhor definir essa coisa como "ranço emocional".

Pensei em chamá-lo de "sentimental", mas desisti.
A minha parada não é com sentimentos. Estou satisfeito nesse aspecto.
O buraco é muito mais embaixo. É uma coisa de equilíbrio mesmo.

E a leitura do "Febre de Bola" de Nick Hornby não está ajudando muito.
Diferente do que eu tinha visto antes, o inglês usa o livro como jeito engraçado de contar a pobreza de espírito de um obcecado por futebol.
Fiquei até com medo da minha apreciação pelo esporte bretão.
Seria eu um ser deprimente e digno de pena como aquele descrito no desfile de lamentações do livro?
Cheguei à conclusão que não.
E não foi só por que o Hornby usou o amor como redenção para a sua estória.
Também caí na real que tem milhares de outras coisas que são tão ou mais importantes nesta minha existência em carbono e bandalheira.
Para mim também aconteceu de ter um relacionamento substituindo outros interesses, mesmo que esses interesses fossem em outros relacionamentos.
Decidi que tenho esperança.

Nem vou mencionar o bode que está me causando a "mudança" da minha coleção de revistas em quadrinhos para um local não identificado para que minha mãe possa acomodar as coisas do escritório do meu pai.
Essa minha obsessão é assunto para outro post.

Ainda bem que existe o amor e que mesmo um obcecado como o Hornby encontrou nele uma forma de aliviar os medos e viver de uma forma diferente.
Tudo bem que foi um alívio temporário, mas ainda assim vale o registro.

E acho que está na hora de largar esta auto-comiseração.
Não sei de onde vou tirar energias já que o contexto segue o mesmo, mas tenho que dar um jeito nisso. Nem eu me aguento.
Vou terminar este livro e abraçar a Jenna.
Tenho certeza que a minha mineira vai entender que não se trata de adultério, mas apenas de uma revitalização de energias, um escapismo inofensivo.
Acho que ela sabe que será bom para ambos.



Só faltou dizer que a temporada de casa cheia está terminando.
Os sobrinhos estão voltando para casa e os pais vão ficar um pouco mais separados até que as transferências de cidade sejam concluídas.
A julgar pelas brigas na sala da minha casa, é melhor assim.

segunda-feira, julho 31, 2006

Novidades

Novo template, novas idéias, nova motivação, nova vida.

Ao menos é isso que espero.

Esfacelando

Não sei se é a idade, a falta de tempo, os sobrinhos, o stress do trabalho, as companheiras ou mesmo a falta de vontade, mas é fato consumado a desintegração da Diretoria.
O nosso grupo de amigos, antigamente tão unido a ponto da causar ciúme nas namoradas, agora mal consegue se juntar para a pizza de domingo e vive com pressa para ir logo para casa por que o dia seguinte promete mais um lote de pepinos, abacaxis e abobrinhas no trabalho.
É pena, por que eu ainda adoro esse caras.

Ainda me lembro bem dos perrengues por que alguns deles passaram e da saída que acabamos encontrando juntos.
Não gosto disso, mas não sei bem o que fazer para evitar.
A seguir assim, daqui a pouco vamos nos ver menos do que se morássemos em cidades diferentes.

Deve ser assim mesmo que se amadurece: deixando para trás as coisas da infância e adolescência e passando a se preocupar com coisas sérias.
Sinceramente, eu preferia o esquema de antes.

sexta-feira, julho 28, 2006

Superman

Minha irmã cineasta tinha razão: o novo Superman é o máximo.
Curti o filme todo, principalmente pelo fato da estória continuar de onde a série anterior parou.
Quer dizer, não é exatamente uma continuação, mas os personagens aparecem como já tendo vivido tudo o que foi mostrado nos quatro filmes anteriores, inclusive a transa do Super com a Lois na Fortaleza da Solidão.
Só faltou o Batman, mas aí é querer demais.

Maravilha igual a essa só na filmagem do Cavaleiro das Trevas.
Aí sim o escoteiro vai ver o que é bom para a tosse.
Desde que o diretor seja o Bryan Singer, claro.

Como sonhar ainda é bom e barato, eis a minha escalação dos atores para o Cavaleiro:
- Batman: Bruce Willis;
- Superman: o próprio Brandon Routh, já que Super não envelheceu;
- Coringa: Jack Nicholson ressuscitado;
- Mulher-gato: Susan Sarandon;
- Arqueiro Verde: Sean Connery;
- Robin: Keira Knightley;
- Alfred: o onipresente Ian MacKellen;
- o líder Mutante: The Rock;
- o Comissário Gordon: Liam Neeson.



Se um dia alguém resolver filmar mesmo a obra-prima de Miller, provavelmente não será com nenhum desses atores, mas isso só vai confirmar esta idealização como minha e de mais ninguém.

segunda-feira, julho 17, 2006

Coisas a se fazer antes dos 35

Estou mesmo em uma fase complicada da minha vida.
Não é preciso que aconteça nada de especial para que eu comece a refletir sobre minhas decisões e a pensar no que poderia ser diferente.
Infelizmente não consigo focar esses pensamentos apenas no futuro e acabo pensando naquilo que eu teria feito diferente no meu passado.
A retomada desta vez foi motivada pelo filme “Antes do amanhecer” que vi com a minha mineira neste final de semana. A idéia de uma viagem sem compromisso, destino ou propósito me fez pensar nas minhas experiências e me levou a mais um momento “Alta fidelidade”.
O resultado disto foi uma lista das coisas que teriam que ser feitas na vida de um homem antes que ele chegue aos 35. Obviamente, esta lista diz muito sobre mim mesmo, mas talvez alguém possa se espelhar nela e fazer as suas próprias reflexões.
Aí vai ela:

- eu deveria ter ido ao primeiro Rock in Rio: eu tinha 13 anos e meus pais não me deixavam ir ao Shopping à noite, quanto mais viajar para um lugar onde cada um poderia ter o tipo de diversão que quisesse e na quantidade que desejasse; eu certamente não tinha maturidade para tanto, mas teria sido o máximo ver o Queen, o Whitesnake e o meste Ozzy naquele palco;
- eu deveria ter beijado a Francesca: mesmo que ambos tivéssemos namorados em nossas terras, a gente deveria ter se envolvido em Londres e se curtido naquelas duas semanas que faltavam para o fim do curso no Eurocentre; teria sido o máximo me fingir de Jesse e têla como minha Céline; poderia ter mudado a minha vida; na verdade, mudou;
- eu deveria ter ficado mais na Europa: a companhia do Presidente tornou a viagem de mochileiro uma coisa muito direcionada e eu deveria ter jogado tudo para o alto e vivido melhor a oportunidade; eu teria limpado banheiros e servido mesas, mas teria vivido um mundo diferente e não apenas conhecido monumentos; maldito orgulho de engenheiro;
- eu já deveria ter tido um filho: é cada vez mais complicado lidar com a idéia de ter um herdeiro e a nova temporada dos sobrinhos em casa não ajuda em nada; desta vez é um pouco diferente e estou pensando na minha suposta incompetência para educar adequadamente uma criança; sempre critiquei alguns pais pela falta de disciplina com os filhos, mas hoje penso que não é nada fácil fazer com que uma criatura pensante não se desvie do caminho que você acredita ser o melhor para ela; desta vez, não penso na falta de sono que um filho vai trazer, mas sim no medo do fracasso;
- eu deveria ter ido até a Argentina para ver os Smiths: tudo bem que eu nem cheguei a saber que eles tocariam lá e que a logística seria ainda mais difícil do que a do Rock in Rio, mas isso não elimina o fato de ter perdido uma oportunidade única de ver a minha banda predileta em ação;
- eu deveria ter saído de casa antes de casar: ter morado sozinho teria me ensinado algumas coisas que seriam muito úteis na vida a dois; isso sem contar a alta rotatividade que eu poderia ter experimentado com meu próprio “abatedouro”;
- eu deveria ter aproveitado melhor meu estudo de inglês logo que voltei da Europa: eu teria me dado muito melhor na carreira e teria economizado uma boa grana em estágios da Cultura;
- eu deveria ter me comportado melhor nos meus empregos iniciais: tudo bem que tudo para mim aconteceu tardiamente, mas ter sido imaturo ao extremo nos primeiros 7 anos da minha carreira não me ajudou em nada; meus companheiros de curso que o digam, já que praticamente todos ocupam cargos executivos e ganham muito mais do que eu;
- eu deveria ter ousado mais com mulheres: mais um ponto onde a minha imaturidade foi a atriz principal; perdi tantas oportunidades com meninas que me abordaram que só consigo me sentir ridículo e esquisito; e não teria sido só sexo; certamente eu teria vivido grande amores, se não tivesse ignorado a natureza e deixado de lado a idéia que aquela mulher estava mesmo interessada em mim, e;
- eu deveria ter beijado a Cibele: teria sido o primeiro beijo no meu primeiro baile, provavelmente com aquela que seria o meu primeiro amor não imaginário; teria sido inocente e lindo.

Olhando para esta lista fico pensando que não tenho muito do que reclamar desta minha existência.
A coisa toda ficou com um quê de “Epitáfio”, de arrependimento pelo que não fiz, mas estou longe de querer entregar os pontos. Sou teimoso demais para optar pela saída “fácil”.
Prefiro seguir esmurrando a faca até a coisa toda ficar do jeito que eu quero, principalmente com a parte do sangue.
Tanto melhor se for assim.

Estou meio down, é verdade, mas isso vai ter que passar.
Tenho que me lembrar de uma lista ainda maior que contém as coisas que eu fiz nestas 34 primaveras.
Tenho a obrigação de fazer isso e agradecer a quem me ajudou e dividiu alguns desses momentos comigo.
Vai ser complicado lidar com isso hoje, mas amanhã é outro dia e quem sabe eu consigo.
Quem sabe?

sexta-feira, julho 14, 2006

Obsoletos

O tempo realmente passou para todos os membros e agregados da Diretoria.
Ainda ontem estávamos, eu e o Presidente, debatendo sobre as vantagens e desvantagens de termos envelhecido e feito nossas escolhas.
Nos lembramos com muita saudade dos nossos tempos de Floripa, das mulheres maravilhosas que cruzaram nosso caminho, dos hectolitros que fizemos desaparecer dentro dos nossos corpos, das viagens divertidíssimas e dos não menos divertidos micos pelos quais passamos durante o processo.
Notamos também que esses momentos de nostalgia são cada vez mais numerosos à medida em que nos tornamos cada vez mais obsoletos na balada.

Mas como nem tudo é decadência e preguiça, registramos também as vantagens e delícias de dividir o teto com pessoas especiais e escolhidas a dedo.
Partimos do acordar de manhã com uma espreguiçada propositadamente espaçosa e fomos até a invasão de boxe durante aquele banho demorado, que obviamente faz com o que o banho fique ainda mais demorado.
Não deixamos de falar sobre o desejo de um final de semana livre por ano, claro, mas em geral só destilamos as qualidades e maravilhas da vida a dois.
Infelizmente o Paraguaio não estava lá, mas acho que o representamos bem na brincadeira de imaginação que fizemos.

Mas como nem tudo é perfeito nem na mais sincera das amizades, acabamos não falando sobre as razões que levaram o Presidente a adiar a oficialização da união.
Deve ter algo a ver com conforto, excesso de trabalho e falta de energia para encarar os desafios e encheções típicos dessa fase da vida.
Como ele não tocou no assunto, eu também não quis cutucar a ferida e seguimos secando os chopes e rindo das coisas do passado.

O mais engraçado de todo este papo é que tenho uma boa idéia de qual seria a nossa resposta se alguém nos propusesse abandonar a vida conjugal e voltar à balada desenfreada.
Posso apostar que ambos agradeceriam a oportunidade e escolheriam manter o passado no passado e focar as energias em fazer do futuro uma época boa de se viver.
Vivo reclamando que não fiz o que poderia quando tive a oportunidade, mas acho que a vida é assim por alguma razão e não é certo tentar enganá-la. O que passou passou e quem ficou é por que merece.
E tem mais: sinto sono demais depois das 22:00hs para querer voltar à vida de boates, motéis e camisinhas.
Valha-me Deus!

sexta-feira, julho 07, 2006

Pequenos exemplos

Acabei de completar o álbum de figurinhas da Copa!
Nada mais apropriado para estes tempos de patriotismo de chuteiras, não é mesmo?
O chato é que no processo de garimpar aqueles tesouros auto-colantes, acabei descobrindo também alguns traços de personalidade que eu preferia não ter encarado no relacionamento com algumas pessoas aqui no trabalho.
Não gostei por que me conheço e sei que vou retaliar a avareza e ambição que encontrei.
Por mais besta que seja a situação, concluí que é exatamente aí que a gente descobre a verdadeira personalidade de algumas pessoas. Temos que sair do ambiente de afetação e fingimento do trabalho para ver as coisas com mais clareza.

O exemplo mais clássico foi o capitalista que achava certo ganhar dinheiro com a vontade dos colegas de completar o álbum e que achava que as figurinhas dele eram difíceis e que as dos outros não, portanto era justificado uma troca "três por uma".
Com minha habitual indiferença proposital, respondi que com ele eu não trocaria nada e virei as costas.
Não demorou uma semana para que ele me procurasse e propusesse a tradicional troca "uma por uma". Nessa eu ganhei.

Outras pessoas, desacostumadas com gestos gratuitos de generosidade, se espantavam quando descobriam que eu não queria dinheiro pelas figurinhas que eu conseguia para elas.
Eu precisaria ter a minha Canon em mãos para registrar as caras de surpresa quando eu dizia que queria apenas envelopes fechados de figurinhas para poder continuar ajudando as pessoas que ainda não haviam completado o álbum.
Me surpreendo por que essa minha atitude não deveria ter nada de mais. Isso deveria ser o padrão neste nosso mundo doido, mas infelizmente eu sei que não é assim que as coisas funcionam.
Pelo menos eu acredito que estou fazendo a minha parte nesta corrente do bem.
Não é como no filme, mas serve.

No final das contas, o resultado, ao menos para mim, é positivo: completei o álbum e melhorei a amizade com algumas pessoas que antes eu mal conhecia.
Não preciso de muito mais para me considerar feliz.

sexta-feira, junho 30, 2006

Terapia

Não me lembro bem quando começou, mas sempre que eu me sentia angustiado ou deprimido, a música me recebia de braços abertos e me acolhia com seu jeito terno de quem nunca tem problemas e sempre está feliz.
Se ela fosse um ser vivo, talvez não tivesse mesmo, mas não tenho essa sorte e sempre tenho que processar e segurar as barras que pintam na minha vida e na vida das pessoas que amo.
E quando a coisa extrapola meus limites, eu tenho a música.

Ontem foi um dia desses e quem substituiu Mozza no papel de aplacador de angústias foram os sulinos do Acústico MTV Bandas Gaúchas.
Era um DVD comprado há meses e que pedia emocionadamente para ser tocado.
Aproveitei o bode e mandei ver.
E foi bom para mim, foi muito bom para mim.
Esqueci um pouco os motivos da tristeza e sonhei um pouco.

Não quis colocar o ex-líder dos Smiths em Manchester por temer as lágrimas.
Já aconteceu de eu começar a me lembrar do passado e de ficar com mais saudade do que deveria.
E nada pior do que agir como um museu e achar que o passado é que era bom e que do futuro só se podem esperar tristezas.

Hoje já estou melhor e depois de uma conversa com meu chefe, senti um pouco mais de esperança na melhoria de um dos aspectos desta minha vida repleta de comédias.
O outro também está a caminho e depende de uma série de acertos com a minha mineira.
Mas as coisas vão melhorar e a música sempre estará lá para garantir isso.

Por que se não melhorarem, haja choradeira e DVDs dos Smiths!

sexta-feira, junho 23, 2006

Datas

Este meu casamento é uma coisa realmente engraçada.
Minto. Na verdade o namoro já era engraçado e o casamento acabou alterando um pouquinho a rotina.
Que outra palavra além de engraçado pode descrever um relacionamento onde o homem se preocupa muito mais com datas comemorativas do que a mulher.
E não estou me referindo ao aniversário de um ano, dois meses, cinco dias e vinte e cinco minutos do primeiro beijo. Falo de aniversários de namoro e do dia em que a gente se conheceu.
Pode até parecer inacreditável, mas enquanto a gente não morava juntos, era muito mais fácil que eu solta-se um "parabéns" no meio do telefonema do que o contrário.
Naturalmente, ela devolvia um outro "parabéns", mas não era raro ela deixar escapar um "ah, é!" antes de sincronizar o calendário.

Não que isso seja uma falta grave, mas certamente é algo curioso no ambiente machista em que vivemos aqui nos trópicos.
Chega a ser ridículo o tradicionalismo que divide as tarefas entre o masculino e o feminino. Isso me parece tão antigo que não me privo de gargalhar quando alguém solta uma dessas na minha frente.
Na minha vida de casado e mesmo na de solteiro, esse tipo de divisão não tem lugar.
Acredito muito mais em iniciativa e capacidade do que em obrigatoriedade.

Mas voltando à memória para datas, depois de algum tempo a minha mineira passou a se antecipar e a lembrar das comemorações. A coisa ficou tão competitiva que eu fui forçado a apelar para uma cola: gravei as principais datas em uma medalhinha que não tiro nem para ensaiar a encomenda do herdeiro.
Nesta medalha estão gravadas a data de início do namoro, a data do noivado e a data do enforcamento final, costumeiramente conhecido como casamento.
Assim não corro risco de perder informações extremamente úteis para a minha integridade física.

Mas o fato de termos diferentes tempos para lembrar das celebrações, não há como negar que ambos gostamos muito de festejar e de lembrar dos primeiros tempos do nosso contato e dos rodeios para o primeiro beijo.
Mal dá para acreditar que a gente tenha feito tanto charme antes de se entregar.
Hoje a gente parece um só de tanto que seguimos no mesmo caminho. Apesar do aprendizado diário e do esforço constante, nos damos muito bem e não temos nenhuma dificuldade em determinar onde comemoraremos tudo o que conseguimos, de um aumento de salário a mais uma vitória do Tricolor.

E mais do que gostar de celebrar, ambos desenvolvemos um gosto especial por preparar surpresas e criar produções para surpreender o outro.
Tradicionalmente, eu acabo criando um número maior de situações, surpresas e produções, mas a minha mineira também é bastante feliz quando resolve agir na surdina e me deixar de boca aberta com ações mais do que surpreendentes.
A próxima surpresa está sendo armada para a semana que vem.
Mesmo sendo na segunda-feira, o Dia dos Namorados vai render uma troca de presentes secretos e um vinhozinho em casa, para embalar a confraternização íntima da sequência.
É bastante provável que o tradicional jantar aconteça no sábado, apesar do meu temor de que enfrentemos um crowd dos piores. Imagino que o mundo inteiro vá ter a mesma idéia, mas não vejo outra alternativa.
Pior seria sair na segunda ou mesmo na terça, depois do jogo do Brasil.

A única certeza que tenho é que desta vez não haverá esquecimentos e nem super-produções. Vão rolar algumas surpresas, claro, mas nada fora do comum.
O importante é a dedicação sincera e a vontade de fazer o outro feliz.
E para isso, não preciso de medalhinha para me lembrar.
Basta olhar para dentro e deixar a coisa acontecer.

segunda-feira, junho 12, 2006

Bem vindo, babe

Um viva para o Brunão, que chegou a este mundo em grande estilo como só o tio dele havia feito antes: na madrugada de sábado para domingo e com 2,8kg de puro sex appeal.
Ele chegou pequenino, cansadinho e cabeludinho, igualzinho à mãe dele, mas como a genética não pode ser vencida, daqui a pouco ele começa a fazer o sucesso devido na ala feminina.
Afinal de contas, alguém da família precisa fazer algo bom no meio da mulherada.

A minha Lelê ganha um irmão para cuidar e eu ganho outra razão para visitar o Chile.
Se não bastassem a minha avó, a própria Lelê e o país em si, agora tenho um sobrinho com meu sobrenome.

E daqui a pouco vem mais um membro do outro lado da família.
O Johnny chega em algumas semanas e a minha mineira não vai caber em tanta felicidade.
À partir daí, mais feliz só quando ela mesma abraçar o herdeiro, mas isso é assunto para alguns anos no futuro.

sexta-feira, junho 02, 2006

Nascido para a coisa

Eu não gosto de crianças!
Digo isso de boca cheia por que não suporto a gritaria, a bagunça e a sujeira associadas a um moleque mal educado, mimado e egocêntrico, que foi habituado a ter tudo o que quer e a medir o valor das pessoas pela quantidade de bolinhas que o tênis de cada um possui.
Me sinto mal ao ver uma menina de dois anos se vestindo como a Madonna na fase vagabond chic e usando as mesmas gírias da novela das oito.
Tenho pitis quando um ranhento vem me pedir uma coisa e ao ouvir minha negativa, corre para pedir para o pai ou para outra pessoa.
Em um resumo mais do que executivo, não gosto de crianças!

Mas o grande problema e a grande sina da minha vida é que elas gostam de mim, aliás, gostam muito de mim.
Talvez por conta da minha cara de mau e do meu zelo patológico por limites.
Talvez pela minha aparente falta de preocupação quando eles rolam no chão enquanto choram por algo que eu não concordei em ceder.
Ou talvez ainda pelo fato de eu não falar "mamanhês" e usar palavras que eu usaria no trabalho ou na mesa de bar.
Por mais que eu deteste admitir, os pequenos gostam de mim, ao menos aqueles que ainda não são casos perdidos.

Isso me leva a pensar no que muitos dos meus amigos dizem sobre mim quando tocam no assunto paternidade. Segundo eles, eu tenho cara de pai e meu destino está traçado.
Invariavelmente eu rio e mando todos para aqueles lugares de onde não se volta mais, mas a gozação continua e pior, as razões para as brincadeiras se perpetuam.
Ou será que dá para entender um cara que diz não gostar de crianças e fica horas deitado no chão ao lado de um bebê de um ano, só trocando olhares e batendo uma garrafa vazia da Coca Cola no chão?

Pensando friamente, ainda discuto essa máxima de que tenho cara de criador de ranhentos, mas é impossível encontrar qualquer argumento que enfraqueça a idéia de que a minha mineira nasceu para ser mãe.
Ela diz que esse é um sonho dela desde sempre e só eu sei a quantidade de sonhos eternos que essa minha esposa tem. Aos poucos eles foram se realizando e algo me diz que esse não será exceção.

Por via das dúvidas, já comprei mais um livro do Parsons e vou me preparando de uma forma bem inglesa e intelectual para não ter mais noites inteiras de sono pelo menos até os 18 anos de idade do herdeiro.
Tenho que treinar para o caso de mudar de idéia e resolver focar na preservação do nome da família do meu pai.
Espero que esse negócio de ser pai não seja muito diferente do que eles fazem lá nas Ilhas.
Ai Jesus!

domingo, maio 21, 2006

Aprendizado

Eu ainda estava no meio do meu Tony Parsons quando um colega de trabalho chegou meio de sopetão me trazendo um exemplar de O Monge e o Executivo.
Eu já havia escutado muita coisa sobre o livro e até já o havia pedido emprestado para o Professor, mas nunca havia conseguido tê-lo em minhas mãos para ver o que o tal James Hunter tinha a dizer.
Não me lembro se fui eu ou ele quem citou o livro pela primeira vez, mas sei que eu estava ligando meu computador em uma sexta-feira fria e preguiçosa quando ele chegou, me entregou o livro e me perguntou se eu conseguiria lê-lo no final de semana.
Fiquei sem jeito de dizer que estava lendo outra coisa e que certamente não conseguiria me dedicar ao Monge na próxima semana, mas o cara foi tão generoso e sorridente que acabei aceitando o livro e pedindo um perdão silencioso ao Parsons.

Li o livro, pensei um pouco e concluí que o marketing é mesmo uma coisa abençoada. Somente isso explica o fato de um livro escrito sem nenhum brilho e que recicla um monte de coisas ditas muito tempo antes por outras pessoas, acaba sendo adotado como bíblia comportamental por um monte de gente.
Provavelmente isso já rendeu até teses e cases em pós-graduações e cursos de extensão.
Não me considero uma sumidade em termos de cultura ou ciência, mas já li coisa muito melhor e nem pagar eu paguei.

Isso me fez lembrar da experiência morna que tive com o Zig Ziglar e do certo arrependimento que sinto ao ter indiretamente sugerido que a minha mineira comprasse um livro dele. Mas isso já passou e não há muito o que fazer.
Só espero que ela aproveite alguma coisa da leitura.

Uma das poucas coisas que achei originais no livro diz respeito ao reconhecimento público e à repreensão privada. Experimentei a primeira parte disso há poucas semanas quando fui homenageado pela Diretoria da empresa por conta dos meus esforços em um projeto micado desde o berço.
Bem ou mal, eu consegui levantar um pouco o "abacaxi" e hoje conseguimos manter o nariz fora d´água, apesar dos pesares.

É difícil dizer o que senti quando meu nome foi mencionado e o chefe do meu chefe me chamou lá na frente.
Sempre gostei de me imaginar em situações heróicas, tipo salvamento da mocinha, mas fiquei visivelmente desconcertado na hora de emitir um simples agradecimento.
Me lembrei do chinesinho na frente do tanque na Praça da Paz Celestial, do povo batendo panelas em Buenos Aires e dos "parentes" tomando jatos d´água nas costas durante as confusões em Santiago.
Apesar da pieguice da cena, me senti meio herói, mesmo que se tratasse apenas de uma homenagem simbólica, sem maiores efeitos para a minha conta bancária e o meu cargo.

Isso me faz pensar em um determinado colega que já taxei de mau caráter pelo péssimo costume de ser o último a pagar a conta do almoço, só para aproveitar os centavos remanescentes de troco dos outros colegas.
Esse mesmo cara acha correto sonegar imposto de renda e recorrer de uma multa que ele mereceu levar, mas não é bem disso que eu quero falar.
Eu o considero um ladrão em espírito e isso só aumentou quando eu mencionei o prêmio e ele me perguntou quanto eu havia ganho nisso.
Não consigo me lembrar da reação dele, mas certamente os pensamentos devem ter passado por algo parecido com "prefiro a minha parte em dinheiro" ou coisa que o valha.

Obviamente não quero ser ingênuo a ponto de dizer que só trabalho pelo prazer.
Isso seria ótimo, mas só se encaixa na trajetória profissional da minha mineira e de outras pessoas que amam o que fazem.
Como eu apenas gosto, admito sem vergonha que trabalho também pelo dinheiro e que esse tipo de elogio e premiação atende apenas uma parte das minhas necessidades.
É preciso mais e é isso que eu vou ter.

O que me leva de volta ao Monge e às citações de Maslow e sua pirâmide de necessidades.
Neste momento, minhas necessidades são de paz de espírito e de um regime.
Não preciso mais do que isso para viver bem e fazer a minha mineira feliz de novo.
Acho que estou meio em falta com ela nesse aspecto e tenho que abrir o olho.
Talvez uma das boas formas de fazer isso seja encarando mais um "guia" comportamental / financeiro.
Vamos ver o que o Senhor Cerbasi tem a me dizer e vamos ver o que disso eu posso passar para a minha mineira.

sábado, maio 13, 2006

Objetivos

Antes de me tornar um homem sério, leia-se, me casar, meus planos de futuro se resumiam a economizar para comprar ou trocar de carro e ter dinheiro suficiente para tomar chope com os amigos duas vezes por semana e visitar Floripa duas a três vezes por ano, de preferência não no Reveillon.
Eram planos simples para uma vida simples e eu não sentia necessidade de complicá-los em nenhum aspecto.
Aquilo era toda a minha vida e eu estava feliz.

Não dá para dizer se foi o casamento em si ou o fato de ter uma pessoa realmente dependendo do meu suporte, mas depois que começamos a correr atrás das coisas do casório, minhas perspectivas de vida passaram a ser muitos mais longas e elaboradas.
É certo que a impossibilidade de visitar Floripa ajudou muito, mas também preciso dar o braço a torcer e admitir que meus próprios interesses mudaram sensivelmente.
Eu já não queria mais depender apenas de mim para elaborar e concluir meus planos. A idéia agora era fazer tudo em conjunto e aproveitar o benefício a dois também.
Nessa linha de planejamento coletivo, traçamos alguns objetivos que batizamos de plano trianual. O nome original era plano trienal, mas acabamos descobrindo que isso remetia a algo que acontecia a cada três anos e não era esse o caso.

Cada uma das nossas metas deveria ser cumprida após um aniversário de casamento.
No primeiro ano, deviamos trocar o carro, no segundo, passar 30 dias na Europa e no terceiro, comprar um apartamento maior para preparar a chegada do Labrador.
Infelizmente as coisas não são como a gente espera que sejam, mesmo que a gente se esfore muito, e nosso primeiro objetivo já teve que ser mudado logo depois de ser estabelecido.
É certo que a gente foi otimista demais e não definiu nada que fôssemos conseguir sem nenhum esforço, mas a coisa não precisava se bagunçar tão cedo assim.

Agora estamos começando a falar dos próximos objetivos e parece que vamos mudar tudo novamente. É possível que pulemos direto para a terceira meta já que a minha mineira não pára de falar em reprodução, mamadeiras e afins.
Fico até assustado com tamanho entusiasmo, mas confio que ela não coloque o carro na frente dos bois e nos arrume um problema onde só deveria rolar alegria.

Cada coisa terá seu tempo, inclusive nossa comemoração sobre as conquistas.
Basta ter paciência e matar a vontade mimando os sobrinhos.
E basta também não achar que uma demora ou um fracasso são finais de linha.
Sempre dá para tentar de novo, buscar outra alternativa ou mudar o objetivo. Nada é tão definitivo assim. E nós vamos viver isso juntos.

domingo, maio 07, 2006

30 anos depois

Me lembro de sair correndo no aeroporto, cheio de bagagens penduradas no corpo e descabelado como sempre. Meu pai estava lá do outro lado do corredor, as paredes pareciam todas brancas e as pessoas haviam desaparecido. Eu corria para abraçá-lo já que não o via há alguns meses. Era meu pai que estava lá, o velho, o grande homem, e eu lá, pequeno e cabeçudo, estava enfrentando tudo para chegar perto dele.
Ele chegou a se abaixar e abrir os braços para me receber, mas alguma coisa deu errada e eu tive que voltar. Minha mãe estava me chamando e um homem de terno escuro estava bem atrás de mim.

Demorei um tempo para entender que a gente, eu, minha mãe e minha irmã pequena, precisávamos conversar com outros homens de terno escuro antes de nos encontrarmos com meu pai. Cheguei a pensar que eles eram amigos dele, mas a falta de sorrisos me fez mudar de idéia: meu pai vivia sorrindo e não podia ser companheiro daqueles homens de terno.
E eu nunca o havia visto de roupa escura em todos os meus cinco anos de vida!

Meio decepcionado com o mundo, eu parei e voltei para junto da minha mãe.
Ela estava toda atrapalhada com a minha irmã no colo e alguns papéis coloridos acabavam caindo no chão. Cheguei a pensar que ela estava trocando algumas figurinhas com o homem na casinha de vidro, mas perdi um pouco o entusiasmo quando me vi em um daqueles papéis coloridos. Eu estava com a roupa de missa que coloquei para tirar retratos e finalmente entendia a razão de toda aquela produção. Até de cabelo penteado eu estava!

Passou um bom tempo até que os homens nos deixassem passar e ir até onde meu pai e o amigo dele estavam. Eu não conhecia o outro homem, mas como ele não estava de terno e tinha um belo bigode, não tive dúvidas sobre a possibilidade de confiar nele.
Finalmente eu podia correr, bater as sacolas do lado e quase tropeçar para conseguir abraçar meu pai. Ele abriu o sorriso costumeiro e me levantou no ar, quase derrubando meus papéis coloridos e minhas sacolas.
A barba dele me espetou, mas eu achei o máximo. Era exatamente daquele jeito que eu me lembrava dele e era assim que eu o encontrava de novo.
Abracei o amigo dele também, enquanto minha mãe chegava e meu pai a beijava. Minha irmã também recebeu um beijo carinhoso na testa e eles começaram a colocar a conversa em dia.
Falaram de parentes, de comida, de televisão e até de trabalho. As coisas não andavam muito boas lá do outro lado do avião, mas eles não pareciam preocupados com nada. Estávamos novamente juntos e nada podia dar errado.
Meu pai tinha um bigodão e isso o aproximava muito da minha visão de um super-herói, de um cara muito poderoso. Era uma versão moderna do Sansão.

Minha surpresa continuou quando saímos do aeroporto do carro e pensei mais de uma vez no que mais aquele amigo rico do meu pai poderia ter em casa, já que ele tinha um carro tão grande o bonito.
Ter esquecido de verificar aquilo não era tão surpreendente já que a chegada à casa do amigo do meu pai me fez lembrar a minha última festa de aniversário: todo mundo estava batendo palmas e sorrindom, igualzinho aos meus tios quando vinham me abraçar e me entregar presentes.
Eu ganhei muitos abraços, mas acabei me cansando de esperar pelo presentes e fui logo procurar o braço do meu pai e a mão da minha mãe. Apesar de amigos do meu pai, aquelas pessoas eram estranhas e demorei para me acostumar a elas.

Passamos a noite naquela casa de esquina e poucos dias depois fomos para uma casa muito parecida, ali do lado, onde começamos a arrumar nossas coisas e onde muitas aventuras me esperavam.
Demorei para descobrir que os meninos daquela rua não falavam nem se vestiam do mesmo jeito que eu, mas isso é outra história.

Uma forma simples de comemorar os 30 anos de Brasil da minha família.
Olhando o meu lugar hoje, só posso agradecer àqueles homens de terno escuro, que me deixaram abraçar meu pai e viver naquela pequena rua de paralelepípedos.
Meu agradecimento tem nome, mas por aqui, prefiro chamá-la de minha mineira.
Que venham outros 30 anos, Patropi! E que venham outras correrias em aeroportos.

quinta-feira, abril 27, 2006

Inglês

Estou terminando de ler um Tony Parsons.
Fiquei curioso em saber por que o Takeda gosta tanto do cara e comprei o livro com um cupom de presente que estava esquecido lá em casa. Tinha na cabeça a idéia de que escritores legais devem gostar de outros escritores legais e lá fui eu mergulhar no mundo absurdamente britânico do tal Parsons.

Apesar de gostar do texto dele, fiquei meio receoso por se tratar de um apanhado de artigos e não de um livro com um fio condutor, com uma estória.
O Parsons era jornalista nos tempos do punk e testemunhou um monte de coisas que alguns amigos meus dariam os testículos para compartilhar. O concerto dos Pistols no Jubileu da Rainha, o começo de carreira do Clash e mais algumas coisas que devem mesmo fazer o Takeda ter orgasmos múltiplos. Vejo muito de Parsons na forma como o Japa escreve, mas não ouso falar em cópia. Inspiração seria uma palavra mais apropriada.

Mas essa proximidade de estilos só pode ser verificada na parte musical do livro.
Quando se começa a falar de costumes, viagens e impressões sobre a sociedade, as outras culturas e a vida, os textos vão para direções completamente diferentes.
Parsons é inglês até o osso e faz questão de exercer essa prerrogativa com toda a acidez, auto-ironia e cinismo possíveis. Ele não se livra da pecha de imperialista, apesar de respeitar muito as pessoas e as culturas que descreve.
Apesar de se adaptar a todas as situações, ele segue sendo inglês e nunca conseguirá ser algo diferente.
O Takeda pode ser um nikkei, nascido no Rio Grande do Sul e residente na Argentina, mas ainda é brasileiro e ainda vive um mundo latino e escreve como um latino influenciado por montanhas de produtos culturais anglo-saxões. Ele é gaúcho e por isso mesmo é um tipo particular de latino, mas ainda assim ele pertence ao nosso mundo de futebol, samba, Carnaval e passividade.
Eles não têm como ver as coisas da mesma forma e acho isso muito bom.
Assim dá para comprar livros que falem sobre o mesmo tema, mas que passem mensagens bem diferentes, cada uma com um ponto de vista na velha e desgastada relação de colonização.

Parsons e Takeda são legais, mas é bom o japa se afastar um pouco da influência do inglês ou os amigos vão começar a achar esquisito a troca do chimarrão pelo earl grey no café da tarde.
Pensando bem, ele não corre esse risco, o que vai deixar a minha irmã cineasta ainda mais feliz.

domingo, abril 23, 2006

Mudar é preciso

Estamos passando por mais uma reestruturação lá na "firma".
É a terceira em seis meses e não deve ser a última.
Desta vez a coisa foi um pouco mais drástica e me separei definitivamente das pessoas com quem trabalhei nos últimos cinco anos e pouco. Não trabalhei todo esse tempo com todos, mas essa é a idade da convivência com o mais velho da turma. Que aliás já tinha nos abandonado no ano passado, mas isso não vem ao caso.

Fui um dos únicos da turma original que passou a fazer uma coisa diferente.
Quase todos os outros voltaram a integrar um grupo único e retomaram uma situação que vivíamos antes das mexidas, há mais ou menos 18 meses atrás. Não sei bem se é um retrocesso, mas a idéia chega bem perto disso.

Mais uma vez, a tal mudança não nos permitiu opinar ou escolher.
Fomos separados, rotulados e destinados sem poder de voto ou veto. Mais ou menos como acontece em todas as empresas do mundo.
O lado bom disso tudo é que recebi a mensagem de que eu não fui com o resto por decisão do meu chefe. Parece que ele tem outros planos para mim e isso pode ser muito bom. Claro que existe o potencial de desastre que acompanha toda mudança, mas já que estou no inferno, darei meu tradicional beijo na boca do capeta e verei que bicho dá.

Isso me faz pensar da necessidade de mudança que o mundo corporativo tem e que afeta também outros segmentos desta bagunça que chamamos de sociedade.
Por que será que sempre temos que mudar?
Será que não existe uma situação em que as escolhas são certas e o resultado é tão bom que não se precise mexer em nada?
Aparentemente não. Parece que o que muda não são as coisas, mas sim as pessoas e são essas pessoas que acabam necessitando de mudanças nas coisas. É meio confuso, mas acaba fazendo algum sentido.

De uma forma meio darwiniana, vejo que as pessoas evoluem em termos de necessidades e demandam suportes para chegar até os novos níveis de satisfação. Isso vale para uma empresa, para uma procissão e até para cachorro quente da porta do estádio: por mais satisfeitos que estejamos com algo, sempre surje a necessidade de melhorar e daí vem a famigerada mudança.

Isto não tem a mínima pretensão de ser uma tese sociológica, mas talvez tenha um bom fundo de verdade: mudamos as coisas por que mudam as pessoas.
Só queria saber quem foi o espanhol miserável que inventou a idéia de reestruturas uma área com intervalos médios de dois meses. Desse jeito não dá nem para se acostumar com os chefes, com os clientes e principalmente com os restaurantes de entorno onde se trabalha.
E depois os chefes reclamam da nossa motivação.
Pode isso?

quinta-feira, abril 13, 2006

Graus de prejuízo

Por que errar é ruim, ter que pagar pelo erro é um pouco pior, pagar por algo que não se fez é pior ainda, mas ter que reconquistar algo consolidado e que se perdeu em um instante é um tipo de dor que ninguém deveria sentir.

Eu errei, perdi a confiança de alguém que me é muito importante e agora estou em meio ao processo de reconstrução.
Talvez as coisas não voltem jamais a ser como antes, mas isso é algo que eu terei que aceitar.
Não tenho outra alternativa a não ser começar tudo de novo, retornar quatro anos no passado e construir novamente o meu castelo.
Sei que terei a companhia de Pessoa e que a coisa tende a ser mais rápida do que da primeira vez, mas não consigo me livrar da sensação de que não precisava ser assim.

Mas como só aprende quem erra...
Alguém aí me passe a próxima pedra, por favor.

quarta-feira, abril 05, 2006

Preguiça

Se eu fosse umas das vítimas do filme Seven, o assassino certamente ficaria com dúvidas sobre a justificativa para me apagar. Gula, ira ou inveja. Apesar das opções não serem tantas, ele teria que decidir no palitinho o recado que deixaria para o Brad e para o Morgan.
De qualquer maneira, se ele não escolhesse a preguiça, temo dizer que ele teria cometido um erro mais clássico do que o 007 sob a mira de um revólver na abertura de todos os filmes da série.

Isso mesmo. Preguiça é o meu maior pecado.
Tenho preguiça de acordar, preguiça de dormir e, principalmente, preguiça de trabalhar.
Minha mineira ficaria ainda mais tranquila se soubesse que não olho com interesse para outra mulher, entre outras coisas, simplesmente por preguiça de imaginar as desculpas que eu teria que inventar e o trabalho que a pulada de cerca iria me dar.
Mesmo quando estou sozinho em casa e tenho a noite inteira para curtir a balada, chego, tomo banho e logo me bate aquela preguiça de sair. Resultado: fico em casa mesmo e a vontade, seja ela qual for, passa rapidinho, logo depois do segundo naco de Gouda.

Gostaria de não ser assim.
Seria legal ter energia de sobra para trabalhar o dia inteiro e ainda curtir a noite como se fazia quando eu não tinha idade para dirigir ou competência para transar.
Fico imaginando o que será que existe no café daqueles tiozinhos que enchem a cabeleira de gel, colocam uma camisa para fora da calça e vão até o Jóquei para morder uma daquelas meninas de programa à caça de um presente de Natal antecipado.
Me encho de preguiça só de imaginar a cena. E quando isso acontece, a vontade de fazer alguma coisa passa logo. É só sentar no sofá e esperar.
Não falha nunca.

quarta-feira, março 29, 2006

A minha é melhor do que a sua

O relacionamento com a minha mineira já me permitiu um contato maior com estruturas familiares muito mais próximas do que a minha e com todas as idiossincrasias e contradições relacionadas a isso.
Um dos exemplos mais recentes e mais complicados de engolir ocorreu no Natal passado e graças a Deus me envolveu somente como ouvinte.

Era uma conversa sobre onde passar o Natal e a tia da minha mineira fazia questão de que os filhos de uma amiga não saíssem de casa na noite da véspera. Essa posição se baseava na crença de que Natal se passa com a família
Até aí tudo bem, se não fosse o fato do filho mais velho ter uma namorada que provavelmente também tinha família. Segundo o raciocínio da tia, a família que importava era só a da amiga e a menina tinha a obrigação de deixar a dela de lado e passar o Natal junto do namorado.
Achei o fim do mundo aquela visão míope, mas não pude considerá-la incoerente vindo dela. Eu já tinha testemunhado outros exemplos onde o dela sempre era melhor que o do resto do mundo.

Parece meio infantil, mas acho que é tudo muito racional e consolidado.
Ao menos do ponto de vista dela, as diferenças existem e o dela é sempre melhor.
Isso vale para o carro, para o apartamento, para os amigos, para a educação e principalmente para os hábitos. O dela é sempre é "de nível" e a família dela é sempre melhor.

Até para se livrar de roupas velhas o complexo não é deixado de lado. Ao invés de dizer que vai doar roupas ou vai passá-las para a frente, ela adora dizer que vai dá-la aos "outros". Eu sempre me pergunto se esses outros são tão inferiores que não merecem ser nomeados ou se eles não passam de fantasmas que ela e a família têm a bondade de aturar para passar por generosos e preocupados.
Deve ter algo a ver com o conceito cristão de generosidade e purgação dos pecados, eu imagino.

Felizmente, não preciso nem olhar para outras famílias para ver exemplos desse comportamento meio metido a besta e com complexo de superioridade.
Meu próprio sangue está buscando sei lá que motivos para afastar o parceiro da vida do novo sobrinho que está por vir. Ela tem uma infinidade de motivos para isso, mas acho que nada justifica impedir um pai de assumir e ter contato com o filho.
Pode ser um julgamento prematuro, mas prefiro repudiar a idéia desde já e fazer o possível para que isso não se concretize.
Pior do que um ex-parceiro que não se quer mais é um filho sem pais para receber amor.

Um último exemplo desse jeito besta de viver envolveu o Presidente e a atual Primeira Dama. Por conta de um problema de saúde potencialmente sério, meu grande amigo recebeu a pena da tal tia que o chamou de azarado por ter escolhido, dentre tantas moças disponíveis, justamente uma doente.
Quem ela pensa que é? Doente é ela! E doente da cabeça! Muito doente, aliás!
Que a minha mineira me dê licença, mas se ter família próxima significa aturar isso, prefiro o meu estilo de respeitosa distância e abraços frios.
E que ela não venha me encher o saco!