quarta-feira, julho 16, 2003

Polaridades

Parecia que a comissão técnica do céu não queria que a gente se encontrasse.
Por mais que eu tentasse, ela sempre escapava das minhas mãos. Mesmo depois do beijo, do abraço e das demais consequências, ela teimava em se afastar de mim.
No começo achei que era puro azar. Demorou para cair a ficha de que ela estava me evitando. Passou bastante tempo antes que eu percebesse que a minha insistência só diminuía as minhas chances.
Foi muito complicado aceitar a idéia de que eu só conseguiria ficar com ela no momento em que parasse de procurá-la, em que deixasse de correr atrás, em que cessasse de demonstrar meu amor.

Tive que pedir para alguém esconder o carregador do celular para não ligar e perguntar se ela estava bem e se não precisava de pão e leite.
Mas aos poucos (dá-lhe Lexotan) fui me acostumando com a idéia de que deixá-la ir seria a melhor maneira de fazê-la voltar.
Demorou mas eu consegui acalmar a ansiedade que me acompanha desde as primeiras cabeçadas com as amigas do sul do Chile.

Eu já estava acostumado com a idéia de não ser nem seu amigo quando ela me ligou. Fiquei surpreso e feliz, mas tentei não dar bandeira.
Achei que o sacrifício tinha dado frutos e que ela estaria me procurando por ter percebido que não poderia viver sem mim.
Não era bem isso o que ela queria. Na verdade, era algo muito melhor: ela estava me ligando para perguntar como eu estava, para saber por que eu havia sumido, para me contar as suas últimas aventuras e para me dizer que estava namorando e que já pensava em casamento.
O que veio depois disso foi muito diferente do que aquilo que senti depois que a San me disse que estava namorando. O que senti no mais profundo, escuro e úmido canto do meu coração foi um alívio muito grande.
De uma forma não planejada, eu havia resolvido uma situação que havia me angustiado durante tanto tempo.
Abusando do clichê, ambos estávamos livres: eu da minha obsessão e ela da minha insistência.

Recentemente vi um novo exemplo do efeito nocivo que a insistência gera em relacionamentos.
O cara é jovem, rico (pooooodre!!!), agradável e culto. Infelizmente ele ama uma amiga há quatro anos e ela só o vê como companheiro de cinema, almofada para choro e conselheiro sentimental para outros amores. Por amá-la tanto, ele aceita a situação.
O lance é mais ou menos como aquela poesia (do Drummond?) onde um cara amava uma menina, que amava outro cara, que amava...
Ele tem muita esperança de que ela se convença de que ele é "o cara".
Mal sabe ele que o resultado desta situação só pode ser um. E não vai ser bom, ao menos não para ele.
Também, quem mandou o cara ser tão bonzinho.

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