terça-feira, julho 22, 2003

Fanatismo

Nunca entendi as pessoas que faziam do amor por alguma coisa a sua principal razão de viver. Nunca consegui encontrar nexo em ficar dias em uma fila para comprar ingressos para um determinado show ou esquecer de tudo para ir ao estádio ver seu time jogar.
Não consigo nem mesmo decorar todas as letras das minhas bandas do coração, mesmo que isso seja quase como religião para mim.

Acho que o segredo está justamente na comparação com doutrinas religiosas: não acredito fervorosamente em nada e não gosto fanaticamente de nada.
Isso deve ter algo a ver com alguma deficiência genética já que nem Morrissey e Marr conseguiram me mudar.

Me lembro perfeitamente da primeira vez que vi um clipe dos Smiths. Consegui ter dois pensamentos racionais e antagônicos ao mesmo tempo. Me lembro que primeiro disse “Que bicha!!!” quando vi o Morrissey com as mão juntas sob o queixo, mas também disse “Que máximo!!!” quando deixei de lado as bichices e fiquei só curtindo a música.
O clipe de “The boy with the thorn in his side” nunca mais saiu da minha cabeça mas nem assim eu tive coragem de ir à Argentina para vê-los tocar. Eu tinha só 15 ou 16 anos e jamais conseguiria grana e autorização para ir.
Uma das colegas de curso de inglês foi e me contou que nunca mais esqueceu a experiência.

Ainda hoje tenho esses caras de Manchester como minha banda preferida. Tenho todos os álbuns e a coletânea sempre está na disqueteira do carro. Vira e mexe escuto “Heaven knows” para esquecer a babaquice do trânsito de Sampa e “There is a light” quando tenho que enfrentar um usuário FDP.

Jamais me rendi ao messianismo do U2 ou aos apelos pop do Cure. Nem mesmo a segunda banda da minha lista, a corrente religiosa dos irmãos Reid, consegue me fazer sorrir de forma tão aberta e sincera.
Realizei um pseudo-sonho ao ver o Morrissey tocar em Sampa algum tempo atrás. Ele só tocou duas ou três músicas da banda, mas nesses momentos os olhos fechados me levaram de volta a 87. Foi bom justamente por que durou pouco.
Eu ri muito quando um Morrissey meio gordo e careca tirava as camisetas que estava vestindo, enxugava o suor do rosto e do corpo e as atirava para a platéia, que se matava para conseguir ao menos um trapinho daquele “santo sudário”.
Eu jamais faria uma coisa dessas. Nada me faria ser tão fanático.

Prefiro apenas gostar muito de alguma coisa. Viver por ela, jamais!!

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