terça-feira, julho 08, 2003

Fidelidade

Ela era jovem demais para estar casada.
Não que exista algum tipo de regra que diga que uma menina de 21 anos não possa amar alguém e escolher dividir sua vida e sua casa. O ponto é que esse amor não existia. Na verdade, acho que uma das poucas razões para que aquele casal estivesse junto era a gratidão. Pelo que me lembro, ela era grata a ele por tê-la amado.

Eles estavam juntos há uns dois anos, vivendo na mesma casa e curtindo uma relação calma e sem muitas surpresas.
Os problemas começaram quando ela olhou para o outro lado da cerca.
Esse outro cara era mais jovem que o noivo, mais bonito, mais engraçado e mais próximo. Por mais que ela dormisse com um durante todas as noites, as manhãs e tardes que ela passava com o outro (eles trabalhavam juntos) acabavam causando um efeito estranho nela. Não era tesão, não era atração. Era mais parecido com curiosidade. E foi com essa curiosidade que eles foram se aproximando.

Ele começou a ajudá-la a planejar a carreira, a organizar as finanças e a batalhar para entrar na faculdade. Era mais ou menos o que o primogênito faz com a irmã mais nova. O problema é que ela não se sentia como irmã. Ela não estava acostumada com tanta atenção e a danada da pulga foi logo se esconder atrás daquela orelha pequena e delicada.
O noivo era a sua única família mas aparentemente não se preocupava muito em descobrir o que ela precisava fora da cama. Era só sexo e jantares na casa da família dele.

Até aí, nada teria rolado e o tesão que começou a rolar no trabalho não teria rendido nada de mais. Mas ele teve a infeliz idéia de dizer que a achava bonita e interessante e por isso gostava de ser seu amigo.
Era o que ela precisava para esquecer o enorme anel dourado da mão direita e arriscar a sorte. Aí a casa começou a cair.

Não foram precisas mais do que duas idas ao cinema para que o primeiro beijo rolasse e para que ele esquecesse seus antigos pudores. A idéia da infidelidade não o agradava mas a vontade de tê-la fez com que todo o resto fosse mandado para o seu devido lugar.
Depois do beijo, as coisas rolaram como deveriam: eles fizeram amor, pintaram alegrias, ela se arrependeu pela traição e pintou a vontade de oficializar a relação.
Acho que o novo casal estaria junto até hoje se ele não tivesse percebido que havia a vontade de fazer uma substituição no time. Ela queria começar um namoro antes de terminar o outro para não correr o risco de ficar sozinha e isso o incomodou.
Muitos neurônios foram queimados no tema mas ele não conseguia sentir-se seguro de que poderia rolar uma nova substituição depois de algum tempo. Esse temor parece besteira quando um casal se gosta e talvez aí estivesse a resposta para o lance: ele não gostava dela mas sim da idéia de conquistá-la.

Daí para o fim do romance foi um pulo. Na verdade foi uma mudança de setor. Eles deixaram de se ver todos os dias e deixaram de sair. Ela continuou com o noivo como se nada tivesse acontecido.
Ambos acabaram saindo da empresa e perdendo contato. Somente muitos meses depois eles voltaram a se falar e a flertar. Feliz ou infelizmente eles não voltaram a se encontrar: um e-mail antigo azedou o caldo e a amizade.

Parece que acabou sendo melhor assim. Ela seguiu sua vida morna mas estável e ele pôde passar a se preocupar com a sua própria fidelidade. Acho que Ele sabe o que faz.

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