sexta-feira, julho 11, 2003

O Professor

Desde que o conheci eu o chamo de Professor.
Isso é, no mínimo, curioso já que também desde o princípio as aulas alternavam o nome daquele que aprendia alguma coisa. Às vezes ele me mostrava algumas coisas sobre espiritualidade, energia e respeito pela vida e eu retribuía com meu pragmatismo, organização, metodismo e mania por regras.

Sempre gostei de ouvir os relatos da viagem de descobrimento interior que ele fez em uma época onde havia mais cabelos na cabeça e menos nas escovas. Sobre isso, a suprema ironia é saber que um cara que já usou rabo de cavalo enquanto caminhava pelas estradas perdidas da Guatemala hoje faz recontagens periódicas dos poucos fios que ainda teimam em escurecer um pouco a sua cabeça lusitana.
O meu gosto por viagens me fazia babar quando ele falava de Macchu Picchu, da atípica viagem no Trem da Morte, do assaltante que o sacaneou na Guatemala e da lua-de-mel de mochila em Paris.

Essa lua-de-mel merece um parêntese.
Suspeito que a felizarda que compartilha a vida com ele é a principal influência em assuntos espirituais e energéticos. Apesar da criação européia e da história de cientista, ela curte muito Yoga, filosofias orientais, respeito pela vida e livros que falem sobre paz de espírito.
Eu adorava sacanear esse lado dele dizendo que a única energia que eu conhecia era a da tomada.

De tanto falarmos em cidades e paisagens, acabamos fazendo a mesma viagem em férias recentes.
Eu bolei o trajeto e ele acabou tornando-o realidade primeiro. Logo depois eu o segui e na volta comparamos nossas impressões. Enquanto eu mostrava as milhares de fotos dos cânions e das serras, ele sonhava com as geléias e os restaurantes que ficaram pelo caminho. Cada um na sua e ambos formando uma boa dupla.

Uma das coisas mais interessantes desta amizade com o Professor é a forma como nos relacionamos. Nos vemos todos os dias no trabalho mas nos encontramos raras vezes fora dele. Pelo que me lembro, todas elas foram divertidas e em quase todas ele chegou e me encontrou mais para lá do que para cá.
De qualquer maneira, acho que podemos medir nossa ligação pela quantidade de risadas que já demos juntos. Grande parte dessas risadas nasce dos mesmos assuntos, sejam eles crianças, cachorros, gente esquisita e chefes parasitas.

Deus foi muito sábio quando não nos colocou no mesmo lugar quando tínhamos menos responsabilidade. A cidade não teria sido a mesma se isso tivesse acontecido.

Eu te celebro, fabricante de lança, e bem ao estilo Vulcano,: vida longa e próspera. E vê se arruma um filho logo. Um daschund não é a mesma coisa.

Sem comentários: