quinta-feira, julho 17, 2003

Misturas

Os cheiros já estavam se confundindo. O mesmo acontecia com os sabores. Na verdade, até minha cabeça estava confusa e já não sabia mais quem era quem.
É claro que eu estava longe de não conseguir esfriar a cama antes que outra pessoa se deitasse nela, mas ainda assim a quantidade de parceiras era muito maior do que o que qualquer sonho lisérgico do padre da minha paróquia pudesse imaginar. Eu estava exagerando e gostava disso.

O início da bandalheira coincidiu com a compra do meu carro. Depois de alguns anos entrando a pé nos motéis da Barra Funda, estar a bordo daquele Uninho ELX “turbinado” significava a libertação. Finalmente eu podia ficar fora de casa depois da meia-noite e mandar uma banana para o horário de operação do Metrô. À partir daquele momento eu podia voltar meus cobres para a gasolina e o óleo e não mais para os táxis da madrugada.
Pena (???) que eu acabei confundindo libertação com libertinagem.

Até então, eu já havia me acostumado com a idéia de estar solteiro (a San tinha pedido um tempo quase dois anos antes) mas tinha meu alcance limitado pelos meios de transporte disponíveis na madrugada. Se bem que eu não conseguia imaginar nada mais constrangedor do que entrar no Over Night a pé e pedir uma suíte. Ir buscar alguém de táxi era fichinha.

Aquele pequeno bólido (devo esta pérola ao saudoso Giba) acabou se transformando em casa, cama, abrigo e ponte para todas as besteiras que eu pude imaginar no tempo em que estive com ele. Até a minha primeira batida foi coisa de cinema.

A “abertura das comportas” rolou quando consegui um novo emprego. Eu havia sido demitido poucos dias depois de comprar o carro, mas graças a Deus o pagamento havia sido à vista e os gastos dependeriam do que eu quisesse fazer.
Apesar de ser quase um ato de desespero, a nova empresa significou também a possibilidade de aumentar meu leque de contatos, de fazer novos amigos e de colocar em prática meu desejo de despirocar.
O cúmulo do “pé na jaca” foi sair com duas meninas que trabalhavam no departamento ao lado. Uma sentava de frente para a outra isso deixava a coisa ainda mais divertida. Sinceramente, eu espero que elas nunca tenham se juntado para falar de mim, mesmo que seja para falar mal. Nunca quis magoá-las (é sério) mas certamente isso acabaria acontecendo.
Ainda rolou uma terceira menina nessa mesma empresa e só não rolou mais por que a recepcionista (que era noiva) não me deu bola, por que uma das estagiárias do andar de cima (linda e maravilhosa) namorava sério e por que eu arrumei um novo emprego depois de três meses.

Nessa nova empresa eu descobri a Internet e aí já viu, né?

Acho que essa fase durou um bom par de anos. Pelo que me lembro, ela acabou algum tempo antes de conhecer a Rê, a Bellissima. Eu havia feito quase tudo o que senti vontade e não via mais novidade na variedade. Por mais surpreendente que possa parecer, eu fui “reconvertido” pelo excesso. Deve ter tido algo a ver com a idade.

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