Psicólogo amador
No meu microverso, é muito fácil descobrir quem é a pessoa mais indicada para ouvir sobre seus problemas e dar soluções “milagrosas” para todos eles.
Não é preciso pensar muito para encontrar o ombro ideal para lamentar por que aquela menina não liga mesmo depois do cara ter passado horas conversando sobre tudo com ela e abrindo coisas que ele não havia dito para nenhuma outra mulher.
É mais do que óbvio encontrar o nome daquele que vai beber todas com você e te acompanhar ao banheiro quantas vezes o seu fígado exigir uma revolução completa.
Também não é coisa de gênio saber como você vai acordar seguro na sua cama depois de ter chegado ao fim da garrafa e descoberto o segredo do Juanito Caminante.
Assim é a vida do psicólogo amador, daquele que está aí para qualquer coisa, daquele que ajuda homens e mulheres simplesmente por que gosta da coisa.
Diferente do psicólogo “acadêmico”, o amador (no bom sentido da palavra) não conhece a teoria e nem sabe a diferença entre Jung e Freud. O máximo que ele já ouviu falar é que o Sigmund não precisava de Viagra para achar um motivo sexual até em uma água viva boiando em Búzios.
Apesar de não ter sido especialmente treinado, ele sabe ouvir muito bem e não sabe ficar quieto depois de ouvir algo que o desagrada. A pessoa que fala sempre acaba ouvindo e, apesar de sofrer um pouco com algumas palavras, normalmente acaba gostando e agradecendo com cerveja ou abraços. Ele curte ambos.
Outra diferença do “tratamento”: o papo nunca rola em um consultório. Normalmente o barulho das outras pessoas que estão no boteco atrapalha um pouco mas eles conseguem se entender e chegar a alguma conclusão positiva, nem que seja pedir outro balde de Bohemia long neck.
Apesar de agir como um, o amador rejeita o rótulo de psicólogo. Para ele, só é psicólogo quem quer descobrir jeito de resolver seus próprios problemas e ninguém tem nada a ver com os dele. Deixa que ele resolve tudo sozinho e em silêncio.
Isso deve ser sinal de fraqueza, mas se os amigos conseguem contar com ele, não deve ser nada que não possa ser tratado depois.
Não quero deixar a idéia de que esse cara é perfeito e que todas a mães do mundo o desejam para genro. Isso está anos-luz longe da verdade.
Mesmo com a habilidade para ajudar, ele está longe da perfeição e não se importa muito com isso. O que importa mesmo é ajudar os camaradas e festejar a recuperação deles.
Pessoalmente, acho que ele só faz isso por causa da cerveja na comemoração.
Se todo alcoolismo fosse bom assim, o mundo seria um lugar muito mais bacana de se viver.
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