Olhos caídos
Eu a encontrei pela primeira vez na casa de um grande amigo em Curitiba.
Ela estava lá com mais duas amigas para uma festa organizada pelos catarinenses auto-exilados em Curi. Todos eles eram de Blumenau e quase todos gostavam de incluir consoantes inexistentes nas palavras com “t”: festsinha, bonitsinho e afins.
Era feriado da Independência e a festa não tinha um motivo maior do que simplesmente reunir os amigos para comer, beber, dançar e beijar. Não rolou nada além disso naquela noite. Ao menos não algo em que eu estivesse envolvido.
Eu havia saído de Sampa na noite anterior e estava lá especialmente para a festa. Não foi a única vez que fiz isso e meu amigo sempre fica feliz com essas surpresas.
Ela era a mais nova das três. Tinha 17 e já tinha aqueles olhos meio caídos para o lado, lindos de morrer. Na verdade, ela é toda lindinha e acabamos ficando muito amigos à partir daquela festa. Acho que ela ficou com um cara lá, mas não estou certo disso. Com relação às outras duas, tenho certeza: rolaram beijos e abraços.
Eu meio que acompanhei um monte de coisas que aconteceram na vida dela de lá para cá. Eu não posso dizer que acompanhei mesmo pois continuei morando em Sampa enquanto ela assava nos verões de Blu City. Estive várias vezes por lá e até servi de guarda-costas durante a bagunça da Oktober. Era impressionante o número de fãs que aquela moça tinha.
Depois da festa, a gente começou a trocar cartas mais ou menos freqüentes, que não foram interrompidas nem quando ela passou algum tempo estudando e passeando nos States. Acho que ela conhecia alguém com parentes em Indiana e por isso ficou depois do final do curso.
Passomos mais ou menos pelas mesmas fases da vida, com a diferença de que eu estava bastante atrasado e era bem mais velho do que ela.
Por conta dessa diferença de idade acabei me colocando como um irmão mais velho. É certo que isso não começou assim, mas como ela nunca me enxergou como um paquera ou ficante, achei melhor me conformar com o que eu tinha.
Fiquei sabendo de quase todos os namorados e dos problemas que eles acabaram trazendo para a vida daquela menina tão bonita e querida. Ela parecia um ímã para caras enrolados, comprometidos e meio alternativos. A cada novo encontro, a gente conversava por horas e horas. Até os pais dela gostavam de papear comigo (para total desespero dela que os achava meio chatos e pentelhos).
Ela também acompanhou a minha descoberta da bandalheira e me deu algumas broncas pelos exageros que rolavam. Ainda bem que ela não sabe de tudo!!
Hoje em dia ela está mais madura, mais centrada, mais tranqüila e mais confiante.
Um curso universitário finalmente foi terminado, planos foram elaborados, menos bocas foram beijadas e até aulas foram ministradas.
Das poucas coisas que seguem como sempre, a minha preferida é que ela continua linda e com aqueles olhinhos meio caídos para o lado.
Sem comentários:
Enviar um comentário