Colecionador
O que mais lhe dava prazer era colecionar impressões e sentimentos referentes às mulheres que ele conhecia.
Seu interesse não era pela quantidade de moças que conhecia ou que conseguia levar para cama, mas sim pelo tipo de memória que aquele conjunto boca-corpo-coração-espírito podia lhe proporcionar. A beleza era quase que totalmente dispensável. O importante era a intensidade da memória.
Foi assim com aquela moça vinda do Maranhão. Ela foi a primeira mulata que atraiu a sua atenção e a primeira e lhe mostrar que o gosto do beijo não tem nada a ver com cor ou raça. O dela era doce e meio frio, não de intensidade mas sim de temperatura mesmo. Na verdade, tudo nela era meio frio e era sempre necessário um cuidado especial para que ela não se resfriasse ou ficasse desconfortável.
A dona dos óculos pretos e pesados mostrou como relacionamentos podem ser diferentes quando não é necessário dar satisfações para onde se vai e com quem se está.
Ele ainda morava com os pais e o fato dela estar sozinha na cidade era um prato cheio para experimentar o que lhes desse na telha. O seu jeito de fazer amor era energético e não esperava que ele tomasse iniciativas: ela simplesmente pedia e o envolvia.
Eles alugaram filmes, compraram comida, dormiram juntos, tomaram café, comentaram suas tatuagens e resolveram se afastar quase que ao mesmo tempo.
Ela foi a sua chance de conhecer a vida de uma mulher forte e independente.
A convivência com as fragrâncias da Neal´s Yard foi cortesia da publicitária filha de imigrantes da Letônia. O cheiro da pele daquela moça era quase hipnótico e os longos banhos naquele apê com mais livros do que móveis faziam com que ele não sentisse vontade de voltar para casa.
Ele foi apresentado ao ER, as esfihas de sabores diferentes da Catedral, ao mundo das competições do Soho e à movimentação intensa dos profissionais de propaganda.
A energia daquela pele branca e cheirosa era combustível para uma a vida quadrada e certinha.
A dependência independente que ela tinha com relação aos pais que moravam no interior o fazia pensar no que esperar do futuro.
Ele lamentou ter que se afastar dela, ainda mais por ter sido culpado pela tristeza que ela não merecia sentir.
Entre gostos e alegrias ele foi construindo um álbum bem colorido de lembranças e imagens.
Cada moça que passou pela sua vida significou um crescimento e uma experiência.
Algumas causaram dor e outras receberam amor. Foi a forma que ele encontrou para retribuir o tempo que elas dedicaram à sua coleção.
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