sexta-feira, agosto 08, 2003

Valor tardio

A conversa começou na mesa do nosso local tradicional para almoços durante os dias de trabalho. Já tínhamos pedido o tradicional pão francês com manteiga Aviação, para abrir o apetite e apenas fiz continuar a conversa que estava tendo com aquela colega.
Falávamos dos problemas que ela tinha depois de ter terminado o relacionamento com um cara que havia estudado comigo. Esta era mais uma das coincidências desta vidinha passageira e acho que era por isso que ela gostava de falar comigo sobre assuntos do coração.

O fato é que ela estava sofrendo com o fim do romance mas cedo ou tarde acabaria aceitando a situação e fazendo a fila andar. Quer dizer, isso seria uma questão de tempo, se o meu ex-colega não morasse no mesmo prédio e teimasse em manter uma amizade com ela.
Não que eles não pudessem ser amigos, mas é que ela precisava de tempo para lamber as feridas e botar a vida novamente nos eixos. Ele não lhe dava esse tempo e isso não a deixava nada bem. Não entendo por que ele teimava em manter a proximidade se a idéia do rompimento havia partido da sua própria infelicidade. Ele não a queria como namorada mas não a deixava livre para escolher se a amizade lhe faria bem ou não.
Isso durou um bom tempo, mais ou menos até o momento em que a empresa a mandou para longe.
Apesar dos pesares de ter que se cuidar sozinha durante algum tempo, acredito que isso tenha sido muito bom para a sua auto-estima e para arquivar de vez o sentimento por aquele cara que não soube decidir o que queria realmente com ela.

Como estávamos em uma mesa com mais três colegas, a conversa acabou se espalhando e todos deram suas opiniões sobre a situação.
A melhor delas veio do Professor. Segundo ele, faz parte do pacote “macho brasileiro” a idéia de terminar um relacionamento, mas não largar o sentimento de posse, não permitir que a moça o esqueça com rapidez e manter viva a possibilidade de um flashback.
A idéia central é cercar a ex e não permitir que outro homem possa se aproximar a fazer com que ela seja mais feliz do que foi com ele. Isso seria insuportável e poderia mostrar que o problema do relacionamento não estava nela.

Isso se parece muito com filosofia de almanaque, mas a vida dessa amiga (e a minha própria) mostra que não há nada de mentiroso em pensar que a pessoa só passa a se preocupar mesmo com alguma coisa ou alguém quando o alcance começa a ficar difícil, quando a pessoa aprende a se virar sozinha e quando não precisa mais dele para nada.

Deixar de ser importante para alguém deve doer mais do que se imagina.

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