O guerreiro moral
Ontem eu assisti o filme Falcão Negro em perigo.
Não tenho nada contra filmes que mostrem chuvas de balas, mutilações e desgraças gerais, mas este me pareceu meio chato e repetitivo. Fiquei confuso com tantos carros, helicópteros, quedas e resgates mal sucedidos. Era tanto sangue que o churrasco comido no almoço deu alguns sinais de revolta e desistência.
Esse é um tipo de guerra onde quase ninguém fica feliz.
O lado bom da guerra não tem nada a ver com soldados, balas e imperialismo americano.
Existe uma guerra onde podem não existir vítimas e cujo resultado acaba sendo gostoso e prazeroso para todos os soldados. Nesta guerra o objetivo não é matar ou tomar territórios, mas sim beijos e abraços.
Os soldados vão a campo com a intenção de beijar o maior número de pessoas possível e de eventualmente ir um pouco além disso. Dependendo do tipo de batalha, o beijo é limite máximo da vitória.
É certo que nem todos os soldados acham que levam vantagem na guerra. Muitos deles gostariam de firmar um armistício e dedicar seu tempo a conhecer cada detalhe da vida do adversário, até o ponto em que ambos passem a atuar do mesmo lado. Nesse momento eles vão para a reserva e deixam espaço para soldados mais energizados. É a recompensa justa para quem derramou muito suor em nome de uma causa.
Mesmo que não sejam vitimados pelo cansaço ou pela vontade de se concentrar em um adversário específico, existem soldados que possuem um estranho senso de moral que os impede de torturar as vítimas, mesmo que elas mereçam.
Conheço um desses guerreiros que atua mais ou menos como um correspondente em campo: sua função é tira fotos da atuação do seu exército e publicá-las todas, para que o mundo acompanhe as vitórias e derrotas sofridas.
Como todo bom guerreiro, ele aproveita as vantagens da credencial de imprensa para conhecer mais facilmente os adversários e aumentar o número de estórias para relatar. Na verdade, ele não precisa de muito esforço para documentar os acontecimentos já que o povo do outro lado chove na horta dele para curtir as vantagens que ele pode oferecer. É claro que tudo tem um preço, mas ninguém reclama de ter que pagá-lo.
Apesar de poder agir sem muita moral e respeito, ele fica preocupado com o destino do adversário e não raro acaba assumindo alguns prejuízos para o seu próprio exército. Nesses casos, ele acaba sendo mais vítima do que algoz.
Deve ser o preço a pagar por agir com tanto jeito em situações que exijam apenas instinto.
Atualmente, ele anda pensando em abandonar a guerra para se dedicar a um soldado específico, um soldado de olhos claros, jovem e atraente. Parece que ele foi tocado por uma vontade de inserir qualidade em um mundo dominado pela quantidade.
É provável que ele siga sendo correspondente de guerra para as batalhas dos amigos, mas o seu próprio benefício vai ser obtido longe do front. Torço por isso.
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