No trabalho – Parte 1
Aquela moça usava óculos pretos e pesados que não me deixavam ver direito a cor dos seus olhos. Mais tarde descobri que eles eram castanhos como os meus mas isso me custou muitas idas à máquina de café do andar e um par de sessões de cinema.
A gente trabalhava no mesmo andar mas eu nem sabia o seu nome. O fato de ter me mudado para lá pouco tempo antes não ajudava muito.
Nem me lembro direito o que falei para arrancar o primeiro sorriso, mas ela voltou a sorrir muitas vezes depois.
Ela morava sozinha e nossa primeira vez foi assistindo “Virgens suicidas” da Sofia Coppolla, o que não remetia a um clima muito romântico. Mesmo assim foi bom enquanto durou. Eu adorava a o ideograma japonês que ela tinha tatuado bem embaixo da etiqueta da calcinha.
Acho que ambos entramos na estória sabendo que seria passageiro. Notei isso quando descobri que ela tinha feito aniversário quase duas semanas depois da data. Ela simplesmente não me avisou por que achou que eu não me importaria.
Ainda rolou um flashback, mas durou muito pouco. Nosso tempo já havia passado.
Outra moça que conheci nessa empresa foi a recepcionista de sobrenome grego.
Ela era a cara (e muito mais) da Angelina Jolie e vivia com uma grossa camada de protetor labial por conta do vento gelado do Inverno.
Acho que ganhei definitivamente a sua atenção quando disse a única frase que sei em grego. Era algo como “Grécia, Grécia, viva Grécia”. Dou graças a um seriado da Globo sobre a primeira olimpíada da era moderna. Grande Coubertin!!
A gente viu muitos filmes, fez compras, se agarrou no elevador de serviço da empresa, dormiu junto, conversou sobre a saudade que ela sentia da mãe e se afastou pouco depois dela ter sido mandada embora.
Ainda hoje me lembro daquela tatuagem que ela tinha na parte baixa das costas e que misturava um escorpião com uma rosa. Ela era parecida com a minha e isso criava uma outra ligação entre a gente.
A última lembrança de hoje relacionada a moças que conheci em empresas me leva a um par de olhos muito grandes e azuis. Ela não era especialmente bonita mas tinha algo que me atraiu. Deviam ser os olhos.
Ela era amiga do meu chefe e por isso acabamos nos encontrando. Almoçamos em grupo um par de vezes e nos paqueramos de forma bem sutil. Ficamos juntos em uma festa da empresa. Fomos juntos ver se estava tudo bem com o carro dela e nos beijamos. Foi um beijo meio adolescente: ela se encostou no carro, colocou os braços para trás, sorriu e me esperou. O beijo não durou muito mas foi bem gostoso.
Nos beijamos outras vezes e descobrimos que não tínhamos muito a ver.
Como isso aconteceu pouco antes da minha saída da empresa, acabou sendo mais fácil para ambos. Ficamos com boas lembranças e com nossas realidades.
Acho que não sou a melhor pessoa para falar mal de envolvimentos no trabalho, mas talvez possa modificar um pouco a máxima e dizer: onde se ganha o pão se come a carne, desde que ninguém fique sabendo.
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