terça-feira, agosto 19, 2003

Namorar por namorar

Era uma outra época, um outro momento na vida de um grande amigo. Até mesmo a nossa amizade era diferente, menos próxima, menos compartilhada, menos cúmplice.
Nessa época ele tinha saído de um relacionamento longo e vivia um momento de pessimismo e certa desesperança. Do namoro à casa montada em conjunto, passando pelos planos de cerimônia na igreja, foram oito anos de convivência com a namorada do colégio.
Eles praticamente amadureceram juntos e construíram muita coisa. Acredito que o apê só saiu pelo trabalho conjunto de ambos, por mais que o dinheiro tenha saído do bolso dele.

Era meio natural que um relacionamento tão longo e marcante deixasse suas cicatrizes, mas não foi exatamente o rompimento que o fez sofrer de verdade. Ele ficou triste por ter que terminar, mas havia outra coisa no meio desse caldo, algo que o transformou de um jeito muito mais nocivo.
Não quero falar da causa, mas sim do efeito: a sua desesperança em relacionamentos e a vontade de não se envolver com ninguém.
Foram essas coisas ruins que o fizeram me dizer, em uma noite de warm up para a balada, que ele estava disposto a arrumar uma namorada só para não ficar sozinho. Ele iria começar a namorar por namorar.

Na hora fiquei meio sem saber o que dizer, mas hoje lamento essa decisão de alguém tão próximo e querido. Lamento que ele tenha desistido por um momento da luta por relacionamentos que valessem a pena e que tenha se rendido à solução menos complicada de ter companhia para cinemas e sexo. Lamento que ele não pudesse dizer que sentia saudade da moça que estava ao seu lado e que as preocupações em relação a ela se resumissem à sua segurança pessoal e a um bom desempenho na cama.
Esta última colocação é totalmente por minha conta, mas deve ter tido algo a ver com o que aconteceu.

Felizmente, esse pessimismo durou apenas um relacionamento. Pena que foi com uma amiga comum, mas acredito que ela não tenha sofrido tanto já que tempos depois conheceu um cara que tinha mais a ver com ela e que concretizou o sonho de infância de se casar com todas as pompas que o dinheiro pode comprar.
Com a namorada seguinte ele já conseguiu se dedicar mais, gostar mais, se preocupar mais. Pena novamente que desta vez foi a moça que não colaborou. A apresentadora de TV tinha seus próprios planos e devia sofrer da mal fadada “síndrome do relacionamento seguinte”.

Algum tempo depois da decisão de apenas evitar a solidão, ele voltou a sorrir e a amar.
Não sei bem quando isso aconteceu e nem se as duas coisas vieram juntos. O certo é que hoje não existem relacionamentos sem profundidade, sem sentimento, sem o gostar.
Hoje a sua dedicação à namorada é de dar inveja e pode até provocar ciúmes nos amigos mais íntimos.
Acho que é melhor assim. Que seja assim então. E que a gente possa estar alerta para qualquer recaída para a superficialidade.

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