sexta-feira, agosto 22, 2003

Fazendo a sua parte

Existem coisas que frustram mais do que satisfazem, que entristecem as pessoas simplesmente por existirem e que só existem para causar confusão.
Uma dessas coisas é a mania de controle que muitas pessoas têm. Até que isso não seria tão ruim se o controle não tendesse a englobar coisas que estão léguas de distância da área de influência da pessoa.

É esquisito pensar que alguém possa se frustrar e sofrer por que o chefe é mal humorado ou por que a sopa não está salgada o suficiente. É esquisito, mas é verdade. A esmagadora maioria das pessoas sente uma vontade quase incontrolável de agir como um controlador de marionetes e ter uma cordinha atada a tudo que passa na sua vida.
Infelizmente a experiência mostra que não dá para ter esse tipo de controle, não dá para cuidar de tudo aquilo que nos afeta, não dá para assumir todas as responsabilidades do mundo.

Um bom exemplo do que não se deve fazer é a atitude de uma amiga distante com relação a namorados. Ela levou algumas bordoadas da vida e passou a ficar descrente de tudo e de todos. Ela parou de sair e caiu em uma patética situação de auto-piedade e prostração. Nada estava bom e ninguém era adequado.
Isso durou até quando os hormônios começaram a cobrar seu preço (ela ainda é bem jovem e costumava ter uma vida sexual bem ativa com os namorados e casos passageiros) e quando os amigos solteiros começaram a se arrumar.
As companhias para os cinemas e viagens ficaram mais raras e ela percebeu que estava ficando sozinha.

Até aí, tudo bem, né? Era só ela sair mais e começar a conhecer gente nova, certo?
Pode parecer contra-producente, mas ela fez exatamente o contrário: se trancou em casa e só saía para trabalhar ou ir à igreja. Nem à academia ela ia mais por que dizia que “todos olhavam para ela com desdém”.
Acho que já deu para perceber que ela abandonou a responsabilidade sobre a sua vida e “fugiu da briga”.

Teria sido muito melhor se ela tivesse “arrumado a casa” e expiado os traumas do último relacionamento. Ao resolver internamente o que estava errado ela teria feito a sua parte na solução do problema maior: compartilhar a vida com outra pessoa.
Não adiantaria ter tentado mudar o comportamento das outras pessoas ou achar que o príncipe encantado iria bater na porta da sua casa e pedi-la em casamento. Isso não acontece nem nos desenhos da Disney. Até lá as pessoas tem que fazer a lição de casa para terem direito à felicidade.

Essa atitude de fazer o que está ao seu alcance vale para tudo na vida.
Do crescimento no trabalho (através do estudo, atitude pró-ativa e colaboração) até os relacionamentos, o que importa é tomar as rédeas daquilo em que se pode atuar e deixar de se preocupar com as coisas que dependem da migração das borboletas azuis de Madagascar ou, de forma mais próxima, de atitudes de outras pessoas.
Via de regra, essa preocupação com o que não se pode controlar não traz nenhum benefício. Muito pelo contrário.

Sobre a minha amiga??
Ela caiu na real, assumiu uma atitude positiva, voltou a sair, ampliou seu círculo de amizades e acabou encontrando um cara legal para namorar.
Parece que a tal atitude de fazer a sua parte deu certo.

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