segunda-feira, agosto 11, 2003

Insucessos

As tardes de domingo costumam ser ótimas para vasculhar os milhentos canais disponíveis no satélite e desenterrar coisas que não se via desde que o Steve Austin valia alguma coisa.
É um tal de dar risada das costeletas do Starsky (ou seria o Hutch), dos blazers com mangas dobradas do Miami Vice e da cara de baby do Brandon Walsh, que às vezes é preciso ir correndo ao banheiro para não estragar aquela almofada que a mãe passou o mês inteiro bordando.
De canal em canal, acabei caindo em um velho filme de guerra onde as principais ações aconteciam em batalhas aéreas. Naquela época as brigas eram muito mais legais já que não bastava apertar um botão e deixar o computador fazer o resto. Era muito mais complicado brigar com o cara do outro lado para ver quem tinha mais habilidade para desviar das balas e transformar o outro em estatística.
Devia ser por isso que cada piloto se orgulhava tanto de carimbar no seu avião o número de adversários derrubados. Aquilo significava suor derramado e glória conquistada.

Fiquei pensando em um aspecto da minha vida onde esse tipo de registro também era válido, embora com uma conotação totalmente invertida. No meu caso, os carimbos não significavam vitórias contra adversários valorosos mas sim decepções com meninas por quem senti algo mais do que vontade de beijar.
Não que eu goste de ficar chorando e me lamentando por quem não me quis ou não me mereceu. Não gosto. Mas esse tipo de fora acaba marcando mais do que alguns sucessos e até mesmo mais do que alguns relacionamentos.
Obviamente, os relacionamentos que deram certo me trazem lembranças muito mais vivas, seja em quantidade, seja em qualidade, mas ainda não consegui entender o estranho fascínio que as derrotas exercem na cabeça e coração de todo mundo.

Me lembro vivamente daquela moça que conheci em uma boate da Cidade Jardim.
Ela foi a primeira que beijei logo de cara. Foi um beijo rápido e leve, mas muito gostoso e carinhoso. Apesar de não saber quase nada sobre ela, fiquei com vontade de vê-la de novo e de fazer as perguntas certas. Isso durou até ficar sabendo por intermédio de uma amiga dela que o interesse não havia passado da segunda saída.

Outro “carimbo” está relacionado com aquela professora de voz rouca que conheci pela Internet. Ela ainda era noiva quando nos conhecemos e meu péssimo poder de observação a obrigou a abrir o jogo para que não sobrasse nenhum mal entendido.
Mesmo assim eu demorei em entender aquele relacionamento onde o cara estava doente e ela ficava com ele mais por respeito à família do que por amor.
Naquela época ela precisava voltar a fazer amigos e se sentir mais viva. Havia sido gasto muito tempo e dedicação para tornar a recuperação do noivo um pouco mais humana e ela estava desgastada demais.
Sai comigo lhe fez bem. Eu a deixava à vontade para voltar a sorrir e resolvi não avançar o sinal e tentar algo mais, ao menos não enquanto ela estivesse naquela fase.
A notícia do fim do noivado veio junto com meu convite para jantar. Comemos pouco, falamos muito, rimos e nos abraçamos. Infelizmente ela não tinha o hábito de beijar amigos e isso marcou o fim da esperança.
Tempos depois ela encontrou alguém e conseguiu nova chance de ser feliz.
Ainda somos amigos, mas praticamente não nos encontramos mais depois que ela não quis me beijar.

Sempre me lembro destes casos quando escuto aquela música do Pato Fu que diz “Das brigas que ganhei, nenhum troféu pra casa eu levei. As brigas que perdi, estas sim, eu nunca esqueci”.
Acho que devo ser grato pelas minhas lembranças não terem muito a ver com grandes decepções, traições ou deslealdades.

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