terça-feira, agosto 05, 2003

Os shows da vida

O salão estava mal iluminado mas ainda dava para ver onde ficavam os bares e a saída.
Eu cheguei cedo e por isso não havia nenhum tumulto. Na verdade, não rolou tumulto nem depois do show. Aquele público não curtia muita bagunça.
Como eu tinha mesmo que esperar, comprei uma coca, me sentei mais ou menos no meio do salão, bem em frente ao palco e esperei o barulheira começar.
Não me lembro quantos minutos depois do horário marcado as luzes se apagaram e a pequena tela colocada no fundo do palco começou a exibir um monte de imagens meio sem sentido e editadas justamente para que ninguém conseguisse juntá-las com facilidade.
Primeiro entrou o William que acenou timidamente, pegou a guitarra e começou a se preparar. Depois vieram o baixista e o baterista. Jim entrou por último de propósito. Acho que ele é meio preguiçoso por que só apareceu quando o tratamento de choque já havia começado.

Assim foi o início do segundo show mais legal da minha vida.
Estou em um momento “Alta fidelidade” e resolvi listar as melhores experiências com apresentações ao vivo.
Comecei com o Jesus and Mary Chain no finado Projeto SP por uma razão muito simples: foi o único show que me fez sair com dor de cabeça depois de quase ter gozado por duas infinitas horas.
Eu era um dos únicos que cantava as letras das músicas e o povo do meu lado me olhava meio torto. Acho que isso não era muito “cool” para eles. Eu não estava nem aí e seguia cantando alto os versos de Happy When It Rains.
O show inteiro teve pouca ou nenhuma iluminação especial. Era basicamente o William destruindo nossos tímpanos e o Jim cantando baixinho como acompanhamento.
Nem mesmo o erro do Jim em umas das músicas estragou a festa: ele esqueceu a letra e teve que pedir penico para os outros.
Saí de lá meio anestesiado e demorei a entender o que tinha acontecido.
Acho que era isso mesmo o que aqueles escoceses queriam.

O número três da lista foi a Pop Mart Tour no Morumbi.
Na minha opinião há pouco a dizer sobre o U2. Não os acho os maiores mas admito que o show dos irlandeses não tem igual.
Não é um lance de apertar botões e deixar a iluminação fazer o resto. É uma parada de alma, de empatia do Bono com o público e de se sentir parte de algo especial.
O frontman sabe bem como trazer a galera para junto de si e como levá-los para onde quiser. É até ridícula a facilidade que ele tem em ganhar a todos só com algumas caminhadas no palco e abraços na fila do gargarejo.
Até o populismo meio ensaiado de pegar uma menina, fazê-la subir ao palco e deitar-se no colo macio para cantar mais suave, provoca terremotos em quem está assistindo.
Desta vez eu não era o único a cantar as músicas.

Eu já falei do quarto melhor (Morrissey no Olympia) em outro post, mas nunca é demais lembrar dos meus queridos Smiths.
Ah se eu tivesse tido culhões e ir vê-los na Argentina!!!!

Deixei o número um para o final. É para dar mais suspense.
Apesar de ter sido em um estádio (Pacaembu) e de ter sido um festival e não um show único (Monsters of Rock), o velho Lorde das Trevas estava em plena forma e pulou mais do que a platéia de moleques ensandecidos vestindo camisetas pretas.
Como eu era moleque mas não tinha nada de doido, preferi ficar na arquibancada e tocar air guitar.
Ele judiou ao começar o show com Paranoid, emendou um clássico atrás do outro e fez as tradicionais saídas e voltas ao palco só para ver o povo gritando com louco.
Teve fogo, guitar hero, pulos alucinados, gritaria, descontrole, isqueiros, emoção e memórias. Ninguém naquele estádio teria dificuldade para dormir naquela madrugada, mesmo aqueles que haviam chegado ao meio dia e estavam indo embora às 2 da manhã.
Tenho certeza que não havia um dito cujo que achasse que não tinha valido a pena para ver o Ozzy. Afinal de contas, ele é o Iron Man itself.

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