Filosofia de táxi
Trabalhar em uma empresa com vários prédios e ter que se reunir com pessoas em alguns deles, obriga o peão a ter que passar boas horas do dia dentro de transportes privados e pagos de acordo com o trajeto feito e o tempo gasto: os populares táxis.
Alguns motoristas de praça são mal educados, ligam o taxímetro antes de você abrir a porta e não se preocupam em descobrir o caminho que você quer fazer. Outros são extremamente profissionais e só abrem a boca para perguntar o destino e informar o preço da corrida.
De vez em quando, porém, aparece um tiozinho que gosta de falar mais do que aquela senhora na sala de espera do consultório do dentista. Ao invés de contar toda a estória da dentadura que ela perdeu em 1948, o motorista falador gosta de filosofar e de dar conselhos sobre os mais variados assuntos, do aumento de peso do Presidente à vergonha de ter um argentino namorando a prefeita. Boa parte dos assuntos acaba mostrando uma visão meio obtusa e simplória do fato, mas nem por isso a estória deixa de ser divertida.
Uma das últimas que ouvi falava de mulheres não muito castas, rejeição e o preço pago por quem não entra na dança.
Foi hilário ouvir o motorista falar sobre um certo passageiro cinquentão que se viu encurralado pela colega de classe da filha. Até aí tudo estaria mais ou menos bem se a menina não tivesse acabado de debutar. O tal coroa foi “atacado” enquanto a esposa e a filha estavam fora e foi ameaçado se não aceitasse a sedução: ou ele transava com ela ou ela daria um jeito de acusá-lo de estupro e acabaria com a sua paz.
Ele acabou levando-a para cama e continua transando com ela até hoje, feliz e incógnito. Parece que ela não pretende contar o lance para ninguém e perder o prazer que conseguiu.
A conclusão dele é que não vale a pena desprezar uma mulher que escancara a vontade de transar com um homem.
Fiquei pensando sobre a validade dessa conclusão e acho que existe algo verdadeiro nela.
Gostaria de saber o que as minhas leitoras acham disso, mas meu ibope não é dos melhores e acho que não vão rolar muitos comentários sobre o assunto. Sendo assim, tenho que me contentar com minhas próprias opiniões.
Acredito que as mulheres tenham um senso de auto-estima um pouco diferente dos homens. Se um cara é rejeitado por uma mulher, o máximo que acontece é ele tomar um porre e pronto. Depois de curar a ressaca ele está novo em folha e (mais ou menos) pronto para outra.
Com uma mulher, a coisa é um pouco diferente. Acho que ela fica ofendida ao não ter aceito o seu convite para o sexo. Deve ter algo a ver com o machismo que obriga o homem a tomar a iniciativa do relacionamento. Se for a mulher a tomar as rédeas da aproximação, ou a coisa funciona ou a casa cai. Não há meio termo, não há resultado diferente da vitória.
Fico pensando no que acontece se a atacante for mulher de um amigo.
O que acontece se você não aceita a cantada e a mulher inverte o jogo e conta para seu amigo que foi você que a cantou?
O que acontece com a sua consciência se você cede, transa com ela e conquista uma paz aparente?
De que forma você continua encarando seu amigo, mesmo que nada tenha se concretizado?
Espero que eu não descubra as respostas da pior maneira. Acho que seria mais confortável estar do lado dos que têm que abaixar para passar embaixo de uma porta. Ao menos a decisão seria mais fácil de tomar: bala nos dois!!
quinta-feira, julho 31, 2003
quarta-feira, julho 30, 2003
Concessões
Recentemente descobri que um cara que admiro muito teve que abrir mão de ouvir sua banda favorita por causa da sua esposa. Não que o fato em si seja muito importante. Nada a ver com fanatismo musical. Mais importante é o que ele representa em termos de relacionamento. Mais importante é a concessão que teve que ser feita em nome do amor.
Outro exemplo desta coisa misteriosa de ceder terreno em nome de algo maior é a vida de um certo senhor de cabelos brancos, que vive lá nas bandas do Triângulo Mineiro e que trouxe ao mundo uma bela contribuição para a alegria dos homens: quatro belas filhas.
Segundo ele, o casamento é feito de alegrias, conquistas, amor, filhos e concessões.
Entendo bem o que ele quer dizer. Vejo um exemplo real do sacrifício que deve ser feito às vezes para manter um relacionamento andando nos trilhos.
Não quero que isto pareça uma reclamação ou uma lamentação, pois não é.
O tema de hoje é mais uma constatação de algo que acontece centenas de milhares de vezes com inúmeros casais. É mais uma preparação do que outra coisa.
Fico imaginando o que mais pode estar envolvido nisso:
- comprar apenas pão de forma light e sem casca por que a esposa está sempre de regime;
- fingir que não ouve ou sente o cheiro dos gases intestinais do marido;
- visitar a sogra todo domingo e agüentar o papo de que você era mais carinhoso antes de se casar com a filha dela;
- fingir que gosta de assistir ao jogo do time dele no domingo à tarde;
- bancar a babá para o sobrinho meio pentelho e que todo mundo mima;
- ir sempre à mesma pizzaria e comer sempre a mesma pizza;
- ouvir pela milionésima vez as estórias dos tempos da faculdade, e, o mais cruel;
- achar normal a ligação de um amigo que ela beijou há anos e que continua “mantendo contato”.
O texto acabou ficando meio satírico sem querer, mas acho que ficou melhor assim. Às vezes é melhor usar a frase do filósofo Bozo e dizer “sempre rir”.
De tudo isso, voltando ao amigo do início do texto, posso concluir uma coisa: amar é deixar de ouvir Queen e ser feliz mesmo assim.
Recentemente descobri que um cara que admiro muito teve que abrir mão de ouvir sua banda favorita por causa da sua esposa. Não que o fato em si seja muito importante. Nada a ver com fanatismo musical. Mais importante é o que ele representa em termos de relacionamento. Mais importante é a concessão que teve que ser feita em nome do amor.
Outro exemplo desta coisa misteriosa de ceder terreno em nome de algo maior é a vida de um certo senhor de cabelos brancos, que vive lá nas bandas do Triângulo Mineiro e que trouxe ao mundo uma bela contribuição para a alegria dos homens: quatro belas filhas.
Segundo ele, o casamento é feito de alegrias, conquistas, amor, filhos e concessões.
Entendo bem o que ele quer dizer. Vejo um exemplo real do sacrifício que deve ser feito às vezes para manter um relacionamento andando nos trilhos.
Não quero que isto pareça uma reclamação ou uma lamentação, pois não é.
O tema de hoje é mais uma constatação de algo que acontece centenas de milhares de vezes com inúmeros casais. É mais uma preparação do que outra coisa.
Fico imaginando o que mais pode estar envolvido nisso:
- comprar apenas pão de forma light e sem casca por que a esposa está sempre de regime;
- fingir que não ouve ou sente o cheiro dos gases intestinais do marido;
- visitar a sogra todo domingo e agüentar o papo de que você era mais carinhoso antes de se casar com a filha dela;
- fingir que gosta de assistir ao jogo do time dele no domingo à tarde;
- bancar a babá para o sobrinho meio pentelho e que todo mundo mima;
- ir sempre à mesma pizzaria e comer sempre a mesma pizza;
- ouvir pela milionésima vez as estórias dos tempos da faculdade, e, o mais cruel;
- achar normal a ligação de um amigo que ela beijou há anos e que continua “mantendo contato”.
O texto acabou ficando meio satírico sem querer, mas acho que ficou melhor assim. Às vezes é melhor usar a frase do filósofo Bozo e dizer “sempre rir”.
De tudo isso, voltando ao amigo do início do texto, posso concluir uma coisa: amar é deixar de ouvir Queen e ser feliz mesmo assim.
terça-feira, julho 29, 2003
Impressões – Parte 3
A entrada na cidade foi pela Peripherique.
Mesmo que isso tenha acontecido em 94, me lembro que isso era um equivalente chique para o Anel Viário do Covas. Não sei se a estrada ficava tão longe da cidade, mas de qualquer forma, à partir dela a gente poderia tomar o caminho para qualquer parte da França.
Como bons turistas, tivemos que fotografar a primeira placa de trânsito onde aparecia a palavra Paris. Essa ficou para a posteridade.
Também como comportamento padrão de gente que viaja sozinho pela primeira vez, a gente não havia feito reservas de hospedagem na cidade e penamos até conseguir uma cama razoavelmente confortável e um banheiro para aliviar as tensões.
A visita aos cartões postais da cidade foi feita da forma mais caótica possível. A gente simplesmente pegava o carro e escolhia uma direção à esmo. Só começamos a planejar algo quando nos mudamos para o albergue Le D´Artagnan e ficamos pertinho do Pére Lachaise. Infelizmente nenhum de nós tinha idéia do que significava aquele cemitério e acabamos não bagunçando o túmulo do Jim Morrison.
Uma das lembranças mais cômicas dos passeios foi a visita “incógnita” à Torre Eiffel: eu estava com a camisa da seleção brasileira e alguns ambulantes teimavam em me chamar de italiano. Só posso achar que era por inveja do Tetra recém ganho.
Nos perdemos muito em algumas ruas estreitas, pegamos várias contra-mãos de madrugada (como é que a gente ia saber que uma placa com um traço horizontal significava que aquele era o sentido errado a seguir?), fomos parados e cercados por uma viatura cheia de gendarmes mal encarados e pegamos a rabeira de uma comemoração de alemães no Hard Rock Café que cantavam “We are the champions” a plenos pulmões.
Tudo em Paris foi legal, tudo foi inesquecível, tudo foi engraçado, tudo foi nosso.
Dos problemas de comunicação (jamais acredite quando um francês diz que fala inglês) à alimentação baseada quase que só em fast foods, todas as experiências valeram a pena.
Deixamos Paris cinco dias depois de chegarmos.
Dormimos em três lugares diferentes e eu descobri o Burger King. Tirei milhares de fotos e conheci Versailles. Andei sozinho pelos corredores do Louvre e quase me matei subindo os degraus da catedral do Sagrado Coração. Não tive “bala” para entrar no Moulin Rouge e dei graças a Deus por estar dentro do carro quando passei em frente às “meninas” que trabalham perto da Galeria Lafayette. Estava com uma camiseta do São Paulo e fui parado por um torcedor do Paris Saint Germain (naquela época o Raí “matava a pau” por lá). Demos carona para três meninas irlandesas e não descobrimos nem seus nomes.
Acho que dá para entender por que a coisa foi mesmo inesquecível: nunca mais vai ser desse jeito. Graças a Deus.
No próximo episódio, 800km depois de Paris.
A entrada na cidade foi pela Peripherique.
Mesmo que isso tenha acontecido em 94, me lembro que isso era um equivalente chique para o Anel Viário do Covas. Não sei se a estrada ficava tão longe da cidade, mas de qualquer forma, à partir dela a gente poderia tomar o caminho para qualquer parte da França.
Como bons turistas, tivemos que fotografar a primeira placa de trânsito onde aparecia a palavra Paris. Essa ficou para a posteridade.
Também como comportamento padrão de gente que viaja sozinho pela primeira vez, a gente não havia feito reservas de hospedagem na cidade e penamos até conseguir uma cama razoavelmente confortável e um banheiro para aliviar as tensões.
A visita aos cartões postais da cidade foi feita da forma mais caótica possível. A gente simplesmente pegava o carro e escolhia uma direção à esmo. Só começamos a planejar algo quando nos mudamos para o albergue Le D´Artagnan e ficamos pertinho do Pére Lachaise. Infelizmente nenhum de nós tinha idéia do que significava aquele cemitério e acabamos não bagunçando o túmulo do Jim Morrison.
Uma das lembranças mais cômicas dos passeios foi a visita “incógnita” à Torre Eiffel: eu estava com a camisa da seleção brasileira e alguns ambulantes teimavam em me chamar de italiano. Só posso achar que era por inveja do Tetra recém ganho.
Nos perdemos muito em algumas ruas estreitas, pegamos várias contra-mãos de madrugada (como é que a gente ia saber que uma placa com um traço horizontal significava que aquele era o sentido errado a seguir?), fomos parados e cercados por uma viatura cheia de gendarmes mal encarados e pegamos a rabeira de uma comemoração de alemães no Hard Rock Café que cantavam “We are the champions” a plenos pulmões.
Tudo em Paris foi legal, tudo foi inesquecível, tudo foi engraçado, tudo foi nosso.
Dos problemas de comunicação (jamais acredite quando um francês diz que fala inglês) à alimentação baseada quase que só em fast foods, todas as experiências valeram a pena.
Deixamos Paris cinco dias depois de chegarmos.
Dormimos em três lugares diferentes e eu descobri o Burger King. Tirei milhares de fotos e conheci Versailles. Andei sozinho pelos corredores do Louvre e quase me matei subindo os degraus da catedral do Sagrado Coração. Não tive “bala” para entrar no Moulin Rouge e dei graças a Deus por estar dentro do carro quando passei em frente às “meninas” que trabalham perto da Galeria Lafayette. Estava com uma camiseta do São Paulo e fui parado por um torcedor do Paris Saint Germain (naquela época o Raí “matava a pau” por lá). Demos carona para três meninas irlandesas e não descobrimos nem seus nomes.
Acho que dá para entender por que a coisa foi mesmo inesquecível: nunca mais vai ser desse jeito. Graças a Deus.
No próximo episódio, 800km depois de Paris.
segunda-feira, julho 28, 2003
Pai natural - Complemento
Me esqueci de mencionar outras duas situações envolvendo crianças e que me fizeram curtir muito a idéia da paternidade. Uma delas foi com a Larissa no Outback.
Me lembro até hoje de pegar na mão dela e sair correndo pelo salão para "escapar" de um jacaré de madeira que estava pendurado na parede. Ninguém no restaurante entendeu nada e o sorriso da mãe mostrava que eu estava no caminho certo para conquistá-la. Pena que isso foi antes de eu estragar tudo.
A outra situação foi com o moleque de Vila Velha, no quintal da casa do avô de cabelos brancos.
Acabei sobrando de babá enquanto a mãe vomitava as tripas e a vó cozinhava para um exército. Como eu tinha que distraí-lo, acabei utilizando a primeira coisa que vi: dois mega-cadeados de ferro.
O moleque se realizava mordendo o ferro e jogando a coisa fora em desaprovação. Eu ria muito com as reações dele e não me importava com a eventual sujeira que poderia vir quando ele pegava o cadeado no chão e voltava a colocá-lo na boca. Afinal de contas, a criança precisa de anti-corpos para crescer forte e saudável.
Como será que vai ser o meu?
Será que devo comprar já os meus cadeados?
Me esqueci de mencionar outras duas situações envolvendo crianças e que me fizeram curtir muito a idéia da paternidade. Uma delas foi com a Larissa no Outback.
Me lembro até hoje de pegar na mão dela e sair correndo pelo salão para "escapar" de um jacaré de madeira que estava pendurado na parede. Ninguém no restaurante entendeu nada e o sorriso da mãe mostrava que eu estava no caminho certo para conquistá-la. Pena que isso foi antes de eu estragar tudo.
A outra situação foi com o moleque de Vila Velha, no quintal da casa do avô de cabelos brancos.
Acabei sobrando de babá enquanto a mãe vomitava as tripas e a vó cozinhava para um exército. Como eu tinha que distraí-lo, acabei utilizando a primeira coisa que vi: dois mega-cadeados de ferro.
O moleque se realizava mordendo o ferro e jogando a coisa fora em desaprovação. Eu ria muito com as reações dele e não me importava com a eventual sujeira que poderia vir quando ele pegava o cadeado no chão e voltava a colocá-lo na boca. Afinal de contas, a criança precisa de anti-corpos para crescer forte e saudável.
Como será que vai ser o meu?
Será que devo comprar já os meus cadeados?
Pai natural
Na última vez em que estive com meus amigos de faculdade eu me sentei ao lado do único deles que já é pai. Ele foi o primeiro a se casar e o primeiro a dar a passo seguinte na linha evolutiva do macho feliz.
O moleque já tem um ano e meio e parece que será ainda maior do que o pai.
Estar ao lado daquele cara me deixou assistir a uma série de comportamentos engraçados do moleque, de arremesso de descansos de copo a lutas entres pirulitos de chocolate. O medo de ser atingido por um desses perigosos projéteis era real e seu estava muito ligado.
Quando o carrinho de sobremesas se aproximou da gente, os olhos do menino brilharam e ele esqueceu que me conhecera apenas naquele dia e se jogou no meu colo.
Demorei em entender que ele queria um pirulito com a cara do Piu-piu, mas até que a tentativa de comunicação estava indo bem.
Depois de pagar a conta, todos se levantaram da mesa e o menino avistou no final do salão a movimentação dos garçons. Acho que ele sabia que não podia ir até lá sozinho e não teve dúvidas em pegar a minha mão e me arrastar para um rolê.
Os pais riram muito quando viram as duas crianças passeando e ficaram satisfeitos com a integração do filho à turma.
Outra situação parecida aconteceu durante o churrasco com a turma do curso.
A casa de um dos colegas tinha um quintal enorme e o doido tinha instalado uma mini cama elástica para entreter a filha pequena. Obviamente boa parte dos convidados se aventuraram a dar seus pulos, mas eu fui o mais entusiasmado. Acho que foi por isso que a filha do namorado de uma amiga quis me acompanhar nos pulos.
Foi muito gostoso ouvir a gargalhada dela enquanto eu me descabelava e pulava como se tivesse a idade dela. Foi mais engraçado ainda quando o pai quis me substituir e a menina disse que preferia brincar comigo.
Uma amiga peruana me disse que isso se chama sangre ligera.
Isso tem a ver com a confiança instintiva que as crianças sentem em algumas pessoas e a identificação que rola com essas pessoas mesmo que eles tenham se conhecido há pouco.
Segundo ela, uma criança não teria condições de julgar de forma muito racional a índole de uma pessoa e a confiança seria em algo mais básico do que conhecimento e experiência.
Eu prefiro pensar que a criança se identifica com meu comportamento meio irresponsável e até meio bobo. Ela deve ser enxergar em mim e passa a se sentir à vontade de uma forma bem natural. Acabamos agindo quase que da mesma maneira, mesmo com a diferença de idade.
A mãe da Ísis também me disse que eu tenho tudo para ser um bom pai. Acho que ela sentiu isso quando me ouviu falando da minha sobrinha.
Essa “habilidade nata” não deixa de ser curiosa em uma pessoa que não curte muito a idéia de presença de crianças, ao menos não as crianças que dão “piti” e que gritam como loucos em ambientes públicos. Sou meio chato com projetos de gente que fazem o que querem e que atrapalham a vida dos outros.
Não sei como isso vai acontecer no dia em que cara lá de cima decidir que tenho que cuidar de outra cabeça grande, além da minha. Fico com receio de que eu não saiba criar o pimpolho e fazê-lo se comportar da forma como eu acho que seria adequada.
Como isso ainda está longe de acontecer, vou deixar o barco correr e a natureza fazer o seu trabalho. Afinal de contas, eu tenho sangre ligera.
Na última vez em que estive com meus amigos de faculdade eu me sentei ao lado do único deles que já é pai. Ele foi o primeiro a se casar e o primeiro a dar a passo seguinte na linha evolutiva do macho feliz.
O moleque já tem um ano e meio e parece que será ainda maior do que o pai.
Estar ao lado daquele cara me deixou assistir a uma série de comportamentos engraçados do moleque, de arremesso de descansos de copo a lutas entres pirulitos de chocolate. O medo de ser atingido por um desses perigosos projéteis era real e seu estava muito ligado.
Quando o carrinho de sobremesas se aproximou da gente, os olhos do menino brilharam e ele esqueceu que me conhecera apenas naquele dia e se jogou no meu colo.
Demorei em entender que ele queria um pirulito com a cara do Piu-piu, mas até que a tentativa de comunicação estava indo bem.
Depois de pagar a conta, todos se levantaram da mesa e o menino avistou no final do salão a movimentação dos garçons. Acho que ele sabia que não podia ir até lá sozinho e não teve dúvidas em pegar a minha mão e me arrastar para um rolê.
Os pais riram muito quando viram as duas crianças passeando e ficaram satisfeitos com a integração do filho à turma.
Outra situação parecida aconteceu durante o churrasco com a turma do curso.
A casa de um dos colegas tinha um quintal enorme e o doido tinha instalado uma mini cama elástica para entreter a filha pequena. Obviamente boa parte dos convidados se aventuraram a dar seus pulos, mas eu fui o mais entusiasmado. Acho que foi por isso que a filha do namorado de uma amiga quis me acompanhar nos pulos.
Foi muito gostoso ouvir a gargalhada dela enquanto eu me descabelava e pulava como se tivesse a idade dela. Foi mais engraçado ainda quando o pai quis me substituir e a menina disse que preferia brincar comigo.
Uma amiga peruana me disse que isso se chama sangre ligera.
Isso tem a ver com a confiança instintiva que as crianças sentem em algumas pessoas e a identificação que rola com essas pessoas mesmo que eles tenham se conhecido há pouco.
Segundo ela, uma criança não teria condições de julgar de forma muito racional a índole de uma pessoa e a confiança seria em algo mais básico do que conhecimento e experiência.
Eu prefiro pensar que a criança se identifica com meu comportamento meio irresponsável e até meio bobo. Ela deve ser enxergar em mim e passa a se sentir à vontade de uma forma bem natural. Acabamos agindo quase que da mesma maneira, mesmo com a diferença de idade.
A mãe da Ísis também me disse que eu tenho tudo para ser um bom pai. Acho que ela sentiu isso quando me ouviu falando da minha sobrinha.
Essa “habilidade nata” não deixa de ser curiosa em uma pessoa que não curte muito a idéia de presença de crianças, ao menos não as crianças que dão “piti” e que gritam como loucos em ambientes públicos. Sou meio chato com projetos de gente que fazem o que querem e que atrapalham a vida dos outros.
Não sei como isso vai acontecer no dia em que cara lá de cima decidir que tenho que cuidar de outra cabeça grande, além da minha. Fico com receio de que eu não saiba criar o pimpolho e fazê-lo se comportar da forma como eu acho que seria adequada.
Como isso ainda está longe de acontecer, vou deixar o barco correr e a natureza fazer o seu trabalho. Afinal de contas, eu tenho sangre ligera.
sexta-feira, julho 25, 2003
Jineteras
Uma vez li na Playboy uma entrevista do escritor cubano Pedro Juan Gutierrez. Ele é um típico cubano esclarecido: adora charutos, teve milhares de mulheres, não tem medo do Tio Sam e não morre de amores pelo Comandante Fidel, apesar de continuar vivendo no centro boemio de Havana, entre profissionais de diversas áreas do entretenimento. Nunca li um livro dele e pelo que entendi da entrevista, ele tinha ficado conhecido por ter "criado" um "estilo" chamado "realismo sujo". Isso me cheira a muita droga, putas saindo pelo ladrão, bandidos de cabelo engomado e sexo em variações virtualmente impraticáveis. Até aí, pouca ou nenhuma novidade.
O que me soou interessante na entrevista foi a menção a mulheres que não se assumem como prostitutas mas que circulam por Havana para tentar trocar, digamos, carinho, por dinheiro ou presentes, normalmente vindos de turistas estrangeiros. Não entendi bem a diferença com as quengas tradicionais mas não me preocupei muito com isso. Prefiro tentar comparar o comportamento dessas mulheres cubanas com o de uma certa amiga de quem sinto saudade.
Ela é uma moça que chama muito a atenção por onde quer que passe. Homens e mulheres sempre olham para descobrir por que ela ri tão alto, por que está sempre acompanhada de homens e por que ela parece tão sensual, mesmo vestindo macacão de borracheiro.
Nós sempre conversamos muito e acho que ganhei a sua confiança quando ela começou a me contar sobre os casos que havia tido dentro da empresa. Mesmo já tendo vivido o meu prórpio quinhão de estórias escabrosas, fiquei meio passado quando ela me contou que havia saído de forma quase simultânea com o Diretor e com o analista de uma determinada área. Um era chefe do outro e não quero nem pensar no que rolaria se ambos soubessem que tinham mais em comum do que as atividades do dia a dia.
Jamais pensei em sequer cogitar que essa menina pudesse estar interessada em "prestar serviços" em troca de dinheiro. Nem mesmo em troca de vantagens profissionais. O lance dela é outro. O barato dela é trocar provocações por emoção.
É mais ou menos como em um termo que a minha velha e sábia mãe usa: ela joga as calcinhas, atrai o "peão" e depois se desinteressa. Nem sempre esse desinteresse vem antes do sexo, mas ela dificilmente dá uma segunda chance ao pobre coitado.
Fui testemunha de algumas práticas de sedução "sem querer" (ao menos é o que ela dizia), principalmente com caras mais velhos. Não sei se o fato de eles terem dinheiro para bancar jantares em lugares caros era coincidência. Ela sempre me dizia que isso não a interessava e que ela não via nada de errado em sair com vários caras simplesmente para jantar.
Realmente, sair para jantar não é nenhum crime, mas a forma como ela era convidada para esses jantares é que era discutível. Eu cansei de vê-la conversar com alguns caras de um jeito "inocentemente sacana". Por várias vezes eu me coloquei no lugar dos caras. Eles deviam ficar alucinados com aquele mulherão de conversa mole que aceitava os convites para jantar. Tenho certeza de que o clima do convite era sexual. E tenho certeza de que 90% desses pobres voltavam para casa se xingando por terem sido tão bobinhos.
Depois dos jantares, ela se divertia me contando o que tinha rolado na noite anterior. Ela pouco se importava se a chamassem de galinha ou de vulgar. Ao seu modo, ela era mesmo "acessível demais". Mas parece que ela vivia bem assim. Que ela gostava dos convites e dos comentários maldosos. Que ela se sentia bem por ser desejada por homens e espezinhada por mulheres. Que ela gostava de estar no controle da situação.
Mas como esse mundo é redondo e não está amarrado a outras peças de móbile no teto do quarto de alguma entidade superior, ela acabou encontrando um cara que virou o jogo e que deixou de ser vítima. Um cara que foi vítima de suas brincadeiras de sedução e que acabou sendo causa de tristeza e felicidade para ela. Esse cara era um Diretor e essa estória fica para outra vez.
Uma vez li na Playboy uma entrevista do escritor cubano Pedro Juan Gutierrez. Ele é um típico cubano esclarecido: adora charutos, teve milhares de mulheres, não tem medo do Tio Sam e não morre de amores pelo Comandante Fidel, apesar de continuar vivendo no centro boemio de Havana, entre profissionais de diversas áreas do entretenimento. Nunca li um livro dele e pelo que entendi da entrevista, ele tinha ficado conhecido por ter "criado" um "estilo" chamado "realismo sujo". Isso me cheira a muita droga, putas saindo pelo ladrão, bandidos de cabelo engomado e sexo em variações virtualmente impraticáveis. Até aí, pouca ou nenhuma novidade.
O que me soou interessante na entrevista foi a menção a mulheres que não se assumem como prostitutas mas que circulam por Havana para tentar trocar, digamos, carinho, por dinheiro ou presentes, normalmente vindos de turistas estrangeiros. Não entendi bem a diferença com as quengas tradicionais mas não me preocupei muito com isso. Prefiro tentar comparar o comportamento dessas mulheres cubanas com o de uma certa amiga de quem sinto saudade.
Ela é uma moça que chama muito a atenção por onde quer que passe. Homens e mulheres sempre olham para descobrir por que ela ri tão alto, por que está sempre acompanhada de homens e por que ela parece tão sensual, mesmo vestindo macacão de borracheiro.
Nós sempre conversamos muito e acho que ganhei a sua confiança quando ela começou a me contar sobre os casos que havia tido dentro da empresa. Mesmo já tendo vivido o meu prórpio quinhão de estórias escabrosas, fiquei meio passado quando ela me contou que havia saído de forma quase simultânea com o Diretor e com o analista de uma determinada área. Um era chefe do outro e não quero nem pensar no que rolaria se ambos soubessem que tinham mais em comum do que as atividades do dia a dia.
Jamais pensei em sequer cogitar que essa menina pudesse estar interessada em "prestar serviços" em troca de dinheiro. Nem mesmo em troca de vantagens profissionais. O lance dela é outro. O barato dela é trocar provocações por emoção.
É mais ou menos como em um termo que a minha velha e sábia mãe usa: ela joga as calcinhas, atrai o "peão" e depois se desinteressa. Nem sempre esse desinteresse vem antes do sexo, mas ela dificilmente dá uma segunda chance ao pobre coitado.
Fui testemunha de algumas práticas de sedução "sem querer" (ao menos é o que ela dizia), principalmente com caras mais velhos. Não sei se o fato de eles terem dinheiro para bancar jantares em lugares caros era coincidência. Ela sempre me dizia que isso não a interessava e que ela não via nada de errado em sair com vários caras simplesmente para jantar.
Realmente, sair para jantar não é nenhum crime, mas a forma como ela era convidada para esses jantares é que era discutível. Eu cansei de vê-la conversar com alguns caras de um jeito "inocentemente sacana". Por várias vezes eu me coloquei no lugar dos caras. Eles deviam ficar alucinados com aquele mulherão de conversa mole que aceitava os convites para jantar. Tenho certeza de que o clima do convite era sexual. E tenho certeza de que 90% desses pobres voltavam para casa se xingando por terem sido tão bobinhos.
Depois dos jantares, ela se divertia me contando o que tinha rolado na noite anterior. Ela pouco se importava se a chamassem de galinha ou de vulgar. Ao seu modo, ela era mesmo "acessível demais". Mas parece que ela vivia bem assim. Que ela gostava dos convites e dos comentários maldosos. Que ela se sentia bem por ser desejada por homens e espezinhada por mulheres. Que ela gostava de estar no controle da situação.
Mas como esse mundo é redondo e não está amarrado a outras peças de móbile no teto do quarto de alguma entidade superior, ela acabou encontrando um cara que virou o jogo e que deixou de ser vítima. Um cara que foi vítima de suas brincadeiras de sedução e que acabou sendo causa de tristeza e felicidade para ela. Esse cara era um Diretor e essa estória fica para outra vez.
quinta-feira, julho 24, 2003
Profissionais
Um dos grandes baratos de fazer natação na academia (antes do meu dedo entrar em colapso) era rir com as conversas absurdas que rolavam no vestiário enquanto todo mundo cuidava de eliminar ao máximo o cheiro empesteante do cloro da piscina. Era um tal de neguinho ficando 30 minutos na sauna, de outro esfregando a pele com lixa e ainda de outro, mais velhinho, simplesmente se secando direitinho e usando a filosofia da vaca para tratar o problema do cheiro que fica na pele depois de 45 minutos de braçadas. Acredito que o comportamento dos nadadores estava diretamente ligado ao tipo de pessoa que o estava esperando em casa.
Pois bem, entre temas como a superioridade da parrilla uruguia sobre a argentina, sobre o crescimento do market share dos vinhos chilenos nos States e na Europa e sobre as coxas da nova aluna da raia 4, um dos caras soltou a máxima de que transar com prostitutas não deve ser considerado como traição já que supre uma necessidade intrínseca do casamento sem, no entanto, colocar o relacionamento em risco.
No início eu achei aquele papo meio esquisito. Sempre achei que a infidelidade fosse muito fácil de definir e que se aplicava a qualquer relacionamento extra-conjugal, de um selinho à manutenção de uma família paralela.
Nunca tive uma posição radical sobre esse tema. Nunca achei que adúlteros (que palavra horrorosa!!!!) merecessem a fogueira e nem que o casamento feliz estivesse imune a tentações, mas a colocação daquele cara me deixou com a pulga atrás da orelha.
Conversando mais com ele, descobri mais detalhes sobre a "teoria".
Segundo ele, ao transar com uma prostituta, o cara casado compra a tranquilidade de não ter ninguém ligando para a sua casa às dez da noite e desligando na cara da sua esposa. Além disso, ele minimiza o risco de se apaixonar pela moçoila.
Essa última colocação me parece mais interessante e vai de encontro ao que outro colega de braçadas dizia sobre casamento e fidelidade. Durante as conversas regadas a Gatorade e barras de cereais, aquele cara dizia que uma das principais razões que o levavam a evitar infidelidades era o temor de se apaixonar pela outra mulher e bagunçar a vida confortável e estável que ele tinha no casamento. Ele tinha muitas razões para se preocupar pois estava no segundo casamento, era feliz, amava a esposa e tinha duas filhas pequenas para criar. A colocação dele tinha mais a ver com o futuro do que com o presente. Ele não estava a ponto de ser infiel mas tinha medo do que poderia acontecer se fosse.
Gosto de pensar que, quando chegar a minha hora, eu vou optar pela segunda linha, por reconhecer a falibilidade do caráter e por desejar manter a felicidade que o casamento me trouxer. Acho muito melhor deixar de fazer as coisas por medo do que posso perder (ou amor a isso) do que me conformar com serviços encomendados e prestados com o único intuito de desopilar certas partes do corpo.
Afinal de contas, casamento é coisa séria.
Um dos grandes baratos de fazer natação na academia (antes do meu dedo entrar em colapso) era rir com as conversas absurdas que rolavam no vestiário enquanto todo mundo cuidava de eliminar ao máximo o cheiro empesteante do cloro da piscina. Era um tal de neguinho ficando 30 minutos na sauna, de outro esfregando a pele com lixa e ainda de outro, mais velhinho, simplesmente se secando direitinho e usando a filosofia da vaca para tratar o problema do cheiro que fica na pele depois de 45 minutos de braçadas. Acredito que o comportamento dos nadadores estava diretamente ligado ao tipo de pessoa que o estava esperando em casa.
Pois bem, entre temas como a superioridade da parrilla uruguia sobre a argentina, sobre o crescimento do market share dos vinhos chilenos nos States e na Europa e sobre as coxas da nova aluna da raia 4, um dos caras soltou a máxima de que transar com prostitutas não deve ser considerado como traição já que supre uma necessidade intrínseca do casamento sem, no entanto, colocar o relacionamento em risco.
No início eu achei aquele papo meio esquisito. Sempre achei que a infidelidade fosse muito fácil de definir e que se aplicava a qualquer relacionamento extra-conjugal, de um selinho à manutenção de uma família paralela.
Nunca tive uma posição radical sobre esse tema. Nunca achei que adúlteros (que palavra horrorosa!!!!) merecessem a fogueira e nem que o casamento feliz estivesse imune a tentações, mas a colocação daquele cara me deixou com a pulga atrás da orelha.
Conversando mais com ele, descobri mais detalhes sobre a "teoria".
Segundo ele, ao transar com uma prostituta, o cara casado compra a tranquilidade de não ter ninguém ligando para a sua casa às dez da noite e desligando na cara da sua esposa. Além disso, ele minimiza o risco de se apaixonar pela moçoila.
Essa última colocação me parece mais interessante e vai de encontro ao que outro colega de braçadas dizia sobre casamento e fidelidade. Durante as conversas regadas a Gatorade e barras de cereais, aquele cara dizia que uma das principais razões que o levavam a evitar infidelidades era o temor de se apaixonar pela outra mulher e bagunçar a vida confortável e estável que ele tinha no casamento. Ele tinha muitas razões para se preocupar pois estava no segundo casamento, era feliz, amava a esposa e tinha duas filhas pequenas para criar. A colocação dele tinha mais a ver com o futuro do que com o presente. Ele não estava a ponto de ser infiel mas tinha medo do que poderia acontecer se fosse.
Gosto de pensar que, quando chegar a minha hora, eu vou optar pela segunda linha, por reconhecer a falibilidade do caráter e por desejar manter a felicidade que o casamento me trouxer. Acho muito melhor deixar de fazer as coisas por medo do que posso perder (ou amor a isso) do que me conformar com serviços encomendados e prestados com o único intuito de desopilar certas partes do corpo.
Afinal de contas, casamento é coisa séria.
quarta-feira, julho 23, 2003
Galahad
Agora que estou fazendo dez anos de formado, os eventos com os antigos colegas de sofrimento universitário se tornam mais freqüentes e muito mais calorosos.
O almoço de domingo foi um belo exemplo. Nele estavam meus mais caros amigos dos tempos em que cabulávamos algumas aulas para ver a saída das meninas do colegial.
Éramos apenas um pouco mais velhos do que elas e ninguém inventaria de mandar a polícia nos prender se ficássemos com algumas delas.
Infelizmente isso não aconteceu, mas não é esse o meu tema hoje.
Quero falar de nobreza, de honestidade, de ingenuidade e de força de caráter.
Não conheço bem a estória do Rei Arthur mas me lembro que na trupe de cavaleiros havia um que era mais puro que os demais. Acho que foi Galahad que encontrou o Santo Graal a pedido do seu rei. E acho que foi esse cara que morreu no momento em que concluía a missão.
É nessa nobreza que penso quando converso com esse amigo.
Uma das maiores provas de nobreza que vi esse amigo fazer foi em relação àquela que hoje é sua esposa. Ele foi apaixonado por ela durante muito tempo e sofreu sozinho enquanto ela amava um de nossos amigos. Esse outro amigo também foi bom ao sair de cena sem destruir a amizade deles e sumir da vida da menina. É certo que as causas do “sumiço” foram bem mais particulares do que se pode comentar, mas no final das contas ela estava sozinha de novo.
O “meu Galahad” esperou o momento certo e voltou à vida da menina. Ele não tomou nenhum tipo de atitude com relação ao envolvimento dela com o amigo do peito. Acredito que entre o amor e amizade, ele escolheu ambos. E não é que ele consegui!!!
O miserento conseguiu se casar com a menina e continuar tendo o outro como um de seus amigos mais próximos. Tenho certeza que eu não seria tão paciente. Graças a Deus ele não é cabeçudo como eu.
Ainda bem que existe esse tipo de cara para me provar que vale a pena ser meio teimoso quando se quer mesmo manter pessoas perto de você.
Ainda bem que existem Galahads fora dos livros.
Agora que estou fazendo dez anos de formado, os eventos com os antigos colegas de sofrimento universitário se tornam mais freqüentes e muito mais calorosos.
O almoço de domingo foi um belo exemplo. Nele estavam meus mais caros amigos dos tempos em que cabulávamos algumas aulas para ver a saída das meninas do colegial.
Éramos apenas um pouco mais velhos do que elas e ninguém inventaria de mandar a polícia nos prender se ficássemos com algumas delas.
Infelizmente isso não aconteceu, mas não é esse o meu tema hoje.
Quero falar de nobreza, de honestidade, de ingenuidade e de força de caráter.
Não conheço bem a estória do Rei Arthur mas me lembro que na trupe de cavaleiros havia um que era mais puro que os demais. Acho que foi Galahad que encontrou o Santo Graal a pedido do seu rei. E acho que foi esse cara que morreu no momento em que concluía a missão.
É nessa nobreza que penso quando converso com esse amigo.
Uma das maiores provas de nobreza que vi esse amigo fazer foi em relação àquela que hoje é sua esposa. Ele foi apaixonado por ela durante muito tempo e sofreu sozinho enquanto ela amava um de nossos amigos. Esse outro amigo também foi bom ao sair de cena sem destruir a amizade deles e sumir da vida da menina. É certo que as causas do “sumiço” foram bem mais particulares do que se pode comentar, mas no final das contas ela estava sozinha de novo.
O “meu Galahad” esperou o momento certo e voltou à vida da menina. Ele não tomou nenhum tipo de atitude com relação ao envolvimento dela com o amigo do peito. Acredito que entre o amor e amizade, ele escolheu ambos. E não é que ele consegui!!!
O miserento conseguiu se casar com a menina e continuar tendo o outro como um de seus amigos mais próximos. Tenho certeza que eu não seria tão paciente. Graças a Deus ele não é cabeçudo como eu.
Ainda bem que existe esse tipo de cara para me provar que vale a pena ser meio teimoso quando se quer mesmo manter pessoas perto de você.
Ainda bem que existem Galahads fora dos livros.
terça-feira, julho 22, 2003
Fanatismo
Nunca entendi as pessoas que faziam do amor por alguma coisa a sua principal razão de viver. Nunca consegui encontrar nexo em ficar dias em uma fila para comprar ingressos para um determinado show ou esquecer de tudo para ir ao estádio ver seu time jogar.
Não consigo nem mesmo decorar todas as letras das minhas bandas do coração, mesmo que isso seja quase como religião para mim.
Acho que o segredo está justamente na comparação com doutrinas religiosas: não acredito fervorosamente em nada e não gosto fanaticamente de nada.
Isso deve ter algo a ver com alguma deficiência genética já que nem Morrissey e Marr conseguiram me mudar.
Me lembro perfeitamente da primeira vez que vi um clipe dos Smiths. Consegui ter dois pensamentos racionais e antagônicos ao mesmo tempo. Me lembro que primeiro disse “Que bicha!!!” quando vi o Morrissey com as mão juntas sob o queixo, mas também disse “Que máximo!!!” quando deixei de lado as bichices e fiquei só curtindo a música.
O clipe de “The boy with the thorn in his side” nunca mais saiu da minha cabeça mas nem assim eu tive coragem de ir à Argentina para vê-los tocar. Eu tinha só 15 ou 16 anos e jamais conseguiria grana e autorização para ir.
Uma das colegas de curso de inglês foi e me contou que nunca mais esqueceu a experiência.
Ainda hoje tenho esses caras de Manchester como minha banda preferida. Tenho todos os álbuns e a coletânea sempre está na disqueteira do carro. Vira e mexe escuto “Heaven knows” para esquecer a babaquice do trânsito de Sampa e “There is a light” quando tenho que enfrentar um usuário FDP.
Jamais me rendi ao messianismo do U2 ou aos apelos pop do Cure. Nem mesmo a segunda banda da minha lista, a corrente religiosa dos irmãos Reid, consegue me fazer sorrir de forma tão aberta e sincera.
Realizei um pseudo-sonho ao ver o Morrissey tocar em Sampa algum tempo atrás. Ele só tocou duas ou três músicas da banda, mas nesses momentos os olhos fechados me levaram de volta a 87. Foi bom justamente por que durou pouco.
Eu ri muito quando um Morrissey meio gordo e careca tirava as camisetas que estava vestindo, enxugava o suor do rosto e do corpo e as atirava para a platéia, que se matava para conseguir ao menos um trapinho daquele “santo sudário”.
Eu jamais faria uma coisa dessas. Nada me faria ser tão fanático.
Prefiro apenas gostar muito de alguma coisa. Viver por ela, jamais!!
Nunca entendi as pessoas que faziam do amor por alguma coisa a sua principal razão de viver. Nunca consegui encontrar nexo em ficar dias em uma fila para comprar ingressos para um determinado show ou esquecer de tudo para ir ao estádio ver seu time jogar.
Não consigo nem mesmo decorar todas as letras das minhas bandas do coração, mesmo que isso seja quase como religião para mim.
Acho que o segredo está justamente na comparação com doutrinas religiosas: não acredito fervorosamente em nada e não gosto fanaticamente de nada.
Isso deve ter algo a ver com alguma deficiência genética já que nem Morrissey e Marr conseguiram me mudar.
Me lembro perfeitamente da primeira vez que vi um clipe dos Smiths. Consegui ter dois pensamentos racionais e antagônicos ao mesmo tempo. Me lembro que primeiro disse “Que bicha!!!” quando vi o Morrissey com as mão juntas sob o queixo, mas também disse “Que máximo!!!” quando deixei de lado as bichices e fiquei só curtindo a música.
O clipe de “The boy with the thorn in his side” nunca mais saiu da minha cabeça mas nem assim eu tive coragem de ir à Argentina para vê-los tocar. Eu tinha só 15 ou 16 anos e jamais conseguiria grana e autorização para ir.
Uma das colegas de curso de inglês foi e me contou que nunca mais esqueceu a experiência.
Ainda hoje tenho esses caras de Manchester como minha banda preferida. Tenho todos os álbuns e a coletânea sempre está na disqueteira do carro. Vira e mexe escuto “Heaven knows” para esquecer a babaquice do trânsito de Sampa e “There is a light” quando tenho que enfrentar um usuário FDP.
Jamais me rendi ao messianismo do U2 ou aos apelos pop do Cure. Nem mesmo a segunda banda da minha lista, a corrente religiosa dos irmãos Reid, consegue me fazer sorrir de forma tão aberta e sincera.
Realizei um pseudo-sonho ao ver o Morrissey tocar em Sampa algum tempo atrás. Ele só tocou duas ou três músicas da banda, mas nesses momentos os olhos fechados me levaram de volta a 87. Foi bom justamente por que durou pouco.
Eu ri muito quando um Morrissey meio gordo e careca tirava as camisetas que estava vestindo, enxugava o suor do rosto e do corpo e as atirava para a platéia, que se matava para conseguir ao menos um trapinho daquele “santo sudário”.
Eu jamais faria uma coisa dessas. Nada me faria ser tão fanático.
Prefiro apenas gostar muito de alguma coisa. Viver por ela, jamais!!
segunda-feira, julho 21, 2003
Amor piegas
Ontem eu estava brincando de passar músicas para o computador quando tropecei no Rei.
Nunca fui muito fã do Roberto, mas o disco da MTV me chamou a atenção e o comprei sem medo de me arrepender.
Fazia algum tempo que eu não escutava o CD e resolvi dar uma passada em cada música para saber se valia a pena gravá-la ou não. Eu já tinha ouvido todas essas músicas bem mais do que uma vez mas fiquei meio passado quando avancei uma faixa e peguei o discurso onde o Betão junta sua pouca habilidade ao piano ao enorme amor que ele (ainda) sente pela falecida esposa.
PQP!!! Mas que diabo de amor é esse?????
Que tipo de mulher era a Maria Rita para fazer com que um cara que tem tudo, ficar tão de quatro e triste depois da sua partida??
Que tipo de homem sobra depois da perda de um amor desse tamanho??
Por que eu nunca vivi nem sofri por causa de algo assim???
Essas perguntas foram apenas retóricas mas me deixam meio derretido. Não chego a chorar quando ouço aquela faixa de novo, mas chego perto.
Me acho sumamente piegas por me deixar afetar desse jeito mas não posso fazer nada. Gosto de amores grandes assim, mesmo que não me lembre de tê-los vivido. Minha história é mais povoada por amores tranqüilos, serenos e menos ardentes.
Nunca tive uma Maria Rita e não sei se tenho coragem de desejar isso. Sou meio covarde para esse tipo de ousadia. Sou meio covarde para amar alguém mais do que a minha vida.
Talvez seja melhor assim.
Ontem eu estava brincando de passar músicas para o computador quando tropecei no Rei.
Nunca fui muito fã do Roberto, mas o disco da MTV me chamou a atenção e o comprei sem medo de me arrepender.
Fazia algum tempo que eu não escutava o CD e resolvi dar uma passada em cada música para saber se valia a pena gravá-la ou não. Eu já tinha ouvido todas essas músicas bem mais do que uma vez mas fiquei meio passado quando avancei uma faixa e peguei o discurso onde o Betão junta sua pouca habilidade ao piano ao enorme amor que ele (ainda) sente pela falecida esposa.
PQP!!! Mas que diabo de amor é esse?????
Que tipo de mulher era a Maria Rita para fazer com que um cara que tem tudo, ficar tão de quatro e triste depois da sua partida??
Que tipo de homem sobra depois da perda de um amor desse tamanho??
Por que eu nunca vivi nem sofri por causa de algo assim???
Essas perguntas foram apenas retóricas mas me deixam meio derretido. Não chego a chorar quando ouço aquela faixa de novo, mas chego perto.
Me acho sumamente piegas por me deixar afetar desse jeito mas não posso fazer nada. Gosto de amores grandes assim, mesmo que não me lembre de tê-los vivido. Minha história é mais povoada por amores tranqüilos, serenos e menos ardentes.
Nunca tive uma Maria Rita e não sei se tenho coragem de desejar isso. Sou meio covarde para esse tipo de ousadia. Sou meio covarde para amar alguém mais do que a minha vida.
Talvez seja melhor assim.
sexta-feira, julho 18, 2003
Idade
Ela era mais velha do que eu quando nos conhecemos. Eu havia acabado de voltar da Europa e ainda estava vivendo meu amor italiano. Como não pude ter aquela Romana, resolvi me aproximar dela estudando a sua língua. Obviamente isso era pouco efetivo, mas eu nem ligava.
Conheci muita gente legal naquele curso mas a moça com nome de flor tinha algo diferente.
A gente não se aproximou logo de cara. Na verdade, isso demorou alguns estágios do curso para acontecer.
Pra que a gente começasse a sair, eu tive que viver o final do meu namoro (o primeiro), o fora sutil de uma das colegas de curso e o início da rotina de festas e jantares com o pessoal do italiano. Tudo isso aconteceu em cerca de seis meses.
Ela tinha sido casada e devia estar sozinha a um tempo razoável demais para ser estimado. Quando digo "sozinha" me refiro à ausência de relacionamentos estáveis e não à falta de companhia para cinemas, jantares, beijos e afins.
Eu curtia muito aquele cabelo curto (ainda vou escrever sobre isso), o biquinho quando ela falava francês e o fato de termos o mesmo signo.
Mesmo naquela época eu não me importava com os 16 anos que havia de diferença. O fato é que eu não me importava com coisa alguma.
O primeiro beijo rolou de um jeito meio marginal: foi no corredor do prédio dela. Parecia uma cena de filme americano: a gente ficou se olhando, parou de falar, começou a se beijar e o temporizador do andar cuidou do clímax quando apagou as luzes e nos deixou "a sós". Infelizmente a gente não podia ir além naquele momento: ela morava com a mãe e eu estava sem carro.
Foi só uma questão de tempo até que ela despachasse a mãe para o interior e me convidasse para jantar. Não foi preciso muito para que o escorpião mostrasse a sua natureza e o dia clareasse.
Repetimos a dose durante alguns finais de semana e curtimos muito a companhia um do outro. Os colegas do curso gostavam de nos ver juntos e sofreram um pouco quando a gente se afastou.
Não me lembro bem por que isso aconteceu. Acho que foi por conta da reaparição da San e da indefinição que pintou na minha cabeça nas semanas que se seguiram. Acho também que eu ainda gostava da San e não consegui esconder isso da moça com nome de flor.
A nossa amizade ficou bem abalada com o rompimento, mas voltou a ficar bem quando ela encontrou o cara que hoje é pai da sua única filha. Ele tinha muito mais a ver com ela, inclusive na idade.
Adoro pensar nas coisas que fizemos juntos mas gosto ainda mais de saber que hoje ela está feliz e bem.
Depois dela eu voltei a viver estórias de amor (ou quase isso) com moças mais velhas. A secretária que era psicóloga e a mãe do Felipe são os dois casos que me lembro neste momento. Nenhuma delas foi igual à outra e nenhuma delas me deixou infeliz.
Fico feliz quando penso que a diferença de idade (e de experiência de vida) não significou nada enquanto a gente esteve junto. Era como se não existisse. Era como se a gente só precisasse se preocupar com o presente. História e futuro eram valores de segunda classe.
Tenho saudade dessa época. Não exatamente para estar novamente com elas, mas sim por que era tudo mais simples de ser vivido.
Ela era mais velha do que eu quando nos conhecemos. Eu havia acabado de voltar da Europa e ainda estava vivendo meu amor italiano. Como não pude ter aquela Romana, resolvi me aproximar dela estudando a sua língua. Obviamente isso era pouco efetivo, mas eu nem ligava.
Conheci muita gente legal naquele curso mas a moça com nome de flor tinha algo diferente.
A gente não se aproximou logo de cara. Na verdade, isso demorou alguns estágios do curso para acontecer.
Pra que a gente começasse a sair, eu tive que viver o final do meu namoro (o primeiro), o fora sutil de uma das colegas de curso e o início da rotina de festas e jantares com o pessoal do italiano. Tudo isso aconteceu em cerca de seis meses.
Ela tinha sido casada e devia estar sozinha a um tempo razoável demais para ser estimado. Quando digo "sozinha" me refiro à ausência de relacionamentos estáveis e não à falta de companhia para cinemas, jantares, beijos e afins.
Eu curtia muito aquele cabelo curto (ainda vou escrever sobre isso), o biquinho quando ela falava francês e o fato de termos o mesmo signo.
Mesmo naquela época eu não me importava com os 16 anos que havia de diferença. O fato é que eu não me importava com coisa alguma.
O primeiro beijo rolou de um jeito meio marginal: foi no corredor do prédio dela. Parecia uma cena de filme americano: a gente ficou se olhando, parou de falar, começou a se beijar e o temporizador do andar cuidou do clímax quando apagou as luzes e nos deixou "a sós". Infelizmente a gente não podia ir além naquele momento: ela morava com a mãe e eu estava sem carro.
Foi só uma questão de tempo até que ela despachasse a mãe para o interior e me convidasse para jantar. Não foi preciso muito para que o escorpião mostrasse a sua natureza e o dia clareasse.
Repetimos a dose durante alguns finais de semana e curtimos muito a companhia um do outro. Os colegas do curso gostavam de nos ver juntos e sofreram um pouco quando a gente se afastou.
Não me lembro bem por que isso aconteceu. Acho que foi por conta da reaparição da San e da indefinição que pintou na minha cabeça nas semanas que se seguiram. Acho também que eu ainda gostava da San e não consegui esconder isso da moça com nome de flor.
A nossa amizade ficou bem abalada com o rompimento, mas voltou a ficar bem quando ela encontrou o cara que hoje é pai da sua única filha. Ele tinha muito mais a ver com ela, inclusive na idade.
Adoro pensar nas coisas que fizemos juntos mas gosto ainda mais de saber que hoje ela está feliz e bem.
Depois dela eu voltei a viver estórias de amor (ou quase isso) com moças mais velhas. A secretária que era psicóloga e a mãe do Felipe são os dois casos que me lembro neste momento. Nenhuma delas foi igual à outra e nenhuma delas me deixou infeliz.
Fico feliz quando penso que a diferença de idade (e de experiência de vida) não significou nada enquanto a gente esteve junto. Era como se não existisse. Era como se a gente só precisasse se preocupar com o presente. História e futuro eram valores de segunda classe.
Tenho saudade dessa época. Não exatamente para estar novamente com elas, mas sim por que era tudo mais simples de ser vivido.
quinta-feira, julho 17, 2003
Misturas
Os cheiros já estavam se confundindo. O mesmo acontecia com os sabores. Na verdade, até minha cabeça estava confusa e já não sabia mais quem era quem.
É claro que eu estava longe de não conseguir esfriar a cama antes que outra pessoa se deitasse nela, mas ainda assim a quantidade de parceiras era muito maior do que o que qualquer sonho lisérgico do padre da minha paróquia pudesse imaginar. Eu estava exagerando e gostava disso.
O início da bandalheira coincidiu com a compra do meu carro. Depois de alguns anos entrando a pé nos motéis da Barra Funda, estar a bordo daquele Uninho ELX “turbinado” significava a libertação. Finalmente eu podia ficar fora de casa depois da meia-noite e mandar uma banana para o horário de operação do Metrô. À partir daquele momento eu podia voltar meus cobres para a gasolina e o óleo e não mais para os táxis da madrugada.
Pena (???) que eu acabei confundindo libertação com libertinagem.
Até então, eu já havia me acostumado com a idéia de estar solteiro (a San tinha pedido um tempo quase dois anos antes) mas tinha meu alcance limitado pelos meios de transporte disponíveis na madrugada. Se bem que eu não conseguia imaginar nada mais constrangedor do que entrar no Over Night a pé e pedir uma suíte. Ir buscar alguém de táxi era fichinha.
Aquele pequeno bólido (devo esta pérola ao saudoso Giba) acabou se transformando em casa, cama, abrigo e ponte para todas as besteiras que eu pude imaginar no tempo em que estive com ele. Até a minha primeira batida foi coisa de cinema.
A “abertura das comportas” rolou quando consegui um novo emprego. Eu havia sido demitido poucos dias depois de comprar o carro, mas graças a Deus o pagamento havia sido à vista e os gastos dependeriam do que eu quisesse fazer.
Apesar de ser quase um ato de desespero, a nova empresa significou também a possibilidade de aumentar meu leque de contatos, de fazer novos amigos e de colocar em prática meu desejo de despirocar.
O cúmulo do “pé na jaca” foi sair com duas meninas que trabalhavam no departamento ao lado. Uma sentava de frente para a outra isso deixava a coisa ainda mais divertida. Sinceramente, eu espero que elas nunca tenham se juntado para falar de mim, mesmo que seja para falar mal. Nunca quis magoá-las (é sério) mas certamente isso acabaria acontecendo.
Ainda rolou uma terceira menina nessa mesma empresa e só não rolou mais por que a recepcionista (que era noiva) não me deu bola, por que uma das estagiárias do andar de cima (linda e maravilhosa) namorava sério e por que eu arrumei um novo emprego depois de três meses.
Nessa nova empresa eu descobri a Internet e aí já viu, né?
Acho que essa fase durou um bom par de anos. Pelo que me lembro, ela acabou algum tempo antes de conhecer a Rê, a Bellissima. Eu havia feito quase tudo o que senti vontade e não via mais novidade na variedade. Por mais surpreendente que possa parecer, eu fui “reconvertido” pelo excesso. Deve ter tido algo a ver com a idade.
Os cheiros já estavam se confundindo. O mesmo acontecia com os sabores. Na verdade, até minha cabeça estava confusa e já não sabia mais quem era quem.
É claro que eu estava longe de não conseguir esfriar a cama antes que outra pessoa se deitasse nela, mas ainda assim a quantidade de parceiras era muito maior do que o que qualquer sonho lisérgico do padre da minha paróquia pudesse imaginar. Eu estava exagerando e gostava disso.
O início da bandalheira coincidiu com a compra do meu carro. Depois de alguns anos entrando a pé nos motéis da Barra Funda, estar a bordo daquele Uninho ELX “turbinado” significava a libertação. Finalmente eu podia ficar fora de casa depois da meia-noite e mandar uma banana para o horário de operação do Metrô. À partir daquele momento eu podia voltar meus cobres para a gasolina e o óleo e não mais para os táxis da madrugada.
Pena (???) que eu acabei confundindo libertação com libertinagem.
Até então, eu já havia me acostumado com a idéia de estar solteiro (a San tinha pedido um tempo quase dois anos antes) mas tinha meu alcance limitado pelos meios de transporte disponíveis na madrugada. Se bem que eu não conseguia imaginar nada mais constrangedor do que entrar no Over Night a pé e pedir uma suíte. Ir buscar alguém de táxi era fichinha.
Aquele pequeno bólido (devo esta pérola ao saudoso Giba) acabou se transformando em casa, cama, abrigo e ponte para todas as besteiras que eu pude imaginar no tempo em que estive com ele. Até a minha primeira batida foi coisa de cinema.
A “abertura das comportas” rolou quando consegui um novo emprego. Eu havia sido demitido poucos dias depois de comprar o carro, mas graças a Deus o pagamento havia sido à vista e os gastos dependeriam do que eu quisesse fazer.
Apesar de ser quase um ato de desespero, a nova empresa significou também a possibilidade de aumentar meu leque de contatos, de fazer novos amigos e de colocar em prática meu desejo de despirocar.
O cúmulo do “pé na jaca” foi sair com duas meninas que trabalhavam no departamento ao lado. Uma sentava de frente para a outra isso deixava a coisa ainda mais divertida. Sinceramente, eu espero que elas nunca tenham se juntado para falar de mim, mesmo que seja para falar mal. Nunca quis magoá-las (é sério) mas certamente isso acabaria acontecendo.
Ainda rolou uma terceira menina nessa mesma empresa e só não rolou mais por que a recepcionista (que era noiva) não me deu bola, por que uma das estagiárias do andar de cima (linda e maravilhosa) namorava sério e por que eu arrumei um novo emprego depois de três meses.
Nessa nova empresa eu descobri a Internet e aí já viu, né?
Acho que essa fase durou um bom par de anos. Pelo que me lembro, ela acabou algum tempo antes de conhecer a Rê, a Bellissima. Eu havia feito quase tudo o que senti vontade e não via mais novidade na variedade. Por mais surpreendente que possa parecer, eu fui “reconvertido” pelo excesso. Deve ter tido algo a ver com a idade.
quarta-feira, julho 16, 2003
Polaridades
Parecia que a comissão técnica do céu não queria que a gente se encontrasse.
Por mais que eu tentasse, ela sempre escapava das minhas mãos. Mesmo depois do beijo, do abraço e das demais consequências, ela teimava em se afastar de mim.
No começo achei que era puro azar. Demorou para cair a ficha de que ela estava me evitando. Passou bastante tempo antes que eu percebesse que a minha insistência só diminuía as minhas chances.
Foi muito complicado aceitar a idéia de que eu só conseguiria ficar com ela no momento em que parasse de procurá-la, em que deixasse de correr atrás, em que cessasse de demonstrar meu amor.
Tive que pedir para alguém esconder o carregador do celular para não ligar e perguntar se ela estava bem e se não precisava de pão e leite.
Mas aos poucos (dá-lhe Lexotan) fui me acostumando com a idéia de que deixá-la ir seria a melhor maneira de fazê-la voltar.
Demorou mas eu consegui acalmar a ansiedade que me acompanha desde as primeiras cabeçadas com as amigas do sul do Chile.
Eu já estava acostumado com a idéia de não ser nem seu amigo quando ela me ligou. Fiquei surpreso e feliz, mas tentei não dar bandeira.
Achei que o sacrifício tinha dado frutos e que ela estaria me procurando por ter percebido que não poderia viver sem mim.
Não era bem isso o que ela queria. Na verdade, era algo muito melhor: ela estava me ligando para perguntar como eu estava, para saber por que eu havia sumido, para me contar as suas últimas aventuras e para me dizer que estava namorando e que já pensava em casamento.
O que veio depois disso foi muito diferente do que aquilo que senti depois que a San me disse que estava namorando. O que senti no mais profundo, escuro e úmido canto do meu coração foi um alívio muito grande.
De uma forma não planejada, eu havia resolvido uma situação que havia me angustiado durante tanto tempo.
Abusando do clichê, ambos estávamos livres: eu da minha obsessão e ela da minha insistência.
Recentemente vi um novo exemplo do efeito nocivo que a insistência gera em relacionamentos.
O cara é jovem, rico (pooooodre!!!), agradável e culto. Infelizmente ele ama uma amiga há quatro anos e ela só o vê como companheiro de cinema, almofada para choro e conselheiro sentimental para outros amores. Por amá-la tanto, ele aceita a situação.
O lance é mais ou menos como aquela poesia (do Drummond?) onde um cara amava uma menina, que amava outro cara, que amava...
Ele tem muita esperança de que ela se convença de que ele é "o cara".
Mal sabe ele que o resultado desta situação só pode ser um. E não vai ser bom, ao menos não para ele.
Também, quem mandou o cara ser tão bonzinho.
Parecia que a comissão técnica do céu não queria que a gente se encontrasse.
Por mais que eu tentasse, ela sempre escapava das minhas mãos. Mesmo depois do beijo, do abraço e das demais consequências, ela teimava em se afastar de mim.
No começo achei que era puro azar. Demorou para cair a ficha de que ela estava me evitando. Passou bastante tempo antes que eu percebesse que a minha insistência só diminuía as minhas chances.
Foi muito complicado aceitar a idéia de que eu só conseguiria ficar com ela no momento em que parasse de procurá-la, em que deixasse de correr atrás, em que cessasse de demonstrar meu amor.
Tive que pedir para alguém esconder o carregador do celular para não ligar e perguntar se ela estava bem e se não precisava de pão e leite.
Mas aos poucos (dá-lhe Lexotan) fui me acostumando com a idéia de que deixá-la ir seria a melhor maneira de fazê-la voltar.
Demorou mas eu consegui acalmar a ansiedade que me acompanha desde as primeiras cabeçadas com as amigas do sul do Chile.
Eu já estava acostumado com a idéia de não ser nem seu amigo quando ela me ligou. Fiquei surpreso e feliz, mas tentei não dar bandeira.
Achei que o sacrifício tinha dado frutos e que ela estaria me procurando por ter percebido que não poderia viver sem mim.
Não era bem isso o que ela queria. Na verdade, era algo muito melhor: ela estava me ligando para perguntar como eu estava, para saber por que eu havia sumido, para me contar as suas últimas aventuras e para me dizer que estava namorando e que já pensava em casamento.
O que veio depois disso foi muito diferente do que aquilo que senti depois que a San me disse que estava namorando. O que senti no mais profundo, escuro e úmido canto do meu coração foi um alívio muito grande.
De uma forma não planejada, eu havia resolvido uma situação que havia me angustiado durante tanto tempo.
Abusando do clichê, ambos estávamos livres: eu da minha obsessão e ela da minha insistência.
Recentemente vi um novo exemplo do efeito nocivo que a insistência gera em relacionamentos.
O cara é jovem, rico (pooooodre!!!), agradável e culto. Infelizmente ele ama uma amiga há quatro anos e ela só o vê como companheiro de cinema, almofada para choro e conselheiro sentimental para outros amores. Por amá-la tanto, ele aceita a situação.
O lance é mais ou menos como aquela poesia (do Drummond?) onde um cara amava uma menina, que amava outro cara, que amava...
Ele tem muita esperança de que ela se convença de que ele é "o cara".
Mal sabe ele que o resultado desta situação só pode ser um. E não vai ser bom, ao menos não para ele.
Também, quem mandou o cara ser tão bonzinho.
terça-feira, julho 15, 2003
Impressões - Parte 2
Logo depois de chegar em Londres, a gente já partiu para outras bandas da Europa. As aulas começariam somente dali a um mês e os destinos no continente já haviam sido escolhidos. Ao menos era isso o que a gente imaginava.
Tomamos um ônibus rumo a Dover e dali atravessaríamos o Canal da Mancha até Calais, onde um Renault 19 diesel zerinho nos aguardava. O pobrezinho ainda não tinha idéia das aventuras que o aguardavam. A viagem foi longa e tranquila mas a compra da passagem no dia anterior foi um verdadeiro Carnaval. Ainda não estávamos habituados com o sotaque cockney (aquele onde as pessoas falam como se tivessem uma enorme batata na boca) e demoramos uns 10 minutos para entender que a pergunta do atendente dizia respeito a nosso interesse em comprar bilhetes de ida e volta ou não. Foi mais um tapa da língua de Shakespeare em nossas caras semi-espinhentas.
Nem vou mencionar a nossa cara de espanto a cada parada de ônibus, onde o motorista se voltava para os passageiros e gritava o nome da cidadezinha onde estávamos. Só sei que era o nome de uma cidade por que as placas indicavam algo remotamente parecido com aquele som.
Mas nem só de trapalhadas foi povoada a nossa European Tour '94.
A viagem de ferri (uma baita barco com caça-níqueis, música ao vivo e um decl enorme para ver a viagem) foi muito legal e a chegada a Calais foi melhor ainda: a atendente do posto da Renault se chamava Caroline e era loira como só os suecos sabem ser. A dona daqueles olhos azuis teria nos vendido a própria França se quisesse, tal era a nossa hipnose. Graças a Deus ela foi muito correta e apenas nos entregou o carro e deu as instruções básicas de navegação. Entenda-se isso como os caminhos para sair de Calais e tomar a estrada para Paris.
Como a Cidade Luz merece um post exclusivo, vou terminar contando o potencial desastre que a nossa sorte bissexta evitou quando fomos abastecer o carro pela primeira vez.
Nós sabíamos um pouco de inglês, o bastante para não morrer de fome e localizar os pontos turísticos, mas o nosso francês se resumia a palavras que só o Tarzan pronunciaria: croassã, penhoar, abajour, sutiã, Alain Prost e Michel Platini.
Foi esse conhecimento paupérrimo do idioma de Balzac que quase nos fez deixar de lado a bomba de Gazole e encher o tanque com algum outro líquido combustível. Não me lembro o que era esse outro líquido mas nem nos meus sonhos mais delirantes eu imaginaria que Gazole e Óleo Diesel eram a mesma coisa.
Passado o susto, enchemos o tanque, localizamos a rodovia certa e colocamos a nossa entourage na estrada. Paris nos esperava.
Logo depois de chegar em Londres, a gente já partiu para outras bandas da Europa. As aulas começariam somente dali a um mês e os destinos no continente já haviam sido escolhidos. Ao menos era isso o que a gente imaginava.
Tomamos um ônibus rumo a Dover e dali atravessaríamos o Canal da Mancha até Calais, onde um Renault 19 diesel zerinho nos aguardava. O pobrezinho ainda não tinha idéia das aventuras que o aguardavam. A viagem foi longa e tranquila mas a compra da passagem no dia anterior foi um verdadeiro Carnaval. Ainda não estávamos habituados com o sotaque cockney (aquele onde as pessoas falam como se tivessem uma enorme batata na boca) e demoramos uns 10 minutos para entender que a pergunta do atendente dizia respeito a nosso interesse em comprar bilhetes de ida e volta ou não. Foi mais um tapa da língua de Shakespeare em nossas caras semi-espinhentas.
Nem vou mencionar a nossa cara de espanto a cada parada de ônibus, onde o motorista se voltava para os passageiros e gritava o nome da cidadezinha onde estávamos. Só sei que era o nome de uma cidade por que as placas indicavam algo remotamente parecido com aquele som.
Mas nem só de trapalhadas foi povoada a nossa European Tour '94.
A viagem de ferri (uma baita barco com caça-níqueis, música ao vivo e um decl enorme para ver a viagem) foi muito legal e a chegada a Calais foi melhor ainda: a atendente do posto da Renault se chamava Caroline e era loira como só os suecos sabem ser. A dona daqueles olhos azuis teria nos vendido a própria França se quisesse, tal era a nossa hipnose. Graças a Deus ela foi muito correta e apenas nos entregou o carro e deu as instruções básicas de navegação. Entenda-se isso como os caminhos para sair de Calais e tomar a estrada para Paris.
Como a Cidade Luz merece um post exclusivo, vou terminar contando o potencial desastre que a nossa sorte bissexta evitou quando fomos abastecer o carro pela primeira vez.
Nós sabíamos um pouco de inglês, o bastante para não morrer de fome e localizar os pontos turísticos, mas o nosso francês se resumia a palavras que só o Tarzan pronunciaria: croassã, penhoar, abajour, sutiã, Alain Prost e Michel Platini.
Foi esse conhecimento paupérrimo do idioma de Balzac que quase nos fez deixar de lado a bomba de Gazole e encher o tanque com algum outro líquido combustível. Não me lembro o que era esse outro líquido mas nem nos meus sonhos mais delirantes eu imaginaria que Gazole e Óleo Diesel eram a mesma coisa.
Passado o susto, enchemos o tanque, localizamos a rodovia certa e colocamos a nossa entourage na estrada. Paris nos esperava.
segunda-feira, julho 14, 2003
Adjetivos
Ultimamente tenho pensado no que o homem deve ter para agradar uma mulher.
Esse tema sempre está presente nas conversas da Diretoria e dificilmente a gente chega a um consenso.
Uma das únicas coisas com que todos concordam é sobre um tipo de homem que atrai muitas amizades femininas mas espanta qualquer vontade de romance, amor ou sexo. Todos nós temos convicção de que bonzinho não é um elogio para homem nenhum.
O bonzinho não é só aquele cara que é agradável, que não incomoda e que sempre respeita a opinião e as vontades dos demais.
Ele é também aquele que não oferece diálogo à parceira. Ele sempe acata aquilo que ela disser.
Ele não possui traços próprios de personalidade, mas segue qualquer característica que agrade a quem estiver ao seu lado.
Ele pode ser bonito, interessante e ter bom porte físico, mas se esconde de tal forma do resto do mundo que a parceira não consegue sentir ciúme nem por um milésimo de segundo.
Com ele não há desafio, não há descoberta, não há evolução. É tudo muito quadradinho, certinho, limpinho e perfumadinho.
Por mais que algumas mulheres queiram me convencer de que isso é o ideal em um parceiro, tenho certeza de que nenhuma delas consegue passar a vida inteira ao lado de um bonzinho. Não dá para imaginar alguém que só receba sua influência, que não tenha nada para oferecer, que seja um espelho daquilo que a mulher é.
Duvido que relacionamentos assim funcionem. Não vejo evolução no casal. Não há troca.
E, certamente, é essa troca que faz com que um casal funcione e fique junto.
É por isso que eu e meus amigos rejeitamos e nos estressamos quando alguém ensaia nos chamar de bonzinhos. Legal, agradável e boa gente, tudo bem. Bonzinho, nunca!!!
Ultimamente tenho pensado no que o homem deve ter para agradar uma mulher.
Esse tema sempre está presente nas conversas da Diretoria e dificilmente a gente chega a um consenso.
Uma das únicas coisas com que todos concordam é sobre um tipo de homem que atrai muitas amizades femininas mas espanta qualquer vontade de romance, amor ou sexo. Todos nós temos convicção de que bonzinho não é um elogio para homem nenhum.
O bonzinho não é só aquele cara que é agradável, que não incomoda e que sempre respeita a opinião e as vontades dos demais.
Ele é também aquele que não oferece diálogo à parceira. Ele sempe acata aquilo que ela disser.
Ele não possui traços próprios de personalidade, mas segue qualquer característica que agrade a quem estiver ao seu lado.
Ele pode ser bonito, interessante e ter bom porte físico, mas se esconde de tal forma do resto do mundo que a parceira não consegue sentir ciúme nem por um milésimo de segundo.
Com ele não há desafio, não há descoberta, não há evolução. É tudo muito quadradinho, certinho, limpinho e perfumadinho.
Por mais que algumas mulheres queiram me convencer de que isso é o ideal em um parceiro, tenho certeza de que nenhuma delas consegue passar a vida inteira ao lado de um bonzinho. Não dá para imaginar alguém que só receba sua influência, que não tenha nada para oferecer, que seja um espelho daquilo que a mulher é.
Duvido que relacionamentos assim funcionem. Não vejo evolução no casal. Não há troca.
E, certamente, é essa troca que faz com que um casal funcione e fique junto.
É por isso que eu e meus amigos rejeitamos e nos estressamos quando alguém ensaia nos chamar de bonzinhos. Legal, agradável e boa gente, tudo bem. Bonzinho, nunca!!!
sexta-feira, julho 11, 2003
Como Conan
Nesta semana eu voltei a me sentir como o bárbaro pré-pré-histórico que ficou famoso no cinema na pele do brutamonte Schwarzenegger.
Obviamente isso não tem nada a ver com o porte físico. Acho que tenho o mesmo peso que uma perna do Schwarza tinha na época em que fez o filme.
A semelhança a que me refiro é no temperamento do bárbaro.
Quando um americano doidão chamado Robert E. Howard criou o “cimério de bronze” ele caracterizou muito bem o seu físico e a sua personalidade. Esse segundo item não é muito conhecido de pessoas que não fizeram com eu e passaram boa parte da adolescência lendo revistas em quadrinhos com as estórias do personagem.
É nesse tipo de estória que fica patente a capacidade de Conan de passar de estados de extrema alegria para profunda melancolia. O bárbaro vivia nos extremos e foi assim que me senti nesta semana de feriado.
Não havia razão aparente para isso. Minha vida estava equilibrada como sempre, em todos os seus aspectos. Eu não tinhas dívidas de nenhuma natureza e as pessoas queridas estavam ao alcance, como sempre.
Ainda assim eu mergulhei e só estou conseguindo sair hoje. Na verdade passei dias me sentindo como um bagaço de cana, mas acho que descobri um pouquinho de garapa escondida aqui no meio.
Esse tipo de “crise” era mais comum quando eu tinha menos idade. Deve ter alguma coisa a ver com hormônios.
Agora que já posso ser considerado “maduro”, eu havia conseguido seguir mais o modo de vida socrático: estava feliz vivendo no meio, no equilíbrio entre os extremos.
Tentei buscar razões para a queda. Achei o problema na minha mão, a indecisão no projeto com meus amigos-irmãos, a saudade da minha sobrinha e a distância da minha mineira. Achei também o momento em que isso voltou: o domingo à noite no ônibus.
Como, além de socrático, ultimamente eu tenho sido extremamente otimista, resolvi para tudo e largar mão de besteira. Apontei uma “peixeira imaginária” para a minha barriga e ameacei abrir meu próprio bucho se eu não tomasse alguma atitude.
Talvez tenha sido o medo de me conhecer mais “por dentro” ou a idéia de que eu não ganho nada ficando desse jeito, mas o certo é que me sinto melhor agora.
Melhorei a tempo de desejar boas férias ao Professor, de praticamente zerar minhas pendências no trabalho e de ouvir as boas novas da Zita nos assuntos do coração.
Seria tão mais legal se o Conan também pudesse resolver seus problemas assim: apontando a espada para o próprio bucho e pronto!!
Acho que o que faltava a ele eram distrações. Ahh se o X-Box tivesse sido inventado antes.
Nesta semana eu voltei a me sentir como o bárbaro pré-pré-histórico que ficou famoso no cinema na pele do brutamonte Schwarzenegger.
Obviamente isso não tem nada a ver com o porte físico. Acho que tenho o mesmo peso que uma perna do Schwarza tinha na época em que fez o filme.
A semelhança a que me refiro é no temperamento do bárbaro.
Quando um americano doidão chamado Robert E. Howard criou o “cimério de bronze” ele caracterizou muito bem o seu físico e a sua personalidade. Esse segundo item não é muito conhecido de pessoas que não fizeram com eu e passaram boa parte da adolescência lendo revistas em quadrinhos com as estórias do personagem.
É nesse tipo de estória que fica patente a capacidade de Conan de passar de estados de extrema alegria para profunda melancolia. O bárbaro vivia nos extremos e foi assim que me senti nesta semana de feriado.
Não havia razão aparente para isso. Minha vida estava equilibrada como sempre, em todos os seus aspectos. Eu não tinhas dívidas de nenhuma natureza e as pessoas queridas estavam ao alcance, como sempre.
Ainda assim eu mergulhei e só estou conseguindo sair hoje. Na verdade passei dias me sentindo como um bagaço de cana, mas acho que descobri um pouquinho de garapa escondida aqui no meio.
Esse tipo de “crise” era mais comum quando eu tinha menos idade. Deve ter alguma coisa a ver com hormônios.
Agora que já posso ser considerado “maduro”, eu havia conseguido seguir mais o modo de vida socrático: estava feliz vivendo no meio, no equilíbrio entre os extremos.
Tentei buscar razões para a queda. Achei o problema na minha mão, a indecisão no projeto com meus amigos-irmãos, a saudade da minha sobrinha e a distância da minha mineira. Achei também o momento em que isso voltou: o domingo à noite no ônibus.
Como, além de socrático, ultimamente eu tenho sido extremamente otimista, resolvi para tudo e largar mão de besteira. Apontei uma “peixeira imaginária” para a minha barriga e ameacei abrir meu próprio bucho se eu não tomasse alguma atitude.
Talvez tenha sido o medo de me conhecer mais “por dentro” ou a idéia de que eu não ganho nada ficando desse jeito, mas o certo é que me sinto melhor agora.
Melhorei a tempo de desejar boas férias ao Professor, de praticamente zerar minhas pendências no trabalho e de ouvir as boas novas da Zita nos assuntos do coração.
Seria tão mais legal se o Conan também pudesse resolver seus problemas assim: apontando a espada para o próprio bucho e pronto!!
Acho que o que faltava a ele eram distrações. Ahh se o X-Box tivesse sido inventado antes.
O Professor
Desde que o conheci eu o chamo de Professor.
Isso é, no mínimo, curioso já que também desde o princípio as aulas alternavam o nome daquele que aprendia alguma coisa. Às vezes ele me mostrava algumas coisas sobre espiritualidade, energia e respeito pela vida e eu retribuía com meu pragmatismo, organização, metodismo e mania por regras.
Sempre gostei de ouvir os relatos da viagem de descobrimento interior que ele fez em uma época onde havia mais cabelos na cabeça e menos nas escovas. Sobre isso, a suprema ironia é saber que um cara que já usou rabo de cavalo enquanto caminhava pelas estradas perdidas da Guatemala hoje faz recontagens periódicas dos poucos fios que ainda teimam em escurecer um pouco a sua cabeça lusitana.
O meu gosto por viagens me fazia babar quando ele falava de Macchu Picchu, da atípica viagem no Trem da Morte, do assaltante que o sacaneou na Guatemala e da lua-de-mel de mochila em Paris.
Essa lua-de-mel merece um parêntese.
Suspeito que a felizarda que compartilha a vida com ele é a principal influência em assuntos espirituais e energéticos. Apesar da criação européia e da história de cientista, ela curte muito Yoga, filosofias orientais, respeito pela vida e livros que falem sobre paz de espírito.
Eu adorava sacanear esse lado dele dizendo que a única energia que eu conhecia era a da tomada.
De tanto falarmos em cidades e paisagens, acabamos fazendo a mesma viagem em férias recentes.
Eu bolei o trajeto e ele acabou tornando-o realidade primeiro. Logo depois eu o segui e na volta comparamos nossas impressões. Enquanto eu mostrava as milhares de fotos dos cânions e das serras, ele sonhava com as geléias e os restaurantes que ficaram pelo caminho. Cada um na sua e ambos formando uma boa dupla.
Uma das coisas mais interessantes desta amizade com o Professor é a forma como nos relacionamos. Nos vemos todos os dias no trabalho mas nos encontramos raras vezes fora dele. Pelo que me lembro, todas elas foram divertidas e em quase todas ele chegou e me encontrou mais para lá do que para cá.
De qualquer maneira, acho que podemos medir nossa ligação pela quantidade de risadas que já demos juntos. Grande parte dessas risadas nasce dos mesmos assuntos, sejam eles crianças, cachorros, gente esquisita e chefes parasitas.
Deus foi muito sábio quando não nos colocou no mesmo lugar quando tínhamos menos responsabilidade. A cidade não teria sido a mesma se isso tivesse acontecido.
Eu te celebro, fabricante de lança, e bem ao estilo Vulcano,: vida longa e próspera. E vê se arruma um filho logo. Um daschund não é a mesma coisa.
Desde que o conheci eu o chamo de Professor.
Isso é, no mínimo, curioso já que também desde o princípio as aulas alternavam o nome daquele que aprendia alguma coisa. Às vezes ele me mostrava algumas coisas sobre espiritualidade, energia e respeito pela vida e eu retribuía com meu pragmatismo, organização, metodismo e mania por regras.
Sempre gostei de ouvir os relatos da viagem de descobrimento interior que ele fez em uma época onde havia mais cabelos na cabeça e menos nas escovas. Sobre isso, a suprema ironia é saber que um cara que já usou rabo de cavalo enquanto caminhava pelas estradas perdidas da Guatemala hoje faz recontagens periódicas dos poucos fios que ainda teimam em escurecer um pouco a sua cabeça lusitana.
O meu gosto por viagens me fazia babar quando ele falava de Macchu Picchu, da atípica viagem no Trem da Morte, do assaltante que o sacaneou na Guatemala e da lua-de-mel de mochila em Paris.
Essa lua-de-mel merece um parêntese.
Suspeito que a felizarda que compartilha a vida com ele é a principal influência em assuntos espirituais e energéticos. Apesar da criação européia e da história de cientista, ela curte muito Yoga, filosofias orientais, respeito pela vida e livros que falem sobre paz de espírito.
Eu adorava sacanear esse lado dele dizendo que a única energia que eu conhecia era a da tomada.
De tanto falarmos em cidades e paisagens, acabamos fazendo a mesma viagem em férias recentes.
Eu bolei o trajeto e ele acabou tornando-o realidade primeiro. Logo depois eu o segui e na volta comparamos nossas impressões. Enquanto eu mostrava as milhares de fotos dos cânions e das serras, ele sonhava com as geléias e os restaurantes que ficaram pelo caminho. Cada um na sua e ambos formando uma boa dupla.
Uma das coisas mais interessantes desta amizade com o Professor é a forma como nos relacionamos. Nos vemos todos os dias no trabalho mas nos encontramos raras vezes fora dele. Pelo que me lembro, todas elas foram divertidas e em quase todas ele chegou e me encontrou mais para lá do que para cá.
De qualquer maneira, acho que podemos medir nossa ligação pela quantidade de risadas que já demos juntos. Grande parte dessas risadas nasce dos mesmos assuntos, sejam eles crianças, cachorros, gente esquisita e chefes parasitas.
Deus foi muito sábio quando não nos colocou no mesmo lugar quando tínhamos menos responsabilidade. A cidade não teria sido a mesma se isso tivesse acontecido.
Eu te celebro, fabricante de lança, e bem ao estilo Vulcano,: vida longa e próspera. E vê se arruma um filho logo. Um daschund não é a mesma coisa.
terça-feira, julho 08, 2003
Fidelidade
Ela era jovem demais para estar casada.
Não que exista algum tipo de regra que diga que uma menina de 21 anos não possa amar alguém e escolher dividir sua vida e sua casa. O ponto é que esse amor não existia. Na verdade, acho que uma das poucas razões para que aquele casal estivesse junto era a gratidão. Pelo que me lembro, ela era grata a ele por tê-la amado.
Eles estavam juntos há uns dois anos, vivendo na mesma casa e curtindo uma relação calma e sem muitas surpresas.
Os problemas começaram quando ela olhou para o outro lado da cerca.
Esse outro cara era mais jovem que o noivo, mais bonito, mais engraçado e mais próximo. Por mais que ela dormisse com um durante todas as noites, as manhãs e tardes que ela passava com o outro (eles trabalhavam juntos) acabavam causando um efeito estranho nela. Não era tesão, não era atração. Era mais parecido com curiosidade. E foi com essa curiosidade que eles foram se aproximando.
Ele começou a ajudá-la a planejar a carreira, a organizar as finanças e a batalhar para entrar na faculdade. Era mais ou menos o que o primogênito faz com a irmã mais nova. O problema é que ela não se sentia como irmã. Ela não estava acostumada com tanta atenção e a danada da pulga foi logo se esconder atrás daquela orelha pequena e delicada.
O noivo era a sua única família mas aparentemente não se preocupava muito em descobrir o que ela precisava fora da cama. Era só sexo e jantares na casa da família dele.
Até aí, nada teria rolado e o tesão que começou a rolar no trabalho não teria rendido nada de mais. Mas ele teve a infeliz idéia de dizer que a achava bonita e interessante e por isso gostava de ser seu amigo.
Era o que ela precisava para esquecer o enorme anel dourado da mão direita e arriscar a sorte. Aí a casa começou a cair.
Não foram precisas mais do que duas idas ao cinema para que o primeiro beijo rolasse e para que ele esquecesse seus antigos pudores. A idéia da infidelidade não o agradava mas a vontade de tê-la fez com que todo o resto fosse mandado para o seu devido lugar.
Depois do beijo, as coisas rolaram como deveriam: eles fizeram amor, pintaram alegrias, ela se arrependeu pela traição e pintou a vontade de oficializar a relação.
Acho que o novo casal estaria junto até hoje se ele não tivesse percebido que havia a vontade de fazer uma substituição no time. Ela queria começar um namoro antes de terminar o outro para não correr o risco de ficar sozinha e isso o incomodou.
Muitos neurônios foram queimados no tema mas ele não conseguia sentir-se seguro de que poderia rolar uma nova substituição depois de algum tempo. Esse temor parece besteira quando um casal se gosta e talvez aí estivesse a resposta para o lance: ele não gostava dela mas sim da idéia de conquistá-la.
Daí para o fim do romance foi um pulo. Na verdade foi uma mudança de setor. Eles deixaram de se ver todos os dias e deixaram de sair. Ela continuou com o noivo como se nada tivesse acontecido.
Ambos acabaram saindo da empresa e perdendo contato. Somente muitos meses depois eles voltaram a se falar e a flertar. Feliz ou infelizmente eles não voltaram a se encontrar: um e-mail antigo azedou o caldo e a amizade.
Parece que acabou sendo melhor assim. Ela seguiu sua vida morna mas estável e ele pôde passar a se preocupar com a sua própria fidelidade. Acho que Ele sabe o que faz.
Ela era jovem demais para estar casada.
Não que exista algum tipo de regra que diga que uma menina de 21 anos não possa amar alguém e escolher dividir sua vida e sua casa. O ponto é que esse amor não existia. Na verdade, acho que uma das poucas razões para que aquele casal estivesse junto era a gratidão. Pelo que me lembro, ela era grata a ele por tê-la amado.
Eles estavam juntos há uns dois anos, vivendo na mesma casa e curtindo uma relação calma e sem muitas surpresas.
Os problemas começaram quando ela olhou para o outro lado da cerca.
Esse outro cara era mais jovem que o noivo, mais bonito, mais engraçado e mais próximo. Por mais que ela dormisse com um durante todas as noites, as manhãs e tardes que ela passava com o outro (eles trabalhavam juntos) acabavam causando um efeito estranho nela. Não era tesão, não era atração. Era mais parecido com curiosidade. E foi com essa curiosidade que eles foram se aproximando.
Ele começou a ajudá-la a planejar a carreira, a organizar as finanças e a batalhar para entrar na faculdade. Era mais ou menos o que o primogênito faz com a irmã mais nova. O problema é que ela não se sentia como irmã. Ela não estava acostumada com tanta atenção e a danada da pulga foi logo se esconder atrás daquela orelha pequena e delicada.
O noivo era a sua única família mas aparentemente não se preocupava muito em descobrir o que ela precisava fora da cama. Era só sexo e jantares na casa da família dele.
Até aí, nada teria rolado e o tesão que começou a rolar no trabalho não teria rendido nada de mais. Mas ele teve a infeliz idéia de dizer que a achava bonita e interessante e por isso gostava de ser seu amigo.
Era o que ela precisava para esquecer o enorme anel dourado da mão direita e arriscar a sorte. Aí a casa começou a cair.
Não foram precisas mais do que duas idas ao cinema para que o primeiro beijo rolasse e para que ele esquecesse seus antigos pudores. A idéia da infidelidade não o agradava mas a vontade de tê-la fez com que todo o resto fosse mandado para o seu devido lugar.
Depois do beijo, as coisas rolaram como deveriam: eles fizeram amor, pintaram alegrias, ela se arrependeu pela traição e pintou a vontade de oficializar a relação.
Acho que o novo casal estaria junto até hoje se ele não tivesse percebido que havia a vontade de fazer uma substituição no time. Ela queria começar um namoro antes de terminar o outro para não correr o risco de ficar sozinha e isso o incomodou.
Muitos neurônios foram queimados no tema mas ele não conseguia sentir-se seguro de que poderia rolar uma nova substituição depois de algum tempo. Esse temor parece besteira quando um casal se gosta e talvez aí estivesse a resposta para o lance: ele não gostava dela mas sim da idéia de conquistá-la.
Daí para o fim do romance foi um pulo. Na verdade foi uma mudança de setor. Eles deixaram de se ver todos os dias e deixaram de sair. Ela continuou com o noivo como se nada tivesse acontecido.
Ambos acabaram saindo da empresa e perdendo contato. Somente muitos meses depois eles voltaram a se falar e a flertar. Feliz ou infelizmente eles não voltaram a se encontrar: um e-mail antigo azedou o caldo e a amizade.
Parece que acabou sendo melhor assim. Ela seguiu sua vida morna mas estável e ele pôde passar a se preocupar com a sua própria fidelidade. Acho que Ele sabe o que faz.
segunda-feira, julho 07, 2003
A Diretoria - Parte 3
Era inegável o sucesso que o sorriso dele fazia onde quer que ele fosse.
Era inquestionável também a vantagem que todo o resto do grupo levava por estar junto dele: invariavelmente era necessário um suporte para entreter (pequenos ou grandes) grupos.
Assim era conviver com aquele a quem coube a alcunha de "diretor de relações humanas".
A destruição de corações começou em 98. Que dizer, eu fiquei sabendo dela nesse ano, mas o Presidente já o conhecia de outros carnavais.
Ele havia terminado um noivado de forma bastante traumática. Foi preciso dar um destino ao apartamento e às coisas do casal que já haviam sido compradas e acomodadas. Exagerando um pouco, ele demorou alguns anos e um par de relacionamentos para se levantar novamente.
Aos poucos ele voltou a usar a sua arma mortal e a fazer estragos por onde passava. Me lembro que sempre achei que aquele sorriso tinha um quê de smirk. Pelo que entendo dessa palavra esdrúxula, ela tem a ver com sorrisos meio falsos, soltados intencionalmente para agradar alguém. É algo como o que o Dennis Quaid costuma fazer nos seus filmes. Sabe aquele sorrisão que consegue abrir qualquer porta?
Pois esse era o jeito de ser desse Diretor.
É curioso que com todo esse charme e presença ele tenha contado com a minha ajuda para abordar a menina que seria a sua companheira durante um bom par de meses. Esse será o tema de outra estória, mas fica o toque de que a perfeição não existe.
Mas algo aconteceu entre o momento em que o conheci e os últimos tempos. Algo fez com que a luz perdesse boa parte do seu brilho. Algo faltou na vida do cara que todos admirávamos por conseguir ser o centro das atenções em quase todos os ambientes que frequentava, da piscina às mesas do La Villette.
Tenho várias indicações e algumas suspeitas a respeito das razões, dos motivos, dos tombos. Pena que nenhum deles têm a ver com mulheres. Acho que nisso a gente teria como ajudá-lo.
Nos resta torcer pela retomada da alegria, pelo abandono do comodismo, pela volta do smirk.
Acho que a cidade inteira teria muito a nos agradecer.
Era inegável o sucesso que o sorriso dele fazia onde quer que ele fosse.
Era inquestionável também a vantagem que todo o resto do grupo levava por estar junto dele: invariavelmente era necessário um suporte para entreter (pequenos ou grandes) grupos.
Assim era conviver com aquele a quem coube a alcunha de "diretor de relações humanas".
A destruição de corações começou em 98. Que dizer, eu fiquei sabendo dela nesse ano, mas o Presidente já o conhecia de outros carnavais.
Ele havia terminado um noivado de forma bastante traumática. Foi preciso dar um destino ao apartamento e às coisas do casal que já haviam sido compradas e acomodadas. Exagerando um pouco, ele demorou alguns anos e um par de relacionamentos para se levantar novamente.
Aos poucos ele voltou a usar a sua arma mortal e a fazer estragos por onde passava. Me lembro que sempre achei que aquele sorriso tinha um quê de smirk. Pelo que entendo dessa palavra esdrúxula, ela tem a ver com sorrisos meio falsos, soltados intencionalmente para agradar alguém. É algo como o que o Dennis Quaid costuma fazer nos seus filmes. Sabe aquele sorrisão que consegue abrir qualquer porta?
Pois esse era o jeito de ser desse Diretor.
É curioso que com todo esse charme e presença ele tenha contado com a minha ajuda para abordar a menina que seria a sua companheira durante um bom par de meses. Esse será o tema de outra estória, mas fica o toque de que a perfeição não existe.
Mas algo aconteceu entre o momento em que o conheci e os últimos tempos. Algo fez com que a luz perdesse boa parte do seu brilho. Algo faltou na vida do cara que todos admirávamos por conseguir ser o centro das atenções em quase todos os ambientes que frequentava, da piscina às mesas do La Villette.
Tenho várias indicações e algumas suspeitas a respeito das razões, dos motivos, dos tombos. Pena que nenhum deles têm a ver com mulheres. Acho que nisso a gente teria como ajudá-lo.
Nos resta torcer pela retomada da alegria, pelo abandono do comodismo, pela volta do smirk.
Acho que a cidade inteira teria muito a nos agradecer.
quinta-feira, julho 03, 2003
Impressões - Parte 1
Depois te ter lembrado a estória daquela Romana que quase foi minha, fiquei com vontade de lembrar de outros detalhes do tempo que passei na Europa.
A vontade de sumir não surgiu de forma isolada, mas foi a soma das inseguranças de duas pessoas. As duas criaturas no caso éramos eu e meu melhor amigo. Nós dois tínhamos vontade de estudar fora mas ambos sofriamos com o medo de largar a pseudo-segurança do primeiro emprego pós-formatura. Foi esse primeiro emprego, aliás, que nos juntou e foi juntos que o abandonamos.
Pelo que me lembro, não se passaram mais do que 20 dias entre a demissão e o embarque. Acho que tínhamos pressa.
Londres nos recebeu em trajes de gala: o céu estava cinza e chovia fino. Contamos com uma boa dose de compreensão por parte do pessoal da imigração. Só pode ter sido pena dos dois mambembes.
Depois de muito suar em telefonemas com sotaques incompreensíveis e em táxis com preços extorsivos, conseguimos chegar até a estação de Boston Manor. Para quem conhece Londres, a tal estação fica na Zona 4. Para quem não conhece, basta imaginar um lugar distante cerca de 40 minutos (de metrõ) do Centro.
Não precisamos esperar mais do que cinco minutos até que nosso socorro aparecesse: ela se chamava Sandra, era solteira, já havia viajado por boa parte deste mundo e ganhava parte do seu sustento recebendo estudantes de passagem por Londres.
Fisicamente ela era uma Maggie Smith mais compactada, mas o sotaque...
O início da convivência com a Sandra (o nome soou uma perseguição do destino) trouxe o segundo choque do dia: ela me ofereceu um chá e, por estar acostumado com a bebida, aceitei de bom grado. Não me lembro se foi terror ou nojo o que senti quando a vi enchendo o copo de chá com leite frio, mas é certo que meus olhos quase saltaram pra dentro do copo. A última supresa da noite foi que acabei gostando da mistura e trouxe o hábito de volta para casa.
Acho que esqueci de mencionar o primeiro choque na minha relação com Londres: as mensagens nos altos falantes dos vagões do Metrô.
Me lembro como se fosse ontem do comentário que fiz para o meu amigo: "em que língua eles estão falando?"
Depois te ter lembrado a estória daquela Romana que quase foi minha, fiquei com vontade de lembrar de outros detalhes do tempo que passei na Europa.
A vontade de sumir não surgiu de forma isolada, mas foi a soma das inseguranças de duas pessoas. As duas criaturas no caso éramos eu e meu melhor amigo. Nós dois tínhamos vontade de estudar fora mas ambos sofriamos com o medo de largar a pseudo-segurança do primeiro emprego pós-formatura. Foi esse primeiro emprego, aliás, que nos juntou e foi juntos que o abandonamos.
Pelo que me lembro, não se passaram mais do que 20 dias entre a demissão e o embarque. Acho que tínhamos pressa.
Londres nos recebeu em trajes de gala: o céu estava cinza e chovia fino. Contamos com uma boa dose de compreensão por parte do pessoal da imigração. Só pode ter sido pena dos dois mambembes.
Depois de muito suar em telefonemas com sotaques incompreensíveis e em táxis com preços extorsivos, conseguimos chegar até a estação de Boston Manor. Para quem conhece Londres, a tal estação fica na Zona 4. Para quem não conhece, basta imaginar um lugar distante cerca de 40 minutos (de metrõ) do Centro.
Não precisamos esperar mais do que cinco minutos até que nosso socorro aparecesse: ela se chamava Sandra, era solteira, já havia viajado por boa parte deste mundo e ganhava parte do seu sustento recebendo estudantes de passagem por Londres.
Fisicamente ela era uma Maggie Smith mais compactada, mas o sotaque...
O início da convivência com a Sandra (o nome soou uma perseguição do destino) trouxe o segundo choque do dia: ela me ofereceu um chá e, por estar acostumado com a bebida, aceitei de bom grado. Não me lembro se foi terror ou nojo o que senti quando a vi enchendo o copo de chá com leite frio, mas é certo que meus olhos quase saltaram pra dentro do copo. A última supresa da noite foi que acabei gostando da mistura e trouxe o hábito de volta para casa.
Acho que esqueci de mencionar o primeiro choque na minha relação com Londres: as mensagens nos altos falantes dos vagões do Metrô.
Me lembro como se fosse ontem do comentário que fiz para o meu amigo: "em que língua eles estão falando?"
quarta-feira, julho 02, 2003
Amor italiano
Era Agosto de 94.
Londres estava vivendo um começo de Outono relativamente quente e o marrom-amarelado das folhas ainda não havia dominado as ruas. O onipresente vento gelado do começo da noite já marcava presença tornando quase que obrigatório o uso de casacos compridos abaixo do joelho.
Eu estava na Europa para estudar. Não sabia que iria acabar abrindo a minha visão de mundo. Não tinha idéia de que iria me apaixonar.
Ela era italiana de Roma e tinha cabelos muito lisos e pretos. Não tinha uma beleza perfeita. Seu perfil era nitidamente romano, mas aqueles olhos pretos detonavam qualquer intenção de crítica ou vontade de consertar algo.
É certo que a leve maquiagem que ela sempre exibia ajudava muito a curtir a sua aparência, mas era mais do que óbvio que havia algo mais ali para que ela causasse aquele efeito na minha cabeça. Ela tinha aquele algo mais que a gente não consegue explicar. Ela era o tal algo mais.
A idéia de um romance com uma deusa européia me fazia vibrar e ao mesmo tempo me deixava muito inseguro.
Só depois de muito divagar e me deliciar com as possibilidades é que eu caí na real e me lembrei de um pequeno empecilho para a concretização desse conto de fadas. Na verdade o empecilho não era nada pequeno e estava bem longe das ilhas britânicas: a minha namorada de quase 3 anos estava me esperando no Brasil.
Fiquei meio baratinado com a situação. Eu não sabia se escolhia a infidelidade ou o sonho. Não me sentia culpado por ter me encantado pela italiana mas ainda assim não conseguia me decidir a cair de cabeça naquela relação que tinha tudo para tão fugaz quanto recompensadora.
Era muito curioso, para não dizer estranho, vê-la me procurando nas festas enquanto eu curtia com meus amigos. Parecia que eu estava fugindo dela. Mesmo quando dançávamos de forma bastante sensual e cúmplice, eu não a olhava nos olhos e fingia que não era comigo. Meus amigos iam à loucura mas eu não conseguia fazer nada diferente.
Passei várias noites remoendo isso na cabeça até que tomei uma decisão. Para ser bem sincero, a decisão foi tomada por mim: ela também tinha namorado na Itália e quando resolvi esquecer os pudores e tentar a sorte, meu tempo já havia passado.
Ela havia nos dado a chance de esquecer tudo e todos fora de Londres e eu havia ficado perdido nas minhas dúvidas e divagações. Demorei demais para retribuir os gestos de carinho e os olhares de convite. Quando me decidi, ela me mostrou que era tarde demais.
Nossa despedida foi esquisita: ela estava entrando em um ônibus para voltar para a casa onde morava com duas meninas brasileiras. O avião para a Itália saía no dia seguinte e não havia mais tempo para nada. Ainda assim consegui me despedir. Foi apenas por telefone, mas eu tinha que fazer isso.
Voltei para o Brasil cerca de um mês depois. Meu namoro terminou três meses depois. Não terminei por causa dela mas certamente ainda pensei muito naquela ragazza durante os meses que vieram. Até italiano eu fui estudar por causa dela.
Hoje eu me lembro com muito carinho de tudo o que rolou naquele mês: as danças, o flerte, os sorrisos, o carinho e a despedida.
Tem uma página da minha vida que está escrita em italiano.
Era Agosto de 94.
Londres estava vivendo um começo de Outono relativamente quente e o marrom-amarelado das folhas ainda não havia dominado as ruas. O onipresente vento gelado do começo da noite já marcava presença tornando quase que obrigatório o uso de casacos compridos abaixo do joelho.
Eu estava na Europa para estudar. Não sabia que iria acabar abrindo a minha visão de mundo. Não tinha idéia de que iria me apaixonar.
Ela era italiana de Roma e tinha cabelos muito lisos e pretos. Não tinha uma beleza perfeita. Seu perfil era nitidamente romano, mas aqueles olhos pretos detonavam qualquer intenção de crítica ou vontade de consertar algo.
É certo que a leve maquiagem que ela sempre exibia ajudava muito a curtir a sua aparência, mas era mais do que óbvio que havia algo mais ali para que ela causasse aquele efeito na minha cabeça. Ela tinha aquele algo mais que a gente não consegue explicar. Ela era o tal algo mais.
A idéia de um romance com uma deusa européia me fazia vibrar e ao mesmo tempo me deixava muito inseguro.
Só depois de muito divagar e me deliciar com as possibilidades é que eu caí na real e me lembrei de um pequeno empecilho para a concretização desse conto de fadas. Na verdade o empecilho não era nada pequeno e estava bem longe das ilhas britânicas: a minha namorada de quase 3 anos estava me esperando no Brasil.
Fiquei meio baratinado com a situação. Eu não sabia se escolhia a infidelidade ou o sonho. Não me sentia culpado por ter me encantado pela italiana mas ainda assim não conseguia me decidir a cair de cabeça naquela relação que tinha tudo para tão fugaz quanto recompensadora.
Era muito curioso, para não dizer estranho, vê-la me procurando nas festas enquanto eu curtia com meus amigos. Parecia que eu estava fugindo dela. Mesmo quando dançávamos de forma bastante sensual e cúmplice, eu não a olhava nos olhos e fingia que não era comigo. Meus amigos iam à loucura mas eu não conseguia fazer nada diferente.
Passei várias noites remoendo isso na cabeça até que tomei uma decisão. Para ser bem sincero, a decisão foi tomada por mim: ela também tinha namorado na Itália e quando resolvi esquecer os pudores e tentar a sorte, meu tempo já havia passado.
Ela havia nos dado a chance de esquecer tudo e todos fora de Londres e eu havia ficado perdido nas minhas dúvidas e divagações. Demorei demais para retribuir os gestos de carinho e os olhares de convite. Quando me decidi, ela me mostrou que era tarde demais.
Nossa despedida foi esquisita: ela estava entrando em um ônibus para voltar para a casa onde morava com duas meninas brasileiras. O avião para a Itália saía no dia seguinte e não havia mais tempo para nada. Ainda assim consegui me despedir. Foi apenas por telefone, mas eu tinha que fazer isso.
Voltei para o Brasil cerca de um mês depois. Meu namoro terminou três meses depois. Não terminei por causa dela mas certamente ainda pensei muito naquela ragazza durante os meses que vieram. Até italiano eu fui estudar por causa dela.
Hoje eu me lembro com muito carinho de tudo o que rolou naquele mês: as danças, o flerte, os sorrisos, o carinho e a despedida.
Tem uma página da minha vida que está escrita em italiano.
terça-feira, julho 01, 2003
A melhor amiga
A gente fazia muita coisa juntos. Íamos ao cinema, comíamos pizza, frequentávamos bares, viajávamos para as cavernas do sul do estado, badalávamos em festas e compartilhávamos amigos. Mesmo que a gente quase nunca estivesse sozinho, éramos muito próximos.
Foi até natural que surgisse uma atração. Ao menos na minha parte, esse processo foi muito natural. Eu já a achava interessante quando me tornei seu amigo. Virar seu melhor amigo foi fatal.
Todo mundo achava que a gente tinha alguma coisa. Chegaram a apostar entre eles que a gente namorava escondido. Pena que foram apenas suposições e aparências. Pena que a gente deixou que fosse apenas uma forte e carinhosa amizade. Pena que ela ainda sofresse da "síndrome do relacionamento seguinte".
Por três vezes eu tentei transformar a dupla em casal. Por três vezes ela disse que me adorava, mas como amigo. Por três vezes ela me amassou, jogou na parede e chamou de lagartixa. Tudo sem querer, claro.
Em todas essas vezes eu senti um impulso de roubar um beijo e realizar um sonho. Talvez devesse ter feito isso. Talvez devesse ter satisfeito meu desejo carnal e não preservado tanto o respeito que tinha por ela. Teria sido mais bruto porém muito mais gostoso.
Meu lado bom moço preferiu preservá-la como um ideal, não tocá-la, não profaná-la. Não sei se foi melhor assim, mas definitivamente foi assim.
Ela ainda faz parte da minha vida, como amiga e como dentista. Acho que isso nunca vai mudar.
Felizmente outras coisas mudam e eu posso ficar em paz. Ainda bem que ela não mais me assombra. Seria triste associar esse tipo de idéia àquele sorriso que sempre me deixa feliz.
A gente fazia muita coisa juntos. Íamos ao cinema, comíamos pizza, frequentávamos bares, viajávamos para as cavernas do sul do estado, badalávamos em festas e compartilhávamos amigos. Mesmo que a gente quase nunca estivesse sozinho, éramos muito próximos.
Foi até natural que surgisse uma atração. Ao menos na minha parte, esse processo foi muito natural. Eu já a achava interessante quando me tornei seu amigo. Virar seu melhor amigo foi fatal.
Todo mundo achava que a gente tinha alguma coisa. Chegaram a apostar entre eles que a gente namorava escondido. Pena que foram apenas suposições e aparências. Pena que a gente deixou que fosse apenas uma forte e carinhosa amizade. Pena que ela ainda sofresse da "síndrome do relacionamento seguinte".
Por três vezes eu tentei transformar a dupla em casal. Por três vezes ela disse que me adorava, mas como amigo. Por três vezes ela me amassou, jogou na parede e chamou de lagartixa. Tudo sem querer, claro.
Em todas essas vezes eu senti um impulso de roubar um beijo e realizar um sonho. Talvez devesse ter feito isso. Talvez devesse ter satisfeito meu desejo carnal e não preservado tanto o respeito que tinha por ela. Teria sido mais bruto porém muito mais gostoso.
Meu lado bom moço preferiu preservá-la como um ideal, não tocá-la, não profaná-la. Não sei se foi melhor assim, mas definitivamente foi assim.
Ela ainda faz parte da minha vida, como amiga e como dentista. Acho que isso nunca vai mudar.
Felizmente outras coisas mudam e eu posso ficar em paz. Ainda bem que ela não mais me assombra. Seria triste associar esse tipo de idéia àquele sorriso que sempre me deixa feliz.
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