Força
Uma das poucas razões que tenho para ficar morgando em frente à TV têm sido as meninas do “Sex and the city”. Assisti somente uns poucos capítulos, mas já virei um apreciador da narração em off da Sarah Jessica Parker contando as aventuras e desventuras dela e do grupo de amigas.
Posso estar sendo bastante raso na minha visão, mas acredito que a idéia seja caracterizar quatro personagens bastante diferentes e frágeis em algum aspecto.
Me lembro que existe a devoradora de homens que busca no sexo a realização daquilo que ela não conseguiu com o amor. Parece que ela desistiu de tentar encontrar algo mais “completo” e se contentou com uma coisa sabidamente recompensadora.
Outra das amigas da Sarah é uma trabalhadora fanática que parece também buscar uma espécie de compensação. Essa é a menos atraente de todas e talvez por isso use o trabalho como escudo e desculpa para tudo. É mais ou menos como quando muitos de nós dizem que estão sem tempo de fazer alguma coisa quando na realidade não conseguimos ou não temos prioridade para fazer essa coisa. Eu mesmo faço muito isso e nunca “tenho tempo”.
A terceira é a perfeita “mulher para casar”.
Tudo nela está no lugar, do broche de lapela que combina com o cinto que combina com qualquer outra coisa que se possa vestir à lingerie da Victoria Secret que serve (também) para mostrar que o sucesso e o dinheiro fazem parte do pacote “perfeito”.
De tão perfeccionista e certinha aquela mulher acaba sendo chato. Nada pode estar fora do lugar e até o sexo deve ter sua etiqueta respeitada de forma religiosa.
Me parece que isso acaba com toda a graça do inesperado dentro do relacionamento. Não há muito espaço para improvisar, para temperar, para surpreender.
E quando a surpresa deixa de fazer parte do relacionamento, basta contar os dias até o seu fim.
Por fim vem a própria Sarah.
Queria ter visto mais episódios para não ser tão raso no comentário, mas vejo que ela é o centro gravitacional do grupo. Todas circulam em torno dela e com isso fornecem experiências para as estórias que ela escreve. É mais ou menos como o que eu faço, só que ela tem talento e mora em Nova Iorque.
No último episódio que vi, ela estava enfrentando problema para lidar com o namorado que havia se mudado para a sua casa. Os problemas vinham da briga entre a independência que ela sempre gostou de ter e da vontade de ter o cara amado ali bem juntinho dela.
Entre idas e vindas, eles brigaram por que ele tentava ajudá-la com um problema no computador e com a tristeza da morte da mãe da amiga trabalhadora.
Ela não queria ser ajudada para não passar a precisar dessa ajuda em outra ocasião. Era uma briga para manter a independência em tudo, para manter o controle da situação.
Como conseqüência da briga, o cara devolveu a chave do apartamento e a deixou livre para fazer as coisas do jeito dela. Ele disse que não iria interferir nas decisões dela.
Na minha opinião, não é preciso ser auto-suficiente para ser feliz. É perfeitamente possível que se dividam até as necessidades com o parceiro e que a própria presença dele passe a ser uma necessidade.
Não é preciso fazer tudo sozinho só para não correr o risco de sofrer caso o parceiro falte por alguma razão. Não é errado precisar de alguém e até depender um pouco dessa pessoa.
Não é errado precisar da força de alguém em momentos de fraqueza ou baixo astral.
Voltando ao episódio, a Sarah e as amigas foram ao tal enterro e passaram a fazer as tradicionais descobertas de cada dia.
Uma das melhores foi a da Sarah ao ver o namorado (aquele que tinha devolvido a chave) lá nos fundos da igreja, dando a tradicional força, mesmo que ela tenha afirmado não precisar e nem soubesse que ele estaria lá.
O importante é que ele estava , ela o viu, gostou disso e resolveu arriscar.
No final, eles aparecem juntos de novo e ela resolve escrever sobre os benefícios da vontade de mudar.
Tenho a impressão de que ela estava aprendendo a curtir a idéia de trocar dependências com quem se ama.
Parece também que ela estava gostando muito disso.
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