quarta-feira, setembro 10, 2003

Desgosto por mudanças

Outro dia uma amiga jogou tarô para mim.
Antes que algum engraçadinho venha com brincadeiras infames, vale a pena dizer que isso não tem nada a ver com arremesso de objetos de qualquer natureza.
O que ela fez foi me pedir para escolher três cartas que me pareciam as mais agradáveis e outras três que me incomodavam de forma especial. Não me lembro bem quantas cartas havia no total, mas posso garantir que não houve muito tempo para fazer algo além de olhar as figuras.

Nas cartas que me agradavam não houve muita novidade: ela me disse que eu era um cara que apreciava muito a companhia da família e de amigos, que não me deixava abater (muito) pelos contratempos da vida e que era muito focado no bom resultado, sem deixar as dificuldades diminuírem meu entusiasmo.
Isso é mais ou menos como me sinto atualmente e por isso a interpretação me pareceu muito correta.
O caldo entornou quando ela falou sobre as cartas ruins.
Nelas estava “escrito” que eu detesto mudanças, detesto abandonar o conforto de uma situação para me arriscar em outra e me sinto muito preso a coisas que não demandem muita coragem para serem encaradas. Em poucas palavras: sou um quase bundão.

Apesar de não ficado exatamente feliz com o que ouvi, não pude deixar de concordar com algumas coisas.
Eu realmente não gosto de mudar meu jeito confortável de ser e viver. Fico incomodado quando percebo que aquele não é o melhor jeito de fazer alguma coisa e até irritado quando essa percepção vem de outra pessoa. Tenho a tendência de achar que tenho boas justificativas internas para fazer as coisas ou para agir de certa maneira e por isso não vejo razão para mudar.
Nem com relacionamentos falidos eu consigo agir diferente: sempre são elas que me chutam!!

Infelizmente para o meu ego, essa atitude tende a ser incorreta, quando não suicida.
Não há como se dar bem na vida sem mudar algumas vezes com o passar do tempo. Não existe ninguém perfeito – a não ser o futebol do Zidane – e quem não se adapta tende a sofrer “praca".

Quis falar um pouco de mudança por que acabei de passar por uma: depois de muitos anos morando em casas alugadas (duas), finalmente conseguimos um canto só nosso para jogar as tralhas e colocar a nossa cara em cada rejunte de azulejo.
Este lugar é nosso, mas viver bem com isso vai demandar muita mudança em todos nós.
Já comecei meu doloroso processo mental de convencimento e finalmente decidi me livrar de coisas que venho “colecionando” há muitos anos. Não é nada fácil ver tanta coisa que conta uma parte da minha vida indo embora, mas não posso ir contra o princípio físico: ou ficam as coisas ou fico eu.
Como ainda não decidi abandonar o mundo mundano e abraçar alguma causa eremita ou espiritual, resolvi organizar minhas tranqueiras e tentar tirar algum benefício da faxina geral.

Essa faxina vai ser mais ou menos como a limpeza sentimental que fiz há alguns anos.
Foi muito duro eliminar os telefones que me traziam conforto e companhia, mas tive que fazer isso para me exorcizar e me renovar.
Não gostei, mas tive que fazer. Foi mais por sobrevivência do que por vontade.

Voltando ao tarot...
Apesar de confiar na pessoa que interpretou as cartas, acho que ela acabou usando um pouco o que sabia de mim para dar o veredito. Não deve ser tão difícil perceber que mudanças me incomodam e que luto para sair do meu conforto.

Talvez essa seja a maior mudança a ser feita.

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