Cara de sono
A gente se encontrou pela primeira vez em uma casa alugada na paradisíaca Bombinhas.
Antes de falar da nossa “primeira vez”, vale a pena dizer que no final de 96, a região de Bombas era povoada quase que só por “catarinos”, “curitibocas” e outros tipos de paranaenses. Ainda não dava para saber que a paulistada baixaria em peso, com seus carros rebaixados, pranchas zeradas e apetite só matado por beijos com o sotaque cantado do litoral.
Ela estava com mais duas amigas na casa: a ex-namorada (e futura esposa) de um grande amigo e uma loira maravilhosa que trabalhava na TV e que assombrou meus sonhos durante um bom tempo.
Na verdade, a loira ainda não havia chegado quando invadimos a casa às 9 da manhã.
Por mais horrendo que possa parecer, tínhamos um ótimo motivo para o desespero: o lugar onde iríamos ficar ainda não estava liberado e teríamos que voltar a Blumenau se não contássemos com a caridade daquelas moças sonadas e simpáticas.
Até hoje me lembro do inchaço dos olhos daquela estudante de direito. Ela é do tipo que paga para não sair da cama e a nossa chegada havia soado quase como um sacrilégio.
Ela se esforçou muito para ser simpática com aqueles malas e graças a Deus conseguiu com louvor.
Apesar do início traumático, aquele Reveillon se transformou em um dos melhores da minha - até agora – breve passagem por esta bolinha de terra e porcarias.
Enquanto estivemos hospedados com elas curtimos cozinhas coletivas (as toneladas de camarão no bafo foram inesquecíveis), degustação de fermentados (secamos inúmeras latas de cevada), conversas sobre relacionamentos (excetuando o ex e futuro casal, nada aconteceu entre os demais convivas) e muitas noites de felicidade e relaxamento.
A noite da virada rolou na casa onde ficamos depois as deixamos. Seguramente as três eram as mais bonitas da noite e só a minha tradicional lerdeza hormonal pode explicar por que não me aproximei de nenhuma delas.
Como já me foi bem peculiar, eu fiquei fazendo o papel de amiguinho e de alegria da festa e deixei que outros, muito mais espertos, colhessem os frutos dos fartos sorrisos femininos que despertei.
Mas não tem nada. Afinal de contas, alguém tem que trabalhar neste país, né?
Só não entendi por que tinha que ser justo eu!!
Depois daquele Reveillon a gente construiu uma amizade muito próxima, apesar da existência da Régis Bittencourt (ou BR116, para o resto do país) nos impedindo de tomar uns chopes no sábado à tarde e pegar um cineminha no domingo à noite.
Foram dezenas de cartas trocadas, fotos mandadas e telefonemas prometidos. Nem mesmo a temporada espanhola fez com que a gente sumisse da vida do outro.
Acho que a gente criou uma relação de carinho quase sanguíneo. Não era tão próxima para que a gente se tratasse como irmãos, mas era especial de alguma maneira.
Acho que poderíamos nos considerar primos por afinidade. Primos de sangue, já que nenhum de nós é amador!!
Recentemente fiquei sabendo que ela abandonou a capital ecológica para tentar a sorte no Brasil Central. Apesar do delay das notícias, fiquei muito feliz com as novidades e já fiz meus apelos aos meus representantes na comissão técnica do céu.
Espero que tudo dê muito certo para essa moça de sotaque cantado, jeito de ser marcante e sorriso de criança.
E espero também que algum tipo de monção a traga para estas bandas para que eu possa matar a saudade de abraços e poder curtir de novo aquele bom humor que não fica nada a dever aos ingleses.
“BeiJus mil pra vc!!”
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