Injustiça – Parte 2
Foi preciso uma “armação” dos recém-casados para que algo acontecesse.
Ele pouco se lembrava do que tinha visto no casamento, mas a reconheceu no mesmo instante em que a viu entrando no salão daquele bar da Zona Oeste. Ela estava menos arrumada e talvez por isso ele tenha prestado ainda mais atenção aos detalhes.
Seu sorriso era mesmo aberto e suas mãos não paravam de se mexer.
Apesar esforços em descobrir assuntos para explorar, ela demonstrou uma deliciosa timidez e preferiu conversar mais com a parte feminina do casal.
Na hora de ir embora, o destino fez das suas: estava garoando e os carros de ambos estavam no mesmo lugar. Como bom cavalheiro que era, ele ofereceu seu guarda-chuva e ela chegou mais perto dele. Não era um proximidade que permitisse o roubo de um beijo, mas já era um avanço.
No estacionamento ele pediu os dois carros e também o telefone dela, que sorriu e soletrou uma quantidade enorme de números.
Ele anotou tudo direitinho, a colocou no carro, entrou no seu e a seguiu por algumas quadras.
No momento em que iam se separar, ela desferiu o golpe mortal: soltou um “me liga” e jogou um beijo para o ar. Por pouco esse beijo não causa uma batida, mas ainda não era a hora para acidentes na vida daqueles dois.
Ele ligou, fez o convite e ela aceitou.
Acho que eles foram ao cinema, a uma lanchonete, ele a levou para casa e roubou um beijo.
Ela parecia uma colegial saindo do carro e ele ficou com a idéia de que havia pisado na bola.
As ligações dos dias seguintes mostraram que não e a oficialização do namoro foi a prova definitiva de que aquela italiana de pele bronzeada fazia a cabeça do ex-guerreiro.
Eles tinham que conviver com algumas limitações impostas pela família dela, mas não era nada que algumas mentirinhas brancas não pudessem resolver. A primeira transa rolou exatamente em uma dessas viagens “fictícias”. Foi uma transa boa, esperada, cuidadosa e muito curtida por ambos. Acabou durando quase um dia inteiro tal foi o relaxamento que eles sentiram.
Não se tratava de sexo animal, vulcânico ou violento. Era algo mais parecido com gestos de carinho e de prazer a temperaturas medianas.
Tudo parecia estar indo bem até que ele começou a se atrapalhar para conciliar o namoro com os amigos.
Parece coisa de criança, mas ela não conseguia se decidir quando os amigos e a namorada o chamavam para fazer alguma coisa.
Mais de uma vez ele saiu mais cedo de um evento da família dela para encontrar os amigos e fazer um programa que eles sempre faziam naquele dia e horário.
Isso começou a cansá-la e a minar a vontade de estar com ele.
Ouvir que ele não sabia o que fazer com ela foi a gota d´água para que ele percebesse que o encanto inicial havia ido embora e que o resultado daquilo só poderia ser sofrimento para ambos.
Como bom covarde que era, ele segurou o relacionamento até que ela tomou coragem e disse que já não podia mais continuar.
Foi jogo sujo. Ele estava tão infeliz quanto ela, mas preferiu não levar a fama pelo rompimento. Era mais fácil assim e ele apreciava coisas fáceis.
Para ele, o pior foi encarar o casal de amigos depois de ter deixado o namoro terminar.
Foi injusto o que ele fez com ela. Foi injusto tê-la tirado do seu sossego se ele não estava preparado para viver longe dos amigos. Foi injusto tê-la obrigado a terminar e não aceitar quando ele tentou reatar. Foi injusto ter usado algumas palavras doces quando o mais adequado teria sido sumir de uma vez. Foi injusto aquele namoro.
Felizmente ela já se recuperou e deve estar prestes a se casar com um cara que estava mais preparado para viver a estória que ela tinha para oferecer.
Ele. Acho que colocou a cabeça no lugar, definiu o que quer e o que não quer para a sua vidinha e aprendeu a conviver com namoradas e amigos.
Agora ele coloca os relacionamentos no seu devido lugar e às vezes isso é bem à frente dos amigos. Bom saber que eles entendem, aprovam e praticam isso.
Assim fica muito mais justo para todos.
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