segunda-feira, setembro 22, 2003

A perda da alegria

Ele costumava ser a alegria das festas e de praticamente qualquer lugar público que freqüentava. Parecia mágica o poder que ele tinha de animar as pessoas que encontrava e de incentivar todos a esquecerem um poucos as travas “de adulto”, de baixarem a guarda e deixarem o bom humor fluir sem a preocupação de estar fazendo ridículo ou “desimpressionando” aquela gatinha ou aquele deus grego.
Quando ele estava por perto todos tinham a mesma idade. E nunca isso passava dos quinze.

Foi assim que os grandes amigos se acostumaram a vê-lo e era com isso que eles contavam quando se aproximavam de algum grupo de meninas onde havia ao menos um ponto de interesse: bastava que ele chegasse perto das meninas e falasse meia dúzia de besteiras para que os sorrisos brotassem abertos como girassóis e para que guarda fosse abaixada.
Era até covardia a facilidade com que eles se aproximavam das meninas e conseguiam ao menos em parte os seus objetivos.

Essa fase do bom humor extremo durou uma boa centena de beijos para os amigos, mas algo aconteceu e a fonte secou.
O sorriso dele foi diminuindo aos poucos até sumir por completo. O “pianinho estilo Coringa” que ele exibia naturalmente deu lugar a uma risada meio amarelada e de canto de boca.
Um amigo meu diria que ele passou a rir de “esgueio” e com isso o encanto se quebrou.
Ele não mais era a “arma secreta” dos amigos, a alegria das meninas e o centro das atenções.
As luzes pararam de procurá-lo e com isso ele se encondeu ainda mais.
Parece que até o clima esfriava quando ele se aproximava.
De presença obrigatória ele passou a “qual o nome dele mesmo?”.

Conversando longamente com ele, descobri algumas pistas para o entristecimento gradativo.
Ele havia se acostumado a ser a garantia de alegria e a fonte de energização dos amigos e parece que isso começou a consumir mais do que ele podia dar.
Era mais ou menos como uma fonte radiante que começa a secar e definhar com o uso constante.
De tanto ajudar os amigos e o ambiente, ele começou a precisar de ajuda, de energia e de luz.
Seus próprios problemas passaram a consumi-lo e ele não conseguia mudar de comportamento e pedir ajuda.
Só o que se via era um cara que já tinha sido alegre e que hoje era meio down e deprê.

Ele realmente precisou voltar para a toca para lamber as feridas e reencontrar motivos para sorrir.
Uma das saídas encontradas foi admitir o problema, ter consciência de que ele já havia vivido tempos melhores e sentir vontade sincera de retomar o que era bom.
Ele até que tentou buscar alguém que pudesse oferecer o ombro, mas os amigos eram mais dependentes dele do que se gostaria e a resposta foi encontrada dentro do seu próprio espírito.
Passando a controlar melhor o fluxo de energia destinada aos amigos, ele reservou um pouco para si, para alimentar o sorriso e para reencontrar a alegria.
Novamente a mágica foi sendo encontrada, mas desta vez havia um pouco mais de consciência e controle.

Hoje em dia ele voltou a sorrir de forma fácil, a matar de rir as pessoas que compartilham alguns momentos com o seu grupo e a se posicionar como ponto de força para qualquer grande amigo que precise.
Ele voltou a sorrir por que está feliz e isso deve ter muito a ver com as coisas do coração.
Vale a pena dizer que uma das maiores razões da sua recuperação foi o sorriso aparentemente “classe 3” de uma dentista loira.
A força da dona daquele cabelo “chapinha” foi o que ele precisava para voltar a subir.

Do jeito que vai, ele vai acabar na estratosfera de tão feliz e energizado.
Espero continuar por perto para assistir a sua felicidade e aproveitar a volta da alegria.
E tenho certeza de que não sou o único com essa opinião.

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