sexta-feira, setembro 12, 2003

Performance

Sempre achei que os relacionamentos duradouros eram aqueles em que existia equilíbrio entre os diversos aspectos da vida das pessoas.
Nunca acreditei em casais que tinham apenas uma razão para estarem juntos. Eu tinha plena certeza de que relacionamentos baseados apenas em beleza ou em sexo não tinham muito futuro e acabam se consumindo em um processo meio suicida.
Eu fiquei acreditando nisso até o dia em que um grande amigo me contou a estória que havia vivido com uma ex-namorada. Talvez essa mulher tenha sido uma das grandes paixões desse cara e um dos grandes motivos de desgosto no campo amoroso.

Me lembro que eles se conheceram meio que por acaso em uma boate.
Ela estava visitando uma prima em uma cidade do interior e ele estava com colegas de trabalho em mais um dos intermináveis happy hours.
Parece que não houve muita receptividade no início e talvez isso tenha feito com ele tenha sentido mais vontade de descobrir mais sobre aquela moça de cabelos lisos e perfil romano.

Não demorou muito para que eles acabassem ficando juntos e iniciassem um relacionamento igualmente tórrido e auto-destrutivo.
Parecia que havia alguma conspiração astral em todos os momentos em que eles se encontravam.
Não havia muito tempo para conversas, brigas, balanços da relação ou outras coisas menos prazerosas: o contato da pele deles produzia estragos majestosos e somente o dia seguinte permitia algum tempo para os demais componentes do relacionamento.
Não é de se espantar que os signos deles fossem Escorpião e Touro.

E foi assim, mais a fogo do que a ferro, que eles namoravam e se pegavam.
O problema começou quando ela começou a demonstrar algumas características que não podiam ser identificadas na cama.
O ciúme doentio era a principal delas. Não havia a menor cerimônia para “dar piti” se um cara que ela não gostasse ligasse para o namorado durante um jantar. Nem adiantava dizer que nada havia sido combinado e que o namorado não tinha a menor intenção de sair com o amigo depois de deixá-la em casa. Nada adiantava. Ela era capaz de tomar o telefone da mão dele e falar um monte de barbaridades em plena mesa de restaurante.
Às vezes eles não estavam sozinhos e isso deixava meu amigo ainda mais envergonhado.

Mas se era tão ruim assim, por que eles continuavam juntos?
A resposta é óbvia e já foi mencionada: na cama eles eram feitos um para o outro e isso compensava tudo.
Ao menos compensou durante um bom tempo, até que ele não agüentasse mais a parte ruim do relacionamento. Às vezes ele me dizia que por melhor que fosse o sexo, aquele namoro só lhe fazia mal. Mesmo assim ele demorou para tomar coragem de terminar.

Como era de se esperar, o término não durou muito: depois de alguns meses eles se encontraram por acaso em uma festa e voltaram a ficar juntos. Da ficada veio o sexo e daí veio a retomada do namoro. Ela continuava lhe fazendo mal fora da cama e enlouquecendo-o dentro dela.
Foi preciso um terceiro retorno para que ele percebesse que aquilo não poderia lhe fazer bem de nenhuma maneira.
Foi duro abrir mão da alma gêmea sexual, mas ele conseguiu.
Não adiantou muito buscar consolo em outros corpos. A lembrança do dela estava impregnada na sua pele. Ele demorou para se livrar do cheiro dela. Mas ele conseguiu. Ele sofreu mas teve êxito.

Hoje ele sabe que aquela mulher foi importante na vida dele, mas não tem a menor intenção de reviver esse tipo de relacionamento.
Ele aprendeu a preferir uma temperatura menor na cama e um equilíbrio maior fora dela.
Talvez ele tenha aberto mão do que o fazia feliz, mas eu não acredito nisso.
Prefiro pensar que ele conheceu as benesses do inferno e optou pela paz.
É muito mais agradável assim.

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