quarta-feira, setembro 24, 2003

Terapia física

Uma das coisas que mais chamava a minha atenção quando eu curtia sair na balada era o jogo de interesses que meninos e meninas faziam quando queriam demonstrar vontade ou sossego total.
Me lembro que meus amigos sempre diziam que era perda de tempo tentar interromper a conversa de duas mulheres em um bar: se elas não paravam de falar entre si era por que não tinham a menor intenção de permitir que algum inseto se infiltrasse na conversa e tentasse modificar qualquer que fosse o rumo dos comentários que elas estavam fazendo.
Em bom português: era um tiro n´água em quase que 100% dos casos.

Outra coisa que aprendi assistindo muitos programas “jovens” foi que se a menina conversa com você de braços cruzados é por que ela não quer que exista qualquer tipo de aproximação.
É mais ou menos como dizer “não vem não, violão”!!

Era realmente complicado ler todos esses sinais e invariavelmente eu optava por abrir mão da luta e me contentar com uma loira gelada ou uma russa ardente para me fazer companhia.
Enquanto isso, meus amigo seguiam na batalha pelo melhor entendimento dos sinais e pelo mais eficiente furo nas defesas montadas pelas mocinhas.

Certamente foi isso que fez ficar sempre em inferioridade na hora de contabilizar estórias.
Enquanto eles chegavam perto de encher uma mão com o número de moças que haviam dado o telefone ou que haviam sentido o gosto doce de um beijo, eu podia, no máximo, contar o número de sorrisos que havia arrancado com meus comentários gentis e piadas infanto-juvenis.
É certo que eu nunca curti competições e que vira e mexe eu acabava ajudando algum tipo de conquista deles, mas nunca reclamei da sorte. Sempre achei que cada um tinha o seu papel e que o meu era criar o clima e atuar como escudeiro.
Por mais Sancho Pança que eu meu sentisse às vezes, minha realidade estava longe da auto-piedade e da solidão. Sempre havia uma moça que curtia mais o bom humor do que o papo furado.

De qualquer maneira, o que fez querer escrever este texto foi a vontade de comentar os sinais que são dados durante a conquista e que podem significar a diferença entre uma noite de amor e outra de torpor.
Já falei sobre a conversa na mesa e seu efeito na abordagem externa. Agora acho interessante mencionar a necessidade de retorno quando uma pessoa quer se aproximar de outra.
É certo que para alguns não importa se a pessoa está interessada, olhando ou dando algum tipo de “entrada”: a personalidade rolo-compressor indica que se deve atacar, invadir espaço e tomar pela sufocação.
Por mais bem sucedida que seja essa tática, acredito que o sabor final não seja dos melhores.
Me parece muito mais adequado que exista uma troca antes da consumação final do relacionamento entre a “vítima” e o “caçador”.

Acho muito mais gostoso quando, por exemplo, uma mulher solta um convite através de um olhar. Independente de quem receba a mensagem, o convite foi feito de forma sutil e quase subjetiva e ninguém pode dizer que houve facilitação ou atitude escancarada.
Isso é bem diferente do jogo de “buscar um fora”.
Nessa variante da conquista, a pessoa que é abordada nem sempre sabe que algo vai acontecer e via de regra tem que improvisar uma reação no momento em que a abordagem acontece.
Nessa hora é matar ou morrer e as chances do “abordador” dependem diretamente do poder combinado do seu sorriso, do seu charme e da forma utilizada para se chegar à outra pessoa.
A pessoa que “chega” não se importa se vai se dar bem ou não. Na verdade, ela busca o fora, o fracasso. Mentalmente é melhor buscar o fracasso e encontrar o sucesso, do que o contrário.

Desta forma, sempre vale a pena conversar com alguém achando que não vai colar, que vai rolar uma dispensa, que o outro lado vai nos presentear com um belo e glacial olhar de canto de olho.
Se o fora vier, ok. Se não vier, melhor ainda.

Parece que é tudo uma questão de oportunidades e perspectivas.
Ganha quem melhor souber combinar os dois.

Acho que ainda tenho muito a aprender.

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