Não era a hora
A gente se conheceu no curso de italiano.
Eu havia começado aquele curso para me sentir mais próximo da Romana que não tive e foi durante o primeiro estágio que acabei ficando sozinho depois de mais de três anos. Uma coisa não teve muito a ver com a outra, mas o resultado não foi dos melhores em termos sentimentais.
Diferente das cores do meu passado, ela tinha cabelos pretos e encaracolados.
A pele branca contrastava de um jeito elegante com as roupas escuras que teimava em usar.
Sempre era possível sentir um perfume leve e gostoso quando eu a cumprimentava ou simplesmente quando a gente se cruzava nos corredores do Instituto.
Ela sonhava em morar na Itália, casar e ter filhos. Eu só queria arrumar a bagunça da minha sentimental e sentir aquele cheiro mais de perto.
Começamos a sair meio sem querer: marcamos de ver “Caro Diário” do Nanni Moretti no Cinearte e depois fomos tomar um suco ou algo assim.
Até hoje me lembro da obsessão que ela tinha com coisas da Itália: durante boa parte do filme ela ficou anotando expressões que pareciam interessantes e usuais. Tudo isso no escuro do cinema!!
Mesmo com esse jeito meio complicado de ser, eu fiquei muito a fim dela e tentei transformar isso em “algo mais”. Saímos algumas vezes e nos aproximamos cada vez mais. Não sei bem por que ela não foi minha, mas o fato é que não foi.
Nos afastamos e reaproximamos várias vezes depois que ela deixou o curso.
Cheguei até perto do desejado beijo inaugural, mas meu timing estava errado: ela estava de partida para uma temporada na Itália e não queria deixar “pendências” por aqui. Foi quase como ouvir que ela preferia a minha amizade.
Foi mais ou menos isso que aconteceu com aquela moça mestiça que havia cometido o desvario de ter gostado de um curso de engenharia.
Ele veio trabalhar no meu setor quando eu já estava enrolado com a secretária (que era noiva). Não que houvesse qualquer pretensão da minha parte já que ela morava com o namorado há bastante tempo.
Exatamente por conta dos nossos “relacionamentos” (as aspas dizem respeito só ao meu lado), nunca rolou nenhum clima e nem cantadas explícitas.
A única coisa que dava pinta do potencial que existia era a mania de elogiar alguns detalhes da minha personalidade.
Como ela não estava sozinha, eu nunca me importei com isso e sempre achei que ela fosse educada e gentil.
Esta segunda estória também tem uma viagem no meio. A diferença foi a distância: ela e o namorado foram morar na Austrália e correr atrás do futuro em um país um pouco mais “civilizado” (estas aspas são por conta deles).
Tempos depois fiquei sabendo que eles haviam terminado e que o namorado havia voltado para o Patropi. Não sei a razão certa disso, mas acredito que tenho algo a ver com a diferença de sonhos: estar em Sydney ela o sonho dela e ele se esforçou para acompanhá-la. Infelizmente não deu.
O “tapa” que levei dessa moça foi dado via Internet.
A gente conversava com certa freqüência pela rede e certa vez ela soltou que me achava “o cara” e que só não tinha ficado comigo por conta da viagem.
Fiquei meio baratinado com esse papo: ela não deixou de ficar comigo por que estava namorando, mas sim por que a gente não ficaria muito tempo junto antes da sua viagem.
Nem preciso dizer que essa revelação não me fez bem. Eu não precisava saber que era o namorado ideal de alguém que não quis trocar o amor pelo sonho.
Prefiro pensar que amor e sonho podem caminhar juntos.
Hoje não tenho notícias de nenhuma das duas.
A “italiana” se mudou em definitivo para Milão, casou, teve duas filhas e deixou de me mandar cartas depois que descobriu a Internet e passou a viver problemas com o marido.
A “australiana” sumiu de vez depois de me contar que estava morando novamente com alguém. Ela tinha o hábito de morar com namorados.
Torço pelos sonhos de ambas. E pelo meu também.
Mas disso eu estou cuidando um pouquinho a cada dia.
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