quinta-feira, setembro 11, 2003

Impressões – Parte 5

Nosso primeiro contato com a Costa Azul foi bem ao estilo baiano nagô: nós não chegamos, estreamos.
Ainda hoje não sei se Marselha pode ser considerada parte dessa região maravilhosa, mas como foi a primeira cidade da costa da França que visitamos, achei legal contar um pouco sobre o que eu o Presidente vivemos por lá.

Como de praxe, já chegamos tentando achar o bendito albergue da juventude para largar as malas e as carcaças cansadas de andar de carro.
Não demorou muito para que achássemos o lugar e estranhássemos o camping improvisado no terreno ao lado do albergue. Podíamos ver pelos menos três barracas em um lugar originalmente reservado para carros ou piqueniques. Era esquisito ver as pessoas escovando os dentes em pé e sem água e depois entrando no prédio para pegar sabonete ou alguma outra coisa igualmente básica.
Por menos sofisticada que fosse a nossa rotina naquele momento, ainda mantínhamos o gosto por um banheiro limpo e por uma cama sem cheiros suspeitos. Nem sentimos muita vontade de descobrir o estilo de decoração daqueles barbudos desencanados.
Sinto que nossas mentes não estavam preparadas para algo tão original.

Depois do banho restaurador resolvemos nos arriscar pelas ruas da cidade.
Não sei se foi a visão dos barbudos das barracas ou se foi a vontade seguir viagem, mas Marselha nos deixou meio de bode. Andamos durante um bom tempo em um calçadão à beira mar e logo sentimos vontade de comer alguma coisa e restar um bom tempo.
Nem sentimos vontade de conhecer algum boteco ou de confraternizar com a galera feminina do lugar: nossas camas nos receberam quase que imediatamente e só voltamos a lembrar onde estávamos no dia seguinte.

O café da manhã do albergue não era nada para deixar lembranças e acabamos resolvendo ir embora logo depois. Não conhecemos nenhuma atração da cidade e botamos o pé na estrada de novo. Nosso destino final era Nice e não sabíamos direito o que encontraríamos no caminho.
Foi uma grata surpresa encontrar aquele monte de pequenos balneários, cheios de gente endinheirada e com praias onde o nudismo era prática comum. Obviamente nossas criações latino-católicas não nos permitiram entrar na dança, mas até que nos divertimos com aquelas branquelas colocando e tirando os biquínis na frente de todo mundo.
Saint Tropez foi o primeiro lugar onde vi um Dodge Viper ao vivo. Parece que aquele monstro da indústria americana também fazia a cabeça dos presentes já que o dono do bólido cobrava bem caro para deixar os turistas darem um passeio naquela máquina barulhenta e maravilhosa.

Não sei bem se foi o cansaço ou a falta de paciência, mas bastou chegarmos em Nice para pararmos no primeiro hotel que nos pareceu decente para jogar as malas fora.
Nós até que tentamos encontrar o albergue local, mas depois de nos perdermos um monte, achamos melhor parar naquele hotelzinho simpático, com a entrada recuada e fomos recebidos por uma velhinha igualmente simpática.
Nosso hotel ficava a uns cinco minutos de caminhada de um calçadão enorme e resolvemos curtir aquela paisagem deixando o carro um pouco parado.
O pouco que sabíamos de Nice era que Monte Carlo estava bem pertinho.
As lembranças das corridas de Fórmula 1 e do Cassino nos fizeram ir e vir daquele principado esnobe um monte de vezes. Foi lá que encaramos um monte de mulheres de top less, o túnel onde o Senna e o Piquet voavam, as moças de preto que “fazem companhia” para os apostadores do cassino e a “plantação” de Ferraris. Nunca vi tantas “machinas” num mesmo lugar e, claro, aproveitei para tirar uma casquinha.
Uma coisa engraçada era a reação dos turistas a uma Lamborghini Diablo que estava parada em frente ao cassino. Acho que por terem muita quantidade, as Ferraris não causavam tanto frissom quanto aquele enorme carro preto. Um monte de gente quis tirar fotos ao lado do bicho e acho que muitas mulheres ficaram se perguntando o que aquela lata velha tinha que elas não tinham.

Ficamos no eixo Nice-Monte Carlo durante uns dois ou três dias.
Não me lembro bem o que queríamos com tantas idas e vindas, mas sei que foi muito lugar viver uma rotina perrengue em um lugar tão sofisticado.
Assim como a gente ria da sofusticação besta, a cidade ria do nosso improviso.
Foi uma troca justa e agradável para todos.
Para nós foi ainda melhor já que acabamos ganhando dinheiro no caça-níqueis e pagamos a entrada para o cassino.

Deixamos a costa azul meio sem rumo.
Sabíamos que a Itália estava à frente, mas não tínhamos planos de explorar a terra da pizza.
Queríamos chegar à Suíça e à neve. Tínhamos intenção de gelar os narizes um pouco mais.
Mas sobre isso só vou falar no próximo episódio.

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