quinta-feira, setembro 25, 2003

Independência

Cheguei à conclusão de que não gosto de assumir responsabilidades herdadas.
Não quero dizer que sou totalmente irresponsável, mas acho extremamente injusto que tenhamos que responder pelos atos de outra pessoa simplesmente por que essa pessoa nos é cara.
Uma coisa é se jogar na frente de uma bala por um amigo-irmão ou pela mulher que se ama, outra bem diferente é ser jogado por que a pessoa sabe que ela vale muito no nosso conceito.

Prefiro relações independentes onde cada um sabe viver sua vida isolada e curte intensamente os momentos em que tem que rolar uma divisão ou compartilhamento.
Entre pessoas emocionalmente saudáveis e inteligentes, existe uma separação entre o individual e o conjugal, entre o eu e o nós, entre o que se tem dentro e o que se quer colocar para fora.

Acho que devo explicar um pouco melhor o que entendo como responsabilidade herdada.
Imagine que você se oferece para ajudar um amigo ou uma parceira em alguma situação emocional ou financeiramente complicada. Você vai até a pessoa, oferece sua ajuda e acaba resolvendo parte do problema. Nesta situação não importa muito se foi uma mera questão de sorte. O fato é que a pessoa pode acabar associando a sua presença à resolução de problemas e é aí que mora todo o perigo.
É possível que se estabeleça uma relação de semi-dependência onde a pessoa não se sinta mais segura para enfrentar problemas se você não estiver lá para oferecer o ombro ou dar aquela empurradinha quando a coisa não anda.
Por mais simbólica que seja a ajuda, você se transforma no salvador e perde um pouco do direito de ter a sua vida, com seus próprios problemas e inconsistências.
Mesmo sem querer, você acaba herdando a responsabilidade de estar lá quando o outro precisar.

Situação pior se configura quando a sua parceira não faz nada sem você.
Pra mim não tem coisa mais irritante do que ter ao meu lado alguém que não tem opinião, que anula a sua personalidade em nome da “harmonia do casal”.
Entendo que devam existir concessões para que as coisas fluam um pouco melhor, mas daí a deixar de ser quem se é só por que o namorado quer ou a namorada precisa, são outros quinhentos.
Na verdade, isso pode até ser bom a curto prazo, mas é promessa de infelicidade a médio e longo prazo.
Acredito que não exista relacionamento que resista a muito anos de anulação e falta de expressão da verdadeira personalidade. Uma hora ou outra a corda estoura e aí não há band-aid que resolva.

É por isso que prefiro saber com quem estou lidando desde o começo.
Acho muito mais saudável fazer (e receber) concessões logo nos primeiros meses de relacionamento e adaptar aquilo que for possível. Por mais ardente que seja a paixão, acho melhor que ela se revele por completo ao invés de se velar e disfarçar.
Nada salva um relacionamento que se mascarou apenas para ganhar tempo.

Algo me diz que estou no caminho certo nesse quesito.
Acredito que tenho conseguido mostrar o que realmente sou e manter o interesse dela.
Vejo que isso é verdade também para as coisas que são dela. Não enxergo máscaras ou disfarces.
Acho isso muito bom e pressinto que vai ficar ainda melhor.

Sem comentários: