sexta-feira, setembro 19, 2003

Santidade

Ainda tenho bem fresco na memória o comentário feito por uma certa moça de cabelos loiro-esbranquiçados (o popular loiro-puta) quando ainda era amiga da minha mineira.
Logo depois de me conhecer pessoalmente, ela comentou que uma das únicas certezas que ela tinha era que de santo eu não tinha nada.
Isso poderia ter me causado uma enorme dor de cabeça ou ainda ter gerado um grande mal estar entre as meninas, mas felizmente os tempos de piti já haviam passado e a reação não poderia ter sido mais inglesa: um aceno de cabeça e um “tudo bem” para encerrar o assunto.

Tempos depois, quando fiquei sabendo daquele comentário, eu quis saber por que a reação dela tinha sido aquela e o que ela pensava a respeito do assunto.
Era importante entender o tipo de expectativa que existia quando se realiza tal afastamento do ideal de comportamento para o parceiro.

Antes de voltar a este caso, acho interessante colocar algumas coisas que tem a ver com idealização e que podem servir para pensar na solução do problema de alguém.
Não creio que o homem deva ser santo para que se porte adequadamente dentro do relacionamento ou para que a mulher possa sentir segurança na manutenção da fidelidade.
Na verdade, sou do time que acha que a mulher também não tem essa obrigatoriedade. Ninguém deveria ter a obrigatoriedade de ser santo para que o parceiro se sentisse bem ou para que o relacionamento vingasse.

Acho que é ser muito carola (para não falar ingênuo e bobo) achar que as pessoas que fazem parte de um relacionamento jamais vão olhar para o lado com diferentes níveis de interesse.
É impossível que todos fiquem impassíveis quando se deparam com pessoas sabidamente maravilhosas ou realisticamente próximas. Ninguém deixaria de esticar o rabo do olho só por que tem namorada ou marido.
O pronto crucial desta questão é a forma como se estica esse rabo de olho e a forma como se encara o relacionamento.
Me parece muito mais leal que ambos saibam que a possibilidade de encantamento ou de paixão por outra pessoa existe, mas que isso está longe dos planos do parceiro.
É claro que esta consideração vale para casais em harmonia, mas acho que nem preciso perder tempo falando de relacionamentos com data de validade vencida.

A experiência provou que quando mais se prende ou pega no pé de alguém, mais o “outro lado” vai exercer fascínio sobre ele e maior será a sua vontade de experimentar “só um pouquinho”.
Todos sabem que esse “pouquinho” acaba se tornando algo maior, chegando até a virar um hábito. Nesse momento, a “pegação no pé” e a tentativa de manutenção de santidade só servirão de riso para os momentos em que o cara (ou a moça) estiver se deitando em outra freguesia e se livrando da sua auréola.

É muito mais inteligente mostrar que os motivos para a manutenção da harmonia do casal são outros e que ninguém tem nada a provar a ninguém.
É impressionante como isso tira a graça da pulada de cerca.

Voltando ao meu exemplo, fico feliz em inspirar reações tranqüilas como essa e em ter a oportunidade de me relacionar com quem se importa com as coisas certas e não deixa de admitir que as oportunidades podem ser abraçadas por qualquer um, independente do seu grau de santidade.
É exatamente essa tranqüilidade que faz que as pessoas não sintam vontade de desviarem seu encantamento de quem já o conquistou.
É a vitória sem luta.

Adoro táticas inteligentes.

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