quarta-feira, setembro 03, 2003

Coisas mal resolvidas

Pensando um pouco no grau de amizade que tenho hoje com o Presidente, é curioso imaginar que a gente tenha ficado afastado durante um bom par de anos.
Hoje nós somos quase como irmãos, mas houve uma época em que passávamos meses sem nos falar e anos sem nos encontrar. Vai entender.

O afastamento começou quando saí da empresa em que trabalhávamos. Na verdade, a gente se conheceu nessa empresa quando éramos estagiários e voltamos a trabalhar lá depois da aventura européia.
Enquanto eu procurava outro emprego, o Presidente começou a ser enviado em viagens de trabalho e a assumir maiores responsabilidades na empresa.
Um dos resultados mais imediatos disso foi um longo período passado em Araraquara. Ele foi para lá com uma equipe e só voltava de vez em quando para que a mãe não se esquecesse do seu rosto e para que o pai parasse um pouco de reclamar.
Era natural que a gente se afastasse um pouco.

A rotina do interior era “dura”: trabalho até as 18:00, hotel, banho, balada, birita e muita, mas muita mulher. Um dos caras que passou essa temporada com ele é uma figura extremamente peculiar que sempre rende assunto para as conversas de boteco.
Uma das passagens mais engraçadas que envolve os dois diz respeito a uma certa “troca” de favores.

Pelo que me lembro, eles conheceram duas meninas em uma boate da região e acabaram se dando muito bem com elas. Na verdade, parece que o interesse inicial deles estava trocado e meu amigo acabou “cedendo a vez” para o outro.
O grande problema é que o estrago já havia sido feito e a retirada estratégica do meu amigo acabou deixando uma “pulguinha” atrás da bela orelha daquela loira com nome russo e olhos profundamente azuis.

O resultado da troca acabou sendo bom para o Presidente. A outra menina era um espetáculo de beleza e só foi “trocada” por que não estava curtindo o jeito meio cafajeste do outro cara.
O Presidente agiu naturalmente e ganhou a parada com facilidade.

Tempos depois, quando já havíamos nos reencontrado e matado a saudade à custa de milhares de células hepáticas, o Presidente me contou que a estória com a outra loirinha não havia sido resolvida.
Segundo ele, esse tipo de estória só acaba quando termina.
É mais ou menos como naquela música do Lenny Kravitz: não adianta parecer que terminou, tem que terminar de verdade.

Não é preciso um exercício muito complicado de imaginação para saber o final real dessa estória.
Na verdade, eu testemunhei a tal “resolução”: nós fomos para o interior, ele ficou com ela, nós voltamos para Sampa e eles não demoraram muito para perder o contato.
Foi uma coisa quase matemática. Cármica até: assim que a pendência foi resolvida, ambos puderam “descansar”.

Depois desse episódio, passei a dar muito valor aos “ensinamentos” do Presidente e a acreditar que, por mais improváveis que pareçam, it ain’t over ‘til it’s over.

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