quinta-feira, outubro 30, 2003

Os quase namoros

Durante boa parte da minha vida sexual e sentimentalmente ativa, achei que só pudessem existir duas formas de se relacionar de forma mais íntima com uma mulher: ou existia um relacionamento do tipo namoro (ou qualquer coisa mais séria e definitiva do que isso) ou era só uma troca de momentos agradáveis (com ou sem a adição de sexo).
Me parecia bastante lógico transitar entre esses dois pólos de uma forma bem binária: se eu não estivesse vivendo um, certamente estaria me fartando no outro.

Foi assim em muitos casos, mas foi preciso que aquela moça de pele escura cruzasse meu caminho para que as minhas certezas ficassem completamente balançadas.
Por mais que eu tentasse, não havia jeito de encaixar o que estava rolando em nenhum dos “quadros” que eu estava acostumado a pintar.
A gente não namorava já que nossas saídas eram, no máximo, semanais e quase sempre o programa incluía momentos de diversão no cinema e de paixão sob algum lençol branco e macio.

Acho que não havia muitas dúvidas de que a ausência de envolvimento sentimental descaracterizava totalmente o tal “namoro”.
A bagunça se instalava quando eu não conseguia também encaixá-la no perfil de parceira de cama, de alívio de tensões do dia a dia e de companhia para a realização de fantasias.
Ela era mais do que isso e eu sabia.

Apesar de não “namorá-la”, eu andava de mãos dadas com ela enquanto me dirigia para o carro depois do cinema, usava de muito carinho até quando estávamos apenas conversando e, mais importante de tudo, não saía com outras meninas nos intervalos dos nossos encontros.
Revendo tudo aquilo, só posso concluir que era tudo uma questão de admitir para mim mesmo o que estava acontecendo. Devia ser um caso típico de falta de coragem de dizer, em bom português, que aquela moça de sotaque levemente nortista era a minha namorada.

Esse tipo de “meio do caminho” entre as duas idéias que eu tinha passou a ser estranhamente na minha vida nos intervalos dos relacionamentos “de verdade”.
Tirando a questão da freqüência com que eu encontrava as meninas, acho que o grande diferencial era o fato de eu utilizar publicamente o termo “namoro”.
Na prática, isso era bem pouco significativo, mas na minha cabecinha confusa e cheia de normas, a verbalização significava muito.

Na verdade, isso ainda significa muito, quase tudo.
É por isso que ouvir um “eu te amo” saindo da minha boca deve ser motivo de orgulho e comemoração para a moça que estiver ao meu lado. Isso é algo bem raro de acontecer, raro mesmo.

Um vento vindo de Minas me contou que esse orgulho está sendo vivido há tempos e com muita intensidade.

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