quarta-feira, outubro 29, 2003

O mestre

A gente se conheceu na faculdade, em uma época onde eu ainda não sabia nada e ele havia optado por esquecer de tudo.
Ambos éramos pouco mais do que moleques, mas ele namorava sério com uma mulher que, dizia ele, tinha tudo para ser a mãe dos filhos que viriam para eternizar seu nome alemão.
Infelizmente alguém da comissão técnica do céu não concordava muito com isso e resolveu separar os destinos de ambos. Vivi boa parte da separação e sei como foi dolorido e traumático.
O cara que vivia sorrindo alternou diversos estados de espírito e nem todos eles fizeram muito bem para a cabeça e o espírito.

Começou com a tristeza e depressão. Os olhos pequenos e verdes ficavam meio mareados quando ele se lembrava das coisas boas que ele tinha vivido com aquela mulher e dos planos que haviam durado até o “tchau” final.
Depois veio a necessidade de compensação. Ele se transformou em um verdadeiro predador e suas mulheres significavam apenas troféus para anular o vazio que ele sentia. Poucas delas duraram mais do que uma noite e foi preciso muita persistência para que uma delas deixasse o rol das “temporárias”.
No final desse período veio o momento da escolha entre o amor e o desejo.
Ganhou o amor e com isso veio um casamento.

Infelizmente, novamente alguém tinha planos diferentes para ele e a sua escolha se mostrou infeliz ao extremo.
Não me arrisco a dizer as razões de mais uma infelicidade, mas sei que a questão envolveu doença, incompatibilidade de objetivos, morte e culpa.
Outro período de tristeza o acolheu e novamente eu os amigos-irmãos estávamos lá para oferecer o ombro e a companhia para a tentativa de matar na bebida a tristeza que imperava.

Acredito que foi nessa época que ele decidiu não mais sofrer e não mais se entregar.
Era mais uma questão de sobrevivência do que de escolha: ele não queria mais a tristeza do rompimento e do desaparecimento da esperança de que a felicidade durasse mais do que ele pudesse se lembrar.
Desta vez não foram necessárias muitas moças desavisadas para que ele se convencesse de que valia a pena tentar novamente. Sempre vale!!

Acho que dá para provar esse otimismo analisando a atual vida desse outrora mestre da paquera, hoje pacífico e amoroso trabalhador e marido.
A estonteante companheira sempre exibe um sorriso de felicidade quando nos encontramos e não há nem sombra da tristeza que adorava dominá-lo.
Por falar em companheira, ela veio mais ou menos do mesmo lugar que a minha mineira, mas não vou dizer muito mais além disso. É bom saber que eu e ele temos mais isso em comum.
Se ela for aquilo que posso ver dentro dos olhos, meu mestre será feliz por um longo e longo tempo.

Como não posso tomar as decisões de vida por ele, vou fazer o que me cabe: utilizar a minha suposta influência com a comissão técnica do céu e rezar para que a cota de tristezas tenha ficado no passado.
Ele já teve muito disso e merece viver uma vida tranqüila e cheia de felicidade.
Na verdade, ambos merecem e vou fazer a minha parte nisso.

Que não haja mais lugar para a tristeza!! Longa vida ao mestre!!

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