Impressões – Parte 6
As paisagens montanhosas da fronteira suíça serviram para nos irritar logo de cara; onde já se viu respeitar os limites de velocidade em um lugar sem guardas ou radares??
Aquilo parecia inconcebível para nossas mentes pós-adolescentes acostumadas a rachas, faróis furados de madrugada e som no talo.
Aquela civilização toda nos fez mal no início, mas logo nos acostumamos.
Nossa passagem relâmpago pela Itália foi brindada como deveria: uma bela macarronada à beira do lago Maggiore. Deu uma pontinha de inveja daquele povo com casas na beira da água e com barquinhos passeando para cá e para lá, mas isso logo passou. Afinal de contas, ainda tínhamos que chegar mais perto da neve e não podíamos ficar muito tempo nos sentindo mais próximos da Guarapiranga.
Voltando à terra dos chocolates e dos bancos milionários...
Ficamos meio enjoados de tantas curvas e de tantas montanhas, mas não pudemos deixar de admirar a beleza dos Alpes. Eu já conhecia algo parecido por conta das viagens para a terra natal andina, mas sempre é possível se surpreender e encontrar alguma coisa diferente e interessante. As montanhas de lá eram igualmente altas e geladas, mas não me lembro de ter visto tanta gente cruzando os Andes só para visitar os parentes do outro lado.
Depois de passar muito frio chegamos ao nosso destino na neve.
Zermatt havia sido recomendada pelo agente de viagens e naquela época isso dispensava qualquer tipo de preparativos ou pesquisa sobre o que encontraríamos.
Como já era noite quando chegamos lá, decidimos ficar no pé da montanha e não arriscar nossos pescoços na subida até a neve.
O hotel era caro (como tudo na Suíça) mas tinha um café da manhã muito legal. Não pude deixar de colocar meu lado glutão em ação e me fartar de tomar Ovomaltine. Afinal de contas, aquela era a terra do Ovomaltine!!
Tivemos alguns problemas para chegar até o lado alto da vila: a estrada era muito estreita e em boa parte dela só passava um carro por vez. Demoramos uns 30 minutos para fazer um trajeto de uns 3 quilômetros e quando chegamos lá quase tivemos a oportunidade de conhecer a hospitalidade das prisões suíças: o trânsito na vila alta era permitido somente aos locais e do jeito que eles são “coxinhas” o mínimo que aconteceria seria uma multa extorsiva.
Mais do que depressa demos meia volta e fugimos de lá. É impressionante pensar como a viagem de volta foi mais rápida do que a de ida.
Agora que estávamos a pé novamente, tivemos que recorrer à estação de trem para chegar novamente até a vila. Não demorou muito até que estivéssemos andando naquelas ruelas parecidas com brinquedos e com a presença constante do Matterhorn.
Para o que nunca estiveram naquelas bandas do Sul da Suíça, seria como circular a Avenida Paulista e nunca perder de vista a antena da Globo.
Até que tentamos nos arriscar nos esquis, mas o nosso orçamento não permitia tamanho desaforo.
No dia seguinte chegamos em Zurich e nos deparamos com outro trauma: a Banhofstrasse, tida como a rua mais cara da Europa naquela época.
Nem adianta tentar descrever a revolta com os preços praticados naquele lugar. Até pensamentos eram caros por lá.
No albergue de Zurich acabamos conhecendo alguns brasileiros e até uma americana que era namorada de um deles. Formamos uma turma bilíngüe e saímos para caminhar pelas ruas estreitas do outro lado do rio.
Encontramos outros brasileiros fazendo shows na rua e até um músico gay que nos identificou e convidou para um show que ele estava fazendo na cidade. Obviamente não nos arriscamos a comparecer. Vai que a gente gosta.
Depois de muitas cervejas, deixamos a parte alemã da terra dos bancos e fomos para a matriz das caras sisudas, do futebol-força e das regras inflexíveis.
No próximo capítulo: a experiência germânica.
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