terça-feira, maio 27, 2003

São Paulo

A namorada de um amigo meu afirma precisar de São Paulo.
Ele diz que não imagina viver sem a variedade de restaurantes, de atrações culturais, de eventos e de agito que a gente encontra por aqui.
Isso se explica pelo que ela faz para viver (publicidade) mas não pelo seu histórico de vida (ela nasceu em Fortaleza e viveu boa parte da infância em Salvador).

Já o meu melhor amigo diz que não suporta viver em meio ao trânsito, à violência, à necessidade de estar sempre alerta e ao sentimento de que sempre tem alguém tentando te passar para trás.
Ele nasceu no interior e pretende voltar para lá. Ou se mudar para Floripa, mas aí não tenho como criticá-lo.
O abandono ainda não rolou por indecisão financeira e familiar, já que ele quer virar patrão. Como posso estar envolvido nessa empreitada, desejo que tudo dê certo para ele.

Conheço ainda um cara que tem medo da cidade grande.
Ele só poderia sentir isso já que em uma de suas primeiras visitas (ele mora em Uberlândia) foi colocado sozinho em um táxi, enquanto o avô seguia atrás para tentar chegar em um endereço desconhecido. Deve ter sido aterrorizante estar com alguém que não se conhece em uma cidade tão grande.
Também não dá para brigar com uma pessoa assim.

Eu apenas gosto da cidade.
Não me importo de demorar 30 minutos para chegar em qualquer lugar (quando não há trânsito), de ter que chegar ao cinema com 1 hora de antecedência para encontrar ingressos (em dias de semana), de ter que rezar para encontrar uma vaga quando levo a minha mãe ao supermercado e de trabalhar no Centro.
É claro que não curto pegar filas para tudo, ser pego na saída de um jogo do Corinthians no Pacaembu e de andar a passos de tartaruga na 23 de Maio, mas já aprendi a evitar essas situações e não chego a sofrer muito com elas.

Gosto de pensar que faço apenas uma milésima parte do que poderia e que deixo de lado conscientemente boa parte das opções da cidade.
Gosto de ir à academia e encontrar os mesmo amigos com quem saio para beber e conversar (não exatamente nessa ordem).
Gosto de ler os cadernos culturais só para ver a que exposições do MASP eu vou deixar de ir agora.
Gosto de passar na Cardeal só para ver (de longe) a feirinha da Benedito Calixto.
Gosto de olhar para as casas "penduradas" à beira da Avenida Pacaembu e de imaginar o tanto de escadas que os moradores têm que enfrentar diariamente.
Gosto de ter ido apenas uma vez na vida à Praça do Pôr do Sol. E para ver o sol nascer.
Gosto de ter ido ao Cemitério do Morumbi, mas não para ver o túmulo do Senna.
Gosto de dizer que o chope do Original é melhor do que o do Bar do Léo. O bolinho de bacalhau não entra nessa.
Gosto tanto da cidade que não acho absurda a idéia de deixá-la para correr atrás de um sonho, de uma idéia, de um futuro.

Apesar de não ter nascido em Sampa e de ter intenções de me mudar em breve, eu nunca deixei de ser paulista. Isso ninguém pode mudar.

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