quarta-feira, agosto 09, 2006

GLS

É realmente curioso, mas já faz algum tempo que não me sinto ofendido ao ser chamado de viado, bicha ou qualquer outra palavra que denote um comportamento homo da minha parte.
Faz algum tempo que entendo isso mais como um fato do que como um insulto, ainda mais sendo sãopaulino e tendo que aturar as brincadeiras dos rivais.
E não precisei sair do armário para conseguir isso. Apenas deixei de me preocupar com esse tipo de coisa e de acreditar que gostar de pessoas do próprio sexo é errado ou anti-natural.
Para dizer a verdade, o que me parece anti-natural é a frieza para matar pessoas (vide os casos Richtofen e Liana & Felipe) ou a falta de vergonha na cara de quem não dá a mínima para quem precisa de médicos e ambulâncias.
Nessa linha, deveria ser muito mais ofensivo chamar alguém de deputado do que de sapatão ou boiola.



Sou feliz com meus hábitos sexuais e com meu interesse apenas por mulheres, mas na infância, ser associado a qualquer coisa "não macha" era a pior das ofensas.
Alguns meninos chegavam em casa chorando e despertavam a ira irracional dos pais contra o mundo inteiro se algum amigo os tivesse chamado da mariquinhas ou coisa que o valha.
Era o fim do mundo para esta nossa cultura machista/latina/ibérica.
O mesmo vale para aquelas que eram chamadas de sapatas, brutas ou machonas.
Nada bom para a cabecinha delas.

Chegava a ser deprimente a reação dos pais quando se fazia alguma brincadeira questionando a sexualidade do filho: a descoberta de uma linha homo ou bi geraria expulsões, perda de direito a heranças e/ou internações psiquiátricas.
Como se isso eliminasse os laços de sangue e o amor nutrido pelo filho até então.
Realmente deprimente.

Mas como nem tudo são flores, paralelamente a esse meu desprendimento, ganhei uma preocupação potencial: como explicar para o eventual herdeiro meus conceitos de respeito à diversidade se nos ambientes de sociedade (escola, parques, festas) o homossexual continuará sendo tratado como marginal?
Fico pensando se vale a pena gerar esse tipo de confusão em uma cabeça infantil.
Questiono se não é melhor esquecer meu idealismo e proteger a criança através da ignorância.
Devo mesmo fingir que odeio bichas e que ele (ou ela) vai para o pelourinho se chegar perto de alguém do mesmo sexo?
Complicado demais para descobrir sozinho. Ao menos neste momento.
Melhor continuar vendo a novela das oito e torcendo pelo beijo gay do Edson Celulari.
Quero ver a galera do preconceito se indignando em nome da Ana Paula Arosio.

1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo plenamente com o teu artigo, o preconceito é uma pedra que ainda incomoda a todos nós!