Fomos ver Zuzu Angel.
Minha mineira gostou do filme mais do que eu, é verdade, mas não saí do cinema contrariado ou decepcionado.
Ao invés disso saí pensativo, com uma coisa martelando na minha cabeça.
Sempre ouvi dizer que a ditadura aqui no Brasil foi muito mais branda do que a que aconteceu no Chile e na Argentina. Diziam que o que houve aqui foi brincadeira de criança perto das barbaridades do Estádio Nacional de Santiago e dos homens que derrubaram Allende.
Não me lembro se foi meu velho pai que me passou essa idéia, mas depois que saí do cinema fiquei me perguntando de que forma algo pode ser pior do que aquilo.
O companheiro Allende eternizado
Usando um pouco da minha tradicional racionalidade e considerando que parte daquilo é ficção, ainda assim é complicado visualizar como a ditadura chilena pode ter sido pior.
Se foi, não quero nem imaginar o que aconteceu com meus compatriotas.
Não quero ter pesadelos com a constatação de que meus companheiros de carbono podem ser ainda mais cruéis e sanguinários.
Isso me lembra da animosidade que tenho para com os militares.
Eu sempre os chamo de milicos e, mesmo caindo na pouco inteligente vala da generalização, não me relaciono com nenhum deles. Quer dizer, tento fazer isso, mas nem sempre é possível.
Pensando por outro lado, acho que seria infindável uma discussão sobre a culpa que os militares não-oficiais teriam nas ditaduras.
Até que ponto eles só fizeram aquelas barbaridades para cumprir ordens?
Não havia nenhum componente de vingança em nenhum deles?
Existiria medo de preservar a própria vida e a da família?
Seria o medo e não a obediência e a crueldade a grande força motriz de torturadores e assassinos?
Difícil acreditar nessa versão, mas não pretendo seguir nessa discussão.
Prefiro voltar à sensação incômoda de que podem existir coisas piores do que as vistas no filme.
E ainda mais incômodo é pensar que pouca gente neste país se lembra ou se interessa pelo que houve.
Como esperar consciência política em um país onde muitos estudantes protestam sem saber a razão e se juntam a manifestações apenas para ficar com outros estudantes?
Bom, melhor seguir fazendo a minha parte e não tentar salvar o mundo.
Me confesso incompetente para isso, mas não desisto. Um dia a coisa funciona.
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