Se eu soubesse que casar dava tanto trabalho, talvez tivesse adiado um pouco mais esta decisão, que tende a ser definitiva e imutável.
Quer dizer, que dava trabalho eu sabia. Muitos amigos casados já haviam me dito que a coisa às vezes se complicava a ponto da vontade de voltar para a casa dos pais chegar a níveis quase incontroláveis. Mas esses mesmos amigos sustentavam que em outros momentos tudo valia a pena e qualquer sacrifício ou concessão era pequeno diante da felicidade de amar e ser amado.
O senso de justiça me impede de omitir que muitos dos meus amigos mais próximos desaconselharam totalmente o casamento. Para eles, "morar junto" já era o suficiente.
Esses mesmos amigos correm o risco de ficar nessa para sempre, o que certamente não era possível no meu caso.
Minha própria experiência mostrou que ambas opiniões estavam certas. A seu modo.
Casar "enche mesmo o saco", mas é bom demais quando tudo funciona e o excesso de cobranças e compromissos não domina a realidade.
Sim, por que ninguém merece sete dias por semana de cobranças, pagamento de contas e mau humor do parceiro.
Na verdade, nem é preciso que tudo funcione para que a vida a dois funcione. Basta que (no meu caso) a esposa esteja pronta para ouvir como foi meu dia e que me conte em detalhes como foi o seu para que o estresse diário (que nestes tempos anda saindo pelas tampas) diminua um pouco e a gente possa fazer da novela das oito um momento de cumplicidade e relaxamento a dois.
Eu e a minha mineira estamos completando cinco anos de relacionamento.
Foram pouco mais de três de namoro, um e pouco de noivado e quase um e meio de divisão do mesmo teto.
Neste período passamos por todas as experiências relatadas pelos amigos, até mesmo a briga na hora de dormir e a decisão de cada um virar para o seu lado e deixar apenas as bundas se encarando e se desafiando.
Por incrível que pareça, mesmo com pouco mais de um ano de experiência, já estou fazendo escola. Não perco nenhuma oportunidade de conversar com os amigos e colegas que estão a caminho do altar e de explicar em detalhes o que eles devem encontrar depois que disserem o "sim" e passarem a dividir banheiros, contas e gavetas de armário.
Obviamente que mesmo com caminhões de informação, eles terão que aprender suas próprias lições. O que tenho para passar para eles é apenas a minha vida e isso não precisa significar nada para alguém que teve formações, experiências e até vidas inteiras diferentes da minha.
Mas mesmo assim eu acredito que estou colaborando para o sucesso daquela união.
Sim, por que se tem uma coisa em que eu acredito é que casar vale a pena e que trabalhar dia a dia pelo sucesso da empreitada é algo que devemos fazer sem hesitação.
Uma coisa que faço questão de fazer é matar a idéia de que só com amor tudo se resolve. Infelizmente para os mais românticos, até agora tudo que tenho vivido mostra que isso só funciona nos livros e nos filmes. Aliás, nem nos filmes isso tem funcionado mais.
Por mais cínico que pareça, o amor é apenas a base do relacionamento, mas são a concessão, a compreensão, os projetos de vida, as afinidades, as rotinas complementares e até a raiva que mantém o casal unido.
É nisso que acredito, é isso que pratico (com razoável sucesso) e é isso que passo para quem acho que posso ajudar.
Não tive essa informação quando me casei e sinto que ela teria sido bem útil, mas não posso reclamar das decisões que tomei e da trajetória que tive.
Fiz como aquela universidade paulista e aprendi na prática.
E foi bom, está sendo bom e será ainda melhor.
Mas não tente me convencer de que ser pai é legal.
Ainda não consigo engolir essa idéia e me acostumar com mais uma mudança de vida.
Ainda!
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