sexta-feira, junho 02, 2006

Nascido para a coisa

Eu não gosto de crianças!
Digo isso de boca cheia por que não suporto a gritaria, a bagunça e a sujeira associadas a um moleque mal educado, mimado e egocêntrico, que foi habituado a ter tudo o que quer e a medir o valor das pessoas pela quantidade de bolinhas que o tênis de cada um possui.
Me sinto mal ao ver uma menina de dois anos se vestindo como a Madonna na fase vagabond chic e usando as mesmas gírias da novela das oito.
Tenho pitis quando um ranhento vem me pedir uma coisa e ao ouvir minha negativa, corre para pedir para o pai ou para outra pessoa.
Em um resumo mais do que executivo, não gosto de crianças!

Mas o grande problema e a grande sina da minha vida é que elas gostam de mim, aliás, gostam muito de mim.
Talvez por conta da minha cara de mau e do meu zelo patológico por limites.
Talvez pela minha aparente falta de preocupação quando eles rolam no chão enquanto choram por algo que eu não concordei em ceder.
Ou talvez ainda pelo fato de eu não falar "mamanhês" e usar palavras que eu usaria no trabalho ou na mesa de bar.
Por mais que eu deteste admitir, os pequenos gostam de mim, ao menos aqueles que ainda não são casos perdidos.

Isso me leva a pensar no que muitos dos meus amigos dizem sobre mim quando tocam no assunto paternidade. Segundo eles, eu tenho cara de pai e meu destino está traçado.
Invariavelmente eu rio e mando todos para aqueles lugares de onde não se volta mais, mas a gozação continua e pior, as razões para as brincadeiras se perpetuam.
Ou será que dá para entender um cara que diz não gostar de crianças e fica horas deitado no chão ao lado de um bebê de um ano, só trocando olhares e batendo uma garrafa vazia da Coca Cola no chão?

Pensando friamente, ainda discuto essa máxima de que tenho cara de criador de ranhentos, mas é impossível encontrar qualquer argumento que enfraqueça a idéia de que a minha mineira nasceu para ser mãe.
Ela diz que esse é um sonho dela desde sempre e só eu sei a quantidade de sonhos eternos que essa minha esposa tem. Aos poucos eles foram se realizando e algo me diz que esse não será exceção.

Por via das dúvidas, já comprei mais um livro do Parsons e vou me preparando de uma forma bem inglesa e intelectual para não ter mais noites inteiras de sono pelo menos até os 18 anos de idade do herdeiro.
Tenho que treinar para o caso de mudar de idéia e resolver focar na preservação do nome da família do meu pai.
Espero que esse negócio de ser pai não seja muito diferente do que eles fazem lá nas Ilhas.
Ai Jesus!

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