terça-feira, março 07, 2006

É hexa!

Hoje é dia 9 de Julho de 2006 e o Brasil é hexacampeão mundial!
Jamais, desde que passei a entender o objetivo de se matar para fazer aquela bolinha chegar até aquela redinha, eu poderia ter imaginado algo tão grandioso, feliz e gostoso como o que aconteceu hoje!
Ganhamos da Argentina! Isso mesmo! Derrotamos sem a menor dúvida àquele que é o nosso 'nemesis', ao grande adversário, ao 'outro lado'!
Ganhamos na bola e na torcida. O mar de 'amarelinhas' cantou feliz durante os dois tempos e nem o golaço do 'Quasímodo' fez diminuir a confiança do povo que vai festar até a semana que vem.
Ganhamos da Argentina e ponto final! O resto a gente decide na segunda, depois de curar a ressaca!

Mas nem tudo foi tão feliz assim.
Começamos meio 'bambos' contra a Croácia. Um a um, fora o show. Deles!
Mas não foi de todo ruim, já que os croatas se encheram de auto-confiança e acabaram empatando com os japoneses. O Brasil, com um golzinho solitário, despachou os "Socceroos" e ficou mais tranquilo.
Restou o Zico e os japas. Quase uma filial do Brasil. Mas não houve dó. 2 a 0 e a segunda fase garantida.
Os croatas ganharam a sua última partida da primeira fase e também passaram.

Segunda fase, mesma sede (Dortmund), mesma torcida e, claro, mesmo sofrimento.
A tradição do time que cresce dentro da competição não abandonou a Seleção e lá fomos nós, pobres amantes do esporte bretão, eliminar o que restava de nossas unhas e descontar todas as frustrações nos hectolitros de cerveja gelada preparados dias antes pelo anfitrião da vez.
Com o coração na mão começamos a enfrentar a República Checa e com ele na boca vimos o Nedved levar meio time e encher o gol do Marcão.
Era a primeira vez na Copa que saíamos perdendo, mas o Parreira não mexeu um músculo. Ao invés disso ele olhou para o Ronaldo e "disse": sua vez, meu querido!
Parecia um replay do jogo contra a Inglaterra na Copa passada: show dos Ronaldos e petardo do Imperador Adriano: Brasil 3 a 1 e Frankfurt como nova sede.

A mudança fez bem à Seleção. A torcida teve mais opções de lazer, a comida era melhor, a imprensa ficou mais amigável e o Kaká acordou. Na verdade, só precisávamos desta última mudança para despachar a "Fúria", mas o resto deixou a coisa ainda mais legal.
Os espanhóis até que tentaram escapar da sua sina de perdedores, mas o Príncipe não deixou. Dois gols, vários dribles, algumas corridas matadoras e o povo do Raúl teve que abaixar a cabeça e esperar pelo próximo Mundial. No final, dois a zero e o provável fim de uma geração de grandes jogadores espanhóis.
Ruim para o futebol mundial, nem tanto para o futebol brasileiro.
E a vida segue com a semi-final na Bavária.

Munique estava como sempre: cheia de música, cerveja, alemãs gordas e brazucas chapados. Essa última não é exatamente uma característica típica da cidade, mas a torcida se sentiu tão em casa, que ninguém estranhou quando eles começaram a abrir as "quentinhas" nas praças da cidade.
Pela segunda vez seguida, a bola da vez era a Inglaterra, mas desta vez não tínhamos o Lúcio para reforçar o time adversário.
Pensando melhor, talvez fosse mais fácil se ele estivesse. O primeiro tempo acabou sem gols e a torcida ficou apreensiva com algumas bolas que o Beckham acertou: duas traves, uma de cada lado e nenhuma chance para o Marcão. Se fosse no gol, um abraço.
Mas Deus é mesmo brasileiro e estava torcendo como nunca naquele dia.
O "quadrado mágico" voltou a funcionar e o Imperador quase furou a rede com uma patada de esquerda. A torcida conseguiu respirar aliviada e o Beckham novamente caiu no chão chorando. É provável que ele estivesse fazendo promessas para nunca mais ter o Brasil pela frente, mas nenhum jornalista quis colocar o seu na reta e publicar essa notícia.

No fim do dia 5 de Julho só faltava um jogo para o Hexa, apenas 90 minutos para liberar o grito do povão. Não haveria Lula, mensalão, PT ou Garotinho que tirassem o humor dos 170 milhões de técnicos de futebol que (de vez em quando) têm orgulho de serem brasileiros. Nada mais entorpecedor do que uma vitória no futebol. É a demonstração clássica do "ópio do povo", mas acho que todo mundo precisa de uma fuga de vez em quando. No dia seguinte os problemas ainda estarão lá e a necessidade de vencê-los também, por isso deve valer a pena esquecer da vida um pouquinho, vestir a surrada camisa amarela comprada no camelô e mostrar as restaurações e os espaços vagos na boca ao gritar cada gol da Seleção.

E foi exatamente o que aconteceu!
Nem todo mundo conseguiu comemorar o final do jogo. Alguns cardíacos ficaram pelo caminho, mas quem sobreviveu, celebrou. Nem Tevez, nem Messi, nem Crespo. Eles bem que tentaram, cada um com um gol, mas Deus estava do nosso lado e aquele chute do Roberto Carlos fez uma curva mais acentuada do que de costume e entrou lá onde nem a coruja chega. O "Pato" Abbondanzieri até que tentou, mas nem se ele tivesse mais dois ajudantes ali aquela bola deixaria de entrar.
Teve gente que jurou de pés juntos que uma mão meio éterea apareceu do nada e desviou a bola. Acho que isso fica na fé de cada um. Prefiro ficar com a minha e me ater ao fato de que ela entrou. Ela entrou e matou o time deles. Foi pior do que na Copa América, por que não havia pênaltis depois do gol. Era o fim do sonho do Tri e o início da festa do Hexa.
Depois dessa, tenho cada vez mais certeza de que Ele sabe o que faz e que a Comissão Técnica do Céu estava de plantão. Quem sabe até eles pagaram ingresso!
Para não seguir com as blasfêmias, resta dizer que o mundo ficou melhor depois de ganhar da Argentina. Tenho que rever meus objetivos de vida e é possível que tudo fique um pouco mais sem graça depois que eu me cansar de comemorar e de tirar um sarro deles.
Poucas coisas podem ser melhores do que isso.
Quem sabe só se ganhássemos deles de novo na próxima Copa!!
Será?

Sonhar não custa nada, torcida brasileira!

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