Programas de casal
Cerca de 15 anos depois do lendário show na Praça do Relógio da USP, lá estava eu novamente frente a frente com o Ira! e o seu rock mais paulistano do que brasileiro.
Essa minha frase teria muito mais impacto nos anos 80 do que hoje, mas quem esteve lá sabe do que estou falando.
Algumas diferenças entre os dois shows: 15 anos de rugas, calvície e cerveja; a companhia da minha mineira (no outro eu estava sozinho); o formato acústico e o som cristalino do CIE Music Hall.
Tudo era diferente e ao mesmo tempo nada havia mudado. Era o mesmo Edgar esmerilhando e o Nasi brigando com o mundo. Era o André suando em bicas e o Gaspa com a sua discrição.
Obviamente que o show de 89 não contava com aquele monte de músicos nem com a incansável percussionista Michelle Abu, mas tenho que admitir que esse tipo de frescura não pegaria bem no final dos anos 80.
Como em todo show acústico, o público fica sentado e espremido entre gordinhos, garçons e folgados em geral.
Esse talvez tenha sido o grande ponto fraco do show, mas não dá para falar mal de um grupo que só toca sucessos e que ganha de presente (e exibe com orgulho) uma bandeira do Estado de São Paulo. É nóis!
Isso aconteceu no dia 10 de dezembro e poderia ter encerrado meu ano cultural com chave de ouro se não tivesse pintado um certo espectro na nossa frente.
Eu já tinha visto o Fantasma da ópera (tente também este link) antes. Era 1994 e eu estava em Londres. O Teatro era o Her Majesty´s e o meu lugar era praticamente um poleiro onde não havia espaço para os joelhos (e olha que eu só tenho 1.70m).
Por tudo isso, a expectativa era grande e a opinião de alguns amigos jetsetters ecoava na minha cabeça. Segundo eles, a produção era legal mas não se comparava ao original. Como eles estavam falando da Broadway, eu não fazia idéia do que se tratava. Eu ainda tinha fixa na cabeça a lembrança do barquinho "navegando" pelo palco em meio a uma névoa densa e aparentemente fria.
Chegamos ao Teatro Abril com pouca antecedência. Acho que nossa folga era de, no máximo, 20 minutos, tempo suficiente para sincronizar o passo com a tia da minha mineira e localizar o nosso posto.
Ficamos no primeiro camarote do lado esquerdo do teatro, o que se revelou como uma parcial vantagem: estávamos muito mais perto do que o povo do balcão central, mas não conseguiamos ver o que se passava no lado esquerdo do fundo do palco. Mas como dizem nos botecos da vida, o que os olhos não vêem...
Além do óbvio, o que me chamou a atenção no espetáculo foi a atriz principal, um ruiva (????) magrinha e bonita chamada Sara Sarres.
Apesar de uma certa amiga ligada às artes dizer que ela faz parte do segundo elenco, fiquei tão impressionado com a voz - e por que não dizer, com a beleza - da menina, que ergui uma parede anti-críticas e passei a considerá-la a melhor parte da noite.
Depois da companhia da minha mineira, claro.
Como já era de se esperar, o ponto que mais nos agradou - e emocionou - foi o dueto durante "All I ask of you". Para a gente, aquela era a "música do noivo" e não poderia ser diferente. Fingi que não chorei e apertei a mão da mineira para que ela tivesse certeza que ambos estávamos sintonizados na música.
Ela sim, chorou e sorriu. Mistura plenamente aceitável e altamente recompensadora.
Terminamos a noite em meio a um mar de gente, carros e táxis, driblando os flanelinhas e praticamente parando a Brigadeiro até que a minha mineira e a tia dela conseguissem entrar no carro.
Foi bom, emocionante, desopilante e mais outros antes que não me ocorrem neste momento.
Não era Londres, o Her Majesty´s Theatre ou mesmo a Broadway, mas serviu ao propósito. E muito bem por sinal.
O próximo evento da série deve ser o show da banda do senhor Hewson, mas isso é uma outra e curiosíssima estória.
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